12 setembro 2011

LUCKY BELLA - CAPÍTULO 1

Boa noite pervinhas, prontas para acompanharem a continuação de Lucky???? Lucuky Bella começa exatamente no capítulo 06 de Lucky, garanto que vocês também gostarão muito dessa nossa nova FIC! Ótima leitura!
Autora: Cella
Classificação: Maiores de 18 anos 
Categoria: Saga Crepúsculo
Personagens: Bella Swan, Edward Cullen, Ement Cullen, Rosalie....
Gêneros: Romance
Avisos: Sexo


Capítulo 1 - Lucky?
BPOV
Hematomas, hematomas... uma porção de hematomas. Era exatamente isso que meu cérebro gritava, enquanto meu corpo conseguia desempenhar a proeza de se espatifar no chão escorregadio do meu banheiro recém construído.
A queda foi tão bizarra que tinha sido digna de aplausos. Acho que estava dormindo ou coisa do tipo, porque – pelo-amor-de-todos-os-santos – eu não prestei atenção no maldito sabonete estrategicamente jogado no chão, esboçando um sorrisinho sacana, esperando o primeiro trouxa que iria se esborrachar no azulejo escuro por sua causa.
E bom, eu morava sozinha, então as chances daquele pedaço de sebo bovino disfarçado por um cheirinho bom me pegasse eram muitas. E não deu outra.
Senti tudo em câmera lenta: meu pé firmando na massa úmida e molenga, meus olhos arregalados ao prever o que estava por vir, minhas pernas abertas e apontadas pra cima e por fim a cabeça batendo bem junto ao ralo, provocando um estalo surdo que fez o banheiro girar furiosamente.
Hematomas, com certeza. Muitos hematomas pra falar a verdade. E um belo galo bem atrás da cabeça e.. ai, um corte pequeno no cotovelo esquerdo. Bom, pelo menos eu estava consciente, sabia o que estava acontecendo ao meu redor e.. espera, aquilo são estrelas despencando do chuveiro? Sim, são estrelas e uau, quem apagou a luz?
Ok, acho que desmaiei.
[…]
Não tinha ideia de quanto tempo fiquei desacordada, mas quando finalmente consegui despertar, comecei a rezar pra desmaiar de novo. Minha cabeça parecia ter sido esmagada por uma manada de elefantes bem gordos e apressados, e os olhos estavam tão pesados que era uma tarefa árdua conseguir mantê-los abertos. Piscar então era algo impossível.
Com muito esforço eu consegui ficar de pé, só pra no segundo seguinte despencar feito jaca podre no chão gelado do banheiro de novo.
Que linda maneira de começar o dia, Bella Swan!
Após alguns segundos – ou minutos, quem sabe até horas – de uma luta ferrenha entre meu cérebro e o corpo, consegui firmar meus pés no chão, tentando ao máximo manter distância do sabonete assassino, que estava todo amassadinho e brilhante no canto oposto ao meu. Puxei a toalha felpuda e macia, me enroscando rapidamente, sem conseguir desviar os olhos do pedacinho rosa e cheiroso que ainda nutria a esperança de me ver despencando no piso molhado outra vez.
Vai pegar outra, vadiozinho!
Ainda com os olhos vidrados no sabonete com cara de serial killer, eu sentei na privada, dobrando os joelhos e enfiando a cara entre eles. Minha cabeça estava levemente zonza e havia um gosto estranho em meus lábios, que percebi estarem estranhamente secos. Foi só então que notei a pequena ardência no braço esquerdo e quando o virei, me deparei com um filete escorregando pela pele úmida, o vermelho era muito vívido e isso acabou provocando uma contração forte no meu estômago, que empurrou a bile em direção à garganta tão rapidamente que não deu tempo de processar os acontecimentos.
Meu corpo dobrou e – não me pergunte como – em seguida, eu estava com a cabeça enfiada no vaso sanitário, vomitando o resto do meu jantar japonês da noite passada. Sangue sempre me deixava enjoada e quase sempre o resultado disso era exatamente essa cena: eu, me contorcendo sobre a privada, praticamente colocando o aparelho digestivo pra fora.
Geralmente haveria alguém pra me ajudar a levantar e me carregar pra cama, sussurrando palavras gentis, enquanto enxugava o suor frio que brotava da testa, despertando a familiar sensação de alívio que logo reacomodava meu estômago no seu devido lugar, logo cessando o enjôo furioso. E só de pensar nisso, senti alguns luppings dentro de mim, obrigando o corpo a se curvar de volta ao vaso, recomeçando o acesso de vômito.
Eu estava sozinha agora e o alguém estava a quilômetros de distância, provavelmente fazendo algo que eu não ousaria nem pensar.
Droga, será que era tão difícil assim ficar algumas horas sem pensar nele? Aquilo já estava se tornando ridículo, um caso pra internação em uma clínica pra doentes mentais, quem sabe seria até necessário camisa de força pra me conter.
Já estava morando em Paris há mais ou menos um mês e meio e ainda não tinha conseguido superar aquela paixão arrebatadora por Edward. Não foi fácil dar as costas para o par de olhos verdes suplicantes, muito menos ignorar as palavras genuínas que escorreram da boca bem feita e enlaçaram meu coração com tanta força que fez meu corpo tombar e oscilar na direção contrária.
