14 setembro 2011

LUCKY BELLA - CAPÍTULO 3

Boa noite Pervinhas! Parece que Rosalie vai dar um susto nosso casal, no que será que isso vai dar? Ótima Leitura!
Autora: Cella
Classificação: Maiores de 18 anos 
Categoria: Saga Crepúsculo
Personagens: Bella Swan, Edward Cullen, Ement Cullen, Rosalie....
Gêneros: Romance
Avisos: Sexo


Capítulo 3 – Her name is Audrey.
Rosie's Lullaby – Norah Jones*
BPOV


Edward encarava-me como se estivesse diante de um fantasma e eu poderia jurar que meu rosto trazia estampado exatamente a mesma expressão. Meu cérebro trabalhava em ritmo acelerado, mas eu não conseguia mover qualquer músculo; era como se tivesse recebido uma grande descarga elétrica responsável por me manter bem ali parada tal qual uma estátua.
Um som agudo demais rasgou meus ouvidos e quase no mesmo segundo Edward e eu pulamos de susto, subitamente fora do transe. O barulho que nos despertou provinha do telefone em suas mãos.
Novo telefonema. Nova onda de tremores incontroláveis percorrendo todas as camadas da minha pele.
Pisquei uma, duas, três vezes seguidas, acompanhando o toque do aparelho eletrônico ecoando no quarto imerso em nada mais que pura apreensão. Assim que percebi que Edward encarava as próprias mãos sem qualquer vislumbre de reação, eu fui obrigada a afastar o torpor que insistia em me deixar fora do ar; puxei o telefone dos dedos longos e suspendi a respiração ao atender.
"A-alô!"
"Bella? Graças a Deus você atendeu. Estou ligando há quase meia hora e só recebia a mensagem da caixa postal." a voz grossa, mas naturalmente mansa de Emmett me agitou e – para minha total surpresa – senti os olhos desaguarem uma torrente de lágrimas impossível de ser controlada.
"Emm, por Deus, o-o que aconteceu? C-como ela está, Céus, diz pra mim que está tudo bem-" as palavras se perderam no meio do choro e eu voltei a desabar no colchão, agora gelado. O telefone parecia pesar uma tonelada e exercia uma pressão insuportável contra minha orelha direita; os dedos perderam forças e eu senti o pequeno objeto escorrendo de minha mão.
"Emmett, Bella não está em condições de falar. Por favor, pode me dizer o que realmente aconteceu com Rosalie? Como ela e o bebê estão?" com um esforço fora do comum eu ergui os olhos para visualizar o rosto de Edward envolvido em uma máscara de preocupação. Totalmente sem coragem e temendo ouvir o pior, enterrei a cabeça contra a pilha de travesseiros sobre a cama e bloqueei minha audição.
Uma grande nuvem de impotência pairava sobre minha cabeça martelando sem piedade. Por tudo que havia de mais sagrado naquele mundo, se algo de ruim acontecesse a Rosalie e ao bebê eu não saberia como agir. Por que isso estava acontecendo? Por que justamente com minha melhor amiga? E por que eu havia cruzado aquele maldito oceano e me distanciado das pessoas que mais amava no mundo? Era cada vez maior a sensação de desespero que me dominava e eu já estava considerando as situações mais absurdas. Naquele momento eu seria capaz de cruzar o Atlântico a nadocaso Rose necessitasse de mim.
O suspiro forte de Edward foi o sinal para que eu voltasse a erguer o rosto e o encarasse. As pupilas estavam muito dilatadas e ele me olhava com cautela. Mau sinal.
"Calma." aquela era uma maneira errada de começar. Péssimo sinal.
Meus olhos transbordaram novamente e eu mordi o canto da boca para tentar prender os soluços que arranhavam meu peito.
"Ei, ei, ei, o quê é isso?" ele avançou contra mim e apertou meu corpo contra seu peito; momento perfeito para que a enxurrada de gemidos escapasse lábios afora. "Shh Bee, mal abri a boca e você já está prevendo coisas ruins? Anda, olha pra mim e tenta me escutar, por favor."
Esforçando-me ao máximo para controlar meu desespero, encarei-o e ele – provavelmente tentando me tranquilizar – lançou-me um sorriso firme. Engoli audivelmente e traguei uma grande quantidade de ar em busca da estabilização dos meus sentimentos.
