Capítulo 12
Eu esperei. Minhas próprias palavras reverberando pela cozinha.
Rob me fitava com os olhos verdes intensos, cheios de um receio, de uma dúvida. E eu parei de respirar por alguns instantes, esperando, ansiando.
E então ele segurou na minha mão estendida e sorriu, ficando de pé, os dedos entrelaçando nos meus. E me puxou para fora da cozinha, meu coração batendo desesperado no peito, enquanto o seguia.
Então quando passamos pela sala, eu parei. Ele me fitou sem entender.
-Acho que o quarto tá muito longe. – Falei sem ar.
Ele riu, aquela risada que fazia tremer tudo dentro de mim.
-Você lembrou do sofá.
Eu me aproximei.
-Me lembrei de alguma coisa, mas não quero me lembrar mais, quero que me mostre como terminamos. – Meus dedos trêmulos abrindo os botões de sua camisa.
Ele prendeu o olhar carregado de eletricidade em mim e eu podia ter derretido ali mesmo, tamanho foi o calor que passou por minha pele, arrepiando todos os poros, minha mente girando.
O ar tornou-se rarefeito e eu me atrapalhei nos últimos botões. Ele riu, me ajudando e a camisa foi para o chão. Em seguida, ele levou a mão a minha blusa, a tirando. O resto de nossas roupas seguiu o mesmo caminho.
Seu olhar sobre mim era como uma carícia e eu passei a língua sobre os lábios, seu olhar acompanhou o movimento, antes que ele abaixasse a cabeça lentamente e me beijasse, um beijo melhor que em minhas memórias.
Eu fiquei na ponta dos pés, a outra mão passando por sua nuca, e Rob me empurrou para o sofá, o beijo incendiando, consumindo, excitando. Passei os dedos por suas costas, seus ombros, braços, querendo me fundir a ele. Quando o beijo terminou, Rob me fitou.
-Eu não conseguia acreditar que você estava ali, e que finalmente podia ser minha… eu sonhei com você desde o primeiro momento que olhou pra mim, com estes olhos verdes mal humorados.
Eu ri, mas fiquei séria de repente.
-Eu queria lembrar… de como foi… de quando falou comigo pela primeira vez…
Suas mãos enquadraram meu rosto.
-Você vai lembrar. – Ele falou com uma determinação tão firme que eu realmente acreditei.
Acho que naquele momento eu acreditaria em tudo o que me dissesse. Tudo era tão certo, tão… predestinado.
Eu podia não me lembrar de quase nada de antes, mas eu sabia que não havia nada melhor e mais perfeito do que sentir suas mãos em mim, queimando por onde passavam o hálito quente banhando minha pele, os lábios deslizando por meu pescoço, meus seios, meu umbigo.
As coisas sem sentido que ele dizia em meu ouvido, carregadas daquele sotaque inglês delicioso, os dedos no interior da minha coxa, deslizando pra dentro de mim, mais fundo, até que um soluço escapasse de minha garganta, minhas unhas cravando nos seus ombros.
Tudo se misturava na minha mente agora. O antes e o depois. E as lembranças daquele dia, há tanto tempo, fazia aumentar ainda mais meu desejo.
-Eu quero você dentro de mim agora… – sussurrei contra sua boca, deslizando a mão entre nossos corpos e o tocando e guiando para dentro de mim.
-Sim… – ele murmurou roucamente, me preenchendo total e absolutamente.
Podia-se sentir o coração batendo numa pequena veia, na parte mais escondida do corpo?
Eu fechei os olhos, a mente parando de funcionar. Tudo se concentrava naquele pequeno ponto que nos unia as investidas do corpo dele, de novo, e mais forte, até a estocada final, doce, quente, explosiva.
Eu abri os olhos, tempo depois para encontrar os dele me fitando, preguiçosos, os dedos acariciando meus cabelos
-Foi melhor que a primeira vez. – eu disse e ele riu.
-Eu não sei… – eu bati em seu ombro e ele me beijou, acabando com meus protestos.
E então um telefone tocou. Rob parou de me beijar e soltou um palavrão. Eu ri. Estava numa bolha de felicidade tão grande que nada me abalava. O telefone continuava a tocar insistentemente e ele me encarou meio tenso.
