19 setembro 2011

LUCKY BELLA - CAPÍTULO 6

Uiiiiiiiiii Ed chamou a nossa Bella pra chincha! No que será que isso dará? Ótima leitura!
Esse é último capítulo de Lucky Bella, espero que vocês tenham gostado a próxima FIC também é da mesma autora de Lucky e Lucky Bella, mas ainda teremos uma surpresa antes da nova FIC!
Autora: Cella
Classificação: Maiores de 18 anos 
Categoria: Saga Crepúsculo
Personagens: Bella Swan, Edward Cullen, Ement Cullen, Rosalie....
Gêneros: Romance
Avisos: Sexo


Capítulo 6 – Au revoir, Paris.
EPOV



Bella ficou muda por alguns minutos enquanto encarava os próprios pés imersos no tapete da sala; confesso que passado algum tempo comecei a ficar incomodado com seu silêncio.
"Você faria mesmo isso?" ela finalmente murmurou, ainda com o olhar grudado no chão.
"O quê? Te levar à força de volta pra casa? Você sabe que isso não seria tão difícil assim e-"
"Não estava falando disso, Edward." me cortou impaciente. "Me refiro a voltar para Nova York com essa sensação de derrota que está pesando em meus ombros. Já parou para pensar que assim que chegarmos lá seremos alvo de críticas e questionamentos? E-eu acho que não estou pronta pra isso."
"E desde quando você se importa com o quê as pessoas pensam ou não sobre você, Bella?"
"Me importo com meus amigos e com a minha família. Eu não quero parecer uma fracassada diante deles." Bella rebateu e, sem perceber, encolheu os ombros como uma criança acuada. Eu poderia encerrar aquele assunto e puxá-la para um abraço protetor, mas antes disso ela precisava ouvir algumas coisas.
"Em primeiro lugar, você nunca foi e nunca vai ser uma fracassada, Isabella Swan. Segundo, sua família e seus amigos não vão virar as costas para você apenas porque fez uma escolha errada."
"Não foi assim que aconteceu da última vez, lembra? Por causa de um erro, Charlie ficou sem falar comigo por quase oito anos." o sorriso irônico que surgiu em seus lábios deixou o rosto de coração com uma expressão amarga.
"Aquilo foi diferente. Você era nova demais e se deixou levar por um canalha que só queria tirar proveito de tudo. A situação agora é outra. Não há o que temer." tentei assegurá-la, mas a cada segundo ela se mostrava mais e mais evasiva.
"Eu... não sei." suspirou lentamente; seus olhos estavam turvos pelas lágrimas que brincavam nos cantos. "Só não quero ficar mais oito anos sem ouvir a voz de meu pai dizendo meu nome." a luz do entendimento iluminou minha cabeça e eu compreendi que o medo de Bella era apenas um: desapontar Charlie. Um grande nó emperrou minha garganta, me deixando incapaz até mesmo de respirar.
"Argh, já chega desse assunto por hoje! Minha cabeça está prestes a explodir de tanta dor." ela me cortou antes que eu pensasse em abrir a boca para murmurar algo. Era assim desde que eu passei a ter um mínimo de noção sobre as coisas ao meu redor; quando Bella se sentia ameaçada, fechava-se em seu próprio mundinho e tirá-la de lá era quase uma missão impossível.
Uma parte de mim ainda insistiu para que eu desse continuação ao assunto, mas ao ver o rosto dela tão abatido resolvi lhe dar uma trégua. Permaneci calado, apenas observando-a cambalear em direção ao nosso quarto. Decidi não segui-la.
Meu corpo despencou no sofá e eu joguei os braços sobre o rosto, bufando forte de cansaço. Era difícil admitir, mas Bella tinha toda razão em dizer que nossa vida era uma grande ilusão. Dentro daquele apartamento tudo parecia perfeito, as coisas não poderiam estar tão certas entre nós dois. Porém isso infelizmente não era o suficiente.
Eu deveria ter dito a ela o quanto meu trabalho era uma merda, entretanto vê-la feliz e bem sucedida me fez tomar uma atitude completamente machista.
Por temer que ela me achasse um desastre, me mantive calado aceitando um emprego medíocre que a cada dia que passava deixava mais claro que as coisas só piorariam. Eu era tratado apenas como um estrangeiro que estava ali para cumprir ordens. Não podia pensar, criar ou simplesmente dar minha opinião. Era pago para executar as porcarias que um bando de babacas enchiam o peito para dizer que haviam criado.
Juro que suportei até o último segundo calado, mas com o tempo a situação ficou insuportável. Na única vez que abri a boca para retrucar uma ordem, fui escorraçado para fora daquela empresa como um cachorro vira-lata. Na hora dei graças a Deus por enfim me ver livre de um trabalho tão horrível como aquele, mas com o passar dos dias comecei a me arrepender. Tudo pareceu piorar quando Bella surgiu com a notícia de que seus projetos na agência haviam sido muito bem recebidos e que era questão de tempo para que ela conseguisse novas contas de grandes empresas mundiais.
Vê-la tão bem profissionalmente me deixava muito orgulhoso, contudo não era fácil controlar a pontada de inveja que aparecia cada vez que ela tocava nos assuntos de trabalho. Não que eu quisesse o emprego de Bella, longe disso; só queria ter o mesmo sucesso que ela estava tendo, mas nada do que eu fazia parecia surtir efeito, nenhuma das minhas ideias eram boas o suficiente para serem comparadas as delas. Por causa disso escondi minha demissão, já bastava admitir a mim mesmo que eu não prestava para nada. Seria impossível lidar com o olhar desapontado de Bella quando ela descobrisse a verdade.
Eu estava exausto e decidi que já era hora de deitar e parar de me martirizar por algo que não valia mais a pena. Estiquei o corpo ao me levantar do sofá e segui rumo ao quarto, tomando cuidado para não produzir mais ruído que o necessário. A luz do cômodo estava apagada, mas o brilho do abajur deixava uma penumbra que me permitiu enxergar o caminho do banheiro. Lavei o rosto, troquei minha roupa pelo pijama, e voltei para o quarto, pisando leve sobre o piso de madeira barulhento.
Bella estava encolhida em seu lado da cama, embrulhada como um bebê no edredon macio. Deitei com cuidado e fiquei um bom tempo fitando o teto escuro, pensando em tudo, mas ao mesmo tempo em nada. Esperei um sono que não veio e bufei exasperado ao olhar o relógio na cabeceira, constatando que já passava das três da manhã. Considerei levantar e ir pra sala, porém o cansaço instalado em meu corpo falou mais alto.
Fechei os olhos e fiquei ali imaginando coisas, tentando visualizar um futuro que eu não fazia a menor noção de como seria. Quando comecei a pegar no sono, nas primeiras horas de uma manhã preguiçosa, senti um corpo miúdo buscando abrigo junto ao meu.
Em uma reação totalmente instintiva, passei as mãos na cintura fina, colando as costas em meu peito. Meu rosto embrenhou-se na curva do pescoço cheiroso e tanto eu quanto a dona daquelas curvas soltamos um longo suspiro. Arrisquei uma breve olhadela para o rosto adormecido tão perto do meu e não escondi o sorriso aliviado que surgiu em minha boca. Deixei um beijo um pouco abaixo de suas orelhas, inspirando forte o aroma delicioso que exalava daquele ponto. Meus dedos buscaram o encaixe dos dela e eu pude finalmente relaxar na inconsciência.
[…]
BPOV
Acordei sentindo a cabeça pesada e um gosto de ferrugem na boca que fazia meu estômago revirar; reflexos da noite mal dormida. Demorei para conseguir controlar uma crise de choro silenciosa e quando finalmente fisguei o sono fui acometida por vários pesadelos. Resultado disso: uma terrível enxaqueca que iria me deixar indisposta pelo resto do dia. E pensar que eu havia feito tantos planos para aproveitar o último dia do ano...
Inspirei fundo, vagando a vista pela larga janela do quarto para observar o sol fraquinho que brilhava no céu cinza. Se o clima continuasse daquele jeito, meu humor tenderia a piorar com o passar das horas. Será que eu poderia ficar na cama o dia inteiro?
Uma rápida olhada no relógio de parede me deixou imediatamente mais relaxada; ainda tinha algumas horas de preparação para poder enfrentar Bernard e um escritório inteiro que me odiava. Eu não sabia como reagiria ao pisar na agência naquela manhã.
Tentei afastar essa nuvem de preocupação de minha cabeça e resolvi me concentrar no pouco tempo de paz que ainda tinha antes de me atirar aos leões famintos. Tamborilei os dedos no braço forte que me prendia pela cintura enquanto prestava atenção no formato das nuvens de chuva que dançavam no céu parisiense.
Foi só então que eu percebi que estava literalmente colada ao corpo de Edward. Dava pra sentir sua respiração forte rebatendo em meu pescoço e a maneira como seu peito arfava provocava arrepios em minha coluna. Aquilo seria muito bom se eu não estivesse mais aborrecida com ele. Por que ele não confiou em mim e não me contou toda a verdade sobre seu emprego? Doía saber que ele escondera um assunto como aquele por tanto tempo.
Suspirei alto para afastar as lágrimas de frustração e dei um salto para longe da cama antes que sucumbisse ao desejo de ficar nos braços de Edward o dia todo. Saí do quarto deixando-o profundamente adormecido; isso me fez notar que não havia visto a hora que ele deitou ao meu lado. Convenci a mim a mesma que aquilo não importava.
A cozinha estava gelada e por causa disso precisei correr até a sala para ligar o velho aquecedor no máximo. Polainas, provavelmente notando a agitação matinal, veio ao meu encontro com seu típico olhar pidão e miado sofrido. Peguei-o no colo, fazendo carinho em suas costas; ele ronronou e deitou a cabeça em meus braços de um jeito muito manhoso.
"Está com fome, amorzinho?" ele espanou o rabo em minha barriga assim que entrei na cozinha novamente; meu estômago roncou alto e eu ri sem muita vontade. "Pelo visto, a mamãe também está."
Coloquei-o no chão para pegar o leite e sua tigela colorida que eu havia comprado no mesmo pet shop que o encontrei. Polainas me seguia com seus grandes olhos azuis muito atentos, lambendo os bigodes ao me ver preparando seu café da manhã.
Ele estava faminto, constatei ao vê-lo limpar a vasilha cheia de leite gelado. Assim que ficou satisfeito, enroscou-se em minhas pernas, como se quisesse me agradecer pela refeição deliciosa que acabara de lhe dar, e seguiu em direção à sua cama que ficava na divisa entre a sala e a cozinha. Preguiçoso como todos os gatos.
Sem a menor vontade de preparar um dejejum decente, me peguei enchendo um prato com cereais e leite, comendo mecanicamente. Meus olhos a todo instante rolavam em direção ao lado de fora do apartamento e eu sentia uma imensa estafa tomando conta de mim pouco a pouco.
Estava tão aérea que só me dei conta de que Edward estava na cozinha quando ele tossiu, provavelmente para chamar minha atenção.
"Hey" sibilou me dando um sorriso sem graça.
"Hey" devolvi colocando uma grande colherada de cereais na boca. Por muito pouco não engasguei com a minha gula. Ou falta de coragem para conversar, chamem do que quiser.
"Então...er, hoje é dia 31. Tem planos para mais tarde?" Edward questionou ao se encostar na bancada da pia com uma tigela igual a minha nas mãos.
"Hum, nenhum plano. Na verdade não estou com vontade de fazer nada hoje. Mas se você quiser ir ao Champs de Mars para assistir a queima de fogos e depois tomar alguma coisa em um café ali perto, eu aceito sem problemas. Lembro que você comentou sobre isso na semana passada."
"É, acho que vai ser legal irmos até lá. Todo mundo fala que o Champs tem a melhor vista dos fogos iluminando a Torre Eiffel da cidade inteira."
"Certo" cocei a cabeça, me sentindo estranha e desconfortável diante da presença de Edward. Não era a hora certa para retomar o assunto da noite anterior, mas parecia que cada vez mais minha língua arranhava para falar justamente sobre isso.
