16 setembro 2011

LUCKY BELLA - CAPÍTULO 5

Boa noite pervinhas!!!! Manhã de natal inicia com preguiça de Bella, e termina com uma possível reviravolta! Ótima leitura!
Autora: Cella
Classificação: Maiores de 18 anos 
Categoria: Saga Crepúsculo
Personagens: Bella Swan, Edward Cullen, Ement Cullen, Rosalie....
Gêneros: Romance
Avisos: Sexo


Capítulo 5 – Troubles
BPOV
Crack the shutters – Snow Patrol


A manhã do dia 25 chegou preguiçosa, oferecendo um convite irresistível para que eu passasse mais tempo na cama. Como estava de folga do trabalho, não vi problema algum em dormir um pouquinho mais que o normal.
Enrosquei-me na manta grossa e apertei o travesseiro macio contra o peito, sorrindo em meio ao sono gostoso; estava tão relaxada que nem ao menos consegui me incomodar com a mão pesada de Edward jogada de qualquer jeito na curva da minha cintura. Apenas quando ele virou de lado e praticamente me matou asfixiada, eu me manifestei, empurrando-o pra longe com força. Ele quicou de volta ao seu lado da cama e eu – como a boa desastrada que era – capotei pra trás e bati a cabeça no chão aveludado pelo tapete.
Merda, isso dói!
Me levantei um pouco zonza de sono, recolhendo o edredom e o travesseiro que tinham me acompanhado na queda. Bufei exasperada ao ver que Edward agora ocupava o colchão inteiro com seu jeito único de dormir – ele precisava mesmo abrir tanto os braços desse jeito? Definitivamente necessitávamos de uma cama maior.
Meus olhos ainda estavam pesados e eu resolvi ir pra sala, pelo menos lá tinha um sofá fofinho só pra mim. Mal deitei no móvel e já estava roncando alto. Não lembrava o motivo de estar tão cansada, mas acho que tinha algo a ver com a farra que Edward e eu fizemos em plena mesa da ceia de Natal. Bom, é melhor deixar isso pra lá.
Despertei novamente quando senti o toque áspero de dedos longos na pele sensível dos meus pés. Revirei os olhos sob as pálpebras e me contorci no sofá estreito soltando um suspiro profundo; ouvi uma risadinha tranquila e me livrei do sono, só pra fitar o rosto masculino que me encarava com extremo carinho.
Como alguém poderia ser tão lindo mesmo com a cara amassada de tanto dormir? E como conseguia me fazer perder o ar com uma incrível facilidade?
"Já estava começando a achar que você tinha entrado em coma." Edward sibilou sorrindo e dobrou o corpo para encostar os lábios no meio da minha testa. "Boa tarde, dorminhoca." desceu o rosto e beijou a ponta do meu nariz.
"Tarde? Dormi tanto tempo assim?" empurrei meu corpo e encostei as costas no braço do sofá, mirando a janela que mostrava um dia claro de sol frio. "Que horas são?"
"Quase duas."
"Céus, não lembro a última vez que dormi desse jeito! Estou me sentindo meio desorientada." ele riu e afagou minhas bochechas de maneira delicada; virei o rosto e esfreguei-o na palma de sua mão, como um gatinho carente em busca de atenção.
"Vou te trazer um pouco de café, um segundo." cocei os olhos assim que soltei um bocejo e estiquei o corpo na tentativa de espantar o torpor da preguiça que me envolvia.
Edward seguiu para a cozinha e eu permaneci na sala, ainda mole por ter dormido exageradamente. Polainas surgiu miando de forma sofrida e eu o puxei para o meu colo, fazendo carinho em suas costas macias; ele parecia estar adorando, pois não parava de sacudir o rabo enorme e muito peludo de um lado para o outro.
"Oh Bee, tira esse gato de cima do sofá antes que eu comece a espirrar." Edward resmungou ao voltar à sala.
Decidi não contrariá-lo e deixei que Polainas voltasse ao chão; ele se espreguiçou como o bom felino que era e saiu espanando o rabo em direção ao corredor onde dormia. Edward soltou uma longa série de espirros, quase derrubando o café fumegante sobre si mesmo.
"É sério, se eu continuar nesse ritmo vou ser obrigado a voltar a usar bombinha pra asma." ele reclamou ao sentar do meu lado, me entregando a xícara com o líquido muito quente.
Deixei que ele recuperasse o fôlego e então encostei a cabeça em seu ombro, suspirando alto de prazer. Me sentia tão relaxada que não tinha vontade de fazer absolutamente nada. Estava até cogitando voltar pra cama e dormir um pouquinho mais.
"Caramba, estou exausta." sussurrei enquanto dava um gole lento no café.
"A culpa é toda do vinho." pude sentir seus lábios entortando em um sorriso e respirei fundo ao relembrar o jeito como ele lambeu cada gotinha da bebida que banhava meu corpo.
À luz do dia a cena chegava a ser constrangedora, embora eu não estivesse nem um pouco arrependida do que fizera.
"Definitivamente." murmurei baixando os olhos para as pontas dos meus pés.
Edward me aconchegou junto ao seu peito e ficamos em silêncio enquanto eu bebericava meu café e pensava em coisas aleatórias. Sua mão acariciava meu braço delicadamente e de vez em quando sentia o tremor de um arrepio atingir o local onde ele tocava. Riamos nessas horas e eu ganhava um beijo gentil na cabeça.
"Adoro isso."
"Eu também." ele puxou a xícara de minhas mãos e depositou-a na mesinha ao lado do sofá. Sem esperar por um convite, eu escalei seu corpo e juntei nossas testas.
Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos e uma dupla de risinhos bobos dançou em nossas bocas, antes de se transformar em um beijo calmo. Ele suspirou forte enquanto apertava meu corpo no seu e eu pude sentir as batidas de seu coração agitadas na palma da minha mão. Como eu amava momentos como aquele em que esquecíamos do mundo e mergulhávamos em uma terra que pertencia somente a nós dois.
Nem em meus melhores sonhos eu um dia imaginei viver tantas novas e maravilhosas experiências ao lado do homem que por anos foi meu melhor amigo e – que em um breve piscar de olhos – tornou-se aquele que me deixava sem palavras e ações.
Edward se transformou na pessoa que mais me conhecia – na maneira mais íntima que poderia existir. Ele agora, além de permanecer no posto de amigo em que eu mais confiava, tornou-se o homem que reconhecia meus anseios, entendia o que me agradava e não media esforços para me satisfazer em todos os sentidos.
Com ele eu não sentia vergonha de realizar minhas fantasias, de ousar, inovar e reinventar aquilo que ambos já gostavam. Edward era a pessoa certa que eu tanto procurei durante anos. E podia dizer com todas as letras que nunca me senti tão completa na vida.