Mas feliz – ou infelizmente, vai saber – eu consegui puxar o corpo de volta e segui rumo ao que achava a coisa certa a ser feita. Não tenho ideia de como embarquei no vôo, não sei como cheguei à essa cidade, tudo porque minha mente só conseguia focar em um único pensamento: o rosto de Edward desmoronando ao perceber que eu estava partindo. Aquela imagem parecia fincada na minha memória e – por maior que fosse o meu esforço – não conseguia apagá-la.
"Por favor, Bella, não vai, eu imploro." Deus, isso nunca seria esquecido? Será que não iria ter um jeito de seguir em frente? Eu estava mesmo condenada a viver na fossa permanentemente?
Ah, não!
Dei um pulo pra longe do vaso sanitário, querendo manter distante aquelas lembranças nada agradáveis, e enterrei a cabeça na cuba da pia bem desenhada, enquanto tateava a torneira e deixava a água quente jorrar sobre mim, enviando a onda de alívio de que tanto necessitava. Meus pensamentos ficaram embaralhados por alguns segundos e quando, enfim, consegui reassumir o controle do meu corpo quase tive um colapso nervoso.
Céus, eu era personificação da catástrofe.
Havia duas grandes manchas roxas sob meus olhos, que estavam vermelhos e chorosos; os lábios apresentavam um tom pálido e ressecado, contrastando com a bola rosada que tinha tomado conta do meu nariz. Diante daquela imagem nada animadora, não tive outra alternativa a não ser exalar um suspiro ressentido e voltar a afundar minha cabeça na cuba cheia de água morna.
Sabe aqueles dias em que tudo que você mais quer é dar meia volta em direção à cama e se esconder até dia seguinte? Pois é, era exatamente assim que eu estava me sentindo.
Porém, não tinha a menor possibilidade de eu voltar pra minha cama quente e tentadora, precisava estar na agência em mais ou menos.. putaquepariu, eu só tinha meia hora pra me arrumar pro trabalho!
"Santa Merda!" sai praguejando banheiro afora, ainda tonta pela queda e pelo desmaio, procurando a caixinha de primeiros socorros que eu nunca tivera motivos pra usar. Por incrível que pareça, aquele tinha sido o primeiro grande desastre desde que me mudara.
"Vamos lá, Bella, se você fosse uma linda e perfeita caixa de medicamentos, onde se esconderia?" Acho que avancei mais um estágio na escala da loucura. Olha só pra mim, falando sozinha e me imaginando no lugar de um pedaço quadrado de madeira. Deus, preciso de terapia com urgência!
Meu braço estava latejando levemente e eu fazia questão de ignorar o sangue ressecado pintando minha pele. Não consegui encontrar a maldita caixa com remédios e percebi que não dava tempo de ficar brincando de "Onde está o Wally?". Tinha uma reunião importante na agência e não poderia de jeito algum chegar atrasada.
Pensando nisso, rumei de volta ao banheiro, fazendo questão de ignorar o sabonete sedento por tombos e desastres, e tomei uma boa ducha fria em incríveis cinco minutos. Me sentia sonolenta, com uma puta dor de cabeça que estava prestes a estourar meus miolos, mas tinha que seguir em frente pra não ter problemas mais tarde. Eu era uma publicitária cheia de responsabilidades e com um dia super agitado pra enfrentar.
Agora explica isso para as minhas pernas, que se recusavam a sair do lugar. Voltei meus olhos na direção do grande espelho do quarto – parcamente iluminado pela luz tímida do sol – e exalei um suspiro carregado, me sentindo completamente arrasada.
Meu Deus, eu parecia uma bêbada acabada. Se me esforçasse mais um pouco ficaria a cara da Amy Winehouse em seus dias de chilique.
Não, não, eu não poderia sair pra trabalhar com essa cara de enterro, precisava fazer alguma coisa, sei lá, arranjar um jeito de esconder as marcas da fossa em que estava totalmente atolada.
"Para dar um jeito nessa cara de enterro, só nascendo de novo." uma vozinha irritante zumbiu em meu ouvido e eu chacoalhei a cabeça, tentando não embarcar nessa viagem de começar a falar com meu eu interior. Aquilo já era o cúmulo da loucura e eu deveria passar longe disso.
"Isabella Swan, já chega de ficar posando de coitada!" Ok, eu não queria falar com meu interior, mas pelo visto ele – ou melhor, ela – queria falar comigo. Meus olhos rolaram de volta para o espelho e eu dei de cara com uma Bella bastante irritada, as mãos finas fechadas em punho e apoiadas na curva da cintura, bufando exageradamente. "Olha aqui, mocinha, eu não aguento mais te ver – ou melhor – nos ver nesse estado deplorável! Por Deus, onde está a bitch que sempre passou por cima de tudo? Cadê a Bella confiante, a mulher responsável e segura das suas convicções? Basta de se lamentar por decisões já tomadas, afundar em choro, arrependimento e barras de chocolates não vai mudar a situação! Ou melhor, vai mudar sim, vai nos deixar velhas antes do tempo e com muitos quilos a mais!"
Todo esse discurso de incentivo pra no final jogar um banho de água fria me chamando de gorda?
Desci os olhos pelo corpo em uma vistoria completa, tentando achar algum ponto fora do lugar que denunciasse o que a Bella do espelho tinha mencionado. Eu não estava gorda, estava?