"E-eu... preciso me arrumar pro trabalho. Meu Deus, se não correr vou chegar atrasada." tentei inventar uma desculpa para fugir de uma desagradável conversa, mas Edward não permitiu que eu me esquivasse. Segurou-me pelo pulso quando pensei em escapar para longe da cozinha e quase me imprensou contra a mesa.
"Podemos conversar?" seus olhos grudaram nos meus de forma tão intensa que eu senti o fôlego secando meus pulmões.
"Edward, não é a melhor hora pra isso." confessei quase suplicante.
"Prometo que não vou prolongar mais esse assunto. Só preciso saber se você pensou sobre o que te falei ontem."
"A respeito de quê?"
"De voltar para casa comigo o mais rápido possível."
Respirei fundo e desviei o olhar do seu. Eu realmente queria que as coisas fossem mais fáceis, mas infelizmente a realidade era cruel e muito mais complicada do que poderia imaginar.
"Edward, eu... não posso voltar pra Nova York desse jeito."
"E por quê não?" ele franziu a testa confuso e soltou meu braço.
"Primeiro porque tenho responsabilidades. Preciso me alimentar, me vestir e pagar minhas dívidas. Não posso largar um emprego que me rende muito mais do que sonhei em ganhar na vida, assim de uma hora para outra."
"Você pode arranjar algo muito melhor nos Estados Unidos, Bee. Eu sei que pode."
"Não é tão fácil assim, Ed. Eu não tenho tanta grana no banco e se não suar para conseguir meu próprio dinheiro, vou acabar ficando sem ter o que comer. Não tenho pais milionários que a qualquer momento podem depositar uma fortuna em minha conta bancária para me salvar de um problema e-" a frase morreu no ar quando notei que havia falado demais. Droga!
Edward me lançou um sorriso torto muito cínico e me fitou magoado. Merda, merda!
"Desculpa, eu acabei falando o que não devia, não foi minha intenção." murmurei me sentindo extremamente envergonhada. Eu não devia ter dito aquilo.
"Você mais do que ninguém sabe que eu não ligo a mínima para o dinheiro dos meus pais. Você viu o esforço que fiz para conseguir comprar meu carro e estava ao meu lado quando assinei o contrato de compra do meu apartamento. Em algum momento me viu pedindo dinheiro emprestado para Carlisle e Esme?" questionou com raiva.
"Me perdoa, merda, eu não quis dizer isso." corri para abraçá-lo e precisei fazer um grande esforço para não deixar que ele fugisse do contato. "Estou confusa, acabei falando coisas sem pensar. Me desculpa, Ed, por favor, me desculpa." puxei o rosto aborrecido de modo que seus olhos encontrassem os meus.
Edward trincou o maxilar e engoliu seco, mas aos poucos relaxou a expressão. Se limitou a menear a cabeça positivamente e eu aproveitei a deixa para beijá-lo no queixo até senti-lo menos tenso em meus braços. Ele afagou meus cabelos de leve e eu suspirei aliviada.
"Não tenho mais nada que me prenda nesse país a não ser você, Bee. É apenas por sua causa que eu continuo aqui." ele sussurrou ao deixar um beijo gentil no topo da minha cabeça. As palavras dele surtiram um efeito diferente em mim e pela primeira vez desde que iniciamos aquela conversa percebi o quanto estava sendo egoísta.
Edward havia largado tudo que tinha em Nova York para vir atrás de mim. Ele tinha um ótimo emprego e muitas chances de crescer profissionalmente dentro da agência onde trabalhava. Por minha causa ele deixou tudo para trás e veio se aventurar em um país estranho, que não o acolheu com facilidade. Não conseguiu se estabilizar no mercado francês, agora estava desempregado e ainda assim deixara claro que ficaria em Paris. Novamente por minha causa.
Meu coração inflou dentro do peito e eu senti um misto de profundo orgulho e peso na consciência. Eu não poderia mais fazer isso com ele.
Em algum momento na vida sabia que teria que optar entre a carreira e vida pessoal. Bem, era chegada a hora de uma decisão. O caminho pelo qual eu deveria seguir estava mais claro do que nunca.
"Eu aceito." ergui o rosto para encará-lo e recebi um olhar carregado de confusão.
"Aceita o quê?" questionou ele, me fazendo rir do jeito como unia as sobrancelhas quando não entendia algo. Era lindo.
"Aceito voltar para Nova York com você, ora." o rosto de Edward mudou quase que instantaneamente. Seus olhos tornaram a brilhar e ele tentava a todo custo esconder o sorriso enorme que passeava em seus lábios.
"Tá falando sério?"
"Claro que tô! Acho que já está na hora da gente ir pra casa. Alice vai casar daqui há quatro meses e eu ainda nem peguei minha afilhada no colo. Não quero perder mais tanta coisa importante na minha vida." sibilei e mordi os lábios para prender o soluço que queria escapar.
"Eu te amo." Edward murmurou, encostando nossas testas. Foi a deixa para que as lágrimas caíssem com força em meu rosto.
"Eu sei." respondi inspirando alto e o beijando várias vezes na bochecha. Ele riu e calou meus suspiros quando enroscou a boca na minha de forma doce, lenta e bastante carinhosa. Me deixou com os joelhos fracos e o coração acelerado.
Um peso havia sido tirado de minhas costas e pela primeira vez em muito tempo tinha a certeza de que tomara a decisão certa. Eu iria voltar para casa, para os meus amigos e família. E isso não poderia me deixar mais feliz.
[…]
Fortress – Hope*
"Vamos, Ed, me solta."
"Não"
"Por favor..."
"Só mais cinco minutos, Bee."
"Você disse isso há meia hora atrás. E a gente continua na mesma."
Já estava começando a ficar suada de tanto esforço que fazia para tentar me desvencilhar dos braços de Edward. E parecia que quanto mais lutava, mais amarrada em seu abraço eu ficava.
O fato de estar sentada em seu colo não ajudava em nada, ele tinha total domínio da situação e poderia me prender ali por quanto tempo quisesse. Rolei os olhos com esse pensamento. Não me libertaria tão cedo.
"Eu preciso trabalhar, Ed. Estou super atrasada e você só está piorando a situação." disse e, aproveitando um descuido, saltei para longe de seu aperto de urso. Mas antes que pudesse comemorar, senti novamente os braços de Edward me enlaçando com força, dessa vez pelos quadris.
"Bee, é véspera de ano novo. Quem em sã consciência vai pro trabalho hoje? Além disso, é melhor ficar quieta, eu sei que você só quer ir à agência para falar sobre a noite de ontem. Não vale a pena estressar por nada."
"Eu não ia até lá para brigar. Só queria deixar claro que sou inocente nessa história toda."
"Você sabe que não fez nada, eu também sei. Será que isso já não basta? A gente vai embora desse lugar em pouco tempo, você vai mesmo gastar o resto dos seus dias aqui tentando provar algo a esses franceses estúpidos? O que isso vai mudar na sua vida?" mudaria tudo, eu manteria minha dignidade intacta. Entretanto a cada minuto as palavras de Edward me convenciam de que deveria esquecer aquele assunto de uma vez por todas.
"Ok, talvez você tenha razão." falei soltando um suspiro.
"Eu sempre tenho razão, admita."
"Essa não é a questão. Digamos que eu aceite não ir trabalhar hoje. O que vou ganhar em troca?" virei o corpo de modo que seu queixo encostasse bem no centro da minha barriga. O contato despretensioso fazia meu ventre contrair involuntariamente.
"Você pode pedir o que quiser, desde que peça por sexo na sacada." gargalhei alto. Edward conseguia ser inacreditável quando queria.
"Continue sonhando com isso, Ed." ele fez um biquinho magoado e eu dei um leve empurrão na sua testa. "Além do mais eu já sei o que quero."
"E o que seria?" Edward perguntou em uma voz totalmente entediada, me fazendo cair em mais uma crise de risos.
"Vamos dar um passeio pela cidade." balançou a cabeça concordando com a ideia e eu mordi o canto dos lábios antes de continuar. "E Polainas vai com a gente." seu rosto desmoronou ao me ouvir, quase me fazendo sentir pena dele. Eu disse quase.
"Tenho outra alternativa?"
"Não, nenhuma alternativa." foi a vez dele de girar os olhos de impaciência. "Foi você quem quis que eu faltasse ao trabalho hoje."
"Estou começando a me arrepender disso." murmurou desinteressado e eu fingi ficar magoada.
Empurrei seus braços para longe do meu corpo, me virando para ir embora. Novamente ele me puxou em um abraço apertado, do qual eu tentei a todo custo fugir chutando-o sem acertá-lo em nenhum ponto.
Riu do meu esforço em vão e quando eu estava prestes a atingi-lo no tornozelo, ele foi mais rápido, me desarmando da forma mais inesperada possível. Com uma grande mordida em minha bunda.
Se não tivesse sentido seus dentes apertando minha pele, eu não acreditaria que ele havia feito aquilo.
"Cacete, você mordeu a minha bunda!" gritei estapeando suas mãos com força para que ele me soltasse.
"Eu não tive culpa se você ficou esfregando ela na minha cara. Fiquei com vontade de morder." Edward justificou com um sorriso escancarado no rosto. Ele não podia estar falando sério.
"Doeu, sabia? E vai ficar roxo, merda!" sibilei irritada enquanto passava as mãos na região dolorida dos meus quadris. Nem havia doído tanto assim, mas eu queria que ele se sentisse culpado.
Edward empurrou meus dedos e antes que eu percebesse o que ele estava fazendo, baixou a calça do meu pijama – e a calcinha – até o meio das coxas. Fitei-o estarrecida, mas ele não retribuiu meu olhar, pois aparentemente estava concentrado demais em analisar minha pele.
"Ficou vermelho, mas já já isso some." murmurou, baixando o rosto para aplicar pequenos beijos na área que mordera. "Quando você se casar comigo sara. Ou não." ergueu o queixo para exibir o riso mais cínico, safado e totalmente sexy que eu já havia visto na vida. Por que ele gostava de fazer essas coisas comigo?
Respirei fundo para tentar reorganizar meus sentimentos e dei um peteleco no vão entre as sobrancelhas de Edward para mostrar o quão aborrecida estava. Ele se afastou praguejando alto e eu aproveitei para vestir minha calça, me distanciando o máximo possível dele.
"Quando casar sara uma ova. Agora estamos quites." sibilei já no meio do corredor. Edward me olhou com raiva e eu mostrei a língua como se fosse uma criança de quatro anos.
Ao vê-lo fazer menção de se levantar do sofá, me adiantei e saí correndo em direção ao quarto, rindo e provocando-o, pois sabia que isso o deixava demasiadamente irritado. Pulei na cama e fiquei rebolando na sua frente enquanto gritava que ele não era de nada e nunca me pegaria.
Já estava cantando vitória quando senti meu corpo tombando para trás sobre os travesseiros; ele me encurralou usando seus braços e pernas e eu não tive outra alternativa a não ser aceitar minha derrota.
E admitir que havia perdido seria dizer, clara e objetivamente, que Edward Cullen era o melhor em tudo que fazia e que sexo com ele era a experiência mais deliciosa que eu já tive em toda a vida.
Humilhação demais, ainda que não fosse nenhuma mentira.
"Anda, Bee, fala logo de uma vez!" ele pressionou sacudindo meus ombros de leve enquanto eu abanava a cabeça negativamente de forma convicta.
"Se você não falar, vou te deixar presa aqui o dia inteiro."
"Eu não me importo."
"Não compro mais aquele docinho gostoso na padaria ali da esquina."
"Ia começar a fazer dieta na semana que vem mesmo." dei de ombros começando a sentir a determinação esvair do meu corpo.
Edward me lançou um olhar ameaçador que me fez engolir em seco lentamente. Aproximou o rosto do meu, colando a boca em meu ouvido. Sua respiração forte me deixou arrepiada da cabeça aos pés.