[…]
Passamos o dia inteiro grudados como duas preguiças. Quando cansamos da sala, Edward me colocou em suas costas e rumou para a cozinha; comemos o restante da torta de avelã que havia sobrado da véspera e eu preparei mais um pouco de café. Já passava das cinco da tarde quando finalmente decidi espantar – ainda que parcialmente – a letargia do meu corpo.
Deixei Edward ocupado em catar os farelos de torta que restavam no prato e segui em direção ao quarto. Tirei a blusa e a calça de moletom, enquanto entrava no banheiro assobiando uma melodia qualquer que nem eu sabia qual era. Enchi a banheira que quase nunca usava e joguei alguns tabletes de sais de banho. Quando a cuba branca e funda estava cheia de espuma, afundei meu corpo na água quente, soltando um suspiro contente ao sentir meus músculos relaxando instantaneamente.
Fechei os olhos e deixei a cabeça encostar na borda da banheira, ao mesmo tempo em que balançava as mãos sobre a espuma macia que me cobria. O cheiro de lavanda e flores de laranjeira tomou conta do cômodo e o sono novamente voltou a me dominar.
Devo ter cochilado por alguns minutos, pois não vi quando Edward entrou no banheiro, muito menos quando seu corpo deitou sobre o meu. Permaneci de olhos cerrados e isso pareceu incomodá-lo, pois passou a beijar meu pescoço de forma exigente.
"Isso faz cócegas." sibilei rindo e arranhando suas costas ainda quentes com as pontas das unhas.
"E você adora." ele completou passando a língua em meu queixo e afundou de vez seu corpo na banheira pequena.
Ouvi o barulho da água alagando o piso de mármore antigo, mas não me importei.
"Uhum..." concordei aérea e finalmente colei seus lábios aos meus.
Como um jato, Edward inverteu nossas posições no espaço estreito da banheira e eu pude sentir sua ereção começando a despertar. Meu estômago revirou de expectativa.
Ele encaixou as mãos molhadas em minha nuca e curva da cintura, imprensando meu corpo em um abraço apertado, mas muito confortável. Sua boca ainda estava ocupada com a minha, escondendo nossas línguas que brigavam avidamente. Arranhei seus ombros de leve antes de subir os dedos até seus cabelos e bagunçá-los ainda mais. Ele riu em meus lábios e desceu os dentes para morder meu queixo de novo.
"Se pudesse, ficaria assim pra sempre: com você nua sentada em meu colo." Edward sussurrou sugando a ponta da minha orelha, enquanto eu desenhava pequenos círculos com a ponta dos dedos em suas costas.
"É bom, não é?"
"É maravilhoso." ele enfatizou me dando mais um beijo demorado.
Ficamos um tempo trocando carinhos despreocupados e olhares cúmplices sem a menor pressa de sair do banho.
Ele deitou a cabeça em meu peito quando eu lavei seus cabelos com shampoo, massageando o couro cabeludo delicadamente. Não contive a risada ao arrumar os fios molhados em um penteado punk. Edward me chamou de infantil e eu lhe respondi com o dedo do meio esfregando em sua cara. Ele não deixou por menos e encheu meu rosto com espuma, me fazendo engolir sabão várias vezes.
"Lembra quando tomávamos banho juntos na nossa infância?" perguntou enquanto tentava tirar minhas mãos de suas orelhas. Ele precisava aprender a lavar direito aquela parte do corpo especificamente.
"Como não lembrar? Eu ficava morrendo de vergonha de olhar para a sua, hm, coisa." Edward jogou a cabeça para trás e gargalhou alto, fazendo minhas bochechas esquentarem.
"E pensar que vinte anos depois você não consegue viver sem a minha coisa." apontou e – querendo provocar – esfregou descaradamente seu membro semi ereto em meu ventre. Acho que meu rosto estava prestes a explodir de vergonha.
"Eu tô falando sério! O que sua mãe tinha na cabeça quando colocava você no meio do banho das meninas? Já era constrangimento demais ver Alice enumerando tudo aquilo que tínhamos em comum nos nossos corpos."
"Esme sempre procurou criar um ambiente familiar livre de preconceitos. Desde que me entendo por gente tomava banho com Alice e achava isso a coisa mais normal do mundo. O fato de ela te considerar como uma filha acabou te envolvendo nos costumes da família."
"Ela sempre foi como uma segunda mãe pra mim." afirmei suspirando de maneira saudosa.
"E ela te ama como uma filha." Edward reforçou sorrindo enquanto me beijava ternamente no rosto. "Agora mais ainda, já que você faz o filho dela o homem mais feliz do mundo."
Quando seus olhos encontraram os meus notei o brilho intenso iluminando o verde esmeralda que irradiava calor. Ele ficava lindo quando corava de leve e me fitava daquele jeito meio traquina que era tão característico de sua personalidade.
Minhas mãos foram certeiras em sua nuca e eu voltei a juntar nossas bocas em mais um beijo interminável.
"Te amo." sussurrei no curto intervalo em que seus lábios deixaram os meus.
"Eu também." ele devolveu respirando forte em minha língua. "É serio mesmo essa história de que você não gostava da minha, como é que você disse mesmo? Coisa?" Edward perguntou algum tempo depois; foi a minha vez de gargalhar.
Não estava acreditando que ele havia retomado aquele assunto em específico. Pensei em não responder, mas o olhar atento que ele me destinava deixava claro que estava mesmo falando sério. Oh meu Deus, eu realmente merecia uma coisa dessas.
"Edward, eu tinha cinco anos!" relembrei-o, dando-lhe um beijo estalado na bochecha.
"E agora?" insistiu e eu girei os olhos impaciente.
Ele era o tipo de pessoa que enquanto não ouvisse o que tanto queria, não dava sossego.
"Eu não sei viver sem a sua coisa, meu amor. Satisfeito?"
"Sim." ele sorriu abertamente, já deitando mais uma vez sobre mim. Aproveitei o embalo e enlacei minhas pernas em seu quadril, trazendo-o para mais próximo. "Só mais coisa, Bee. Nunca mais chame meu pau de coisa, tá legal? Não é lá algo muito excitante."
"Certo." pisquei pra ele e só então senti os arrepios de frio congelando minha coluna. Dei dois tapinhas nas costas de Edward e tentei empurrá-lo. "É melhor eu sair dessa banheira antes que pegue um resfriado. A água está gelada!"
"Nah, vem aqui que eu te aqueço." ele sorriu torto e me puxou para o seu colo com rapidez.
A água que vazou da banheira novamente encharcou o piso e eu mais uma vez não me importei.
Não mesmo.