"Se continuar com essa paranóia vai ficar ansiosa e vai afundar em chocolate. É isso que você quer, Bella?" minha voz alertou, me obrigando a voltar a atenção ao espelho. "Quer nos entupir de gordura e carboidratos até explodir, ou pior, até deixar nossa bunda tão grande que não vamos ser capazes de entrar em uma calça jeans?" os olhos arregalados refletidos à frente me deixaram sem ar.
"Já chega!" dei um largo passo pra longe do espelho, subitamente arfante. "Eu já entendi o recado, não precisa ficar fazendo pressão psicológica! Não vou mais chorar, me lamentar ou qualquer outra coisa que me deixe nessa depressão absurda. E não vou mais comer chocolate ou qualquer coisa que passe direto pelo meu estômago e vá direto para o meu quadril"
Um sorriso amplo rasgou a boca rosada da mulher parada no outro lado do espelho e eu suspirei, passando as mãos pela testa fria que estava úmida de suor.
Uau, acho que pirei de vez. Ou recobrei a sanidade, vai saber.
Minha cabeça estava confusa, mas de um algum jeito aquele surto tinha servido pra me despertar. Chega de bancar a coitadinha, aquilo não tinha nada a ver comigo! Eu era uma mulher segura, independente e, se não me apressasse, seria uma desempregada também.
Corri até o guarda roupas e puxei o primeiro vestido que encontrei pela frente, agradecendo aos céus por pelo menos ser a roupa apresentável para uma reunião com clientes importantes. Vesti as meias pretas e calcei os sapatos de salto alto – que provavelmente fariam os olhos acinzentados de Alice brilharem como se ela estivesse diante de uma obra de arte valiosíssima – e fiz o caminho de volta ao banheiro, me sentindo ainda mais zonza e atrapalhada.
Revirei a gaveta de madeira sob a pia e consegui encontrar um band-aid meio amassado , mas que serviria pra mascarar o pequeno machucado no meu cotovelo. Consegui me maquiar em mais ou menos quatro minutos, quase soltando gritinhos de alegria por ter controle nas mãos trêmulas e não ter causado nenhum acidente comigo mesma. Levantei os dedões pro ar em sinal de agradecimento por ter nascido com um cabelo não exigia muito. Bastavam algumas boas penteadas com os dedos e, voilà, eu estava pronta pra trabalhar.
Passei como um jato pela cozinha apenas para enfiar uma barra de cereal goela abaixo e entornando a garrafa de leite frio de uma vez só e ao rumar pra sala, enganchei a bolsa nos ombros, o casaco dobrado nos braços e as chaves de casa nos dedos. Se tudo desse certo, eu chegaria à agência em mais ou menos quinze minutos. Era um bom tempo, considerando que eu já estava atrasada dez minutos.
Desci as escadas do prédio antigo em que morava e murmurei um simples "Bonjour" para o porteiro, que me encarava todo sorridente. Já estava me sentindo arfante e um tanto quanto desesperada por causa do meu atraso e então percebi que meus olhos não conseguiam desviar do relógio preso no pulso, só aumentando a sensação de ansiedade que estava começando a embolar meu estômago. O alívio se alastrou por meu corpo quando consegui rapidamente um táxi disponível em meio ao caos que era o trânsito daquela cidade.
"133 Avenue des Champs Elysées, s'il vous plaît" informei ao motorista, assim que me acomodei no banco traseiro do carro.
Soltei um longo e pesado suspiro, já sentindo no corpo as emoções daquele dia – que mal havia começado. Voltei os olhos para as árvores ressecadas que contornavam os Champs Elysées e não pude deixar de esboçar um sorriso. O outono estava sendo rígido, mas não conseguia ser capaz de arruinar a beleza da cidade, que a cada esquina se tornava mais e mais encantadora. Com certeza Alice iria adorar passear pelas calçadas que respiravam moda e elegância.
E lembrar de Alice automaticamente me fazia recordar de Rosalie, Jasper, Emmett e dele.
Tudo que eu não poderia pensar naquele momento era em Edward, já não bastava as vinte e quatro horas do dia em que meus pensamentos se voltavam pra ele, recordando a forma como nossas bocas se tocavam, como as mãos exploravam o corpo do outro, nossos olhos falando em uma língua que só eles conheciam...
Eu precisava tirar Edward da minha cabeça ou logo teria que me mudar para uma clínica de tratamento psicológico.
Maldita ideia fixa aquela!
Levei um susto quando o carro brecou e o motorista – em um francês acentuado demais para os meus ouvidos ainda inseguros com relação ao idioma – anunciou que havíamos chegado e que a corrida tinha custado mais ou menos 30 euros.
Paguei o valor do táxi e saltei rua afora, meio atrapalhada com o retorno da ansiedade correndo sob minhas veias. Tratei de inspirar o ar levemente frio da manhã nublada e obriguei meus pés a seguirem ao prédio de arquitetura moderna da agência.
Era estranho, mas inevitável o sorriso que despontava em meus lábios cada vez que eu avançava em direção aos corredores bem projetados e em constante agitação da empresa. Ainda não tinha processado a informação de que agora eu fazia parte do quadro funcional da maior agência de publicidade européia, a quarta maior do mundo! O Publicis Groupe era líder no segmento em quase toda Europa e já havia expandido seus negócios por praticamente todos os cantos do globo terrestre. Não dava pra conter o riso de satisfação que coçava minha garganta cada vez que eu me deparava com a logomarca da empresa estampada em quadros e pôsteres espalhados pelo prédio inteiro.