"Vou dormir no sofá por um mês." touchè. Ele sabia como acabar comigo, já que tinha pleno conhecimento de que eu não conseguiria pregar os olhos sem tê-lo ao meu lado na cama a noite.
"Edward Cullen, você é o ser mais irritante e mimado do mundo. Mas é o melhor. Em tudo. E fazer sexo com você é a coisa mais deliciosa que já experimentei na vida. Satisfeito?" suspirei irritada, fechando os olhos para não ver a expressão vencedora que deveria estar pintada no rosto dele.
"Boa garota." sibilou me dando um beijo na bochecha. "Só tem uma coisa, Bee: dormir no sofá me dá dor nas costas, então você não estava correndo risco algum. Mas foi ótimo saber que sou bom em te chantagear."
"Filho da pu-" o palavrão morreu em minha garganta, pois os lábios dele tomaram os meus de um jeito que me deixou sem ação. Ele havia ganhado mais uma.
E dessa vez eu fiz questão de admitir minha derrota.
[…]
Love – Matt White**
A chuva insistente que começou a cair no meio da manhã frustrou meus planos de levar Polainas em um passeio ao ar livre; Edward não cabia em si de tanta alegria ao saber que eu deixaria meu gatinho em casa.
Às vezes me perguntava o motivo dele implicar tanto com uma criatura que passava seus dias distraída com bolas de lã. Era óbvio que Edward sentia ciúmes de Polainas, mas eu achava a situação tão absurda que tentava arrumar outra desculpa para explicar a antipatia dele pelo bichano.
Já passava das onze da manhã quando a chuva finalmente deu uma trégua e deixou que saíssemos de casa. Apesar da tempestade que caíra mais cedo, o clima não estava tão gelado e isso permitiu um passeio até a estação de metrô, que ficava a duas quadras do prédio onde morávamos.
Edward tinha sugerido que fôssemos até a praça Raoul Dautry patinar na pista de gelo de Montparnasse, a segunda maior de Paris. De lá almoçaríamos em um Marchê de Noël¹ que estava montado bem próximo a estação. Era um programa típico do fim de ano da cidade, que eu aceitei prontamente.
O metrô estava lotado, como eu já previra, mas isso não pareceu me desanimar. A atmosfera natalina ainda reinava em cada cantinho da capital e ali não era diferente. Pessoas badalando sinos em troca de moedas, músicos tocando canções conhecidas da época em seus grandes acordões eram um convite cheio para a contemplação.
Muitas pessoas na estação formavam grandes círculos em torno dos artistas de rua para apreciarem seu trabalho e eu não fui diferente; um mimico de sorriso triste me encantou com seu talento e eu fiquei parada com os olhos vidrados em cada movimento que o homem fazia. Quando ele se aproximou de mim tomei um susto e – sem perceber – me escondi protetoramente nos braços de Edward, que sorriu assim que viu o artista puxar uma rosa do bolso de trás de sua calça, enrolá-la em uma fita imaginária e oferecê-la a mim. Minhas bochechas queimaram quando todos ao nosso redor aplaudiram e o homem de semblante caído enfim abriu uma grande risada, antes de agradecer ao público.
Eu sentiria uma falta imensa desse ar encantado que Paris sabia conservar através dos séculos. Muitas vezes seu clima romântico me deixava com aquela sensação de estar em pleno cenário de um filme antigo, onde tudo era mais deslumbrante, quase irreal tamanha perfeição.
Meu estômago roncava alto quando desembarcamos em Montparnasse e Edward sugeriu que primeiro procurássemos algo para comer; depois alugaríamos os patins para passear na pista de gelo da praça ali perto.
"Caramba, você tá mesmo com muita fome." ele comentou passando a mão um pouco acima do meu estômago e sentindo a agitação dentro.
"Estou faminta e com um humor péssimo. Ao invés de ficar me irritando, por que não procura um lugar pra gente comer, hein?" rosnei encarando a forma como ele esfregava sua palma em minha barriga. Parecia se divertir ao sentir a intensidade de meu apetite, que era gigante por sinal.
O Marchê de Noël de Montparnasse era enorme, colorido e muito barulhento. Em dias como aquele, véspera de uma grande comemoração, ficava lotado principalmente por famílias e turistas, que buscavam apreciar um pouquinho mais do que a cultura parisiense tinha a oferecer.
Paramos em uma creperia e eu imediatamente me empoleirei em uma mesa, enquanto esperava que Edward fosse buscar nossa comida. Ele voltou quinze minutos depois, trazendo uma porção de crepe com Nutella e castanhas portuguesas assadas na brasa, que eram vendidas em uma barraca ao lado. Comemos aquelas delícias que me fariam ganhar alguns quilos mais tarde acompanhadas de um bom cappuccino cremoso, a minha bebida de inverno favorita desde sempre.
"O monstro que mora no seu estômago está mais calmo agora?" Edward perguntou bem humorado e eu o respondi com uma careta infantil, que o fez rir alto.
"Será que você não vai mudar nunca?"
"Do que você está falando?" retruquei desconfiada.
"De você ficar mal humorada quando está com fome. É assim desde que a gente era criança." lancei um olhar indignado em sua direção, fingindo não saber do que ele estava falando.
"Não fico mal humorada coisa nenhuma. Você é que fica fazendo gracinhas que irritam. Droga, quando estou com fome, quero comer. Será que é difícil de entender isso?"
"Tem certeza de que o monstrengo aí dentro tá bem alimentado, Bee?" Edward brincou cutucando-me no meio da barriga. Revirei os olhos entediada e quando ele gargalhou mostrei-lhe meu dedo do meio. Tão idiota, argh!
"Sério, Edward, por que você é tão chato?"
"Não sou chato com todo mundo. Só com você." me lançou uma piscadela convencida e um sorriso traquina.
"Ah, muito obrigada pela consideração." bufei sonoramente.
"Sabe do que eu mais gostava quando conseguia te deixar com raiva? Das suas bochechas vermelhas. Você ficava parecendo um tomate e era a coisa mais engraçada de ver. E a mais bonita também." meu rosto congelou a cara aborrecida que estava prestes a fazer e eu o fitei envergonhada, rapidamente baixando os olhos para minhas mãos por temer que ele visse o quanto meu rosto estava corado naquele momento.
"Você definitivamente não vai mudar nunca. E eu prefiro que seja assim." Edward sibilou antes de puxar levemente meu queixo para cima, de modo que nossos olhares voltassem a se cruzar.
Ele sorriu de canto do mesmo jeito de sempre, aquele que deixava meus joelhos fracos, e passou as pontas dos dedos nas maçãs do meu rosto, espalhando um agradável calor que correu em direção ao pescoço e orelhas. Cerrei os olhos e inspirei o ar pesado enquanto sentia-o brincando com a linha abaixo do meu maxilar, arrepiando minha pele com seu toque. Sem perceber, deitei a cabeça na palma de sua mão e ouvi uma risadinha sendo abafada; permaneci na mesma posição, ainda de olhos fechados, só aproveitando um carinho que era bom demais para ser interrompido.
Foi só quando senti algo riscando a ponta do meu nariz que voltei a encarar Edward; ele estava bebericando o cappuccino e fingia guardar uma gargalhada, que escapava pelos cantos de sua boca. Fitei-o desconfiada, antes de tocar em meu rosto e notar que estava melecada de chocolate em algumas partes.
"Você me sujou de doce, Ed? Sério?" questionei irônica pegando um guardanapo para me limpar. "Só preciso te lembrar que não temos mais cinco anos."
"Vou tentar não esquecer disso da próxima vez, Bee." respondeu no mesmo tom que o meu. "Você esqueceu uma sujeirinha aqui no canto."
"Onde?" passei novamente o pedaço de papel no nariz e no queixo, locais que estavam cobertos pelo doce grudento.
"Bem aqui." disse aproximando o rosto do meu e fitando minha boca, que imediatamente despencou prevendo seu próximo movimento.
A cena era muito clichê, mas eu já estava pronta para cumprir meu papel. Eu só esqueci de um detalhe: Edward era um ser imprevisível que adorava me deixar frustada. Ao invés de me dar um beijo passou os dedos em meus lábios e limpou os últimos resquícios de chocolate que havia, me fazendo soltar um suspiro aborrecido.
"Argh, você adora estragar tudo."
"Estragar o quê?"
"Você deveria ter me beijado, seria muito mais romântico."
"Você queria que eu tivesse te beijado?"
"Sim! Mas você é tonto demais para entender certas coisas, não é?" cruzei os braços no peito, sentindo meu rosto pegar fogo pela irritação crescente em meu peito.
"Na verdade, Bee, eu estava esperando por uma coisinha antes de te beijar."
"O quê?"
"Isso aqui." ele deslizou a mão novamente em meu rosto, que fervilhou sob seu toque. "Bochechas vermelhas. Bem melhor assim." e dizendo isso selou nossos lábios em um beijo que levou embora qualquer aborrecimento que fingi estar sentindo.
Edward riu em minha boca e não cessou o carinho que fazia na pele de meu rosto, enquanto eu provava do calor de sua língua brincando com a minha. Minhas mãos foram parar atrás de sua nuca, apertando seus cabelos conforme seus lábios pressionavam os meus. Meu coração parecia a ponto de saltar pela boca e eu sentia a estranha vontade de sorrir em meio ao beijo intenso.
O desejo incontrolável de gargalhar foi mais forte e logo Edward e eu estávamos dando longas risadas nos lábios um do outro. As pessoas provavelmente deveriam achar que éramos um casal de loucos, mas eu não me importei.
A felicidade que borbulhava em meu peito era grande demais para ser deixada de lado.
[…]
Como combinado, após o almoço fomos à pista de patinação da praça Raoul Dautry, próximo a sede da prefeitura da cidade. Eu não era muito fã dessa prática por motivos mais do que óbvios. A combinação gelo e Isabella Swan tinha tudo para ser a receita do desastre. E não deu outra.
Nos primeiros vinte minutos tudo corria bem; Edward me segurava com firmeza pela cintura ao me incentivar a mover os pés um pouquinho que fosse pela pista. Eu era digna de risadas, pois parecia um bloco de concreto andando ao seu lado. As criancinhas que circulavam por ali pareciam muito mais confortáveis do que eu.
É claro que já havia patinado algumas vezes, afinal eu era uma nova iorquina que passava horas aproveitando as pistas do Rockefeller Center na infância; o grande problema é que não gostava muito de patinar. E não levava o menor jeito para o esporte.
Edward – ao contrário de mim – era um exímio patinador. Às vezes eu sentia uma inveja enorme de suas habilidades em certas práticas esportivas. Ele fazia tudo parecer tão fácil, enquanto eu mal conseguia me manter em pé sobre as lâminas afiadas.
Quando resolvi bancar a garota corajosa e patinar sem a ajuda dele, levei o maior tombo da história. Cair sentada de bunda no gelo em frente a quase 100 pessoas não seria nada comparado a rasgar a calça jeans na queda e cortar a panturrilha com os próprios patins. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, mas assim que vi o filete de sangue manchando o tecido da calça tive certeza de que era a criatura mais desastrada do mundo.
Como se já não soubesse disso há tempos.
"Vai ficar tudo bem, Bee. A ambulância já está ali fora esperando pra levar você ao hospital." Edward murmurou nervoso enquanto um grupo de paramédicos tentava controlar a multidão que começava a nos cercar. Foi só uma queda, pelo amor de Deus.
"Não seja tão dramático, Edward, foi só um cortezinho de nada." sibilei aborrecida com minha capacidade de estragar tudo. Por que eu não nasci com um mínimo de coordenação motora, hein?
"Você sabe que não foi só isso, Bee. A lâmina é afiada, provavelmente você vai levar alguns pontos na perna."
"O QUÊ?" gritei assustada tentando puxar a calça jeans para cima para ver o estado de minha perna. Mas assim que dobrei o corpo senti uma profunda dor na coxa, reflexo da colisão do meu corpo com o gelo. "Cacete, tá doendo pra porra!"