[…]
Eu nunca fui uma pessoa indecisa.
Não até passar a viver longe de Alice por tanto tempo.
Por que era tão difícil arrumar a roupa certa para vestir em uma determinada ocasião? Geralmente eu não me preocupava com isso, claro, pois tinha minha melhor amiga para me ajudar nessas horas. Bastava gritar por socorro e ela estaria ali em meu quarto, revirando o guarda roupas até achar algo que me deixasse linda, poderosa e deslumbrante.
Quando nada do que eu possuía a agradava, Alice não perdia tempo e me arrastava direto para o primeiro shopping que encontrasse. Era como se eu tivesse meu "What not to wear"¹ portátil.
Merda, eu sentia falta disso.
A festa de confraternização da agência aconteceria essa noite e eu sequer havia decidido o que iria usar. Não que não tivesse tentado, porque juro que me esforcei ao passar a manhã inteira enfurnada em várias lojas no Champs Élysées, mas nada parecia funcionar quando não tinha a ajuda divina de Alice e Rosalie. Nunca me interessei muito por esse lance de moda e blá blá blá, consequentemente não sabia a diferença entre nude e creme. Dá pra distinguir uma cor da outra? Porque pra mim elas são a mesma coisa.
Com muito esforço escolhi dois vestidos que achei que teriam algo a ver comigo. Não os experimentei na loja – por não ter saco de ficar horas e horas trancafiada em uma cabine me olhando no espelho à procura de defeitos – e rumei para casa, já que ainda teria que me virar com a maquiagem e o cabelo. Deus, só de pensar em tentar arrumar meus fios indomáveis me sentia cansada.
Alice, droga, por que você não está aqui pra me ajudar?
Choraminguei o caminho inteiro até o apartamento e assim que cheguei, larguei as dezenas de sacolas sobre a cama e corri para o banheiro. Tomei um banho rápido e tratei de eliminar todo e qualquer fio de cabelo que existia do pescoço pra baixo. Era meio paranóica com pêlos e simplesmente não conseguia ver a sombra de um em meu corpo sem pirar.
Não tinha a menor vocação para bancar a esposa do lobisomem.
Estava no meio da tortura capilar – ou escova, como a maioria das pessoas normais chamavam aquilo – quando ouvi o barulho de passos vindo da sala. Edward havia chegado mais cedo em casa e eu não pude deixar de soltar um suspiro de alívio. Ao menos as coisas estavam saindo conforme o planejado.
"Hey, que bom que chegou cedo!" sorri feliz assim que o vi cruzar a porta do nosso quarto.
"Se não o fizesse você com certeza me comeria vivo depois." resmungou e gargalhou assim que eu apontei o dedo do meio na sua direção. "Wow, qual foi o furacão que passou por aqui?"
Voltei os olhos em sua direção e vi que ele se referia à bagunça do quarto. Havia pilhas de roupas espalhadas pelos quatro cantos do cômodo, assim como dezenas de caixas de sapatos caídas no chão; isso sem falar nas gavetas reviradas, portas escancaradas e lingerie pendurada de qualquer jeito. Eu disse que não sabia me virar sozinha nessa coisa de arrumação!
"Minha culpa." murmurei passando as mãos pelos cabelos secos dando uma risadinha sem graça. "É que, bom, eu meio que não sei me arrumar sozinha."
Edward empurrou com o pé uma caixa de sapatos vazia e sentou na beirada do colchão, me fitando com atenção como se estivesse medindo suas palavras. O-oh, lá vamos nós.
"Isabella Swan, juro que estou tentando, mas não vou conseguir resistir por muito tempo." ele sibilou me lançando um sorriso torto canalha; já podia prever o que estava por vir. "Todos os dias você me tortura pra deixar esse apartamento limpo. E agora chego aqui e o encontro como se tivesse passado por um terremoto ou coisa assim. A culpa não é minha, você vai cuidar de deixá-lo em ordem sozinha. Apenas você e a vassoura. Deus, isso vai ser bom pra cacete de assistir."
Revireios olhos teatralmente e bufei. Argh, como era idiota!
"Cresça, Edward!"
"Quero te ver rebolando essa bunda enorme enquanto coloca cada coisinha em seu devido lugar. Que visão do paraíso!" ele estalou os lábios e jogou os braços para trás da cabeça, deitando em cima de um dos vestidos que eu provavelmente iria usar daqui a pouco.
"Olha só o que você tá fazendo, seu cabeça oca! Anda, sai de cima do meu vestido! Sai, Edward!" gritei estapeando-o no ombro; alisei o tecido da roupa e respirei fundo para tentar conter a raiva dentro de mim.
Não podia me zangar, caso contrário as manchas avermelhadas em meu peito dariam um trabalho enorme para serem escondidas depois.
"Que tal se você fosse pro banho e começasse a se preparar, hein? A gente tem pouco menos de duas horas pra sair daqui." oh meu Deus, duas horas! Eu só tinha cento e vinte minutos para ficar linda. Alguém me ajuda? Sério, preciso de um saco de papel para respirar!
"Pra quê tanto nervosismo, Bee? É só uma festa de empresa." Edward resmungou me encarando com tédio.
"Você sabe que não é só isso. Droga, eu organizei a coisa toda, não dá pra simplesmente chegar depois que todo mundo já estiver lá!"
No início de dezembro recebi a notícia de que eu havia sido designada para bolar o tema e desenvolver os preparativos para a festa de fim de ano daPublicis. Era tradição da empresa que a equipe que mais gerara lucros para o grupo tomasse a frente na organização da última reunião do ano.
Mesmo trabalhando na agência há pouco mais de seis meses era indiscutível o sucesso de meus projetos no mercado publicitário francês. A prova disso foi a carta branca que recebi de Bernard para coordenar a campanha – que ainda estava em processo de criação – da Calvin Klein e a festa para quase 500 convidados que ocorreria na ante véspera de ano novo. O dia finalmente chegara e eu estava a ponto de ter um ataque de pânico por temer que algo desse errado.
Ok, admito que estava meio pilhada de nervosismo. Mas droga, eu precisava que cada mínimo detalhe saísse conforme o planejado. Era a minha hora de mostrar àqueles franceses babacas como a América se divertia.
Passei as mãos no rosto na tentativa de me tranquilizar, mas assim que vi Edward estático à minha frente senti o bichinho da raiva recomeçando a me cutucar.
"O que você tá fazendo parado aí me olhando como se eu fosse um E.T?"
Ele não murmurou uma vírgula sequer, apenas me puxou pela mão e me jogou na cama em um único movimento. Meus olhos estavam a ponto de saltar das órbitas por causa do susto que levei, mas assim que senti Edward deitando o corpo sobre o meu, perdi o raciocínio.