"Rosalie sofreu sim um acidente muito sério enquanto descia as escadas, mas antes de mais nada escute uma coisa importante: ela está nas mãos dosmelhores médicos e está sendo operada nesse instante, portanto acalme-se, ou vou ser obrigado a te dar um calmante que vai fazê-la capotar nessa cama até amanhã de manhã." meus olhos praticamente pularam das órbitas assim que ouvi as palavras calmas, mas muito sérias de Edward. Não havia como ter dúvidas sobre a veracidade do que ele havia acabado de dizer, principalmente quanto ao fato de me obrigar a tomar algum medicamento que me deixaria inconsciente pelo resto da noite.
"O q-que Emmett disse exatamente a você? Por favor, conte-me tudo. Sem esconder nada."
"Contarei, mas primeiro você vai vestir algo. Não quero que pegue um resfriado ou coisa do tipo." Edward murmurou e só então notei que estava completamente nua. Agora podia explicar o motivo de tantos tremores, eu estava a ponto de entrar em uma crise de hipotermia.
"Pronto estamos bem melhor agora." ele sibilou assim que empurrou pela minha cabeça uma de suas velhas e largas camisetas da faculdade. Minhas mãos se perderam nas mangas sem fim e eu agradeci por isso; o tecido grosso e quente tinha o mesmo cheiro bom da pele dele e eu imediatamente senti meu corpo começar a relaxar.
"C-como aconteceu?" perguntei e recostei-me no espaldar acolchoado da cama.
Como havia prometido, Edward contou-me com detalhes a conversa que tivera com Emmett. Em resumo, Rosalie apressou-se para descer e atender o celular que tocava no andar debaixo e – ao pisar em falso em um dos degraus do meio da escada – acabou se desequilibrando. O impacto da queda foi forte e muito sério, mas o que a colocou em trabalho de parto precoce foi o susto gerado pela situação. O desespero de Rose em proteger a filha serviu apenas para piorar tudo.
"Eu ainda não consigo acreditar que isso tenha acontecido. Rosalie nunca foi tão imprudente desse jeito. Afinal era só a porra de um telefonema." resmunguei encarando meus dedos cobertos pela camisa de Edward.
"Isso já não importa mais. O importante agora é que Rosalie está sendo bem cuidada. Carlisle está cuidando dela e você sabe o quanto meu pai é um ótimo profissional. Tudo vai ficar bem."
"Promete?" puxei-o pelo braço para que ele sentasse ao meu lado. Ele sorriu ternamente e envolveu-me em um abraço apertado; senti seus lábios beijando o alto da minha cabeça meio úmida e suspirei alto.
"Prometo, Bee." foi a minha vez de rir feito uma idiota, fungando para afastar as lágrimas. A forma como ele pronunciava meu apelido de infância era sempre um indicativo de que poderia confiar nele.
Minhas mãos buscaram abrigo nos fartos cabelos cor de cobre e eu aproveitei para descansar meu rosto na curva do seu pescoço. Edward acomodou meu corpo ao redor do seu e foi aí que percebi que estava sentada em seu colo; um risinho bobo brincou em meu rosto e eu o escondi em beijos distribuídos na curva do maxilar bem moldado.
A sensação de segurança que ele me passava era tão grande e intensa; aproveitei a calmaria para sussurrar uma prece em nome de Rosalie e do bebê. Eu nunca havia sido o tipo de pessoa religiosa, mas naquele momento senti uma enorme vontade de rezar para que tudo desse certo e que minha amiga e o filho que ela tanto desejava ficassem bem e saudáveis.
Antes que pudesse assimilar o que estava acontecendo, soltei:
"Sabe, o nome dela é Audrey."
Edward se afastou e me encarou com o cenho franzido em questionamento.
"Ela quem?"
"Esse é o nome do filho de Emmett e Rosalie. Ou melhor, da filha deles." voltei meus olhos para encará-lo e ri. "Rose me contou há alguns dias atrás que estava esperando uma menina e que já havia escolhido o nome. Audrey."
"É um nome bonito." ele sibilou e eu sorri ainda mais. Meus olhos riram também e eu senti o resquício do choro escorrendo em forma de lágrimas pelas minhas bochechas.
"Você não lembra, não é?"
"Lembro do quê?" a testa de Edward agora estava totalmente enrugada pela dúvida.
"Halloween. Há 16 anos atrás." relembrei-o e ele negou com a cabeça, ainda me fitando com curiosidade nos olhos. "Meu Deus, vocês homens não prestam atenção em nada mesmo, não é? Como você pôde esquecer da briga épica entre Rosalie e Alice por causa da fantasia de Audrey Hepburn?" eu gargalhei ao rememorar a cena.
