Kristen se tornou mundialmente conhecida graças aos filmes
da saga Crepúsculo, mas é em Na Estrada – On the Roadque ela está mostrando seu verdadeiro talento.
Entre tantas críticas ao longa que estreou na última semana, o site d24am.com destaca a atuação de Kristen e afirma que é a melhor de sua
carreira.
Adaptando para o cinema a
bíblia beat de Jack Kerouac, Na Estrada se mostra como um filme denso, sensível
e incrivelmente verdadeiro, remetendo ao que Salles pode fazer de melhor.
Walter Salles é, na minha opinião, o cineasta mais talentoso e
relevante do cinema brasileiro desde a retomada. Com filmes do nível de Terra Estrangeira (1996), Central do Brasil (1998), Abril
Despedaçado (2001), Diários de Motocicleta (2004) e Linha de Passe (2008), o diretor apresenta em suas obras uma
sensibilidade rara, um apuro técnico invejável, além de sempre arrancar ótimas
interpretações dos seus atores.
Apesar
de ser um cineasta experiente e consagrado, o maior desafio da sua carreira
ainda estava por vir. Ao adaptar o clássico On The Road, de
Jack Kerouac, Salles assumiu uma grande responsabilidade, não só por adaptar um
livro de grande relevância histórica, mas principalmente por ele ser
considerado infilmável. E para nossa satisfação, ele se saiu muito bem.
Na Estrada conta a história de Sal
(Sam Riley), um jovem de boa família que decide abandonar a sua casa e viajar
por cidades do país a fim de coletar experiências para escrever o seu tão
planejado livro. Sendo inicialmente acompanhado pelo seu amigo Carlo (Tom
Sturridge) ele conhece figuras que irão mudar a sua vida. É o caso de Marylou
(Kristen Stewart) e principalmente Dean Moriarty (Garrett Hedlund). Nessa
jornada rumo ao desconhecido, os três conhecem figuras marcantes como o músico
“dono do tempo” Walter (Terrence Howard), a sofrida Camille (Kirsten Dunst), a
batalhadora Terry (Alice Braga) e o excêntrico casal Old Bull Lee (Viggo
Mortensen) e Jane (Amy Adams).
Logo
de cara percebemos que a fantástica fotografia de Eric Gautier [diretor de
fotografia dos ótimos Diários de Motocicleta e Na
Natureza Selvagem (2007)
ressalta a beleza estonteante dos lugares por onde os personagens passam, mesmo
sem utilizar movimentos e enquadramentos clichês, dando apenas as informações
necessárias, e sempre contribuindo para o decorrer da história. Além de optar,
em vários momentos, pela câmera na mão, que ganha um significado importante de
aproximação com aqueles personagens, fazendo com que ela seja mais um elemento
que demonstre o sentimento vivido pelos personagens.
Sentimentos,
aliás, que pulsam, vibram, explodem na tela, tudo com muita intensidade, como
se fosse de uma vez só, transbordando ideias, desejos, frustrações, sorrisos e
lágrimas.
Tudo isso com uma naturalidade fantástica.
E isso coloca o filme em outro patamar. Em todas as cenas que
vemos, em cada frase dita pelos personagens, cada situação, cada olhar, é tudo
tão verdadeiro, humano, real, que meio que nos sentimos parte daquilo também,
dá vontade de mais, de ter outras experiências como aquelas.
E nesse ponto,
o filme consegue passar com maestria um dos principais pontos do livro, que é o
de viajar, pelo prazer que é conhecer diferentes lugares, diferentes pessoas,
diferentes histórias de vida, vivenciando coisas novas, sem ter as preocupações
das “pessoas normais” da sociedade.
E é claro que para manter esse estilo de vida é necessário
realizar sacrifícios, como ter alguns trabalhos em condições inóspitas, e às
vezes até ter que praticar pequenos furtos para poder se alimentar, mas são
perrengues que parecem pequenos depois de ter uma recompensa tão rica depois.