Seus dedos enormes apertaram minha nuca, levando meu rosto ao encontro do seu; abri a boca para protestar, mas isso só serviu para facilitar o encaixe de nossos lábios. O beijo não poderia ser definido como menos do que faminto.
Apertei os cabelos desgrenhados com força à medida que sentia a maciez de sua língua quente atiçando a minha; ele não perdeu tempo e prendeu meu lábio inferior entre os dentes de um jeito que me deixava louca, antes de sugá-lo lentamente. Merda, ele beijava bem pra caramba.
Deixei minhas mãos escorregarem de suas costas até seus quadris; finquei as unhas em cada lado e tratei de incentivá-lo a se mover. Edward pareceu entender meu pedido de primeira, pois investiu contra minha barriga com tanta força que eu não pude conter o gemido excitado que me cortou a garganta.
Ele bem que poderia fazer aquilo de novo, só que mais embaixo. Bem mais embaixo...
Espera, que diabos eu estou dizendo? Que porra é essa que deu em mim? Tenho um compromisso importante em uma hora e meia e o que estou fazendo? Me amassando com Edward como se não houvesse amanhã! Alguém precisava me parar, por favor, alguém me impeça de seguir em frente antes que seja tarde demais!
"Edwa... ed.. caralho, isso, não...hmmmm. Droga, não para. Oh... meu... Deus... ungh! Isso, assim.. PUTA QUE PARIU, SAI DE CIMA DE MIM AGORA!"
Tomei um susto com meu próprio grito e encarei a figura atônita caída no chão, me olhando como se eu fosse uma maníaca. Ótimo, como se não bastasse todo o meu nervosismo anterior estava também frustrada sexualmente. Super!
"Que porra foi essa, Bella?" Edward questionou passando as mãos nos cabelos com irritação.
"Quem pergunta isso sou eu! O que você tava pensando quando me atacou desse jeito?"
"Senti vontade." ele deu de ombros enquanto se levantava. "É difícil não querer te comer com os olhos quando você fica desfilando pelo quarto só de calcinha e sutiã. E fica quase impossível quando você briga comigo vestida desse jeito. Sexy demais, não tem como resistir."
"Você é o cara mais idiota que existe na face da Terra." respondi, mas não fiz questão de esconder o risinho abobalhado que exibia nos lábios. "Sério que você me acha gostosa quando fico zangada?"
"Não gostosa. Gostosa pra caralho. Seus peitos crescem de um jeito que o sutiã fica até apertado e aí você coloca a mão na cintura e mexe os quadris enquanto aponta o dedo na minha cara. E morde os lábios até eles ficarem vermelhos demais, da forma como eu gosto. É maravilhoso, dá vontade de te deixar brava comigo pra sempre."
"Você definitivamente perdeu a cabeça."
"Por sua causa. Isso é tudo por sua causa." ele riu e me puxou para junto de seu peito, me dando um beijo rápido na testa. Abracei-o apertado, aproveitando para mordê-lo no queixo. Edward tinha um cheiro tão bom que me deixava com água na boca.
"Pode fazer o favor de ir pro banho e se arrumar rapidinho? Eu não posso me atrasar, é sério." suspirei junto ao seu ouvido e senti quando ele concordou positivamente com a cabeça.
"Tudo bem." falou se afastando.
"Obrigada, Ed."
"Hey, Bee!" ele chamou quando já estava na porta do banheiro e eu me voltei para encará-lo. "Quer ajuda com a roupa que vai vestir? Posso escolher a lingerie pra você."
"Ah, jura? Então qual das duas eu devo usar?" perguntei com ironia ao segurar duas calcinhas – uma preta e outra cor de vinho – bem diante de seus olhos.
Edward lançou um sorriso enviesado sacana e recostou o ombro no batente da porta.
"Nenhuma das duas, prefiro você nua. Sabe como é, facilita as coisas pra mim no fim da noite." me deu uma piscadela e eu bufei de raiva.
"Cafajeste."
"Gostosa." ampliou o sorriso e percorreu meu corpo com olhos famintos. "Pra caralho." deu meia volta e entrou no banheiro assobiando como um moleque levado, me deixando estática. E completamente excitada.
Merda!
[…]
Em menos de meia hora, Edward tomou banho, fez a barba e se vestiu, enquanto eu ainda perambulava pelo quarto de lingerie. Tudo isso porque não conseguia lembrar onde havia deixado os sapatos que escolhi para usar na festa.
Vasculhei o armário, olhei em todas as gavetas da cômoda, abri e fechei mais de vinte caixas e quase me enfiei embaixo da cama à procura de meusLouboutins fujões. E nada de encontrá-los. A esperança de chegar cedo à festa já havia ido embora há tempos.
"Eu juro que estou prestes a desistir, sabia? Parece que uma fenda se abriu no meio desse quarto e engoliu justamente o par de sapatos que eu escolhi usar essa noite!" desabafei dando a centésima volta pelo quarto.
"Não são aqueles ali?" Edward perguntou apontando para um ponto qualquer no chão.
"Onde?"
"Ali, Bee, embaixo da poltrona." imediatamente me joguei sobre o tapete e tateei o local em que ele havia indicado.
"Embaixo da poltrona? Eu não tô vendo nada aqui." engatinhei no piso de madeira do quarto, quase entrando embaixo da cadeira.
"Mas eu tô, se abaixa mais um pouco que você vai ver também." como ele conseguia enxergar alguma coisa se eu não estava vendo absolutamente nada, exceto muita poeira?
"Não tô vendo nada, Edw-" demorou, mas a ficha enfim caiu. Parada onde estava, de quatro no meio do quarto eu enxerguei tudo claro como um cristal.
"Peste!" dei um salto para longe, cobrindo com as mãos a parte de trás de minha calcinha que exibia muito mais do que devia, e encarei Edward que tentava esconder um sorriso safado no rosto. Ah, mas ele iria me pagar caro por aquela brincadeirinha de mau gosto!
"Onde você os escondeu?"
"Não sei do que você está falando, Bee. Eu não fiz nada." para tentar provar sua inocência, Edward ergueu as duas mãos em sinal de rendição, mas não desfez a careta de deboche.
"Onde estão os meus sapatos, Edward? Anda, desembucha de uma vez!" gritei e ele soube que a situação estava ficando séria. O que ele não sabia é que eu estava prestes a partir para a agressão física caso não conseguisse o que queria.
"Em minha defesa, eu aviso: não escondi coisa nenhuma, apenas omiti, o que é muito diferente." sibilou entregando meus sapatos, que estavam cobertos por uma pilha de travesseiros sobre a cama.
"Te odeio."
"Ei, não tenho culpa de você ter bagunçado o quarto inteiro e esquecido onde deixou seus sapatos!"