Além disso, era somente ali que eu encontrava um pouco de paz e conseguia esquecer – ainda que brevemente – os pensamentos confusos que atormentavam minha mente nos últimos tempos. Apenas trabalhando eu conseguia me manter sã.
Assim que entrei em minha sala dei de cara com Clarice, assistente e braço direito do meu chefe, Bernard. Pela cara da loira baixinha dava pra notar que eu estava encrencada.
"Bonjour, Clarice, me desculpe pelo atraso, eu tive um pequeno imprevisto em casa e-" a frase se perdeu no meio do caminho quando a loira pequena abanou as mãos no ar, em um gesto claro de agitação.
"Deixe suas desculpas pra depois, Bella, nós estamos com problemas."
Ai droga, tá certo que eu estava atrasada quase meia hora, mas também não havia motivos pra tanto alarde! Franceses são mesmo exagerados.
"O que houve, Clarice, a reunião já terminou, foi isso?"
"Nem começou, Bella" ao ouvir isso permiti que meus pulmões exalassem pesadamente. "O cliente acabou cancelando, tudo porque não aprovou a prévia da campanha que enviamos na semana passada."
"Como não aprovaram? Estava tudo acertado, eu mesma fiz as correções que eles pediram, mandei a prévia exatamente como instruído no briefing¹ que foi enviado a mim." revirei a gaveta à procura da cópia do material que continha as informações da campanha em questão. Passei os olhos rapidamente, à procura de algum erro, mas não consegui encontrar nenhum. Como não aprovaram a prévia se tudo estava exatamente como exigido pelo contratante?
"Houve algumas falhas no orçamento, Bella." Clarice retomou minha atenção e eu franzi o cenho, sem conseguir entender onde ela queria chegar. "Erros imperdoáveis de cálculos, alguns serviços estavam orçados à preços exorbitantes. Você errou e por causa desse erro perdemos um bom contrato."
Meu estômago travou naquele momento e eu não tive outra alternativa a não ser enterrar o rosto entre as mãos, completamente abandonada. Céus, eu tinha mesmo cometido um erro tão absurdo como Clarice estava insinuando? Não, aquilo era inconcebível, eu não era tão irresponsável, não quando o assunto era algo relacionado ao meu trabalho.
Baixei os olhos e tentei focar a visão na pilha de papel amontoada sobre a mesa, subitamente ansiosa para encontrar o possível erro que cometera.
"Preciso falar com Bernard, ele está na sala dele?" minhas mãos tremiam ao revirar as páginas cheias de informações sobre a campanha em que vinha trabalhando desde que ingressara na empresa.
"Bernard precisou viajar até Roma pra resolver um pequeno contratempo com a campanha da Fiat, da qual ele também é responsável pela direção como você deve saber." Clarice informou em uma voz manchada de tédio.
"Céus, Clarice, eu ainda não acredito que tenha cometido um erro tão grave como esse. Isso é imperdoável." comentei ingenuamente.
"Ainda bem que você sabe disso." Todas as suspeitas sobre sua antipatia por mim só aumentaram ao ouvi-la falar daquele jeito. "De qualquer forma, não podemos ficar nos lamentando o dia inteiro, há outros assuntos que precisam ser resolvidos. Você tem uma reunião com um cliente em meia hora. Por favor, preste atenção em tudo que ele pedir, Isabella, não podemos perder outro contrato importante." Clarice me lançou um sorriso nada afetuoso e girou sobre seus Gucci de saltos finíssimos, me deixando sozinha na sala, que logo mergulhou em um silêncio desconcertante.
Fiquei um bom tempo fitando o nada, tentando entender em que momento eu perdi a consciência e me tornei tão irresponsável com relação ao meu trabalho. Por mais que me esforçasse em compreender meu erro eu sabia que aquilo era algo incompreensível.
Droga, eu não poderia cometer falhas tão grotescas, não agora que estava trabalhando em uma agência tão conceituada e importante. OMG, o que Bernard estaria pensado a respeito do meu desempenho? Deus, àquela altura meu chefe deveria achar que eu não passava de uma amadora e poderia até estar arrependido por ter me contratado.
Não, eu não poderia pensar em uma coisa dessas, não iria saber o que fazer caso fosse mandada embora da Publicis com tão pouco tempo de experiência na agência.
Céus, será que eu tinha acabado com a minha carreira naquela empresa?
[…]
O restante do dia passou agitado e completamente nauseante pra mim. Por conta da minha grande falha na primeira campanha que estava produzindo, desenvolvi uma certa paranóia, que me acompanhou durante todas as reuniões com clientes que participei durante o expediente. Minha cabeça latejava tamanho era o esforço que eu fazia pra me manter concentrada em cada especificação exigida durante o processo de criação da peça publicitária.
Resolvi usar meu horário de almoço pra tentar entender o que havia feito de errado. Revisei documentos, refiz cálculos e cheguei a conclusão que mais temia: eu havia sido irresponsável e de fato tinha errado no processo final.
E saber disso só contribuiu para aumentar a dor de cabeça que – àquela altura – já se tornava insuportável.
Sentia uma vontade imensa de chorar e tudo que mais queria era o conforto de um colo amigo pra me aconchegar e esquecer dos problemas que martelavam a mente fatigada. Eu sempre havia sido motivo de orgulho por ser segura na profissão e muito competente em tudo que fazia.