Sam
Riley está na medida certa como Sal Paradise. Funcionando como uma espécie de
curioso, que está vivendo aquela experiência justamente para fins de observação
e, claro, também para crescer como ser humano, ele traz o tom perfeito para o
papel, de um jovem escritor que quer se permitir, e que parece se soltar mais
quando está na frente da máquina de escrever, quando a enxurrada de ideias que
toma conta dele pode finalmente ser colocada em algum lugar. As suas narrações
em off são um excelente exemplo disso.
Apesar de ser contada por Sal, de certa forma, a história gira em
torno de Dean Moriarty, e aqui Garrett Hedlund é sensacional. Trazendo uma
carga admirável de charme ao personagem, mostrando-o como um jovem apaixonante,
fascinante, daqueles que as pessoas gostam de estar perto por saberem que junto
dele terão fortes emoções, Hedlund eleva o nível da sua interpretação ao também
mostra-lo como inconsequente, irresponsável, inconstante, não confiável e, em
certos momentos, de caráter duvidoso, fazendo com que vejamos Dean sobre muitos
ângulos diferentes, sempre com muita riqueza. Um momento riquíssimo do filme é
quando vemos o encontro de Moriarty e Sal já no final, e pudemos ver que apesar
de tudo o que viveram, eles são de mundos bem diferentes.
Kristen Stewart entrega a
melhor atuação da sua carreira. Apresentando uma entrega louvável ao papel, ela
traz à Marylou uma sempre presente sensualidade, que de certa forma contrasta
com as dúvidas e inseguranças que ela sente em relação a Dean, e com isso ela
traz um tom de mistério, sempre fazendo com que tentemos imaginar o que ela
está pensando. Tenho que destacar a cena da festa de ano novo, em que ela dança
com o seu parceiro, além é claro de um dos momentos mais belos do filme, quando
ela se emociona ao ouvir um homem cantando uma música que, de certa forma,
falava sobre sua vida. Fantástico!
Não posso, de forma alguma, cometer a injustiça de não comentar o
trabalho brilhante exercido por todos os coadjuvantes do filme. Logo de cara
acompanhamos o ótimo Carlo, de Tom Sturridge, sempre com seus conflitos
existenciais e frustrações pelo seu (não) relacionamento com Dean; o trabalho
brilhante de Kirsten Dunst, ao dar a Camille
um ar de ingenuidade e genuíno sofrimento; o interessante Walter de Terrence
Howard, que é responsável por uma das cenas mais engraçadas do filme; o
excêntrico e maravilhoso casal interpretado por Viggo Mortensen e Amy Adams,
com as suas esquisitices, sempre na medida certa; e a força trazida por Alice
Braga ao trazer a Terry, dignidade e doçura, utilizando sempre de sutilezas.
É somente uma pena que eles fiquem tão pouco tempo em cena
(principalmente Walter e Terry). Realmente dá vontade de conhecer mais aquelas
pessoas.
Já pude ouvir comentários de que o filme não agradou alguns por
ter problemas de ritmo, por se arrastar em determinados momentos, desenvolvendo
a sua trama com lentidão.
Não
concordo. Considero que o ritmo tinha que ser esse mesmo. O que se podia
esperar de um road movie, com tantos questionamentos existencialistas, como
esse? Creio que a trama foi contada no tempo necessário, sem pressa,
desenvolvendo a história de maneira adequada, criando com correção uma relação
de aproximação entre o público e os personagens.
Na Estrada é um daqueles filmes que,
quando termina, te obriga a ficar ainda um tempo na cadeira refletindo sobre o
que acabou de ver. E o fantástico final do filme só ressalta ainda mais isso, e
faz com que tenhamos a real ideia da grandiosidade do que foi visto.
Se me
permitem, vou colocar aqui uma fala dita por Sal, que explica bem o sentimento
presente em todo o filme: “E me arrastei, como tenho feito toda minha vida indo
atrás das pessoas que me interessam, porque os únicos que me interessam são os
loucos, os que estão loucos pra viver, loucos pra falar, que querem tudo ao
mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e não falam obviedades, mas queimam,
queimam, queimam como fogos de artifício em meio à noite”.
É preciso dizer mais alguma coisa?
Post: Mel
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