"A culpa é sua sim! Se sabia onde eles estavam, por que não me disse logo?"
"E perder a chance de te ver engatinhando pelo quarto usando essa calcinha minúscula? Isso nunca!" Edward retrucou como se aquele fosse o melhor argumento do mundo. Não era, mas serviu para me desarmar totalmente.
"Você é inacreditável."
"Só estou falando a verdade, Bee. Te ver desfilando bem diante dos meus olhos usando só essas coisinhas de renda foi maravilhoso. Pra ficar perfeito você só teria que colocar meias e uma cinta liga. Porra, aí ia ser demais. Quase a realização da minha maior fantasia."
"Oh meu Deus, eu sei que vou me arrepender, mas preciso saber. Qual seria essa sua maior fantasia, Edward?" ao ouvir minha pergunta, o sorriso dele cresceu consideravelmente e um brilho insano riscou suas pupilas. E lá vamos nós outra vez.
"Você brigando comigo usando apenas uma lingerie e meias pretas. Enquanto me xinga por tudo que eu faço e que te deixa irritada, você vai tirando peça por peça até ficar totalmente nua bem na minha frente. E aí você me dá um bela lição montando em mim como sempre faz quando está com tesão."
Alguém aí esqueceu de desligar o aquecedor? Porque subitamente o quarto havia ficado muito mais quente que o normal. Na verdade o ar estava pesado e eu tinha uma certa dificuldade em respirar. Droga.
"Já chega, tá legal? Para de ficar tentando me excitar com esse joguinho de sedução barato, Edward. A gente vai chegar atrasado na festa!" Deus, a festa! Juro que se ele forçasse um pouquinho mais conseguiria me fazer desistir daquele compromisso. E eu não estava nem aí caso isso acontecesse.
"Eu já estou pronto." Edward sibilou com a cara mais inocente do mundo. Safado maldito!
"Shh, não quero mais ouvir uma palavra sua. Anda, me ajuda a fechar o zíper do meu vestido antes que eu grude a porra da sua boca com cola instantânea."
Ele apenas soltou uma risadinha rouca e fez o que eu pedi. Assim que fiquei pronta, dei uma rápida checada no visual através do espelho e gostei do que vi.
O vestido que escolhi havia caído como uma luva em meu corpo, realçando meus pontos fortes e escondendo as imperfeições que todo mundo tinha. O modelo tomara que caia evidenciava meu colo não muito farto e afinava a cintura, destacando os quadris para a total felicidade de Edward. A cor clarinha – nude, como a vendedora fizera questão de explicar – causou uma harmoniosa combinação com meu tom de pele. Mas o que mais chamava a atenção em minha produção era a maquiagem. O batom vermelho vibrante em meus lábios era a peça chave da composição.
Toda a insegurança de antes havia sido extinta de dentro de mim. E tudo graças a um batom novo e a cara de bobo de Edward ao me encarar, obviamente aprovando meu visual. Eu tinha que confessar que a reação embasbacada dele era melhor do que qualquer espelho. Me dizia que eu estava mais do que pronta para arrasar na festa.
"E então, como estou?" resolvi bancar a inocente só para pescar um elogio de Edward.
"Posso dizer com toda certeza que você será a mulher mais linda e totalmente indisponível dessa festa." ele sibilou me dando um suave beijo no ombro. O contato de seus lábios em minha pele provocou leves arrepios que se espalharam rapidamente pelo corpo inteiro. "Caralho, Bee, você está linda. E deliciosa." arranhou os dentes em meu pescoço deixando meus joelhos fracos. Era incrível a facilidade que Edward tinha em me desarmar.
"Podemos ir? Por favor..." minha voz saiu arrastada e suplicante; se ele continuasse acariciando meus braços com a ponta dos dedos do jeito que estava fazendo eu desmaiaria de tanto prazer. Edward era mestre em me alegrar usando apenas as mãos.
Eu precisava manter minha mente em foco, de preferência bem longe de certos pensamentos.
Com um grande esforço, me afastei e busquei minha bolsa-carteira e o casaco que estava pendurado na porta de meu guarda-roupas. Dei uma última olhada no espelho para arrumar meus cabelos e ao me virar notei que a gravata de Edward estava meio torta. Homens, pff!
"Vem aqui, Ed, deixa eu dar um jeito na sua gravata antes de irmos."
"Por que você me faz usar essa merda, Bee?" ele choramingou enquanto eu desfazia e refazia o nó no pedaço de seda escura. Se ele soubesse o quanto aquela merda o deixava sexy e causava tremores em algumas partes do meu corpo talvez não reclamasse tanto.
Preferi me manter calada para evitar mais algum possível atraso.
Saímos do quarto e eu resolvi dar uma olhada em Polainas antes de sair. Meu gatinho estava confortavelmente acomodado em sua cama macia e quente, aconchegado a um patinho de pelúcia que eu havia lhe dado de presente de Natal.
"Hey, bebê, o papai e a mamãe vão sair, mas não demoram, ok? Comporte-se, mocinho." me abaixei para coçar suas orelhinhas peludas e ele revirou-se na cama todo dengoso. Meu coração ficou mole com tanta fofura.
"Até mais tarde, meu amorzinho." com muito sacrifício me afastei e tentei seguir em direção à saída do apartamento, mas Edward me esperava na porta da sala com a expressão de descrença estampada no rosto.
"O que foi?"
"Não acredito que você fica chamando esse monte de pêlos de filho. E o pior, ainda me coloca como o pai do pulguento. Fala sério, Bee, isso é ridiculo." rolei os olhos ao ouvi-lo falar e tratei de ignorá-lo para evitar uma briga.
Edward sempre me tirava do sério quando reclamava de algo a ver com Polainas.
Minhas pernas tremiam e eu não parava de amassar a bolsa nas mãos. Tudo estava correndo bem até então, mas havia uma sensação estranha martelando meu cérebro, o que acabava me deixando tensa da cabeça aos pés. Meus dedos formigavam e eu não me aquietava. Estava literalmente quicando quando entramos no elevador.
"Droga, tô com medo." confessei ao sentir as palmas das mãos pingando de suor.
"Sério, Bee? Nem dá pra perceber isso." Edward ironizou e eu girei os olhos pela enésima vez nos últimos dez minutos. Se continuasse assim até o fim da noite estaria completamente vesga.
"Posso saber o que está acontecendo, Bella? Você tem algum motivo forte pra estar agindo desse jeito?" ele continuou, dessa vez mais sério e realmente preocupado; suspirei alto e o encarei.