Dois homens se aproximaram e rapidamente me colocaram em uma maca, tomando os cuidados necessários para que eu não tentasse me mover demais. Como se não bastasse a dor que latejava em minha perna ainda tinha que aguentar a humilhação de ser levada de ambulância ao hospital por culpa de minha total descoordenação.
"Caralho, dói muito. Porra, porra, PORRA!" gritei no caminho da emergência quando um dos paramédicos limpou a área machucada. O outro me olhou como se eu fosse uma maluca.
"Desculpem, ela fica meio agressiva quando sente dor. E, er, fome também." Edward explicou sorrindo amarelo; joguei os braços sobre o rosto por temer urrar de raiva e dor. Que ótimo 31 de dezembro o seu, Isabella Swan!
Demorei quase meia hora para ser atendida, pois a sala da emergência médica estava abarrotada. O sangramento em minha perna estava controlado, mas a pulsação dolorida não parava de me massacrar. Comecei a sentir uma fraqueza comum em situações de dor extrema e tudo que mais queria era o conforto de minha cama.
Como Edward previra acabei tendo que levar alguns pontos no local machucado. A enfermaria inteira foi testemunha da sinfonia de palavrões que eu despejei enquanto o médico costurava minha pele.
Edward tentava, sem sucesso, me acalmar, mas tudo que ele fazia ou falava era em vão. Só conseguiu me calar quando tapou minha boca com a mão enorme, passando um sermão em uma voz muito séria que me deixou quieta feito um cachorrinho amestrado.
Voltamos para casa de táxi no início da noite e eu fiz manha quando ele me pegou no colo para me levar até nosso apartamento. Eu estava adorando ser paparicada daquele jeito, apesar de ainda sentir a perna pesada e dolorida.
"O médico me mandou te dar isso. Vai te relaxar e aliviar um pouco o desconforto dos pontos." ele sibilou ao me entregar uma pílula de analgésico e um copo com água.
"Obrigada, Ed." murmurei bebendo o líquido em grandes goladas.
"Vou te levar pra cama. Quer tomar um banho quente antes de se deitar?" meus olhos ficaram marejados ao ouvi-lo perguntar aquilo e eu comecei a chorar antes mesmo de me dar conta do por quê disso.
"Hey, o que foi, Bee?" questionou preocupado, empurrando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. A forma carinhosa como ele me fitava piorava toda a situação.
"Você queria tanto ir ao Champs de Mars ver os fogos da Torre Eiffel e por culpa minha não vai mais." sibilei em meio a soluços que pulavam de minha boca sem controle.
"Não faz mal, Bee, o importante agora é que você fique bem." Edward tentou me tranquilizar, mas conseguiu exatamente o contrário. O choro aumentou e logo eu me vi fungando alto.
"O que foi agora?" inquiriu com o cenho franzido em confusão.
"Você..."
"O que foi que eu fiz?" sua voz estava urgente de temor.
"Você... tão fofo cuidando de mim. Aw, Ed, e-eu, eu... não me olha desse jeito, porra!" enfiei o rosto na curva de seu pescoço, soltando um suspiro forte; dei dois tapinhas de leve em seu rosto fazendo-o rir.
"Ok, acho que já entendi tudo. Você está começando a ficar dopada pelo remédio, então é hora de ir pra cama."
"Não quero ir pra cama, quero ver os fogos de ano novo!" resmunguei molenga; minhas pálpebras pesavam e eu precisei fazer um esforço enorme para manter meus olhos abertos. Não tive muito sucesso.
"Deixa pro ano que vem, Bee. Você precisa descansar agora." Edward encerrou o assunto me pegando novamente no colo pra seguir rumo ao nosso quarto.
A cada segundo que passava meu corpo parecia mais fraco, como se eu não tivesse energia suficiente para exercer a simples tarefa de erguer os braços. Algumas cenas soltas dançavam ao redor de minha visão e eu tentava me focar em uma delas, mas parecia que meu cérebro estava cansado demais para fazer isso.
Vi Edward me despindo e colocando meu pijama de flanela favorito, senti quando ele arrumou os travesseiros para que eu ficasse melhor acomodada na cama e por fim notei seus braços me envolvendo no familiar aperto que me relaxava e me fazia dormir instantaneamente. Lembro que em algum momento comentei que queria ficar doente mais vezes só pra ganhar mais carinho dele, mas não tive tempo de ouvir sua resposta. Caí em um sono profundo antes da meia noite.
Os fogos de artifício rasgando o céu parisiense acabaram me despertando algum tempo depois, entretanto eu ainda estava muito anestesiada para prestar atenção. Edward sorriu assim que me viu meio acordada e deixou um beijo no topo da minha cabeça. Eu quis sorrir em retribuição, mas parecia que os músculos da face estavam cansados demais para se moverem.
"Feliz ano novo, Bee. Eu te amo." Edward sibilou mansinho e eu lhe respondi com um riso bobo no rosto que permaneceu em meus lábios pelo resto da noite.
[…]
Dois dias após o ano novo decidi que já era a hora de resolver minha situação na agência. Tudo que mais queria era por um ponto final naquela história toda e voltar para Nova York o mais depressa possível.
Aproveitei que Edward estava amarrado em um pesado sono para ir até a empresa conversar com Bernard. Pretendia sair da Publicis livre para começar tudo de novo. Em casa.
Não seria fácil, mas eu estava decidida a seguir em frente.
Saí do apartamento na surdina logo no começo da manhã, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Edward dormia como uma pedra, mas farejava o cheiro de problemas a quilômetros de distância. Se ele soubesse onde eu estava indo, me trancaria no quarto e me deixaria lá pelo resto do dia.
Minha perna não estava totalmente boa para que eu ficasse me locomovendo para lugares distantes, mas resolvi arriscar. Peguei um táxi na porta do prédio com um discurso pronto em minha cabeça. Não demoraria nem cinco minutos na agência se tudo saísse conforme planejei na noite anterior.
Faltava pouco mais de vinte minutos para as nove da manhã e os corredores da empresa fervilhavam o típico frenesi diário. Ignorei os olhares incrédulos que me acompanharam e entrei na sala de Bernard sem me importar em ser anunciada.
"Isabella. Esqueceu os bons modos em casa?" ele questionou irônico, me deixando por um momento envergonhada.
Respirei fundo para não me deixar dominar pelo nervosismo e comecei:
"Não vou tomar muito do seu tempo, Bernard. Só vim aqui para pedir minha demissão."
Meu chefe ficou alguns segundos calado, como se tentasse processar o que eu acabara de dizer. Limitou-se a menear a cabeça positivamente, o que me fez suspirar de pesar.
"Já estava esperando por isso, Belle. Eu realmente não queria que a situação chegasse a esse extremo, mas considerando seu comportamento lamentável na noite da festa de confraternização-"
"Como é que é?" interrompi-o com incredulidade estampada na voz. "Você não ouviu o que eu tinha a dizer naquela noite, foi totalmente injusto e eu tive um comportamento lamentável? Isso só pode ser uma brincadeira sua, Bernard."
"Isabella, consegue perceber o quão ridícula você soa quando fala sobre essa situação? Seus motivos para atacar uma colega de trabalho são injustificáveis, como quer que eu ouça o que tem a me dizer?"
"Todo mundo nessa agência me odeia, Bernard! E a culpa é toda de Clarice, ela armou tudo. Foi ela que fez com que nenhum dos funcionários comparecesse à festa." meu chefe me fitou estarrecido e eu engoli em seco, arfando por causa da ânsia que sentia em me defender.
"Do que você está falando? Pelo que eu sabia a única funcionária que não foi à festa foi justamente a idealizadora. Você, Belle." meu queixo despencou com a revelação e eu comecei a tremer de raiva.
Clarice, sua vagabunda maldita, você me paga.
"Wow, agora entendo os motivos de você não acreditar no que digo. Tudo foi tão bem armado que até eu em seu lugar duvidaria de mim mesma." murmurei derrotada, sem forças para rebater provas reais que deixavam claro que eu era a culpada ali. Mesmo não sendo.
"Como eu disse, é lamentável que essa situação tenha chegado a esse ponto. Você é uma profissional brilhante e tinha tudo para crescer nessa empresa." Bernard sibilou sincero, mas eu estava magoada demais para tomar suas palavras como um elogio.
"Tenho certeza de que Clarice fará um ótimo trabalho em meu lugar. Ela mostrou que sabe muito bem como agir para conquistar o que quer." decretei já na porta da sala, prestes a sair. "Só toma cuidado com ela, Bernard. Pessoas como Clarice tendem sempre a querer mais e mais. Um dia ela pode achar que chegou a hora de ocupar essa sala aqui." não quis ouvir uma resposta de meu – agora – ex chefe e marchei firme em direção à saída da agência.
No meio do caminho notei algo que me fez meu sangue congelar e ferver em minhas veias ao mesmo tempo. Clarice caminhava tranquilamente no sentido de minha antiga sala. Sem pensar no que estava fazendo, dei meia volta e a segui. Encurralei-a antes mesmo que ela abrisse a porta para entrar.
"O que pensa que está fazendo, sua louca?" ela esperneou me olhando assustada.
"Só vim te dar os parabéns pela sua promoção. Você finalmente conseguiu o queria, passou de uma mera assistente puxa saco ao cargo de coordenadora de mídias. Um salto e tanto, hein?" ignorei a dor lancinante apertando minha perna esquerda e tratei de empurrar Clarice para dentro da sala, batendo a porta atrás de mim com força.
"Se você tocar em mim, eu juro que grito!" Clarice ameaçou, retesando o corpo de um jeito que mostrava que ela estava apavorada. Além de vadia e loira, ainda era covarde. Argh!
"Não se preocupe, Clarice, não vou fazer nada contra você." contornei a mesa cheia de documentos importantes, passando os dedos lentamente sobre cada pasta empilhada. "Que tal se eu te ensinar como nós, americanos, gostamos de comemorar algo? Acho que vai ser divertido, não acha?"
Os grandes olhos da loira quase saltaram para fora das órbitas quando ela se deu conta do que eu estava prestes a fazer. Tentou gritar, mas sua voz de gralha ficou suspensa no ar, provavelmente devido ao susto que levou quando eu passei a rasgar os contratos de várias contas que suara para conseguir fechar. Se ela pensava que ia ficar com tudo que lutei para conquistar estava muito enganada.
"Esses contratos eram únicos, sua vagabunda! Olha só o você fez. E agora?"
"Agora? Vire-se e dê um jeito de conseguir tudo de novo por você mesma. Ou pensou realmente que eu ia te deixar tudo mastigado e pronto pra que não tivesse trabalho algum? Ainda não sou tão boa desse jeito, Clarice."
"Sai da minha sala agora, sua, sua..."
"Anda, pode me chamar de vadia se quiser. Porque eu estou adorando bancar uma e estragar com a sua alegria."
"Putain!" Clarice rosnou trêmula de raiva. Aproveitei sua irritação e propositalmente larguei uma caneta no chão junto aos seus pés. Ela escorregou no objeto e acabou caindo de cara no chão.
"Ops, foi mal." saí da sala rindo, deixando a loira insuportável jogada sobre os documentos rasgados que fariam Bernard arrancar os cabelos de raiva quando soubesse o que havia acontecido. Bem feito.
Minha atitude havia sido claramente infantil e irracional, mas em nenhum momento me arrependi do que fiz. Clarice merecia sofrer um pouco para aprender, principalmente depois de ter armado contra mim para me tirar do cargo de coordenadora das campanhas publicitárias. Eu não era uma pessoa vingativa, mas também não tinha sangue de barata para ficar apática depois de tudo que fizeram contra mim naquela agência.
Já estava na porta do prédio quando me virei para encarar o hall de entrada imponente da sede oficial da Publicis. Abri um sorriso aliviado ao perceber que estava livre daquele lugar e poderia enfim ir para casa e esquecer aquele episódio horrível de minha vida.
"Au revoir, franceses idiotas. Até nunca mais." sibilei e segui em frente sem a mínima vontade de olhar para trás.
