O site InsideMovies.ew publicou uma crítica sobre On the road, confira:
Em On the road, a
adaptação reverente, algumas vezes quase dolorosamente fiel à obra inovadora de
Jack Kerouac, de Walter Salles, os personagens estão sempre se animando com uma
coisa ou outra, e eu não me refiro apenas a drogas – apesar de que eles fumam maconha
e dissolvem Benzedrine em seus cafés. Eles também vão a clubes noturnos e ouvem
jazz, seus corpos tremendo e se contorcendo enquanto a música os penetra. Eles
fazem muito sexo, também, a maioria disso é bem explícita (olá, classificação
17 anos!): numa corrida de carro a algum lugar, Sal (Sam Riley), o personagem
de Kerouac, que ansioso porém recessivo – um menino-homem tomando cuidado com
tudo o que bebe – fica pelado no banco da frente junto a Dean (Garrett
Hedlund), o vivo e narcisista Neal Cassady, e Marylou (Kristen Stewart), a
jovem e inocente ex-mulher de Dean, que está sentada, também pelada, entre dois
homem enquanto ela os dá prazer com suas mãos. (Eu não estou brincando quando
eu digo que Kristen Stewart atua muito bem nessa cena – pela primeira vez, ela
parece mais entusiasmada do que desanimada.) Outro ponto forte do trabalho é a
religião das palavras. Sal lê um volume de Proust, e ele digita durante a noite
e anota em seu caderno, fazendo tudo que ele pode para dar forma a seu sentimento.
Uma coisa estranha sobre o filme, que se passa
durante vários anos do fim dos anos 40 e início dos 50, é que mesmo observando
todas essas atividades, elas são um pouco difíceis de se conectar. Música e
dança selvagem, sexo desenfreado, linguagem poética: essas são todas coisas
boas, mas em On the road elas são encenadas com uma sinceridade retumbante,
como uma peça de museu. E então é um pouco difícil experimentar o que o filme
quer dar a você. Assistindo On the road, há uma festa animada e desconexa acontecendo
– e também uma grande quantidade de melancolia – que não nos sentimos tão
convidados a participar, e sim a olhar, como um pedaço sagrado da antropologia
cultural. E num certo sentido, isso é o que é. Salles, o talentoso e ambicioso
diretor brasileiro (Diários de Motocicleta), faz tudo que pode para colocar a
obra de Kerouac, que foi escrita durante apenas 1 mês em 1951 (e publicada pela
Viking em 1957), bem ali na tela. O que ele não nos dá – e o que faz o livro
funcionar – é o toque boêmio e deslumbrado de Kerouac. Sem isso, On the road é
uma experiência curiosamente remota, com toda a razão e nenhuma rima.
A melhor coisa
no filme é a performance de Garrett Hedlund, cuja fome por vida – ávida,
erótica, insaciável, destrutiva – acende um fogo que irá iluminar o caminho
para uma nova era. Hedlund é tão bonito quanto Brad Pitt jovem, e como Pitt,
ele é um ator astuto e mutável. Ele dá a Dean olhos que brilham com um
entusiasmo sedutor que beira o sofrimento. Dean ricocheteia entre a estrada que
ele toma com Sal e Marylou e sua vida apertada como marido e pai em San
Francisco com sua mulher, Camille (Kirsten Dunst). Um traficante quando precisa
de dinheiro, ele passa por cima dos limites da vida da classe média porque ele
não liga para eles, ou mesmo vê-los. Ele é todo “agora, agora, agora”, sua
paixão transbordando, mas seus sentimentos não são apenas sexuais. Eles são
sobre seu amor por seus amigos, como Sal ou Carlo, o personagem de Allen
Ginsberg, interpretado por Tom Sturridge com uma doçura de menino do pós-guerra
em New York.
Kristen
Stewart, muitas vezes sem blusa, faz uma convincente hippie, obscura e inocente
Marylou, e Viggo Mortensen no papel de Old Bull Lee, um viciado que já está
mergulhado em violência e paranoia. Sal, infelizmente, é um daqueles heróis de
filmes que é um atento observador, e Sam Riley, o ator britânico que foi
fascinante como o líder do Joy Division Ian Curtis no filme Control de 2007,
não consegue o tornar interessante. Em On the Road, Riley é mais como um
Leonardo DiCaprio introspectivo, com elegância e inocuidade. Ele interpreta Sal
como um cara que pode fazer várias coisas, mas ele acaba nunca tomando as
rédeas – da vida ou do filme.
No livro de
Kerouac, é claro, Sal não tinha que tomar as rédeas. Sua voz estava lá em cada
palavra que Kerouac escreveu. Sem essa voz (nós a ouvimos, é claro, mas não é
como um filme – é como se tivesse sido lido), On the Road é um drama de
encontros e relacionamentos que duram por anos e ainda tem toda a informidade
inebriante de vinho caindo do copo. Mas agora, sessenta anos depois, em On the
Road, enquanto o filme talvez tente te mostrar como era antes, você não
consegue imaginar.
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