Todos sabiam o quanto Rosalie Hale era fã assumida de Audrey Hepburn. E no halloween de 94 ela havia planejado homenagear sua estrela de cinema favorita. Tudo estava correndo bem até Alice anunciar que também estava pensando em usar uma fantasia da Bonequinha de Luxo.
O resultado disso foi uma discussão longa e demorada que terminou com duas garotas de 13 e 10 anos, respectivamente, engalfinhadas na imensa sacada do apartamento dos Cullen. Rosalie levou a melhor e ganhou o direito de fantasiar-se da famosa atriz de Hollywood, mesmo recebendo críticas de que ficaria muito melhor se houvesse escolhido uma fantasia de Marilyn Monroe. Alice acabou desistindo de recomeçar uma nova rodada de xingamentos, socos e pontapés e se contentou em usar uma fantasia de Sininho, seu apelido de infância e personagem infantil que ela mais odiava.
"Wow, acho que estou lembrando. Foi aquele ano que você se vestiu de Mulher-gato, não foi?" Edward perguntou e eu afastei o devaneio da mente.
"Exatamente. Aliás, nossas fantasias deveriam combinar, era esse o trato. Você deveria ir de Batman, mas no final acabou se vestindo de Coringa. Até hoje não entendo o motivo disso." ele gargalhou ao me ouvir sibilar e brincou displicentemente com uma mecha do meu cabelo enrolada na ponta do indicador.
"É que eu sempre gostei de ser o bad guy." os olhos brilhantes piscaram de forma marota e eu deixei uma risada alta rasgar minha garganta. "Além do mais, o Robin come o Batman, então achei melhor ser o Coringa mesmo."
"Oh meu Deus, Edward! Você é nojento." minha barriga contraiu-se pelo riso que eu já não conseguia mais conter.
"Só estou dizendo isso para te animar um pouco." ele murmurou e beijou a ponta do meu nariz. Minhas bochechas queimaram de vergonha e eu voltei a enterrar o rosto em seus ombros.
"Obrigada por isso." minha voz saiu abafada e logo em seguida eu senti a boca quente e macia próximo à minha orelha.
"Disponha." ganhei outro beijo, dessa vez em minha têmpora esquerda. "Quer dizer então que Rosalie batizou a filha com o nome de uma antiga atriz de Hollywood."
"Não é só 'uma antiga atriz de Hollywood'. É a Audrey Hepburn, Edward! Uma das maiores estrelas do cinema mundial."
"Algo me diz que Rose resolveu sair na frente e pegar o nome para si antes que Alice case e engravide. Imagina a confusão que seria?"
"Outra briga para entrar para história." concordei e saí de cima dele. Estremeci da cabeça aos pés ao pisar no tapete gelado.
"Argh, que frio!" gemi e corri na ponta dos dedos até o closet para pegar um par de meias de lã. Calcei-as rapidamente e esfreguei as mãos contra os braços em busca de um pouco de calor.
Edward pulou para fora da cama e voltou a envolver-me em mais um abraço. Seu corpo estava morno e bem aquecido e eu aceitei de bom grado o ninho aconchegante que seus braços formavam.
Nós caminhamos – ainda abraçados – para fora do quarto gélido, seguindo em direção ao lugar mais quente do apartamento.
"Chocolate quente com marshmallows?" ele sugeriu quando chegamos no meio da sala mal iluminada, mas visivelmente mais agradável.
"Sala, sofá, você e um cobertor." eu discordei oferecendo meus lábios para um beijo. Ele estreitou os olhos verdes de maneira engraçada e roçou a boca contra a minha bem lentamente.
"Você é quem manda, Capitã." meu corpo foi suspenso no ar e quando me dei conta, já estava sentada no couro gasto do sofá comprado no conhecidoMercado de Pulgas¹, mais ou menos uma semana após minha mudança para a Cidade Luz.
Edward jogou a manta grossa sobre mim antes de sentar ao meu lado e eu automaticamente busquei calor em seu peito sempre pronto para me aquecer. Um suspiro alto cortou o ar e eu mordi meu lábio susperior, rezando para que ele não sentisse a tensão ainda instalada em meus ombros. Mesmo com todos os seus esforços para me manter tranquila, eu ainda estava receosa com toda aquela situação. Só sossegaria quando tivesse certeza de que Rosalie e Audrey estavam sãs e salvas.