[…]
¹ Marchê de Noël em tradução livre "Mercado de Natal". São pequenas feiras natalinas montadas em pontos estratégicos de Paris, geralmente próximo às estações de metrô e aos monumentos históricos da cidade. Lá é fácil encontrar boa comida, lembrancinhas temáticas e atrações culturais que animam quem frequenta o lugar.
Montparnasse é uma estação de metrô de Paris. Fica localizada próximo a sede da prefeitura da cidade.Capítulo 6 – Au revoir, Paris.
EPOV
Bella ficou muda por alguns minutos enquanto encarava os próprios pés imersos no tapete da sala; confesso que passado algum tempo comecei a ficar incomodado com seu silêncio.
"Você faria mesmo isso?" ela finalmente murmurou, ainda com o olhar grudado no chão.
"O quê? Te levar à força de volta pra casa? Você sabe que isso não seria tão difícil assim e-"
"Não estava falando disso, Edward." me cortou impaciente. "Me refiro a voltar para Nova York com essa sensação de derrota que está pesando em meus ombros. Já parou para pensar que assim que chegarmos lá seremos alvo de críticas e questionamentos? E-eu acho que não estou pronta pra isso."
"E desde quando você se importa com o quê as pessoas pensam ou não sobre você, Bella?"
"Me importo com meus amigos e com a minha família. Eu não quero parecer uma fracassada diante deles." Bella rebateu e, sem perceber, encolheu os ombros como uma criança acuada. Eu poderia encerrar aquele assunto e puxá-la para um abraço protetor, mas antes disso ela precisava ouvir algumas coisas.
"Em primeiro lugar, você nunca foi e nunca vai ser uma fracassada, Isabella Swan. Segundo, sua família e seus amigos não vão virar as costas para você apenas porque fez uma escolha errada."
"Não foi assim que aconteceu da última vez, lembra? Por causa de um erro, Charlie ficou sem falar comigo por quase oito anos." o sorriso irônico que surgiu em seus lábios deixou o rosto de coração com uma expressão amarga.
"Aquilo foi diferente. Você era nova demais e se deixou levar por um canalha que só queria tirar proveito de tudo. A situação agora é outra. Não há o que temer." tentei assegurá-la, mas a cada segundo ela se mostrava mais e mais evasiva.
"Eu... não sei." suspirou lentamente; seus olhos estavam turvos pelas lágrimas que brincavam nos cantos. "Só não quero ficar mais oito anos sem ouvir a voz de meu pai dizendo meu nome." a luz do entendimento iluminou minha cabeça e eu compreendi que o medo de Bella era apenas um: desapontar Charlie. Um grande nó emperrou minha garganta, me deixando incapaz até mesmo de respirar.
"Argh, já chega desse assunto por hoje! Minha cabeça está prestes a explodir de tanta dor." ela me cortou antes que eu pensasse em abrir a boca para murmurar algo. Era assim desde que eu passei a ter um mínimo de noção sobre as coisas ao meu redor; quando Bella se sentia ameaçada, fechava-se em seu próprio mundinho e tirá-la de lá era quase uma missão impossível.
Uma parte de mim ainda insistiu para que eu desse continuação ao assunto, mas ao ver o rosto dela tão abatido resolvi lhe dar uma trégua. Permaneci calado, apenas observando-a cambalear em direção ao nosso quarto. Decidi não segui-la.
Meu corpo despencou no sofá e eu joguei os braços sobre o rosto, bufando forte de cansaço. Era difícil admitir, mas Bella tinha toda razão em dizer que nossa vida era uma grande ilusão. Dentro daquele apartamento tudo parecia perfeito, as coisas não poderiam estar tão certas entre nós dois. Porém isso infelizmente não era o suficiente.
Eu deveria ter dito a ela o quanto meu trabalho era uma merda, entretanto vê-la feliz e bem sucedida me fez tomar uma atitude completamente machista.
Por temer que ela me achasse um desastre, me mantive calado aceitando um emprego medíocre que a cada dia que passava deixava mais claro que as coisas só piorariam. Eu era tratado apenas como um estrangeiro que estava ali para cumprir ordens. Não podia pensar, criar ou simplesmente dar minha opinião. Era pago para executar as porcarias que um bando de babacas enchiam o peito para dizer que haviam criado.
Juro que suportei até o último segundo calado, mas com o tempo a situação ficou insuportável. Na única vez que abri a boca para retrucar uma ordem, fui escorraçado para fora daquela empresa como um cachorro vira-lata. Na hora dei graças a Deus por enfim me ver livre de um trabalho tão horrível como aquele, mas com o passar dos dias comecei a me arrepender. Tudo pareceu piorar quando Bella surgiu com a notícia de que seus projetos na agência haviam sido muito bem recebidos e que era questão de tempo para que ela conseguisse novas contas de grandes empresas mundiais.
Vê-la tão bem profissionalmente me deixava muito orgulhoso, contudo não era fácil controlar a pontada de inveja que aparecia cada vez que ela tocava nos assuntos de trabalho. Não que eu quisesse o emprego de Bella, longe disso; só queria ter o mesmo sucesso que ela estava tendo, mas nada do que eu fazia parecia surtir efeito, nenhuma das minhas ideias eram boas o suficiente para serem comparadas as delas. Por causa disso escondi minha demissão, já bastava admitir a mim mesmo que eu não prestava para nada. Seria impossível lidar com o olhar desapontado de Bella quando ela descobrisse a verdade.
Eu estava exausto e decidi que já era hora de deitar e parar de me martirizar por algo que não valia mais a pena. Estiquei o corpo ao me levantar do sofá e segui rumo ao quarto, tomando cuidado para não produzir mais ruído que o necessário. A luz do cômodo estava apagada, mas o brilho do abajur deixava uma penumbra que me permitiu enxergar o caminho do banheiro. Lavei o rosto, troquei minha roupa pelo pijama, e voltei para o quarto, pisando leve sobre o piso de madeira barulhento.
Bella estava encolhida em seu lado da cama, embrulhada como um bebê no edredon macio. Deitei com cuidado e fiquei um bom tempo fitando o teto escuro, pensando em tudo, mas ao mesmo tempo em nada. Esperei um sono que não veio e bufei exasperado ao olhar o relógio na cabeceira, constatando que já passava das três da manhã. Considerei levantar e ir pra sala, porém o cansaço instalado em meu corpo falou mais alto.
Fechei os olhos e fiquei ali imaginando coisas, tentando visualizar um futuro que eu não fazia a menor noção de como seria. Quando comecei a pegar no sono, nas primeiras horas de uma manhã preguiçosa, senti um corpo miúdo buscando abrigo junto ao meu.
Em uma reação totalmente instintiva, passei as mãos na cintura fina, colando as costas em meu peito. Meu rosto embrenhou-se na curva do pescoço cheiroso e tanto eu quanto a dona daquelas curvas soltamos um longo suspiro. Arrisquei uma breve olhadela para o rosto adormecido tão perto do meu e não escondi o sorriso aliviado que surgiu em minha boca. Deixei um beijo um pouco abaixo de suas orelhas, inspirando forte o aroma delicioso que exalava daquele ponto. Meus dedos buscaram o encaixe dos dela e eu pude finalmente relaxar na inconsciência.
[…]
BPOV
Acordei sentindo a cabeça pesada e um gosto de ferrugem na boca que fazia meu estômago revirar; reflexos da noite mal dormida. Demorei para conseguir controlar uma crise de choro silenciosa e quando finalmente fisguei o sono fui acometida por vários pesadelos. Resultado disso: uma terrível enxaqueca que iria me deixar indisposta pelo resto do dia. E pensar que eu havia feito tantos planos para aproveitar o último dia do ano...
Inspirei fundo, vagando a vista pela larga janela do quarto para observar o sol fraquinho que brilhava no céu cinza. Se o clima continuasse daquele jeito, meu humor tenderia a piorar com o passar das horas. Será que eu poderia ficar na cama o dia inteiro?
Uma rápida olhada no relógio de parede me deixou imediatamente mais relaxada; ainda tinha algumas horas de preparação para poder enfrentar Bernard e um escritório inteiro que me odiava. Eu não sabia como reagiria ao pisar na agência naquela manhã.
Tentei afastar essa nuvem de preocupação de minha cabeça e resolvi me concentrar no pouco tempo de paz que ainda tinha antes de me atirar aos leões famintos. Tamborilei os dedos no braço forte que me prendia pela cintura enquanto prestava atenção no formato das nuvens de chuva que dançavam no céu parisiense.
Foi só então que eu percebi que estava literalmente colada ao corpo de Edward. Dava pra sentir sua respiração forte rebatendo em meu pescoço e a maneira como seu peito arfava provocava arrepios em minha coluna. Aquilo seria muito bom se eu não estivesse mais aborrecida com ele. Por que ele não confiou em mim e não me contou toda a verdade sobre seu emprego? Doía saber que ele escondera um assunto como aquele por tanto tempo.
Suspirei alto para afastar as lágrimas de frustração e dei um salto para longe da cama antes que sucumbisse ao desejo de ficar nos braços de Edward o dia todo. Saí do quarto deixando-o profundamente adormecido; isso me fez notar que não havia visto a hora que ele deitou ao meu lado. Convenci a mim a mesma que aquilo não importava.
A cozinha estava gelada e por causa disso precisei correr até a sala para ligar o velho aquecedor no máximo. Polainas, provavelmente notando a agitação matinal, veio ao meu encontro com seu típico olhar pidão e miado sofrido. Peguei-o no colo, fazendo carinho em suas costas; ele ronronou e deitou a cabeça em meus braços de um jeito muito manhoso.
"Está com fome, amorzinho?" ele espanou o rabo em minha barriga assim que entrei na cozinha novamente; meu estômago roncou alto e eu ri sem muita vontade. "Pelo visto, a mamãe também está."
Coloquei-o no chão para pegar o leite e sua tigela colorida que eu havia comprado no mesmo pet shop que o encontrei. Polainas me seguia com seus grandes olhos azuis muito atentos, lambendo os bigodes ao me ver preparando seu café da manhã.
Ele estava faminto, constatei ao vê-lo limpar a vasilha cheia de leite gelado. Assim que ficou satisfeito, enroscou-se em minhas pernas, como se quisesse me agradecer pela refeição deliciosa que acabara de lhe dar, e seguiu em direção à sua cama que ficava na divisa entre a sala e a cozinha. Preguiçoso como todos os gatos.
Sem a menor vontade de preparar um dejejum decente, me peguei enchendo um prato com cereais e leite, comendo mecanicamente. Meus olhos a todo instante rolavam em direção ao lado de fora do apartamento e eu sentia uma imensa estafa tomando conta de mim pouco a pouco.
Estava tão aérea que só me dei conta de que Edward estava na cozinha quando ele tossiu, provavelmente para chamar minha atenção.
"Hey" sibilou me dando um sorriso sem graça.
"Hey" devolvi colocando uma grande colherada de cereais na boca. Por muito pouco não engasguei com a minha gula. Ou falta de coragem para conversar, chamem do que quiser.
"Então...er, hoje é dia 31. Tem planos para mais tarde?" Edward questionou ao se encostar na bancada da pia com uma tigela igual a minha nas mãos.
"Hum, nenhum plano. Na verdade não estou com vontade de fazer nada hoje. Mas se você quiser ir ao Champs de Mars para assistir a queima de fogos e depois tomar alguma coisa em um café ali perto, eu aceito sem problemas. Lembro que você comentou sobre isso na semana passada."
"É, acho que vai ser legal irmos até lá. Todo mundo fala que o Champs tem a melhor vista dos fogos iluminando a Torre Eiffel da cidade inteira."
"Certo" cocei a cabeça, me sentindo estranha e desconfortável diante da presença de Edward. Não era a hora certa para retomar o assunto da noite anterior, mas parecia que cada vez mais minha língua arranhava para falar justamente sobre isso.
"E-eu... preciso me arrumar pro trabalho. Meu Deus, se não correr vou chegar atrasada." tentei inventar uma desculpa para fugir de uma desagradável conversa, mas Edward não permitiu que eu me esquivasse. Segurou-me pelo pulso quando pensei em escapar para longe da cozinha e quase me imprensou contra a mesa.