-Acho que eu preciso atender.
-Vai em frente. – Falei, destravando meus braços que ainda estavam em volta dele.
Rob levantou colocando calça e se afastou. Eu me sentei e procurei entre as roupas no chão, colocando a camisa dele. Podia ouvir sua voz muito baixa através da parede e algo me ocorreu.
Porque ele não atendera o telefone ali? Senti um mal estar, como se algo ruim estivesse acontecendo além de minha vontade. Mas sacudi a cabeça, tentando afastar aquela perturbação. Ele voltou minutos depois, mas estava diferente. Estava tenso.
-Eu preciso voltar para Londres.
-O que? Pra Londres? Agora?
Ele passou a mão pelos cabelos, num gesto nervoso enquanto mexia nas teclas do celular.
-Preciso ir. É urgente.
-O que aconteceu?
Ele me fitou.
-São as gravações. Do filme.
-Oh… Eu falei pra você que não era legal se afastar mesmo.
-Não, eles sabiam que eu ia ficar afastado, mas aconteceram uns problemas, preciso estar pra lá resolver.
-Não pode ir amanhã? Já está tarde.
-São horas de viagem, preciso estar lá amanha de manhã.
Eu mordi os lábios, disfarçando meu desapontamento. Querendo não parecer tão desesperada para que ele ficasse. Ele se aproximou e tocou meus cabelos.
-Eu não queria ir Kris.
-Então não vai... – sussurrei, sem conseguir me conter, encostando-me nele.
Ele riu baixinho.
-Eu ficaria se realmente não fosse importante.
Eu suspirei, me sentindo meio idiota. O que seria tão importante pra ele sair no meio da noite, me deixando sozinha ali? Seria mesmo trabalho? Eu tentei não ser paranóica. Não havia motivos. Ou eu achava que não havia. Respirei fundo.
-Ok, acho melhor se arrumar pra ir então, senão fica mais tarde.
Ele se afastou subindo as escadas e eu fui atrás. Olhando ele se movimentar apressado, vestindo qualquer roupa rapidamente.
-A Megan vai ficar com você.
-Não precisava.
-Não quero deixar você aqui sozinha.
Eu dei de ombros e desci as escadas pegando as roupas do chão e as vestindo, já que Megan estava indo pra lá.
Rob desceu e eu o acompanhei até o carro. Seus dedos acariciaram meu rosto.
-Mais alguma lembrança?
Eu sacudi a cabeça negativamente.
-Não se preocupe com nada.
O carro de Megan se aproximou na estrada.
-Megan sabe onde me encontrar, caso precise.
-Quando você volta?
-O mais rápido possível.
-Certo. – eu sorri forçadamente e ficando na ponta dos pés o beijei – lembre-se de mim quando estiver em Londres.
Ele riu.
-Kris, você é a desmemoriada aqui e não eu. – E com um último sorriso, ele entrou no carro.
Eu fiquei olhando o carro se afastar, de novo com aquele sentimento estranho. Megan se aproximou e passou os braços a minha volta
-Vamos entrar, está frio aqui.
Eu sorri para ela e nós entramos. Naquela noite, eu mal dormi. Alguma coisa estava me incomodando e eu não fazia idéia do que era. Mas quando finalmente amanheceu eu soube qual era o problema. Eu sabia que alguma coisa estava errada.
Havia alguma coisa sendo escondida de mim. Não sei de onde vinha esta ideia. Talvez um sexto sentido, talvez do meu subconsciente. Mas eu tinha certeza disto. Desci as escadas silenciosamente. Megan ainda não tinha acordado.
Voltei ao escritório e não foi difícil achar o roteiro. Na cama tinha o nome do estúdio e também não foi difícil achar o telefone. Eu disquei, rezando para que alguém atendesse.
-Alô? – falou a voz feminina.
-Oi aqui é a Kristen… Stewart – eu me perguntei se teria mudado de nome, mas possivelmente eu ainda teria o mesmo nome artístico.
-Oi Kristen, tudo bem? Está melhor?
Eu mordi os lábios. E agora?
-É… sim, estou sim.
-Que bom!