"Lembra o que é eu prometi? Vai ficar tudo bem..." ele sibilou baixinho, como se pudesse ler meus pensamentos.
"É, e-eu sei disso." e eu sabia mesmo. Tudo que eu precisava era convencer meu sistema nervoso a relaxar; e para falar a verdade, aquela não era uma tarefa das mais fáceis.
"Que tal descansar um pouco, Sra. Linus Van Pelt²?" meu queixo caiu alguns centímetros à simples menção do famoso personagem das tirinhas infantis. Tinha certeza de que Edward não lembrava, mas por anos aquele havia sido o apelido pelo qual Charlie me chamava.
Ele costumava brincar dizendo que eu parecia o clone do garoto franzino que arrastava o velho e surrado cobertor azul por todos os cantos, principalmente quando estava com medo de algo ou alguém. Pensar em minha infância e na relação forte que havia existido entre mim e meu pai não ajudou para aliviar o mar tenso que batia contra meus ombros com cada vez mais intensidade.
Apertei os olhos até quase senti-los sumindo entre minhas sobrancelhas unidas e fingi cair no sono; Edward não desafrouxou os braços em torno de mim e eu suspirei em agradecimento. Se antes já encontrava-me em um nível elevado de carência, o incidente com Rosalie e agora a lembrança da minha infância feliz ao lado do meu pai só pioraram a situação. Eu queria demais voltar para o meu país e poder dizer a todos o quanto os amava e o quão importantes eles eram em minha vida.
Embalada por um carinho suave produzido pelos dedos de Edward em meus braços, acabei realmente pegando no sono, sendo rapidamente fisgada por um par de sonhos sem começo, meio ou fim. Apenas imagens das diferentes épocas da minha vida e dos momentos mais felizes que já havia vivido. Um alento do meu subconsciente à minha mente saturada pela saudade.
Em algum momento entre os sonhos e a realidade eu ouvi um barulhinho cantarolar um pouco distante, mas alto o suficiente para me despertar. Cocei os olhos sonolentos com a manga da camiseta gigante que vestia e vi Edward de pé, parado no meio da sala. Ele segurava o celular firmemente junto ao ouvido e eu congelei onde estava.
Procurei desesperadamente o relógio pendurado na parede, sem noção de tempo ou espaço. Eram 3 da manhã. Wow, eu havia mesmo dormido durante todo esse tempo?
Pigarreei e isso foi o suficiente para chamar a atenção do homem alto à minha frente. Eu não estava preparada para o imenso sorriso que pintava seu rosto de uma ponta à outra.
"O-o que houve?" grunhi na voz rouca típica de sono.
Edward não sibilou uma vírgula sequer. Ao invés disso, limitou-se a estender o aparelho eletrônico na minha direção. Mais trêmula do que nunca, peguei o celular e arrisquei uma olhadela temerosa.
"Diga oi para sua afilhada." ele finalmente murmurou e de imediato senti as lágrimas voltarem a banhar meus olhos sem controle.
Baixei a vista para a tela brilhante do telefone e soltei um gemido de emoção ao ver a imagem exibida. Apesar de meio desfocada eu reconheci a cena e a personagem que fazia parte dela. Tinha o rosto arrendondado e muito branco, a pele quase tão alva quanto uma folha de papel; os cabelos oleosos eram amarelados, uma cor que lembrava camomila. O pequeno nariz era arrebitado, como se alguém tivesse moldado um pedaço de massinha de modelar e deixado-o daquele jeito, tão perfeito; já a boca era miúda e estava meio retorcida no que parecia ser um sorriso de boas-vindas.
Ela literalmente sorria para o mundo. E pareceu impossível a mim não sorrir de volta.
Em uma voz totalmente envolvida pelo calor que pulsava direto do coração, eu anuncei:
"Seja bem vinda, bonequinha de luxo."
[…]
Audrey Hale-McCarthy nasceu em uma das noites mais angustiantes da minha vida. E foi ela quem trouxe a alegria personificada pelo riso fácil que fluía sem que eu ao menos percebesse. O susto causado pelo parto prematuro da filha de Emmett e Rosalie logo perdeu espaço para a felicidade da chegada do mais novo membro da família. A criança possuía uma saúde impecável e por conta disso não passou mais do que dois dias na encubadora, procedimento de praxe no caso de bebês nascidos antes do tempo previsto.