"Podemos conversar?" seus olhos grudaram nos meus de forma tão intensa que eu senti o fôlego secando meus pulmões.
"Edward, não é a melhor hora pra isso." confessei quase suplicante.
"Prometo que não vou prolongar mais esse assunto. Só preciso saber se você pensou sobre o que te falei ontem."
"A respeito de quê?"
"De voltar para casa comigo o mais rápido possível."
Respirei fundo e desviei o olhar do seu. Eu realmente queria que as coisas fossem mais fáceis, mas infelizmente a realidade era cruel e muito mais complicada do que poderia imaginar.
"Edward, eu... não posso voltar pra Nova York desse jeito."
"E por quê não?" ele franziu a testa confuso e soltou meu braço.
"Primeiro porque tenho responsabilidades. Preciso me alimentar, me vestir e pagar minhas dívidas. Não posso largar um emprego que me rende muito mais do que sonhei em ganhar na vida, assim de uma hora para outra."
"Você pode arranjar algo muito melhor nos Estados Unidos, Bee. Eu sei que pode."
"Não é tão fácil assim, Ed. Eu não tenho tanta grana no banco e se não suar para conseguir meu próprio dinheiro, vou acabar ficando sem ter o que comer. Não tenho pais milionários que a qualquer momento podem depositar uma fortuna em minha conta bancária para me salvar de um problema e-" a frase morreu no ar quando notei que havia falado demais. Droga!
Edward me lançou um sorriso torto muito cínico e me fitou magoado. Merda, merda!
"Desculpa, eu acabei falando o que não devia, não foi minha intenção." murmurei me sentindo extremamente envergonhada. Eu não devia ter dito aquilo.
"Você mais do que ninguém sabe que eu não ligo a mínima para o dinheiro dos meus pais. Você viu o esforço que fiz para conseguir comprar meu carro e estava ao meu lado quando assinei o contrato de compra do meu apartamento. Em algum momento me viu pedindo dinheiro emprestado para Carlisle e Esme?" questionou com raiva.
"Me perdoa, merda, eu não quis dizer isso." corri para abraçá-lo e precisei fazer um grande esforço para não deixar que ele fugisse do contato. "Estou confusa, acabei falando coisas sem pensar. Me desculpa, Ed, por favor, me desculpa." puxei o rosto aborrecido de modo que seus olhos encontrassem os meus.
Edward trincou o maxilar e engoliu seco, mas aos poucos relaxou a expressão. Se limitou a menear a cabeça positivamente e eu aproveitei a deixa para beijá-lo no queixo até senti-lo menos tenso em meus braços. Ele afagou meus cabelos de leve e eu suspirei aliviada.
"Não tenho mais nada que me prenda nesse país a não ser você, Bee. É apenas por sua causa que eu continuo aqui." ele sussurrou ao deixar um beijo gentil no topo da minha cabeça. As palavras dele surtiram um efeito diferente em mim e pela primeira vez desde que iniciamos aquela conversa percebi o quanto estava sendo egoísta.
Edward havia largado tudo que tinha em Nova York para vir atrás de mim. Ele tinha um ótimo emprego e muitas chances de crescer profissionalmente dentro da agência onde trabalhava. Por minha causa ele deixou tudo para trás e veio se aventurar em um país estranho, que não o acolheu com facilidade. Não conseguiu se estabilizar no mercado francês, agora estava desempregado e ainda assim deixara claro que ficaria em Paris. Novamente por minha causa.
Meu coração inflou dentro do peito e eu senti um misto de profundo orgulho e peso na consciência. Eu não poderia mais fazer isso com ele.
Em algum momento na vida sabia que teria que optar entre a carreira e vida pessoal. Bem, era chegada a hora de uma decisão. O caminho pelo qual eu deveria seguir estava mais claro do que nunca.
"Eu aceito." ergui o rosto para encará-lo e recebi um olhar carregado de confusão.
"Aceita o quê?" questionou ele, me fazendo rir do jeito como unia as sobrancelhas quando não entendia algo. Era lindo.
"Aceito voltar para Nova York com você, ora." o rosto de Edward mudou quase que instantaneamente. Seus olhos tornaram a brilhar e ele tentava a todo custo esconder o sorriso enorme que passeava em seus lábios.
"Tá falando sério?"
"Claro que tô! Acho que já está na hora da gente ir pra casa. Alice vai casar daqui há quatro meses e eu ainda nem peguei minha afilhada no colo. Não quero perder mais tanta coisa importante na minha vida." sibilei e mordi os lábios para prender o soluço que queria escapar.
"Eu te amo." Edward murmurou, encostando nossas testas. Foi a deixa para que as lágrimas caíssem com força em meu rosto.
"Eu sei." respondi inspirando alto e o beijando várias vezes na bochecha. Ele riu e calou meus suspiros quando enroscou a boca na minha de forma doce, lenta e bastante carinhosa. Me deixou com os joelhos fracos e o coração acelerado.
Um peso havia sido tirado de minhas costas e pela primeira vez em muito tempo tinha a certeza de que tomara a decisão certa. Eu iria voltar para casa, para os meus amigos e família. E isso não poderia me deixar mais feliz.
[…]
Fortress – Hope*
"Vamos, Ed, me solta."
"Não"
"Por favor..."
"Só mais cinco minutos, Bee."
"Você disse isso há meia hora atrás. E a gente continua na mesma."
Já estava começando a ficar suada de tanto esforço que fazia para tentar me desvencilhar dos braços de Edward. E parecia que quanto mais lutava, mais amarrada em seu abraço eu ficava.
O fato de estar sentada em seu colo não ajudava em nada, ele tinha total domínio da situação e poderia me prender ali por quanto tempo quisesse. Rolei os olhos com esse pensamento. Não me libertaria tão cedo.
"Eu preciso trabalhar, Ed. Estou super atrasada e você só está piorando a situação." disse e, aproveitando um descuido, saltei para longe de seu aperto de urso. Mas antes que pudesse comemorar, senti novamente os braços de Edward me enlaçando com força, dessa vez pelos quadris.
"Bee, é véspera de ano novo. Quem em sã consciência vai pro trabalho hoje? Além disso, é melhor ficar quieta, eu sei que você só quer ir à agência para falar sobre a noite de ontem. Não vale a pena estressar por nada."
"Eu não ia até lá para brigar. Só queria deixar claro que sou inocente nessa história toda."
"Você sabe que não fez nada, eu também sei. Será que isso já não basta? A gente vai embora desse lugar em pouco tempo, você vai mesmo gastar o resto dos seus dias aqui tentando provar algo a esses franceses estúpidos? O que isso vai mudar na sua vida?" mudaria tudo, eu manteria minha dignidade intacta. Entretanto a cada minuto as palavras de Edward me convenciam de que deveria esquecer aquele assunto de uma vez por todas.
"Ok, talvez você tenha razão." falei soltando um suspiro.
"Eu sempre tenho razão, admita."
"Essa não é a questão. Digamos que eu aceite não ir trabalhar hoje. O que vou ganhar em troca?" virei o corpo de modo que seu queixo encostasse bem no centro da minha barriga. O contato despretensioso fazia meu ventre contrair involuntariamente.
"Você pode pedir o que quiser, desde que peça por sexo na sacada." gargalhei alto. Edward conseguia ser inacreditável quando queria.
"Continue sonhando com isso, Ed." ele fez um biquinho magoado e eu dei um leve empurrão na sua testa. "Além do mais eu já sei o que quero."
"E o que seria?" Edward perguntou em uma voz totalmente entediada, me fazendo cair em mais uma crise de risos.
"Vamos dar um passeio pela cidade." balançou a cabeça concordando com a ideia e eu mordi o canto dos lábios antes de continuar. "E Polainas vai com a gente." seu rosto desmoronou ao me ouvir, quase me fazendo sentir pena dele. Eu disse quase.
"Tenho outra alternativa?"
"Não, nenhuma alternativa." foi a vez dele de girar os olhos de impaciência. "Foi você quem quis que eu faltasse ao trabalho hoje."
"Estou começando a me arrepender disso." murmurou desinteressado e eu fingi ficar magoada.
Empurrei seus braços para longe do meu corpo, me virando para ir embora. Novamente ele me puxou em um abraço apertado, do qual eu tentei a todo custo fugir chutando-o sem acertá-lo em nenhum ponto.
Riu do meu esforço em vão e quando eu estava prestes a atingi-lo no tornozelo, ele foi mais rápido, me desarmando da forma mais inesperada possível. Com uma grande mordida em minha bunda.
Se não tivesse sentido seus dentes apertando minha pele, eu não acreditaria que ele havia feito aquilo.
"Cacete, você mordeu a minha bunda!" gritei estapeando suas mãos com força para que ele me soltasse.
"Eu não tive culpa se você ficou esfregando ela na minha cara. Fiquei com vontade de morder." Edward justificou com um sorriso escancarado no rosto. Ele não podia estar falando sério.
"Doeu, sabia? E vai ficar roxo, merda!" sibilei irritada enquanto passava as mãos na região dolorida dos meus quadris. Nem havia doído tanto assim, mas eu queria que ele se sentisse culpado.
Edward empurrou meus dedos e antes que eu percebesse o que ele estava fazendo, baixou a calça do meu pijama – e a calcinha – até o meio das coxas. Fitei-o estarrecida, mas ele não retribuiu meu olhar, pois aparentemente estava concentrado demais em analisar minha pele.
"Ficou vermelho, mas já já isso some." murmurou, baixando o rosto para aplicar pequenos beijos na área que mordera. "Quando você se casar comigo sara. Ou não." ergueu o queixo para exibir o riso mais cínico, safado e totalmente sexy que eu já havia visto na vida. Por que ele gostava de fazer essas coisas comigo?
Respirei fundo para tentar reorganizar meus sentimentos e dei um peteleco no vão entre as sobrancelhas de Edward para mostrar o quão aborrecida estava. Ele se afastou praguejando alto e eu aproveitei para vestir minha calça, me distanciando o máximo possível dele.
"Quando casar sara uma ova. Agora estamos quites." sibilei já no meio do corredor. Edward me olhou com raiva e eu mostrei a língua como se fosse uma criança de quatro anos.
Ao vê-lo fazer menção de se levantar do sofá, me adiantei e saí correndo em direção ao quarto, rindo e provocando-o, pois sabia que isso o deixava demasiadamente irritado. Pulei na cama e fiquei rebolando na sua frente enquanto gritava que ele não era de nada e nunca me pegaria.
Já estava cantando vitória quando senti meu corpo tombando para trás sobre os travesseiros; ele me encurralou usando seus braços e pernas e eu não tive outra alternativa a não ser aceitar minha derrota.
E admitir que havia perdido seria dizer, clara e objetivamente, que Edward Cullen era o melhor em tudo que fazia e que sexo com ele era a experiência mais deliciosa que eu já tive em toda a vida.
Humilhação demais, ainda que não fosse nenhuma mentira.
"Anda, Bee, fala logo de uma vez!" ele pressionou sacudindo meus ombros de leve enquanto eu abanava a cabeça negativamente de forma convicta.
"Se você não falar, vou te deixar presa aqui o dia inteiro."
"Eu não me importo."
"Não compro mais aquele docinho gostoso na padaria ali da esquina."
"Ia começar a fazer dieta na semana que vem mesmo." dei de ombros começando a sentir a determinação esvair do meu corpo.
Edward me lançou um olhar ameaçador que me fez engolir em seco lentamente. Aproximou o rosto do meu, colando a boca em meu ouvido. Sua respiração forte me deixou arrepiada da cabeça aos pés.
"Vou dormir no sofá por um mês." touchè. Ele sabia como acabar comigo, já que tinha pleno conhecimento de que eu não conseguiria pregar os olhos sem tê-lo ao meu lado na cama a noite.
"Edward Cullen, você é o ser mais irritante e mimado do mundo. Mas é o melhor. Em tudo. E fazer sexo com você é a coisa mais deliciosa que já experimentei na vida. Satisfeito?" suspirei irritada, fechando os olhos para não ver a expressão vencedora que deveria estar pintada no rosto dele.
