Cenamais publicou a crítica de Na Estrada, em cartas desde a última semana. A crítica fala
de forma aberta sobre a difícil tarefa de adaptação do livro para o filme, da
forma como os interpretes deram vida aos personagens, que mostram os dramas, o
modo intenso de viver e as emoções da época. Fala também do roteiro, fotografia
e sobre a trilha sonora, embalada pelo jazz típico dos anos de 1950.
Na Estrada
– Belo Tributo de Walter Salles à obra Jack Keuroac.
Parecia impossível trazer para a linguagem cinematográfica
o universo de Jack Kerouac, com sua mais cultuada obra, Pé
na Estrada. Escrito em 1951 e publicado apenas em 1957, o projeto
passou na mão de vários diretores, entre eles, Francis Ford Coppola, que
adquiriu os direitos do livro na década de 80. Coube ao brasileiro Walter
Salles, trazer para as telas as aventuras frenéticas desses inspiradores personagens.
O diretor acaba sendo o nome certo para o projeto. Além de fã da
obra, Salles sabe manejar o estilo de direção road movie. Com
extrema eficácia, ele transformou Central do Brasil e Diários de Motocicleta em excelentes experiências
cinematográficas, e repete aqui em Na Estrada.
Mais uma vez se reunindo com Jose Rivera (Diários
de Motocicleta) e com
a competente fotografia de Eric Gautier (Na Natureza Selvagem), já
de início, entramos e não saímos mais da jornada do jovem Sal Paradise (Sam
Riley), que parte para o desconhecido para se auto-descobrir. Após perder seu
pai, o aspirante a escritor conhece o vagabundo de Denver, Dean Moriarty
(Garrett Hedlund), acompanhado do amigo Carlo Marx (Tom
Sturridge). Impulsionados pela loucura de viver de Dean, o trio se joga ao
mundo do jazz, drogas, sexo, cultura e muito mais. Nessa longa jornada pelo
mundo, eles irão se deparar com Marylou (Kristen Stewart), o músico Walter
(Terrence Howard), o escritor Old Bull Lee (Viggo Mortensen) e sua esposa
Jane (Amy Adams), a mexicana Terry (Alice Braga) e a melancólica Camille
(Kirsten Dunst).
A última sempre cai nos galanteios de Dean, acreditando um dia que
o jovem que tem um currículo maior que vários delinquentes juntos, possa tomar
um rumo na vida. Porém, o espírito livre do personagem, que nunca tem medo de
se jogar no mundo, acaba fascinando todos do grupo. Ver as atitudes de Dean em
cena, pode parecer algo irresponsável e reprovável de sua parte. A verdade é
que todos nós gostaríamos de ter um pouco da coragem dele de viver a vida
intensamente a cada segundo. Garrett Hedlund, faz o melhor papel de sua
carreira como o personagem e apresenta um carisma e sedução cativantes.
O que impressiona é justamente a sintonia e o comprometimento de
todo o elenco. Sam Riley, é o mais passivo, mas seu personagem atua como um
espectador, acompanhando os dilemas de cada um dos amigos. Mas o ator
consegue passar em seu olhar a sedenta busca por novas experiências, sempre se
deixando levar e conversando com estranhos que encontra nas caronas que recebe
na estrada. Stewart, sempre criticada por ser “aquela
que faz a mesma cara em todos os filmes”, se entrega totalmente
fazendo da Marylou uma jovem comovente e exalando paixão. A atriz está
envolvida no projeto desde 2008 (muito antes de ser a Bella de Crepúsculo),
quando o filme ainda procurava financiamento. Ela sempre demonstrou paixão pela
personagem e pelo livro, aceitando ganhar o cachê mínimo estabelecido pelo
sindicato dos atores. Hedlund, quase abandonou o elenco de Tron: O Legado por conta de seu envolvimento
em Na Estrada.
Mesmo com a aparição de personagens que ficam pouco tempo em cena,
como a bela Terry (Braga), fica depois uma marca, um sentimento de
amadurecimento para o desenrolar dos protagonistas. A atriz brasileira
protagoniza uma das cenas mais belas de toda a fita, quando Sal se despede
prometendo que voltará a vê-la, mas ambos, e principalmente ela, sabe que
será impossível. Daí a câmera foca no semblante de Terry mostrando um olhar
triste.
A jornada de Sal é beneficiada por belíssimas locações, que
exploram bem as várias cidades pelos Estados Unidos e México. Um competente
trabalho de época, após o diretor passar quatro anos viajando e estudando todo
o percurso realizado por Jack Kerouac.
Durante o segundo ato, em que apenas acompanhamos Dean e Sal
caindo na estrada, o longa perde um pouco do ritmo. Mas neste momento, Salles
tenta passar o sentimento de que ambos estão perdidos e estão sempre fazendo as
mesmas coisas, fazendo com que Dean se canse e decida retomar sua vida.
A trilha sonora sempre acompanhada do jazz, traduz bem o
sentimento libertador do longa. Destaque para a belíssima cena em que Dean e
Marylou parecem estar sozinhos dançando um para o outro em um clube, destacando
o intenso espírito jovem do casal.
Na Estrada, é um belo tributo à obra de Kerouac. Walter
Salles consegue o inimaginável em traduzir para o cinema uma obra tão
fantástica, sendo sensível e apresentando uma fidelidade, que pode ter
prejudicado em alguns momentos. Mas a doçura e humanidade com que filmou a
jornada de Dean, Sal, Marylou, Carlo, entre outros, conseguiu o objetivo de ser
sonhador e inspirador para o público.
NOTA:
9,0/10
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