Rosalie também estava perfeitamente bem apesar de todo estresse que havia vivido antes de dar à luz sua primogênita. Por ter sido submetida ao parto cesariano ainda precisava de alguns cuidados, que não passavam de mera rotina. Mãe e filha voltaram para casa após cinco dias de internação; foi nesse exato dia, um sábado ensolaradamente frio em Paris, que eu finalmente conheci minha sobrinha torta e afilhada.
O encontro foi feito via webcam e microfones, mas nem por isso deixou de ser menos emocionante. Edward muitas vezes precisou pegar caixinhas de lenços no armário do banheiro, já que eu não conseguia parar de chorar, cada vez que visualizava o rosto incrivelmente belo de minha melhor amiga ou quando as mãos gorduchas de Audrey agitavam-se no ar enquanto ela se espreguiçava. Foi uma conversa longa, repleta de risos e lágrimas, declarações de amor e silêncio repentino quando Audrey roçava a boca no seio inchado da mãe em busca de alimento. Aquela era sem dúvida uma das cenas mais bonitas que já vi na vida; o brilho cintilante nos olhos muito verdes de Rose era a certeza de que tudo estava do jeito que deveria estar. O sorriso em seus lábios era a prova concreta disso.
E então estabeleceu-se uma nova rotina em minha vida. Todos os dias eu precisava ver Rosalie e a filha; era minha exigência em nome da saudade que agora cochilava dentro de mim, mas estava mais viva do que nunca. Ver o amor incondicional traduzido pelos olhos preguiçosos do bebê nos braços daquela pessoa que eu amava como se fosse minha irmã era algo indescritível. Eu só conseguia rir como uma criança e suspirar até sentir meus pulmões fracos e sem ar.
Emmett – como bom amigo e um pai muito coruja – enviava-me diariamente centenas de fotos de Audrey e Rose. Momentos do dia dia em que mãe e filha construíam um laço tão forte e amoroso que nada no mundo poderia ser capaz de rompê-lo. E isso era maravilhoso.
Assim eu vi os dias passarem, surpreendentemente muito rápidos. Meu trabalho na agência era puxado e estressante, porém eu não sentia raiva ou cansaço. Estava feliz demais com tudo que estava acontecendo na vida de minha melhor amiga e de sua nova família. Nem Clarice e sua hostilidade natural conseguiam me tirar do sério; tudo estava perfeito e a vida era mesmo muito bela.
Faltando menos de duas semanas para o Natal – e prazo final para a entrega do projeto da nova campanha da Calvin Klein, liderada por mim – vi-me em meio a um grande dilema: o que fazer? Eu tinha uma ideia que julgava perfeita, contudo não sabia como colocá-la em prática. A solução surgiu em uma manhã de domingo preguiçosa; Edward apareceu como a mais pura fonte de inspiração.
Os raios de sol arranharam meus olhos e eu praguejei meio sonolenta, pela primeira vez pedindo para que uma tempestade de neve caísse sobre a cidade e levasse pra longe aquela maldita claridade. Como isso acabou não acontecendo, não tive outra alternativa a não ser acordar e começar mais um dia, dia esse que seria feito apenas de preguiça e bolo de chocolate.
Levantei-me cambaleante e acabei tropeçando no tapete felpudo junto ao pé da cama. Mesma rotina de sempre. Ao espreguiçar-me por alguns bons minutos notei algo que rapidamente captou minha atenção. Tinha a ver com um homem estirado no meio do colchão, deitado de bruços e com a cabeça enfiada embaixo do travesseiro. O que prendeu meus olhos no entanto não tinha qualquer relação com as costas fortes, cheia de músculos que agitavam-se cada vez que os braços se moviam; eu estava interessada era na pequena etiqueta que sorrateiramente fugia do tecido da boxer preta. A cueca de Edward naquele momento era meu tesouro mais valioso.
Ainda tonta de sono, mas subitamente bastante agitada eu corri até a sala em busca de minha câmera profissional e instrumento de trabalho. A luz brilhante que entrava pela grande janela do quarto deixava o cenário perfeito para o que minha mente começava a planejar. Por alguns bons minutos tudo que se ouvia no cômodo eram os cliques da máquina fotográfica e o ronco grave de Edward.
A enorme lente captou com perfeição o contorno da bunda firme e eu soltei uma risada alegre. Até as pequenas sardas que pintavam toda a costa dele foram bem retratadas por minha câmera. E a etiqueta da cueca Calvin Klein aparecia com nitidez nas diversas fotos que eu incansavelmente tirava. Estava bem diante do projeto visual da campanha em que estava trabalhando.