Perceber que havia errado por uma simples falta de atenção e concentração era algo inaceitável. Sabia que estava sendo um pouco rígida demais comigo mesma, mas não dava pra engolir uma pisada de bola como aquelas.
Pousei os olhos sobre o celular inerte em cima da mesa coberta por pastas e documentos revirados e senti uma vontade enorme de ligar para um dos meus amigos.
Correção: senti vontade de ligar para ele. Edward.
Eu sabia que naquele momento a única pessoa que seria capaz de me confortar seria ele, somente Edward entenderia o bolo confuso que estava pressionando meu cérebro, me deixando incapaz de racionar com clareza.
Provavelmente ele me diria algo como "Não seja tão rigorosa com você mesma, Bee, não dá pra acertar o tempo inteiro." e me lançaria um sorriso caloroso antes de terminar com um "Vem, vou te levar pra beber e te fazer esquecer dessas chatices do trabalho."
Só percebi que estava entrando em mais uma crise descontrolada de choro quando meus olhos ficaram turvos e a garganta travou o ar em meus pulmões.
"Idiota, Bella, você é uma tremenda idiota!" rosnei, em meio a soluços e fungadas exageradas.
Tratei de empurrar as lágrimas pra longe e só então percebi que meu expediente havia terminado e que eu enfim poderia voltar pro meu apartamento, novamente pra minha fossa.
Que se foda a Bella autoconfiante e determinada que há dentro de mim, hoje eu só queria ser a Bella que errava e que precisava desesperadamente da companhia do melhor amigo que ela havia perdido por culpa de um erro vergonhoso.
É, ultimamente eu estava cada vez mais convencida de que se deixar levar por um sentimento maldito chamado amor era o maior dos erros que alguém poderia cometer na vida.
[…]
Assim que saí da agência resolvi que precisava espairecer ou logo entraria em colapso. A noite de Paris oferecia um convite irresistível para um passeio e eu resolvi aceitar aquela oferta na esperança de encontrar um rumo para reordenar os pensamentos atrapalhados que flutuavam de forma aleatória dentro de mim. Tentei prestar atenção na movimentação das pessoas, que vagavam apressadas e eufóricas pela Champs Elysées, sempre seguindo em direções diversas.
Muitas se aglomeravam nos milhares de cafés espalhados pela avenida mais famosa da cidade, outras preferiam desfrutar da beleza arquitetônica do Arco do Triunfo, todo iluminado e cheio de grandes histórias do passado.
Preferi seguir adiante, sem um destino específico em mente.
Só me dei conta de que estava seguindo em direção ao parque Champ de Mars² quando desci rumo ao metrô Charles de Gaulle-Etoile, que àquela hora do dia – um final de tarde encantador – estava abarrotado de turistas de olhos curiosos, todos muito bem equipados com suas câmeras e mapas a tiracolo. Sorri, meio sem vontade, e relembrei da confusão que ainda fazia quando o assunto era me locomover dentro daquela cidade – tão frenética, mas tão singular no seu charme romântico.
Desembarquei no Ecole Militaire e logo senti o ar fresco que rondava a paisagem – geralmente esverdeada – das muitas árvores que circundavam o parque. Inspirei longa e profundamente e tentei me deixar levar pela aura quase mágica que rodeava aquele pedaço específico de Paris. Fiz questão de caminhar lentamente, tentando ao máximo aproveitar a brisa do finzinho do dia que soprava por ali, agitando a folhagem morta das árvores e amontoando-a sob o chão bem trabalhado.
Meus pensamentos agora vagavam meio sem rumo, perdidos nas imagens das pessoas apressadas passando ao meu lado, loucas para chegar ao ponto final do Champs de Mars. Tentei não focar meus olhos nos muitos casais espalhados pela grama, exalando amor na cidade mais romântica do mundo.
Que grande ironia era aquela. Eu estava na cidade do romance e me sentia cada vez mais longe de viver uma grande história de amor. Faltava a peça principal da cena.
Faltava ele.
E droga, lá vamos nós de novo.
"Eu não sei se isso é amor, paixão ou qualquer outro sentimento que não consigo descrever, mas sei que não posso viver sem você, Bella, nem agora nem nunca! Você é a mulher da minha vida, lembra?"
Não, não, pra que pensar naquilo justamente agora? Aquelas palavras tinham sido pronunciadas no calor do momento, se aquilo fosse mesmo verdade, por que Edward não havia me procurado?
Nada foi dito após minha partida, nem um telefonema ou algo que confirmasse tudo aquilo que ele dissera pra mim no meio do corredor do aeroporto. Mas nada aconteceu.
Absolutamente nada.
Com um grande esforço, com um esforço quase sobrenatural para ser mais específica, eu consegui desviar a mente das recordações desagradáveis e resolvi seguir a multidão, que agora parecia mais eufórica do que nunca. Eu sabia o motivo: a tão aguardada hora do dia estava prestes a chegar e nenhum turista que se preze poderia perder a cena que encantava cada um que colocava os pés em Paris.
Era hora das luzes que iluminavam a Torre Eiffel serem acesas. E como quase tudo na cidade era mágico e esplendoroso, aquele momento não fugia à regra.