-Olha, eu liguei para saber se o Rob já chegou por aí?
-Rob? Não, ele não apareceu por aqui não. Achei que fosse ficar afastado com você umas duas semanas.
-Sim, ele ia, mas ligaram ontem e pediram pra ele voltar, acho que tinha algum problema.
-Problema? Mas está tudo bem aqui, que eu saiba. E claro, eu sou uma das produtoras, saberia se tivesse algo errado, né?
-Claro que sim. – Falei entre dentes. Minha mente girando. – Eu posso te me enganado. Tem certeza que ninguém daí ligou pra ele, assim, ontem à noite?
-Não havia ninguém trabalhando ontem à noite. Aliás, a produção está praticamente parada sem vocês aqui.
“Vocês?” Ela continuou alheia a minha tensão.
-Ninguém ligou. Não há problema nenhum. E quando você volta?
Eu? O que?Que papo era aquele de volta? E então ela continuou.
-Estamos sentindo falta da nossa diretora.
Diretora??? Do que ela estava falando?
-Claro. – Consegui balbuciar alguma coisa antes de desligar. Meus dedos correram para o script, procurando a ficha técnica.
E meu coração parou. Diretora: Kristen Stewart. Como assim eu era diretora do filme? Era surreal demais. De repente algumas coisas vieram a minha mente. Megan dizendo “é ligação daquele filme de vocês”.
Sim, agora eu entendia. Era um filme meu também. Mas que porra! E porque Rob não tinha me contado? Era isto que ele escondia? E por quê?
Não era algo que eu não pudesse lidar. Embora fosse realmente uma revelação bem grande. E se não foi do filme, quem diabos ligara para ele? Minha mente rodava cheia de uma amarga desconfiança. Do que, eu não sabia.
Será que ele tinha um caso? A tal N seria um caso? Por isto ele não dizia quem era?
De repente outras coisas começaram a me atormentar. Por que eu tinha ido embora sozinha dali antes do acidente? Seria por causa de alguma briga? Eu sentia um terror frio me dominar. Aquele vazio horrível na minha mente. O não saber de nada, estar totalmente no escuro tinha voltado.
Rob mentira ontem à noite. Alguém ligara. Alguém importante o suficiente para ele largar tudo. Me largar e ir atrás. E precisar mentir. Eu respirei fundo. Só havia um jeito de saber. Eu subi para o quarto e coloquei uma roupa. Não foi difícil achar as chaves do carro de Megan.
Droga. Era mão diferente na Inglaterra, pensei ao dar partida. Mas não devia ser tão difícil. E não era. Eu já devia saber dirigir ali, afinal, morava há dois anos no país. Enquanto dirigia, minha mente girava cheia de considerações.
Michael estava no filme. Teria algum sentindo, meu ex e atual no mesmo filme? E aquilo que ele dissera quando eu fui ao set, que Rob não gostava de me ver ali com ele. Não fazia o menor sentido, se eu devia estar sempre com ele para gravar.
E se Rob não gostava de sua presença, porque eu tinha feito aquilo? E porque Rob tinha aceitado?
Eu queria desesperadamente entender. Eu tentava manter minha mente sob controle, mas era difícil. Onde Diabos Rob tinha se metido. E porque ele mentira? Será que fora encontrar com alguém? Eu senti meu coração se apertando com aquela possibilidade.
-Mas que merda! – bati meus punhos no volante, sentindo as lágrimas queimando nos meus olhos.
Eu nem o conhecia não é? Eu não podia ter sentimento nenhum por ele, se levasse em conta que o meu conhecimento sobre ele era apenas alguns flashes de lembranças desconexas.
Era ridículo estar sentindo aquela dor, aquele aperto no peito, pela possibilidade de ele estar com outra pessoa.
Respirando fundo para me acalmar, eu liguei o rádio, deixando o CD que já estava ali pra rodar, uma musica desconhecida começou a tocar, mas me vi a acompanhando.
Como eu sabia a letra, se não me lembrava de ouvi-la antes? De repente minha mente girou, indo pra outro lugar. Outro tempo.
Estávamos deitados no que parecia uma cama de hotel e eu sentia o cheiro de cigarro e os dedos dele no meu cabelo.