"O-o quê? Que porra é essa que você está fazendo?" Edward resmungou em seu típico mau humor matinal e eu sabia que minha sessão de fotos perfeita estava oficialmente acabada.
"Posso saber o que deu em você?" ele continou, rolando pela cama para cobrir a ereção que despontava através da malha fria da boxer que o vestia. Ops, algo me diz que meu rosto está pegando fogo.
"Huh, foi só uma ideia. Sabe, para o projeto da Calvin Klein em que estou trabalhando." sentei na beirada do colchão para analisar meu pequeno trabalho e tentar não deixar meus olhos seguirem para o meio das pernas de Edward. Wow, as fotos não ficaram nada mal.
"O que é isso? Por que você tirou fotos da minha bunda, Bee?" ele sentou ao meu lado e puxou a câmera das minhas mãos; girei os olhos diante de sua atitude infantil.
"Não é a sua bunda que me interessa, Ed, é a etiqueta da cueca. Por que não me disse que usa CK?"
"E desde quando eu me importo com marca de cueca? Se você não tivesse falado nem saberia que usava." ele sibilou em meio a um bocejo que acabou me contagiando. "Então me conta, o que você está aprontando?"
"Não é nada de mais pra falar a verdade. Mas acho que a ideia é bem legal e pode ser que seja aceita pela maioria. Bernard me pediu um conceito ousado e diferenciado para essa campanha e é isso que eu vou dar a ele."
"E eu ainda não entendi o que isso tem a ver com minha bunda e a merda da cueca que uso." ele coçou os olhos rapidamente e eu bufei de irritação. Edward era um saco quando acordava.
"Muito simples, senhor eu-só-sei-resmungar. Vou usar homens reais nessa campanha. Chega de modelos sarados e com caras de gay. Quero algo que mexa com a cabeça das mulheres, nossas maiores compradoras desse produto; que seja sexy, mas alcançável; bonito, mas imperfeito e acima de tudo, que seja gostoso, visual e emocionalmente falando. E foi você quem me inspirou."
Ele deixou a boca despencar por alguns segundos e logo em seguida vi a sombra de um sorriso despontar nos lábios ressecados pelo sono. Suas mãos fortes roçaram na base da minha cintura e em seguida eu senti meu corpo ser içado e acomodado sobre sua pele quente e macia.
"Uau, não sabia que eu era tudo isso que você falou." Edward sussurrou junto ao meu ouvido e aproveitou para prender o lóbulo da minha orelha entre os dentes; meu peito doeu com a força do suspiro que soltei.
"Isso foi até você abrir a porra da sua boca e estragar tudo com essa merda de mau humor. Você parece um velho de 80 anos, muito ranzinza por sinal... Ai, Edward, já disse pra não morder com força!" rosnei e o estapeei no braço. Ele apenas riu e deixou um beijo molhado onde mordiscou minha pele.
"Eu estrago, eu conserto. Vem aqui, Bee." gritei de surpresa quando ele deitou de volta no colchão e me levou junto. Antes que eu pensasse em retrucar algo, Edward me beijou com tamanha intensidade que senti os pensamentos embaralharem como minúsculas peças de um gigante quebra-cabeças. E lá vamos nós outra vez.
Minhas mãos percorreram toda a extensão do corpo muito quente colado ao meu e não demorou muito para que eu notasse os dedos enormes pedindo passagem por dentro de meu velho pijama.
"E-ed, minha... minha câmera." a lente da máquina estava machucando minha pele e eu rezei para que nada de ruim tivesse acontecido com ela. Se aquele safado causasse qualquer dano à minha câmera profissional eu o deixaria infértil pelo resto de seus dias. Ou talvez apenas o punisse com um olhar severo e uma bronca bem dada.
"Deixa isso comigo,amor." ele puxou o objeto digital das minhas mãos e o deixou em cima da cômoda. Percebi que demorou alguns segundos ajustando a lente e o foco da máquina e eu não entendi o por quê disso.
"O que foi, perdi todas as fotos, foi isso né?" perguntei temerosa que os hormônios sempre em ebulição de Edward tivessem colocado tudo a perder.