Como já era de se previr, o grande gramado que circundava o ponto turístico mais famoso da cidade estava lotado e logo eu senti o calor humano me envolver, apaziguando os sentimentos de abandono e solidão que andavam me dominando nas últimas horas. Era quase impossível não ser tomada pela aura de encantamento que aquele amontoado de aço exalava. Passei um bom tempo contemplando a torre, agora totalmente iluminada em seu esplendor.
Senti o vento gelado soprar em meu rosto e deixei que as lágrimas grudassem na pele, não me importando em dar vazão a todo o estresse e outros sentimentos conflitantes que me atormentavam naquele momento.
Eu estava carente demais e não sabia o que fazer para aplacar aquela sensação horrível dentro de mim.
Sem pensar muito bem no que estava fazendo, puxei o celular do bolso, tentando não dar atenção aos dedos trêmulos, e disquei o número da casa de Charlie e Renèe. Dei uma rápida olhada no relógio em meu pulso, calculando o fuso horário, enquanto esperava que a ligação fosse atendida. Ainda era dia em Nova York então meus pais deveriam estar em casa.
Descobri que estava errada assim que ouvi o clique da secretária eletrônica. Bufei e prendi meus lábios entre os dentes, tentando não deixar que as lágrimas irrompessem novamente.
"Oi mãe, oi pai, como estão todos? Hm, s-só liguei porque, bem, a-acho que estou com saudades. B-bom, sei que nos últimos tempos não fomos o que pode ser chamado de família, mas, hm, e-eu só quero que saibam que-" engoli a seco, tentando mascarar a rouquidão que tomava conta da minha voz por causa do choro. "Hã, é, eu quero que saibam que, bom, que eu amo vocês. M-mesmo sabendo que as coisas já não são como eram no passado, mesmo sabendo que eu já não sou mais a garotinha de vocês, mesmo assim eu precisava dizer o quanto os amo e o quanto sinto falta de cada um." a última frase saiu esganiçada e eu tentei consertá-la com uma risada, que acabou saindo em forma de soluço. "Ah... é..hm... e-espero que esteja tudo bem aí com todos e bom, eu t-tenho que desligar agora. Até mais e.. e.. é, eu acho que é só isso."
Senti o celular escorrer por meu ouvido até repousar, frio e sem graça entre os dedos – que estavam mais trêmulos do que antes. Havia um nó na garganta tão desesperador que estava me deixando com dificuldade de respirar naturalmente. Passei as mãos suadas pelos cabelos e bufei sonoramente, tentando com isso mandar pra longe as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos.
"Você não pode fraquejar, Bella, não agora, que as coisas estão finalmente tomando um rumo certo."
Mas qual rumo certo era esse afinal? Será que eu havia feito a coisa certa, aceitando um emprego em uma cidade do outro lado do mundo, que me deixava tão distante de tudo aquilo que eu mais amava no mundo? Será que aquela tinha sido a melhor opção para minha vida, ou será que eu havia cometido a pior burrada que alguém poderia fazer?
Minha cabeça latejava e eu decidi que era hora de ir pra casa, o dia havia sido péssimo e tudo que eu mais queria, era esquecê-lo e rezar para que algo melhor acontecesse na manhã seguinte. Mas a dúvida persistia dentro de mim, pulsando mais viva do que nunca: será que eu conseguiria fazer algo melhor nas próximas vinte e quatro horas ou as coisas iriam continuar como estavam, tão horríveis que já me levavam à beira da loucura?
Me recusei a responder aquelas perguntas e saí caminhando pelo gramado abarrotado de gente, me sentindo mais sozinha do que nunca.
Fiz questão de voltar para casa pelo caminho mais longo e aproveitar pra não pensar em nada, tentando ao máximo me focar em coisas sem importância, como o placar luminoso das estações de metrô, avisando os horários e o itinerário das linhas que interligavam a cidade inteira. Prestei atenção em cada rosto que vi; cada olhar que fora lançado a mim durante todo percurso, tentando imaginar o que se passava dentro de todas aquelas pessoas. Quem eram elas e por que estavam ali, o que faziam e quais eram seus maiores sonhos e seus piores medos? De alguma forma pensar sobre aquilo reduziu um pouco a sensação de solidão que tomava conta de mim.
Desembarquei e estava decidida a parar em um dos inúmeros cafés espalhados pela cidade, mas acabei desistindo ao dar de cara com os muitos grupos de amigos reunidos, celebrando e exalando felicidade.
Girei nos calcanhares e apressei o passo em direção ao prédio onde morava, fazendo questão de manter a cabeça o mais baixa possível a fim de evitar toda e qualquer imagem que recordasse das pessoas mais importantes da minha vida.
Mas eu percebi que todo aquele esforço havia sido em vão assim que me aproximei da entrada do meu apartamento. Parado em frente ao porteiro, gesticulando exaltadamente, estava a personificação de todos os sentimentos conflitantes que tomavam conta de mim desde que chegara a Paris.
No primeiro momento eu jurei que estava sucumbindo à uma crise de estresse altíssima e já que estava tendo alucinações. Não era possível, eu só podia estar sonhando, não dava pra acreditar na imagem que os olhos estavam enviando ao cérebro. Aquilo só podia ser fruto da minha mente perturbada por um dia infernal.
Mas ao mesmo tempo não dava pra acreditar que eu poderia ser capaz de inventar um par de olhos verdes tão expressivos – e atônitos assim como os meus estavam - nem um cabelo tão desarrumadamente perfeito. Soube que não estava sonhando quando o sorriso torto e meio sem graça despontou na boca de lábios generosos.