"Boa garota." sibilou me dando um beijo na bochecha. "Só tem uma coisa, Bee: dormir no sofá me dá dor nas costas, então você não estava correndo risco algum. Mas foi ótimo saber que sou bom em te chantagear."
"Filho da pu-" o palavrão morreu em minha garganta, pois os lábios dele tomaram os meus de um jeito que me deixou sem ação. Ele havia ganhado mais uma.
E dessa vez eu fiz questão de admitir minha derrota.
[…]
Love – Matt White**
A chuva insistente que começou a cair no meio da manhã frustrou meus planos de levar Polainas em um passeio ao ar livre; Edward não cabia em si de tanta alegria ao saber que eu deixaria meu gatinho em casa.
Às vezes me perguntava o motivo dele implicar tanto com uma criatura que passava seus dias distraída com bolas de lã. Era óbvio que Edward sentia ciúmes de Polainas, mas eu achava a situação tão absurda que tentava arrumar outra desculpa para explicar a antipatia dele pelo bichano.
Já passava das onze da manhã quando a chuva finalmente deu uma trégua e deixou que saíssemos de casa. Apesar da tempestade que caíra mais cedo, o clima não estava tão gelado e isso permitiu um passeio até a estação de metrô, que ficava a duas quadras do prédio onde morávamos.
Edward tinha sugerido que fôssemos até a praça Raoul Dautry patinar na pista de gelo de Montparnasse, a segunda maior de Paris. De lá almoçaríamos em um Marchê de Noël¹ que estava montado bem próximo a estação. Era um programa típico do fim de ano da cidade, que eu aceitei prontamente.
O metrô estava lotado, como eu já previra, mas isso não pareceu me desanimar. A atmosfera natalina ainda reinava em cada cantinho da capital e ali não era diferente. Pessoas badalando sinos em troca de moedas, músicos tocando canções conhecidas da época em seus grandes acordões eram um convite cheio para a contemplação.
Muitas pessoas na estação formavam grandes círculos em torno dos artistas de rua para apreciarem seu trabalho e eu não fui diferente; um mimico de sorriso triste me encantou com seu talento e eu fiquei parada com os olhos vidrados em cada movimento que o homem fazia. Quando ele se aproximou de mim tomei um susto e – sem perceber – me escondi protetoramente nos braços de Edward, que sorriu assim que viu o artista puxar uma rosa do bolso de trás de sua calça, enrolá-la em uma fita imaginária e oferecê-la a mim. Minhas bochechas queimaram quando todos ao nosso redor aplaudiram e o homem de semblante caído enfim abriu uma grande risada, antes de agradecer ao público.
Eu sentiria uma falta imensa desse ar encantado que Paris sabia conservar através dos séculos. Muitas vezes seu clima romântico me deixava com aquela sensação de estar em pleno cenário de um filme antigo, onde tudo era mais deslumbrante, quase irreal tamanha perfeição.
Meu estômago roncava alto quando desembarcamos em Montparnasse e Edward sugeriu que primeiro procurássemos algo para comer; depois alugaríamos os patins para passear na pista de gelo da praça ali perto.
"Caramba, você tá mesmo com muita fome." ele comentou passando a mão um pouco acima do meu estômago e sentindo a agitação dentro.
"Estou faminta e com um humor péssimo. Ao invés de ficar me irritando, por que não procura um lugar pra gente comer, hein?" rosnei encarando a forma como ele esfregava sua palma em minha barriga. Parecia se divertir ao sentir a intensidade de meu apetite, que era gigante por sinal.
O Marchê de Noël de Montparnasse era enorme, colorido e muito barulhento. Em dias como aquele, véspera de uma grande comemoração, ficava lotado principalmente por famílias e turistas, que buscavam apreciar um pouquinho mais do que a cultura parisiense tinha a oferecer.
Paramos em uma creperia e eu imediatamente me empoleirei em uma mesa, enquanto esperava que Edward fosse buscar nossa comida. Ele voltou quinze minutos depois, trazendo uma porção de crepe com Nutella e castanhas portuguesas assadas na brasa, que eram vendidas em uma barraca ao lado. Comemos aquelas delícias que me fariam ganhar alguns quilos mais tarde acompanhadas de um bom cappuccino cremoso, a minha bebida de inverno favorita desde sempre.
"O monstro que mora no seu estômago está mais calmo agora?" Edward perguntou bem humorado e eu o respondi com uma careta infantil, que o fez rir alto.
"Será que você não vai mudar nunca?"
"Do que você está falando?" retruquei desconfiada.
"De você ficar mal humorada quando está com fome. É assim desde que a gente era criança." lancei um olhar indignado em sua direção, fingindo não saber do que ele estava falando.
"Não fico mal humorada coisa nenhuma. Você é que fica fazendo gracinhas que irritam. Droga, quando estou com fome, quero comer. Será que é difícil de entender isso?"
"Tem certeza de que o monstrengo aí dentro tá bem alimentado, Bee?" Edward brincou cutucando-me no meio da barriga. Revirei os olhos entediada e quando ele gargalhou mostrei-lhe meu dedo do meio. Tão idiota, argh!
"Sério, Edward, por que você é tão chato?"
"Não sou chato com todo mundo. Só com você." me lançou uma piscadela convencida e um sorriso traquina.
"Ah, muito obrigada pela consideração." bufei sonoramente.
"Sabe do que eu mais gostava quando conseguia te deixar com raiva? Das suas bochechas vermelhas. Você ficava parecendo um tomate e era a coisa mais engraçada de ver. E a mais bonita também." meu rosto congelou a cara aborrecida que estava prestes a fazer e eu o fitei envergonhada, rapidamente baixando os olhos para minhas mãos por temer que ele visse o quanto meu rosto estava corado naquele momento.
"Você definitivamente não vai mudar nunca. E eu prefiro que seja assim." Edward sibilou antes de puxar levemente meu queixo para cima, de modo que nossos olhares voltassem a se cruzar.
Ele sorriu de canto do mesmo jeito de sempre, aquele que deixava meus joelhos fracos, e passou as pontas dos dedos nas maçãs do meu rosto, espalhando um agradável calor que correu em direção ao pescoço e orelhas. Cerrei os olhos e inspirei o ar pesado enquanto sentia-o brincando com a linha abaixo do meu maxilar, arrepiando minha pele com seu toque. Sem perceber, deitei a cabeça na palma de sua mão e ouvi uma risadinha sendo abafada; permaneci na mesma posição, ainda de olhos fechados, só aproveitando um carinho que era bom demais para ser interrompido.
Foi só quando senti algo riscando a ponta do meu nariz que voltei a encarar Edward; ele estava bebericando o cappuccino e fingia guardar uma gargalhada, que escapava pelos cantos de sua boca. Fitei-o desconfiada, antes de tocar em meu rosto e notar que estava melecada de chocolate em algumas partes.
"Você me sujou de doce, Ed? Sério?" questionei irônica pegando um guardanapo para me limpar. "Só preciso te lembrar que não temos mais cinco anos."
"Vou tentar não esquecer disso da próxima vez, Bee." respondeu no mesmo tom que o meu. "Você esqueceu uma sujeirinha aqui no canto."
"Onde?" passei novamente o pedaço de papel no nariz e no queixo, locais que estavam cobertos pelo doce grudento.
"Bem aqui." disse aproximando o rosto do meu e fitando minha boca, que imediatamente despencou prevendo seu próximo movimento.
A cena era muito clichê, mas eu já estava pronta para cumprir meu papel. Eu só esqueci de um detalhe: Edward era um ser imprevisível que adorava me deixar frustada. Ao invés de me dar um beijo passou os dedos em meus lábios e limpou os últimos resquícios de chocolate que havia, me fazendo soltar um suspiro aborrecido.
"Argh, você adora estragar tudo."
"Estragar o quê?"
"Você deveria ter me beijado, seria muito mais romântico."
"Você queria que eu tivesse te beijado?"
"Sim! Mas você é tonto demais para entender certas coisas, não é?" cruzei os braços no peito, sentindo meu rosto pegar fogo pela irritação crescente em meu peito.
"Na verdade, Bee, eu estava esperando por uma coisinha antes de te beijar."
"O quê?"
"Isso aqui." ele deslizou a mão novamente em meu rosto, que fervilhou sob seu toque. "Bochechas vermelhas. Bem melhor assim." e dizendo isso selou nossos lábios em um beijo que levou embora qualquer aborrecimento que fingi estar sentindo.
Edward riu em minha boca e não cessou o carinho que fazia na pele de meu rosto, enquanto eu provava do calor de sua língua brincando com a minha. Minhas mãos foram parar atrás de sua nuca, apertando seus cabelos conforme seus lábios pressionavam os meus. Meu coração parecia a ponto de saltar pela boca e eu sentia a estranha vontade de sorrir em meio ao beijo intenso.
O desejo incontrolável de gargalhar foi mais forte e logo Edward e eu estávamos dando longas risadas nos lábios um do outro. As pessoas provavelmente deveriam achar que éramos um casal de loucos, mas eu não me importei.
A felicidade que borbulhava em meu peito era grande demais para ser deixada de lado.
[…]
Como combinado, após o almoço fomos à pista de patinação da praça Raoul Dautry, próximo a sede da prefeitura da cidade. Eu não era muito fã dessa prática por motivos mais do que óbvios. A combinação gelo e Isabella Swan tinha tudo para ser a receita do desastre. E não deu outra.
Nos primeiros vinte minutos tudo corria bem; Edward me segurava com firmeza pela cintura ao me incentivar a mover os pés um pouquinho que fosse pela pista. Eu era digna de risadas, pois parecia um bloco de concreto andando ao seu lado. As criancinhas que circulavam por ali pareciam muito mais confortáveis do que eu.
É claro que já havia patinado algumas vezes, afinal eu era uma nova iorquina que passava horas aproveitando as pistas do Rockefeller Center na infância; o grande problema é que não gostava muito de patinar. E não levava o menor jeito para o esporte.
Edward – ao contrário de mim – era um exímio patinador. Às vezes eu sentia uma inveja enorme de suas habilidades em certas práticas esportivas. Ele fazia tudo parecer tão fácil, enquanto eu mal conseguia me manter em pé sobre as lâminas afiadas.
Quando resolvi bancar a garota corajosa e patinar sem a ajuda dele, levei o maior tombo da história. Cair sentada de bunda no gelo em frente a quase 100 pessoas não seria nada comparado a rasgar a calça jeans na queda e cortar a panturrilha com os próprios patins. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, mas assim que vi o filete de sangue manchando o tecido da calça tive certeza de que era a criatura mais desastrada do mundo.
Como se já não soubesse disso há tempos.
"Vai ficar tudo bem, Bee. A ambulância já está ali fora esperando pra levar você ao hospital." Edward murmurou nervoso enquanto um grupo de paramédicos tentava controlar a multidão que começava a nos cercar. Foi só uma queda, pelo amor de Deus.
"Não seja tão dramático, Edward, foi só um cortezinho de nada." sibilei aborrecida com minha capacidade de estragar tudo. Por que eu não nasci com um mínimo de coordenação motora, hein?
"Você sabe que não foi só isso, Bee. A lâmina é afiada, provavelmente você vai levar alguns pontos na perna."
"O QUÊ?" gritei assustada tentando puxar a calça jeans para cima para ver o estado de minha perna. Mas assim que dobrei o corpo senti uma profunda dor na coxa, reflexo da colisão do meu corpo com o gelo. "Cacete, tá doendo pra porra!"
Dois homens se aproximaram e rapidamente me colocaram em uma maca, tomando os cuidados necessários para que eu não tentasse me mover demais. Como se não bastasse a dor que latejava em minha perna ainda tinha que aguentar a humilhação de ser levada de ambulância ao hospital por culpa de minha total descoordenação.
"Caralho, dói muito. Porra, porra, PORRA!" gritei no caminho da emergência quando um dos paramédicos limpou a área machucada. O outro me olhou como se eu fosse uma maluca.