"Não foi nada, Bee. É só que, bom, deu vontade de registrar esse momento. Sabe com é, vai que um dia eu precise trabalhar em uma campanha de umsex shop ou quem sabe fazer um projeto de divulgação de um filme pornô. Nunca se sabe, não é?" meus olhos pareciam querer pular para fora do corpo e eu não consegui fazer outra coisa se não fitá-lo em choque. Edward abriu um sorriso maior do que seu rosto e voltou a tomar minha boca na sua, varrendo o susto, a surpresa e qualquer outro sentimento que não fosse o tesão insano correndo sob as veias.
Quando iríamos parar de agir como dois adolescentes experimentando o prazer do sexo pela primeira vez?
Ouvi baixinho o som do clique da máquina fotográfica trabalhando no mesmo segundo em que pendi a cabeça para o lado e deixei Edward sugar meu pescoço daquele jeito que me causava sempre muitos problemas para esconder os resquícios de nossa farra sexual.
Meu corpo subia e descia em ritmo compassado, tendo como trilha sonora o disparo da câmera fotográfica registrando cada um dos meus movimentos.
Oh meu Deus, onde é que isso ia nos levar?
Naquela manhã de inverno extraordinariamente ensolarada, a câmera fotográfica e sua lente poderosa foram as testemunhas do poder que Edward exercia sobre meu corpo, pensamentos e emoções...
[…]
How to be dead – Snow Patrol**
EPOV
"E então, como estou?" Bella surgiu das profundezas do closet sem fim e questionou de forma insegura. Já era a quinta vez que ela trocava de roupa, e pelo andar da carruagem ia trocar mais umas cem vezes.
"Você está linda, Bee." respondi desviando rapidamente os olhos do celular para sorrir para a pequena criatura parada à minha frente com uma expressão agora emburrada. O que foi que eu fiz dessa vez? Não era isso que ela queria, um elogio?
"Você só sabe dizer isso? Porra Edward, presta a merda da atenção em mim!" o aparelho telefônico voou das minhas mãos e espatifou-se no chão; encarei-a espantado e notei as bochechas vermelhas de raiva.
Mas o que tinha dado na Bella pra agir como uma maluca? Ah, espera um pouco. Vinte, vinte e um... Claro, como eu podia ter esquecido disso? Estávamos na fase crítica do mês: a maldita TPM.
Bella se tornava uma verdadeira fera quando estava prestes a menstruar. E eu quase sempre acabava servindo de saco de pancadas até que um belo dia ela acordava sorrindo até para as formigas da cozinha e declarando seu amor por mim para quem quisesse ouvir. No começo achei que ela sofria de algum transtorno bipolar, mas ao poucos aprendi a me acostumar. Não era fácil, muitas vezes precisava respirar fundo e contar até um milhão ou poderia estragar tudo. Geralmente nesses dias caóticos eu ia pra cama bêbado e dormia como um urso hibernando, tudo para evitar discutir com alguém com os nervos à flor da pele.
"O que você quer que eu diga, meu amor? Que essa saia que você está vestindo combina com a cor dos seus olhos?" abri meu melhor sorriso e a encarei fixamente, deixando claro que estava totalmente atento aos seus mínimos movimentos.
"Argh, eu odeio quando você age desse jeito irônico, sabia? Que merda, será que você pode largar de ser criança por pelo menos dois segundos e me ajudar? Isso é importante pra mim, droga!" pelo visto a TPM do mês seria pior do que eu imaginava. Ataque de raiva seguido de choro não era algo com que eu estava acostumado, ainda precisava treinar as técnicas para sair ileso dessa que era considerada a pior das fases.
"É sério, eu já não aguento mais viver desse jeito, tendo que conviver com alguém tão imaturo e egoísta como você, Edward! Você só consegue olhar pro seu próprio umbigo e não está nem aí pro que importa pra mim. Hoje é um dia super importante para minha vida profissional e eu estou nervosa pra caralho. E o que você fez pra amenizar um pouco meu nervosismo? Porra nenhuma! Pelo contrário, conseguiu a proeza de fuder com a minha manhã!" Ah, esqueci de comentar uma coisa: Isabella Swan na TPM tem a boca mais suja que a do mais experiente marinheiro.
"Me desculpe, amor. Você está certa, eu sou um babaca mesmo. Me perdoe, por favor." precisava fazer a linha sou-culpado-de-tudo e deixar que ela ficasse sempre com a razão. Não havia enlouquecido a ponto de colocar em risco minhas bolas ao contrariar Bella na TPM.