"Edward." o nome tilintou pelo ar e eu arfei, sendo imediatamente envolvida pelo cheiro perturbador que parecia impregnado em meus pensamentos. Deus, nem em meus melhores sonhos eu poderia imaginar um perfume tão maravilhoso como aquele. "O-o quê.. como... p-por quê.." tentei soar coerente, mas eu estava temporariamente fora do ar. Não dava para raciocinar com clareza com um olhar tão intenso acompanhando cada respiração que escapava da minha boca escancarada de surpresa.
"Acho que o carinha ali estava tentando me dizer que você não estava, mas como eu não entendo uma vírgula de francês tudo que consegui fazer foi irritá-lo." comentou visivelmente desconcertado. Os dedos longos se perderam na massa avermelhada e bastante bagunçada e eu precisei enviar avisos constantes para tentar não babar por cada movimento que aquele homem fazia. "Bom, alguém me disse uma vez que iríamos nos encontrar em Paris." voltei minha atenção para o rosto de traços perfeitos e senti meus batimentos cardíacos oscilarem visivelmente quando o canto direito do lábios firmes entortou ainda mais. "Então pensei em vim atrás da minha melhor amiga, quem sabe ela poderia me ajudar a encontrar essa pessoa."
Deus, eu só poderia estar sonhando mesmo. Como aquilo poderia ser real, como eu poderia acreditar que tudo não era fruto da minha imaginação cansada demais? E como aprender a respirar quando o ar parece rarefeito ao meu redor?
Respira Bella, respira e acorda, porque você está em meio a um sonho. Um lindo, maravilhoso, perfeito, mas ainda assim um sonho.
Mas... quem disse que eu queria acordar?
"Hm, a-acho que posso te ajudar.. q-quer dizer, p-posso tentar te ajudar." respondi e engoli a seco quando senti Edward avançar um passo em minha direção.
"Faria isso por mim, Bee?" tremi ao ouvir o apelido pronunciado pela voz rouca. "Faria isso em nome dos velhos tempos?"
"C-claro, t-tudo em nome dos v-velhos tempos." Edward deixou escapar uma risada baixinha ao me ouvir gaguejar vergonhosamente. Não consegui me importar com isso, muito menos com o rubor intenso que cobriu meu rosto. Eu estava sonhando e a qualquer momento iria acordar, então pra que me importar com a forma como estava corada e arfante? "Hm, q-que tal se você me contasse por que veio atrás dessa pessoa. Assim fica mais fácil te ajudar."
Edward soltou um resfolego alto e – ignorando o olhar curioso do porteiro do meu prédio – recostou o corpo na parede gelada da fachada, desviando os olhos para a rua movimentada à nossa frente.
"Digamos que estou aqui pra tentar provar pra essa pessoa o quanto ela é importante na minha vida e o quanto ficar longe dela faz meus dias se tornarem quase miseráveis e bastante tediosos." ao ouvi-lo murmurar aquelas palavras, que saíram apressadas e trêmulas, eu senti o coração bater com tanta força e tratei de travar minha garganta, temendo que ele saísse pela boca. "Preciso fazê-la acreditar que eu estou disposto a tudo pra tê-la de volta."
"E c-como, c-como pretende fazer isso?" ele virou os olhos de volta para os meus e juntou os lábios em um sorriso cúmplice.
"É aí que eu preciso da sua ajuda, Bee."
"C-como quer que eu te ajude?" comecei a sentir a agitação de asas das borboletas em meu estômago espalhando uma corrente de ar gelada por toda parede do órgão, deixando minhas mãos suadas e agitadas.
"Me dê uma opinião sincera." e antes que eu pudesse perceber, senti as mãos quentes e firmes envolverem as minhas, afagando-as com delicadeza. Baixei os olhos e foquei minha visão no encaixe perfeito que nossos dedos exibiam, tão bem acomodados, entrelaçados uns aos outros. "Se eu disser a essa pessoa o quanto a amo, o quanto eu preciso dela na minha vida, acha que ela iria acreditar?"
"Acho que você só vai saber a resposta se falar isso pra essa pessoa." fechei os olhos e deixei escapar duas grossas e largas lágrimas, que foram acompanhadas por um soluço rouco e abafado. Edward sorriu e passou as costas da mão – que ainda estava entrelaçada a minha – em minha pele, secando-a. Suspirei sonoramente e soltei uma risada histérica, que travou no ar quando senti seu rosto abaixar em direção ao meu. A boca sensual roçou em minha orelha esquerda, deixando um rastro de calor, que em questão de milésimos tomou conta do corpo inteiro.
"Eu te amo." Edward sussurrou e eu senti o chão fugir sob meus pés. Deus, esse de fato era o melhor sonho da minha vida. Acho que poderia sonhar com aquele momento durante minha vida inteira. "Isso estava tão óbvio e mesmo assim eu nunca consegui enxergar. Precisei mesmo ver a mulher daminha vida longe pra ter certeza de uma coisa que estava na cara há muito tempo. Eu te amo, Bee. E como já disse, sou capaz de tudo pra ter você de volta na minha vida. Diz pra mim que ainda posso te ter, diz que não cheguei tarde, que você ainda me quer, que ainda-" Edward não completou o raciocínio, pois minha boca subitamente se tornou determinada na tarefa de calá-lo.