"E-eu não sei, Ed. Quer dizer, sim, eu sei exatamente porque estou assim, mas não sei se tenho razão pra estar tão agitada. Peraí, quem estou querendo enganar? Claro que eu tenho todos os motivos, afinal noventa e nove porcento daquela agência me odeia, mas-" as divagações não me deixaram completar o raciocínio e eu lancei um olhar desesperado para Edward.
"Relaxa, ok? Nada vai acontecer, a festa vai rolar do jeito que você a imaginou e todo mundo amanhã vai comentar o quão maravilhosa você é naquilo que faz. Fala sério, Bee, você é a melhor, caso contrário não estaria onde está hoje. Ou eu estou falando alguma besteira?"
"Por favor, Ed, desde quando você se tornou tão puxa-saco, hein?" abri um amplo sorriso aliviado e deixei que Edward me envolvesse pela cintura só para me dar um beijo estalado na têmpora.
"Desde que me apaixonei por você." ele sussurrou junto ao meu ouvido e eu não consegui evitar uma gargalhada.
"Oh meu Deus, isso foi tão... ew!"
"O quê? O que eu disse de errado?" me fitou confuso e isso só serviu para aumentar meu riso. "Olha só pra você rindo da minha cara enquanto eu tento bancar o cara carinhoso e gentil só pra te deixar mais tranquila. Você é má, Bee!"
"Vamos lá, Ed, admita que foi engraçado. 'Desde que me apaixonei por você'. Tão brega, ew, ew, ew!" saímos do elevador e eu ainda não havia parado de rir. Edward também sorria e fazia uma cara aborrecida mais falsa que os cabelos loiros de Clarice.
"Desisto, não dá pra bancar o romântico com você." ele se afastou e caminhou até o lado de fora do prédio de maneira dramática. Gargalhei ainda mais e o abracei por trás, beijando-o nos ombros.
"Continue sendo o meu Edward babaca e totalmente safado, ok? Eu gosto assim." me olhou de soslaio e eu passei os lábios no sorriso torto que ele exibia. Tão lindo.
"E você não está mais nervosa." Edward comentou assim que entramos no táxi e seguimos pelo trânsito agitado de Paris.
"Não mesmo." minhas mãos estavam secas e perfeitamente acomodadas nas dele. "Obrigada por isso, Ed." inclinei-me e deixei um selinho em suas bochechas.
"Me agradeça mais tarde, Bee. De preferência só de lingerie e salto alto."
"Idiota."
"Que você ama."
"Nos seus sonhos." ironizei e ele riu.
"A gente conversa sobre isso depois." me deu uma leve cutucada no exato momento em que o táxi parava em frente à sede da agência. " Agora você tem uma festa pra comandar. Mostra pra esses franceses metidos quem é a minha garota."
Ao cruzar a portaria elegante do luxuoso edíficio eu não mais sentia meu estômago retorcido e o coração surrando o peito; no lugar das estranhas sensações de antes havia a imensa vontade de sorrir para o homem lindo que me segurava com firmeza em seus braços.
Com Edward ali ao meu lado eu não tinha nada a temer.
[…]
Estava extremamente aliviada por ter conseguido chegar cedo à festa da empresa; primeiro porque havia tempo de corrigir alguns errinhos que constatei assim que cruzei o grande salão de eventos localizado no segundo piso. A segunda vantagem, e a maior de todas, era não ter a vadia loira que atendia pelo nome de Clarice Broussard zunindo em meu ouvido a cada segundo.
Ultimamente a francesinha irritante andava amigável demais, e esse seu comportamento estranho me deixava desconfiada quase vinte e quatro horas por dia. Resultado: estava sob forte estresse e uma certa paranoia. Bastava Clarice aparecer em meu campo visual para eu começar a teorizar sobre o que ela estava tramando contra mim. Ridículo, eu sei, mas não dava pra evitar.
Desde que ganhei a conta da Calvin Klein andava questionando até minha própria sombra. A principio achei que estava pirando, mas com o passar do tempo, ao perceber os olhares invejosos e os comentários ferinos de meus colegas de trabalho, constatei que talvez não estivesse tão surtada como pensara. A situação era mais séria do que eu imaginava e todo cuidado era pouco.
Tudo piorou quando Bernard me convocou para encabeçar a organização da festa mais importante do escritório; isso foi o estopim para que uma enxurrada de fofocas e rumores desaguasse pela empresa inteira. Por fora encarei tudo como se não houvesse importância alguma, mas por dentro aquilo me feriu de forma absurda. Não foram poucas as tardes que passei trancada no banheiro dos funcionários em intermináveis crises de choro.
Agora ali estava eu, mais confiante e feliz – mérito exclusivo de Edward, devo admitir -, mas ainda sentindo um aperto no peito inexplicável. E por que minhas pernas não paravam de chacoalhar?
"Hey, algum problema?" Edward me fitou preocupado e eu tratei de lhe abrir um enorme sorriso tranquilizador.
"Nah, não é nada. Preciso dar uma circulada pelo salão antes que os convidados comecem a chegar. Se importa em ficar sozinho por alguns minutos?"
"Claro que não, Bee, pode ir." ele incentivou antes de deixar um beijo gentil em minha boca.
Estava seguindo em direção ao enorme buffet no canto esquerdo do salão quando notei a chegada de Bernard, acompanhado da esposa. Dei meia volta e me aproximei do casal para cumprimentá-los.
"Belle, vejo que você fez um ótimo trabalho por aqui. Meus parabéns." meu chefe elogiou assim que terminamos os cumprimentos formais.
"Fico feliz que tenha gostado, Bernard." sorri aliviada.
"Sabia que podia confiar em você." murmurou e voltou-se para a morena ao seu lado. "Deixe-me apresentar minha esposa. Bella, essa é Sophie. Sophie, chérie, essa é Bella Swan, a publicitária mais competente da agência."
Tentando ignorar minhas bochechas quentes por conta do elogio de Bernard, estendi a mão para Sophie e afirmei que era um prazer conhecê-la. A esposa de meu chefe retribuiu educadamente, mas fez questão de manter o ar distante e um tanto quanto impessoal. Franceses eram ariscos e eu ainda não havia aprendido a lidar com o desinteresse que carregavam em seus rostos.
Iniciei uma conversa banal com Bernard e Sophie e acabei esquecendo de Edward, que estava no outro canto do salão falando com alguns garçons que circulavam pelo local. Pedi licença ao casal e tratei de ir atrás dele, mas no caminho fui interceptada por meu pior pesadelo nos últimos tempos. Como a mais vil cobra pronta para dar o bote, Clarice havia chegado à festa, me pegando de surpresa.
"Oh, aí está você!" seus braços foram jogados com força em meus ombros e eu senti meu corpo ser esmagado num abraço efusivo. Até demais.