"Desculpem, ela fica meio agressiva quando sente dor. E, er, fome também." Edward explicou sorrindo amarelo; joguei os braços sobre o rosto por temer urrar de raiva e dor. Que ótimo 31 de dezembro o seu, Isabella Swan!
Demorei quase meia hora para ser atendida, pois a sala da emergência médica estava abarrotada. O sangramento em minha perna estava controlado, mas a pulsação dolorida não parava de me massacrar. Comecei a sentir uma fraqueza comum em situações de dor extrema e tudo que mais queria era o conforto de minha cama.
Como Edward previra acabei tendo que levar alguns pontos no local machucado. A enfermaria inteira foi testemunha da sinfonia de palavrões que eu despejei enquanto o médico costurava minha pele.
Edward tentava, sem sucesso, me acalmar, mas tudo que ele fazia ou falava era em vão. Só conseguiu me calar quando tapou minha boca com a mão enorme, passando um sermão em uma voz muito séria que me deixou quieta feito um cachorrinho amestrado.
Voltamos para casa de táxi no início da noite e eu fiz manha quando ele me pegou no colo para me levar até nosso apartamento. Eu estava adorando ser paparicada daquele jeito, apesar de ainda sentir a perna pesada e dolorida.
"O médico me mandou te dar isso. Vai te relaxar e aliviar um pouco o desconforto dos pontos." ele sibilou ao me entregar uma pílula de analgésico e um copo com água.
"Obrigada, Ed." murmurei bebendo o líquido em grandes goladas.
"Vou te levar pra cama. Quer tomar um banho quente antes de se deitar?" meus olhos ficaram marejados ao ouvi-lo perguntar aquilo e eu comecei a chorar antes mesmo de me dar conta do por quê disso.
"Hey, o que foi, Bee?" questionou preocupado, empurrando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. A forma carinhosa como ele me fitava piorava toda a situação.
"Você queria tanto ir ao Champs de Mars ver os fogos da Torre Eiffel e por culpa minha não vai mais." sibilei em meio a soluços que pulavam de minha boca sem controle.
"Não faz mal, Bee, o importante agora é que você fique bem." Edward tentou me tranquilizar, mas conseguiu exatamente o contrário. O choro aumentou e logo eu me vi fungando alto.
"O que foi agora?" inquiriu com o cenho franzido em confusão.
"Você..."
"O que foi que eu fiz?" sua voz estava urgente de temor.
"Você... tão fofo cuidando de mim. Aw, Ed, e-eu, eu... não me olha desse jeito, porra!" enfiei o rosto na curva de seu pescoço, soltando um suspiro forte; dei dois tapinhas de leve em seu rosto fazendo-o rir.
"Ok, acho que já entendi tudo. Você está começando a ficar dopada pelo remédio, então é hora de ir pra cama."
"Não quero ir pra cama, quero ver os fogos de ano novo!" resmunguei molenga; minhas pálpebras pesavam e eu precisei fazer um esforço enorme para manter meus olhos abertos. Não tive muito sucesso.
"Deixa pro ano que vem, Bee. Você precisa descansar agora." Edward encerrou o assunto me pegando novamente no colo pra seguir rumo ao nosso quarto.
A cada segundo que passava meu corpo parecia mais fraco, como se eu não tivesse energia suficiente para exercer a simples tarefa de erguer os braços. Algumas cenas soltas dançavam ao redor de minha visão e eu tentava me focar em uma delas, mas parecia que meu cérebro estava cansado demais para fazer isso.
Vi Edward me despindo e colocando meu pijama de flanela favorito, senti quando ele arrumou os travesseiros para que eu ficasse melhor acomodada na cama e por fim notei seus braços me envolvendo no familiar aperto que me relaxava e me fazia dormir instantaneamente. Lembro que em algum momento comentei que queria ficar doente mais vezes só pra ganhar mais carinho dele, mas não tive tempo de ouvir sua resposta. Caí em um sono profundo antes da meia noite.
Os fogos de artifício rasgando o céu parisiense acabaram me despertando algum tempo depois, entretanto eu ainda estava muito anestesiada para prestar atenção. Edward sorriu assim que me viu meio acordada e deixou um beijo no topo da minha cabeça. Eu quis sorrir em retribuição, mas parecia que os músculos da face estavam cansados demais para se moverem.
"Feliz ano novo, Bee. Eu te amo." Edward sibilou mansinho e eu lhe respondi com um riso bobo no rosto que permaneceu em meus lábios pelo resto da noite.
[…]
Dois dias após o ano novo decidi que já era a hora de resolver minha situação na agência. Tudo que mais queria era por um ponto final naquela história toda e voltar para Nova York o mais depressa possível.
Aproveitei que Edward estava amarrado em um pesado sono para ir até a empresa conversar com Bernard. Pretendia sair da Publicis livre para começar tudo de novo. Em casa.
Não seria fácil, mas eu estava decidida a seguir em frente.
Saí do apartamento na surdina logo no começo da manhã, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Edward dormia como uma pedra, mas farejava o cheiro de problemas a quilômetros de distância. Se ele soubesse onde eu estava indo, me trancaria no quarto e me deixaria lá pelo resto do dia.
Minha perna não estava totalmente boa para que eu ficasse me locomovendo para lugares distantes, mas resolvi arriscar. Peguei um táxi na porta do prédio com um discurso pronto em minha cabeça. Não demoraria nem cinco minutos na agência se tudo saísse conforme planejei na noite anterior.
Faltava pouco mais de vinte minutos para as nove da manhã e os corredores da empresa fervilhavam o típico frenesi diário. Ignorei os olhares incrédulos que me acompanharam e entrei na sala de Bernard sem me importar em ser anunciada.
"Isabella. Esqueceu os bons modos em casa?" ele questionou irônico, me deixando por um momento envergonhada.
Respirei fundo para não me deixar dominar pelo nervosismo e comecei:
"Não vou tomar muito do seu tempo, Bernard. Só vim aqui para pedir minha demissão."
Meu chefe ficou alguns segundos calado, como se tentasse processar o que eu acabara de dizer. Limitou-se a menear a cabeça positivamente, o que me fez suspirar de pesar.
"Já estava esperando por isso, Belle. Eu realmente não queria que a situação chegasse a esse extremo, mas considerando seu comportamento lamentável na noite da festa de confraternização-"
"Como é que é?" interrompi-o com incredulidade estampada na voz. "Você não ouviu o que eu tinha a dizer naquela noite, foi totalmente injusto e eu tive um comportamento lamentável? Isso só pode ser uma brincadeira sua, Bernard."
"Isabella, consegue perceber o quão ridícula você soa quando fala sobre essa situação? Seus motivos para atacar uma colega de trabalho são injustificáveis, como quer que eu ouça o que tem a me dizer?"
"Todo mundo nessa agência me odeia, Bernard! E a culpa é toda de Clarice, ela armou tudo. Foi ela que fez com que nenhum dos funcionários comparecesse à festa." meu chefe me fitou estarrecido e eu engoli em seco, arfando por causa da ânsia que sentia em me defender.
"Do que você está falando? Pelo que eu sabia a única funcionária que não foi à festa foi justamente a idealizadora. Você, Belle." meu queixo despencou com a revelação e eu comecei a tremer de raiva.
Clarice, sua vagabunda maldita, você me paga.
"Wow, agora entendo os motivos de você não acreditar no que digo. Tudo foi tão bem armado que até eu em seu lugar duvidaria de mim mesma." murmurei derrotada, sem forças para rebater provas reais que deixavam claro que eu era a culpada ali. Mesmo não sendo.
"Como eu disse, é lamentável que essa situação tenha chegado a esse ponto. Você é uma profissional brilhante e tinha tudo para crescer nessa empresa." Bernard sibilou sincero, mas eu estava magoada demais para tomar suas palavras como um elogio.
"Tenho certeza de que Clarice fará um ótimo trabalho em meu lugar. Ela mostrou que sabe muito bem como agir para conquistar o que quer." decretei já na porta da sala, prestes a sair. "Só toma cuidado com ela, Bernard. Pessoas como Clarice tendem sempre a querer mais e mais. Um dia ela pode achar que chegou a hora de ocupar essa sala aqui." não quis ouvir uma resposta de meu – agora – ex chefe e marchei firme em direção à saída da agência.
No meio do caminho notei algo que me fez meu sangue congelar e ferver em minhas veias ao mesmo tempo. Clarice caminhava tranquilamente no sentido de minha antiga sala. Sem pensar no que estava fazendo, dei meia volta e a segui. Encurralei-a antes mesmo que ela abrisse a porta para entrar.
"O que pensa que está fazendo, sua louca?" ela esperneou me olhando assustada.
"Só vim te dar os parabéns pela sua promoção. Você finalmente conseguiu o queria, passou de uma mera assistente puxa saco ao cargo de coordenadora de mídias. Um salto e tanto, hein?" ignorei a dor lancinante apertando minha perna esquerda e tratei de empurrar Clarice para dentro da sala, batendo a porta atrás de mim com força.
"Se você tocar em mim, eu juro que grito!" Clarice ameaçou, retesando o corpo de um jeito que mostrava que ela estava apavorada. Além de vadia e loira, ainda era covarde. Argh!
"Não se preocupe, Clarice, não vou fazer nada contra você." contornei a mesa cheia de documentos importantes, passando os dedos lentamente sobre cada pasta empilhada. "Que tal se eu te ensinar como nós, americanos, gostamos de comemorar algo? Acho que vai ser divertido, não acha?"
Os grandes olhos da loira quase saltaram para fora das órbitas quando ela se deu conta do que eu estava prestes a fazer. Tentou gritar, mas sua voz de gralha ficou suspensa no ar, provavelmente devido ao susto que levou quando eu passei a rasgar os contratos de várias contas que suara para conseguir fechar. Se ela pensava que ia ficar com tudo que lutei para conquistar estava muito enganada.
"Esses contratos eram únicos, sua vagabunda! Olha só o você fez. E agora?"
"Agora? Vire-se e dê um jeito de conseguir tudo de novo por você mesma. Ou pensou realmente que eu ia te deixar tudo mastigado e pronto pra que não tivesse trabalho algum? Ainda não sou tão boa desse jeito, Clarice."
"Sai da minha sala agora, sua, sua..."
"Anda, pode me chamar de vadia se quiser. Porque eu estou adorando bancar uma e estragar com a sua alegria."
"Putain!" Clarice rosnou trêmula de raiva. Aproveitei sua irritação e propositalmente larguei uma caneta no chão junto aos seus pés. Ela escorregou no objeto e acabou caindo de cara no chão.
"Ops, foi mal." saí da sala rindo, deixando a loira insuportável jogada sobre os documentos rasgados que fariam Bernard arrancar os cabelos de raiva quando soubesse o que havia acontecido. Bem feito.
Minha atitude havia sido claramente infantil e irracional, mas em nenhum momento me arrependi do que fiz. Clarice merecia sofrer um pouco para aprender, principalmente depois de ter armado contra mim para me tirar do cargo de coordenadora das campanhas publicitárias. Eu não era uma pessoa vingativa, mas também não tinha sangue de barata para ficar apática depois de tudo que fizeram contra mim naquela agência.
Já estava na porta do prédio quando me virei para encarar o hall de entrada imponente da sede oficial da Publicis. Abri um sorriso aliviado ao perceber que estava livre daquele lugar e poderia enfim ir para casa e esquecer aquele episódio horrível de minha vida.
"Au revoir, franceses idiotas. Até nunca mais." sibilei e segui em frente sem a mínima vontade de olhar para trás.
[…]
¹ Marchê de Noël em tradução livre "Mercado de Natal". São pequenas feiras natalinas montadas em pontos estratégicos de Paris, geralmente próximo às estações de metrô e aos monumentos históricos da cidade. Lá é fácil encontrar boa comida, lembrancinhas temáticas e atrações culturais que animam quem frequenta o lugar.
Montparnasse é uma estação de metrô de Paris. Fica localizada próximo a sede da prefeitura da cidade.

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