Ao contrário do que eu imaginava, o sonho não foi interrompido e eu não pulei da cama como se tivesse sido espetadas por milhares de agudas no meio do peito. Quando abri os olhos – completamente hesitante – minha boca ainda estava grudada a de Edward, fazendo movimentos tão lentos e temerosos que o toque não passava de um roçar de lábios.
E foi aí que eu percebi que não estava sonhando e que – por mais inacreditável que aquilo fosse – tudo o que Edward dissera tinha sido real e sincero.
"OMG, então quer dizer que isso não é mesmo um sonho? " me afastei subitamente tentando fitá-lo com clareza. Meus olhos piscaram repetidas vezes e só então notei o brilho intenso nas pupilas dilatadas, as sobrancelhas unidas em um claro sinal de confusão e os lábios entortados em um sorriso incrédulo.
Edward me encarou por alguns longos segundos e de repente, irrompeu em uma risada alta, que provocou um rubor forte em meu rosto. Me sentindo confusa e muito idiota abri a boca para murmurar uma explicação qualquer, porém, a mente travou quando as mãos firmes e habilidosas puxaram meu corpo de encontro no peito forte e quente para encaixar minhas costas em uma prisão de dedos mornos que subiram pela curva da coluna em direção a nuca. Senti os pêlos eriçando rapidamente sob o toque experiente e inflei os pulmões na vã tentativa de oxigenar o cérebro, mas tudo que consegui fazer foi resfolegar de maneira exagerada, pois no segundo seguinte os lábios macios grudaram aos meus, me fazendo esquecer até meu próprio nome.
Toda tensão do dia, o estresse que parecia determinado a me enlouquecer, todas as angústias e incertezas, absolutamente tudo perdeu o sentido diante do contentamento proporcionado pelo beijo de Edward. Nossos lábios agora duelavam de forma passional, ávidos pelo fôlego do outro. Deixei minhas mãos subirem até os cabelos desgrenhados, acomodando-as entre os fios ao mesmo tempo que senti Edward sugar levemente meu lábio inferior, o que me fez gemer e investir contra sua boca com vontade.
Meus joelhos fraquejaram quando a ponta da língua fervente e sequiosa lambeu meu lábio superior, arrancando outro gemido desesperado do fundo da garganta. Edward pareceu contente em provocar reações sonoras do meu corpo, pois passou a me beijar com entusiasmo, transformando o beijo – antes hesitante e delicado – em uma verdadeira explosão de sensações inexplicáveis que inundavam meu paladar e só me deixava com vontade de mais e mais.
Sob as pálpebras notei que minha visão estava totalmente escurecida e só então percebi que meu corpo necessitava de ar. Mas parecia que minha boca não estava disposta a perder tempo com uma tarefa tão banal como o ato de respirar.
Com um grande esforço, envolvi ambos os lados do rosto de Edward e desgrudei meus lábios dos seus, provocando um estalar surdo e uma série de gemidos desgostosos. Forcei os olhos a se abrirem e sorri ao encontrar o verde esmeralda flamejando intensamente.
"Eu te amo, te amo, te amo." sibilei, encostando nossas testas suadas, enquanto tragava o ar com vontade. Edward soltou uma risada rouca e virou o rosto apenas para plantar beijos gentis em minhas bochechas.
"Eu também, eu também, eu também." foi a minha vez de gargalhar, sentindo o corpo tão leve, quase me fazendo acreditar que a qualquer momento eu poderia sair voando noite afora.
E de fato eu não estava tão enganada ao pensar daquele jeito. Algumas horas depois, senti meu corpo – completamente suado e exausto – flutuar no ar, antes de ser envolvida por um par de braços aconchegantes. Os olhos esverdeados me fitavam com tanta ternura e paixão que era preciso um esforço alucinante o ato de respirar normalmente. Os lábios gentis depositavam beijos na curva do meu pescoço e de vez em quando subiam em direção aos meus ouvidos apenas pra sussurrar "eu te amo" tão docemente que era impossível não sentir os olhos marejados. Os dedos habilidosos envolviam minha cintura com tanto conhecimento que eram capazes de, com um simples roçar de pele contra pele, acenderem a chama necessária para me fazer flutuar novamente.
Foi a primeira das muitas noites em que meu corpo adormeceu aconchegado ao de Edward, após experimentar a sensação mais intensa e a mais poderosa que poderia existir entre um homem e uma mulher. Se tivesse que passar por cada sofrimento, dúvida e angústia para desfrutar do prazer que era ter o corpo daquele homem me envolvendo do jeito que  ele era capaz de fazer, eu encararia tudo de novo.
Porque eu sabia que no fim de tudo ele estaria ali de braços abertos, pronto pra me fazer voar sem sair do chão quantas vezes eu quisesse.
E eu queria voar para sempre.
"Des nuits d'amour à plus finir
Un grand bonheur qui prend sa place
Des ennuis des chagrins s'effacent
Heureux, heureux à en mourir...³"
[...]
¹ briefing (conjunto de informações fornecidas pelo cliente para orientar a elaboração de um trabalho de propaganda)
² Champ de Mars é uma das maiores áreas verdes de Paris e é também a casa da Torre Eiffel. É um parque bastante frequentado tanto pelos turistas, quanto pelos moradores da cidade.
³ Trecho da música "La vie en Rose".
Continua....

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