Algo estava errado
"Fiz questão de chegar mais cedo só pra te dar os parabéns. Olha só pra esse salão, que decoração maravilhosa, Bella. E que buffet perfeito, me deixou com água na boca assim que entrei aqui." Clarice murmurou empolgada me fazendo encará-la com surpresa.
Estava prestes a sibilar um agradecimento, mas a loira me interrompeu com animação.
"Você é incrível, Bella. Simplesmente arrasou na produção dessa festa. É uma pena que seu esforço não tenha valido de nada, já que isso tudo aqui é um fiasco anunciado." disse com ar de pesar.
Pisquei seguidas vezes desacreditando naquilo que acabara de ouvir. Do que aquela maluca estava falando?
"Me desculpe, mas o que foi que você disse, Clarice?"
"Acredite em mim, eu sinto muito. Muitíssimo para falar a verdade, mas é exatamente o que você ouviu, querida Bella. Sua festa perfeita será um desastre, já que pelo que soube nenhum dos funcionários da agência virá. É uma pena, porque isso aqui está divino!"
Peraí, o que estava acontecendo? Era mesmo sério o que aquela francesa ridícula estava dizendo? Não, não podia ser, eu não havia suado tanto para nada. Eles não podiam fazer aquilo comigo, não merecia tanta desconsideração assim.
Por que meus colegas estavam agindo daquela forma comigo? O que eu havia feito, além de trabalhar duro e dar o meu melhor em meus projetos? Meu sucesso estava os incomodando? Eu não tinha culpa alguma!
O peso da humilhação recaiu sobre meus ombros e eu senti os olhos turvos pelas lágrimas de frustração.
"Aw, ma chérie, não fique assim. Eu sei que deve ser difícil, mas você precisa entender o lado de nossos colegas. Afinal, muita gente não acha correto que você tenha tantas vantagens só por ser amante do chefe. Eu não tenho nada con-"
"Como é que é? O que você está querendo insinuar, sua vadia ordinária?" a tristeza transformou-se em ódio e o que mais desejava naquele momento era pular no pescoço fino de Clarice.
"Ei, estou querendo te ajudar e você me retribui com ofensas? Você é a vagabunda aqui, não eu!" finalmente sua máscara de boa moça havia caído. Agora eu podia socar-lhe a cara sem remorso.
"Você me paga, desgraçada!" rosnei e desferi um tapa certeiro em seu rosto. Apenas quando ouvi os suspiros chocados ao meu redor foi que percebi o que havia feito.
Bernard e outros diretores do alto escalão da agência observavam atônitos minha discussão com Clarice. A serpente havia planejado tudo direitinho, pois sabia que apenas as pessoas mais importantes da empresa estariam presentes na festa para ver nossa briga.
Ela queria acabar com minha carreira e tudo por quê? Inveja e despeito puros. Meu Deus, eu nunca havia sido tão rebaixada em minha vida toda.
"Posso saber o que está acontecendo aqui?" Bernard aproximou-se de onde estávamos e me fitou com ar confuso. Meus olhos àquela altura desaguavam e eu não conseguia parar de tremer.
"N-não foi nada, Bernard. Acho que falei algo errado e Bella achou que eu a estivesse ofendendo." Clarice sibilou com ar magoado e voltou-se para mim. "Juro que não foi minha intenção te aborrecer, Bella, eu só queria dizer o quanto você estava linda em seu próprio idioma, mas acho que cometi um tremendo engano. E-eu não sei falar muito bem sua língua e-"
"Você é a vagabunda mais fingida do mundo, Clarice. Como consegue mentir tão descaradamente desse jeito?" cuspi cheia de raiva e causei mais espanto em meu chefe. Mas era praticamente impossível controlar o ódio que corria em minhas veias com força.
"Já chega! Bella, o que deu em você pra agir dessa forma? Clarice cometeu um erro, mas você não precisava estapeá-la por conta disso." Bernard murmurou com repreensão; eu bufei irritada e senti meus joelhos fracos pela injustiça que estava sofrendo.
"Seu comportamento foi totalmente incoerente, mas tenho certeza de que não se repetirá, não é mesmo? Agora vamos fingir que nada aconteceu porque os convidados não param de chegar e eu não quero que a festa inteira seja regada a comentários sobre a briguinha tola de vocês."
"Se você me deixasse explicar o que realmente aconteceu tenho certeza de que não chamaria isso de briguinha tola."
"Não me interessa o que houve, o que eu quero agora é que vocês calem a boca e evitem ao máximo mais escândalos. Estamos entendidos, Isabella?" Bernard falava como se eu fosse uma criança de cinco anos. Aquilo foi a gota d'água para mim; sentia um cansaço profundo e tudo que mais queria naquele momento era desaparecer daquela merda de lugar.
"Como quiser, Bernard." engoli em seco e respirei fundo em busca de coragem para o que iria fazer a seguir. "Aproveitem a festa, porque para mim ela acaba por aqui. Boa noite!"
Sem perder tempo girei nos calcanhares e rumei em direção à saída do salão, evitando ao máximo olhar para trás. Clarice havia vencido, eu estava definitivamente fora daquela guerrinha que não me levaria a lugar algum.
Levei um susto quando – ao pisar no primeiro degrau da escada que dava acesso ao primeiro andar – fui puxada com força pelo braço. Virei o rosto para urrar um palavrão, mas o rosto preocupado de Edward me fez engasgar e iniciar um choro descontrolado. Estava arrasada e tudo que desejava agora era ir embora para longe.
"Shhhhh, tá tudo bem, eu tô aqui com você agora, Bee." ele sussurrou em meu ouvido ao me aconchegar com gentileza em seu peito forte.
"Me leva embora daqui, Edward, por favor." supliquei-lhe com os olhos ardendo em consequência das lágrimas.
"Se acalma, ok? Vou levar você pra casa." beijou o topo da minha cabeça e me guiou em direção à saída do prédio.
O conforto e a segurança que Edward me passava não eram suficientes para me tranquilizar e durante o caminho de volta para nosso apartamento eu tinha um único pensamento martelando em minha mente:
Voltar para casa.
[...]
"Então, você também vai me chamar de louca e me julgar pelo que fiz com aquela vaca loira?" disparei assim que entrei na sala e me joguei no sofá. Meu nível de irritação estava extremamente alto, o que me fazia soltar ironias a cada segundo. No fundo eu sabia que isso era apenas o meu modo de defesa agindo.
"Não vou falar nada até você me explicar o que houve. Anda, Bee, me diz o que aquela mulher fez pra te deixar tão furiosa daquele jeito?" Edward murmurou sentando ao meu lado e me convidando para um abraço apertado do qual eu não recusei. Uma nova torrente de lágrimas despencou, deixando os músculos de minha face exaustos. Meu corpo inteiro estava quebrado, em consequência da forte tensão que fui submetida naquela noite.
"Ela armou tudo! Boicotou a festa que organizei por puro despeito. E ainda teve a coragem de dizer que tudo que conquistei dentro da empresa foi porque tinha um caso com meu chefe. Argh, isso é mentira! Clarice é uma grande vagabunda mentirosa!"
"E você revidou essas acusações com um tapa e uma fuga covarde."
"Fuga covarde, Edward? Eu fui humilhada, o que você queria que eu fizesse, continuasse ali sorrindo como se nada tivesse acontecido?"
"Se você não fez nada não tinha motivos para sair da festa do jeito que saiu. Deveria ter ficado lá e agido como se aquilo não tivesse acontecido." eu não estava acreditando no que ouvira. Além de passar por um inferno ainda tinha que suportar as críticas da pessoa que mais deveria me apoiar naquele momento. Eu só poderia estar tendo um pesadelo, não era possível.
"Se confiasse em mim um pouquinho saberia que tenho todas as razões para agir da forma como agi. Ao invés de ficar me criticando, você deveria me apoiar nesse momento."
"Não estou te criticando, Bella, mas não vou fingir que concordo com sua atitude só porque você quer. Você foi covarde ao sair da festa que passou tanto tempo organizando e acabou realizando o desejo da tal Clarice, que queria te ver humilhada e fraca. A Bella que eu conheço não é desse jeito, ela ficaria a noite inteira e mostraria para todo mundo o quão brava e confiante realmente é."
"Depois de tudo que tenho passado ultimamente naquela agência o que menos sou agora é brava e confiante, Edward." resmunguei enxugando as bochechas molhadas de choro.
"Eu perdi alguma coisa por aqui, Bella?" ele questionou e eu rolei os olhos exausta. Uma discussão irracional àquela altura da noite não ajudaria em nada.
"Quer saber de uma coisa? Tô cansada e quero ir pro meu quarto dormir. Amanhã conversamos, minha cabeça está explodindo de tanta dor." eu não queria ter que explicar para ele o terror que sofria dentro da agência, sendo submetida a tanto preconceito e inveja.
"Por que você está fugindo dessa conversa? O que está acontecendo pra você temer tanto em falar comigo?" o tom desconfiado que ele usou serviu apenas para me deixar ainda mais irritada.
"O quê? Não me diga que você está achando o que Clarice disse é verdade?"
"Tudo que eu pedi foi que me contasse o que está acontecendo com você, mas essa sua paranoia está te fazendo ouvir coisas."
"Oh que ótimo, agora você também acha que isso tudo não passa de imaginação minha. Cansei, não dá pra conversar desse jeito. Boa noite, Edward." marchei rumo ao quarto, mas no caminho dei de encontro com a escrivaninha, derrubando uma pilha de papeis que rapidamente se espalharam pela sala.
"Porra!" gritei aborrecida e me abaixei para recolher a bagunça; no meio do amontoado de folhas uma em especial chamou minha atenção. Era umarescisão de contrato. Pelo que dizia o documento Edward havia saído do emprego há mais de duas semanas.
O sangue voltou a borbulhar em minhas veias e eu levantei em um salto, dando meia volta para quase pular sobre a figura aborrecida sentada no meio do sofá.
Sem fazer questão de controlar minha ira, joguei a folha amassada sobre Edward, fazendo-o me encarar assustado.
"O que deu em você, Bella?" ele sibilou, mas assim que pousou os olhos no papel ficou pálido de susto.
"É, eu vejo que também perdi muitas coisas por aqui. Até hoje pela manhã achava que você estava indo trabalhar normalmente. E agora descubro por acaso que você foi demitido há quase quinze dias atrás. Juro que estou tentando, entretanto não lembro quando foi que você passou a mentir, Edward. Pensei que confiasse em mim, mas vi que estava errada."
"Bella-"
"Tá tudo errado por aqui, Edward! Será que você não percebe? Eu achava que estava vivendo uma coisa e de uma hora pra outra vejo que estava totalmente enganada. Onde foi que a gente se perdeu, me diz?"
"Eu ia te contar, juro por Deus. Mas você estava tão bem no trabalho e tão feliz que senti vergonha de falar que sou um fracassado que não consegue se manter em um emprego de merda como aquele."
"Se houvesse me dito a verdade saberia que eu não estava tão feliz quanto parecia. E se você é um fracassado, eu também sou, pois não fui forte o suficiente para enfrentar as picuinhas de gente que estava disposta a me derrubar. Eles conseguiram o que queriam, já que eu entreguei de mão beijada tudo aquilo que suei para conseguir." suspirei passando as mãos nos cabelos completamente arrasada.
"Por que você está dizendo isso, Bella?"
"Porque eu estou cansada, Edward! Aceitar a porra desse emprego foi um erro, mas não enxergar logo de cara que as coisas não dariam certo foi pior ainda. E olha só o que aconteceu? Nossa aparente vida perfeita se revelou uma grande farsa e deixou claro que nenhum de nós confia no outro." minha voz trêmula estava transformada pela mágoa. "N-não sei onde foi que erramos, mas sei que se não fizermos algo pra consertar isso o quanto antes vamos acabar nos odiando. E eu não quero que nossa história tenha esse final."
Ficamos alguns longos minutos em silêncio apenas processando a série de acontecimentos que nos cercava. Nunca me senti tão perdida como naquele momento, sem saber qual direção tomar. Edward parecia tão às cegas quanto eu, pois cada vez que tentava murmurar algo as palavras sumiam de sua boca.
"Me perdoa." ele finalmente sibilou com a voz miúda de tristeza. Meu coração ficou apertado dentro do peito.
"Não é questão de perdão, Edward. Se fosse somente isso bastava que eu também me desculpasse pelo que fiz e tudo estaria bem." retruquei cansada e decidi não prolongar mais aquela discussão. "Será que a gente pode conversar melhor amanhã? Eu realmente não tenho forças para tratar de um assunto tão complicado e ficar dando voltas não vai nos levar a lugar algum."
"Bella, eu-" ele começou, mas se calou quase no mesmo segundo. Fitei-o com expectativa nítida e isso pareceu incentivá-lo a continuar. "Acho que já está na hora da gente enxergar de uma vez por todas a realidade. Acabou, eu não quero mais viver desse jeito."
Meu estômago retrocedeu dentro do corpo e eu imediatamente notei um gosto amargo em minha boca. Mas antes que pudesse questionar o que Edward estava falando, ele prosseguiu:
"Vou voltar para Nova York o quanto antes e você vai comigo, mesmo que pra isso seja preciso te levar à força."
Continua..

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