-Odeio Nova York. Odeio este seu filme. Odeio que tenha que ir embora.
Ele riu.
-Faltam poucos dias.
Eu levantei a cabeça e o fitei e de repente uma ideia me ocorreu. Eu peguei meu tênis jogado num canto e tirei o cadarço
-Me dar seu braço – ele obedeceu e eu amarrei nele e lhe dei o outro – agora amarra em mim.
Ele fez o que eu pedi.
-O que é isto? – perguntou.
-Sempre que nos separarmos, vamos amarrar um deste. Só nós sabemos o que significa.
Ele riu, os dedos bagunçando meu cabelo.
-Como se ninguém fosse reparar.
Eu me inclinei o beijando.
-Quem se importa? Eu quero que todo mundo saiba.
Ele passou os braços a minha volta.
-Um dia…
Eu voltei a realidade. Mais uma lembrança. De quando seria aquela? Devia ser de muito tempo. De um tempo em que ninguém sabia que estávamos juntos. De anos então.
Eu suspirei, me sentindo mais calma de repente. Como se aquela lembrança tivesse aquele poder. Era ridículo eu desconfiar dele.
Eu não o conhecia. Não totalmente. Havia tanta coisa perdida, tanta coisa que eu queria muito saber sobre ele. Não adiantava nada eu desconfiar sem saber. Outra música começou e então eu franzi o cenho. Havia alguma coisa… Eu retirei o CD e arregalei os olhos ao ver o nome
-Robert Pattinson?
Ele tinha um CD? Eu funcei no porta luvas para achar a capa e estava mesmo lá. Era um CD lançado há uns 3 anos.
Olhei todo o encarte curiosa e então franzi o cenho, havia uma lista de dedicatórias.
“Algumas pessoas importantes para mim”.
Seguidas de uns nomes, que eu não sabia quem eram. Richard, Clare, Lizzy, Victória, Bob, Marcus, Tom, Agnes e Kristen.
Bom, dali eu só reconhecia meu nome. Quem seriam os outros? Olhei em volta ao ouvir uma buzina e percebi que estava entrando em Londres. E agora? Onde eu ia achá-lo? Bom, ele falara que os pais dele moravam ali não é?
Era um bom lugar para começar. Eu parei o carro e entrei numa cabine telefônica, disquei de novo o número do estúdio e não foi difícil que me passassem o endereço.
Eu voltei pro carro e dirigi pelas ruas de Londres, até estar num bairro residencial tranqüilo.
Olhei em volta, vendo aquelas casas tipicamente inglesas, algumas praças e então eu o vi. Ele estava em frente a uma praça, falando ao telefone. Eu parei o carro, mais a frente, numa freada brusca. Olhei pelo retrovisor, tentando me acalmar. Ele desligou o telefone e desapareceu da minha vista.
Eu sai do carro sem pensar e fui atrás. Não era uma praça, era uma espécie de parque infantil. Eu parei ao vê-lo ao lado de uma espécie de tronco, onde uma menina se equilibrava, tentando atravessá-lo.
E Rob estava ao seu lado a acompanhando, os braços estendidos, mas sem a tocar, como se fosse segurá-la a qualquer momento, caso ela precisasse.
E ele sorria. Eu não consegui me mexer. Fiquei ali, vendo aquela cena sem entender.
A menina acabou e pulou pelo chão. Devia ter uns 4 anos e tinha os cabelos castanhos com algumas mechas loiras e olhos verdes. Ela comemorou o feito e correu para outro brinquedo. E então, Rob me viu. Seus olhos se arregalaram, tensos e ele veio em minha direção.
-Kristen!
-Quem é esta criança Rob? – indaguei fixando os olhos nela de novo.
Mas antes que ele respondesse a criança me viu e seus olhos se iluminaram enquanto ela corria em minha direção e se atirava nos meus braços. Eu segurei aquela criança desconhecia totalmente confusa, meus olhos se encontrando com o de Rob através de sua cabeça.
Ele tinha os olhos tão atormentados que eu de repente paralisei, antes mesmo que a menina começasse a dizer entre meus cabelos.
-Mamãe! Mamãe! Você voltou!
Meu coração parou de bater.
Continua…
Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário