O portal de cinema nacional Pipoca Moderna comentou sobre a
estréia de Cosmópolis no Festival de
Cannes.
Pattinson vem tentando
deixar a imagem do vampiro romântico Edward Cullen para trás, porém até agora
só havia apostado em produções adocicadas, como “Lembranças” (2010) e “Água
Para Elefantes” (2011). O novo longa-metragem do cineasta David Cronenberg (“Um
Método Perigoso”) é sua investida mais ousada, pela qual espera finalmente
alcançar o patamar de astro de primeira grandeza.
“Não me interessa tanto aparecer em
cartazes de grandes filmes”, afirmou o ator durante entrevista coletiva realizada após a
sessão do longa para a imprensa. “Quando se tem 20 anos, tudo bem, você se diverte, descobre um
mundo incrível, as meninas te adulam. Mas não pode durar para sempre”, refletiu Pattinson, dando a entender
que pretende deixar os blockbusters no passado.
“Cosmópolis” é baseado no
livro homônimo de Don DeLillo, considerado um dos grandes escritores americanos
vivos, e mostra a fútil saga de um jovem bilionário em tentar cruzar Nova York
com sua limusine para cortar o cabelo. A história se passa em apenas um dia e
seu objetivo é atrapalhado devido aos protestos que tomam as ruas da cidade
contra a visita do presidente e a crise financeira.
Apesar dos pedidos do
moderador da entrevista para que os jornalistas ignorassem a franquia dos
vampiros, o diretor foi questionado se teria escolhido Pattinson para o papel
para interpretar um “vampiro capitalista”. Beirando à irritação, Cronenberg
negou. “Esta é uma
pessoa real, com uma história e um passado, e seu passado não é ‘Crepúsculo’”, rebateu o cineasta canadense sobre o
personagem Eric Packer, um gênio da especulação financeira de apenas 28 anos. “Fizemos algo novo e original. É preciso
esquecer todas as outras coisas, não posso ficar pensando em ‘Crepúsculo’. Eu
estava fazendo ‘Cosmópolis’”, disse.
O diretor também não queria
que a produção fosse comparada com nada de sua filmografia. “Ficar pensando em meus outros trabalhos
não me dá nada. O filme me diz o que quer e do que precisa, e não tem nada a
ver com meus filmes anteriores”, explicou sobre o seu processo de trabalho.
Mais humorado, Pattinson
confessou que bateu um pânico conforme o início das gravações se aproximavam e
o diretor não entrava em contato para começar os ensaios. “Passei duas semanas num quarto de hotel
sem me preparar, só me preocupando e me confundindo”, contou rindo. No final de semana
anterior ao início das filmagens, o ator não aguentou mais e foi até Cronenberg
para conversar sobre o personagem, o que não adiantou muito. “Ele me disse para não me preocupar e
deixar que acontecesse. Não seria necessária uma atuação cerebral”, revelou, meio envergonhado e
arrancando risos. Então emendou a piada: “Para ser ator não é preciso ser muito inteligente”.
Cronenberg fez a adaptação
do livro para o roteiro em apenas seis dias, praticamente escrevendo as cenas e
transpondo fielmente os diálogos afiados de Don DeLillo. A maior parte do filme
se passa dentro de um carro, onde Eric Packer (Pattinson) recebe amigos, sócios
e amantes – há, inclusive, duas cenas de sexo, uma delas com a estrela Juliette
Binoche (“Cópia Fiel”). “Foi
como fazer uma música e não um filme”, sugeriu o ator. “O roteiro é tão lírico que eu não queria mudar uma palavra”.
O cineasta imediatamente
concordou. “É como
fazer uma versão de uma canção de Bob Dylan: você pode até mudar a música, mas
não toque nas letras”.
A constante interação de seu protagonista com os outros personagens num cenário
fechado é típica do universo cronenberguiano, e nem Cronenberg negou (apesar de
ter dito anteriormente que odeia comparações). “Para mim, a essência do cinema é o ser
humano falando e não uma imagem épica do Grand Canyon”, decretou.
O resultado do longa foi
aprovado pelo próprio DeLillo, que também foi a Cannes. “Não tive nada a ver com a adaptação
para o cinema e por isso o filme ficou tão bom”, brincou. O autor aproveitou para
explicar que criou o romance, publicado em 2003, inspirado apenas pelo fenômeno
das limusines brancas que tomaram Nova York na virada do século, sem qualquer
pano de fundo político, principalmente agora, com a atual crise financeira. “Não é um retrato do novo milênio.
Pensei apenas na história de um homem vivendo a sua vida num único dia. E me
interessei por esses carros que simplesmente não conseguem dobrar uma esquina”.
A metáfora, no entanto, pode
ser facilmente feita, o que não quer dizer que tenha agradado a todos. “Cosmópolis”
não provocou reações exageradas e dividiu a crítica de forma tímida. Enquanto
alguns jornalistas adoraram os diálogos incessantes dentro do ambiente
claustrofóbico, outros acharam o filme verborrágico. A interpretação de
Pattinson também não foi unânime, surpreendo uns e irritando outros. E teve
quem achou Cronenberg contido demais – apesar das cenas de sexo e de ter
colocado seu protagonista para fazer um exame de próstata.
A dupla
Cronenberg/Pattinson, no entanto, aprovou a parceria e já anunciou um novo
trabalho. E aproveitando a citação a Bob Dylan, Pattinson também confirmou que
está envolvido com um filme sobre The Band, a banda que tocou com Dylan nos
anos 1960 e 1970. E é assim que começa o verdadeiro “Amanhecer” de Robert
Pattinson, o ator.
Post: Mel
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