"Pff, não me venha com desculpas furadas, Edward Cullen. Eu não sou idiota para cair nelas." se ela não estivesse tão enfurecida eu até teria coragem de dizer que ela ficava uma puta de uma gostosa brigando comigo apenas de saia, meias pretas e sutiã. Mas era melhor não cutucar a onça com vara curta.
Bella bufou de ira quando eu calei a boca e evitei encará-la e voltou a se enfiar dentro do imenso armário completamente bagunçado. Aproveitei a folga e recolhi os restos mortais do meu celular; deixei escapar uma risada quando meus olhos focaram-se na imagem do wallpaper tomando conta da tela do aparelho. Aquela ali sim era a minha Bee, gozando loucamente enquanto eu me perdia dentro dela. Wow, se a máquina mortífera em forma de mulher voltasse pro quarto e visse aquela foto eu estaria perdido. E provavelmente estéril.
Ela acreditava cegamente que eu havia apagado todas as fotos da nossa transa matinal, já que havia me forçado a deletar as imagens do computador – não sem antes alugar meus ouvidos com um sermão irritado. O que ela não fazia ideia era que antes de fazer o que ela ordenara, resgatei minha foto favorita e a gravei no celular; não ia perder uma oportunidade única dessas de ter a imagem de Bella perdida em um orgasmo do qual eu fui o responsável por fazê-la sentir. Eu tinha o direito de ficar com aquela recordação maravilhosa. Fim da história.
Guardei o celular dentro do bolso da calça no mesmo segundo em que Bella surgiu novamente no meu campo visual, usando agora um vestido azul, meias pretas e seus habituais saltos agulha; as mãos nervosas agitavam-se rapidamente enquanto ela arrumava a boina xadrez na cabeça. Seus passos pesados passaram por mim e saíram do quarto e eu entendi que ela estava pronta e que nós poderíamos finalmente sair para o trabalho. Graças a Deus eu iria respirar um pouco de ar puro.
Encontrei Bella no meio da cozinha, devorando uma barra de cereal e bebericando um pouco de leite direto da boca da garrafa. Se fosse eu fazendo aquilo certamente seria taxado de mal educado e sem modos, mas como era ela então tudo bem. Maldita TPM e sua injustiça com os homens!
"Vai almoçar comigo hoje, Bee?" tentei puxar um assunto qualquer enquanto nós descíamos os vários lances de escadas do velho edíficio onde morávamos.
"Por que você está perguntando isso? Por acaso já marcou de almoçar com outra pessoa?"
"Não foi isso que eu quis dizer-"
"Porque se você já tiver um compromisso pode me avisar. Não vou me importar nem um pouco de não me encontrar com você, afinal eu sempre acabo almoçando sozinha mesmo, já que você não consegue prestar atenção em uma palavra do que eu digo." E vai começar tudo de novo.
Eis aqui uma nota mental para os homens: nunca tente entender o que se passa dentro da cabeça de uma mulher na TPM, porque está além de nossa capacidade.
"Não tenho nenhum compromisso e eu vou almoçar com você hoje e prestar atenção em tudo que você disser, tudo bem?" os olhos amarronzados que eu tanto amava me fitaram do jeito mais gélido que poderia existir. Vai começar tudo de novo de novo.
"Juro que se você não parar com a porra dessas ironias eu sou capaz de... nem sei do que sou capaz! Mas pode ter certeza de que não será uma coisa muito agradável pra você. Portanto, faça um favor a nós dois e cale a merda dessa boca, Edward!" Deus, a crise desse mês seria uma verdadeira tortura. Será que eu teria saco para encará-la ou enlouqueceria nas primeiras 24 horas?
Resolvi não criar mais problemas e fiz o que ela pediu. Saímos do prédio no mais absoluto silêncio e passamos quase quinze minutos tentando conseguir um táxi para ela naquele maldito trânsito matinal. Quando enfim conseguimos eu dei graças a Deus por finalmente me livrar do humor nada amistoso de Bella.
"Bom dia pra você, Bee. E boa sorte com a reunião do projeto." eu precisava admitir também que grande parte de todo aquele estresse dela era em razão do trabalho. Hoje seria o dia em que os diretores de produção se reuniriam para anunciar se o projeto de Bella havia sido aprovado pelo cliente ou não.
"Ei, espera um pouco. Você não vai me dar nem um beijo de boa sorte? Será que eu não mereço nem a droga de um beijo seu?" Alguém aí consegue me ajudar a desfazer o nó que ela conseguiu dar no meu cérebro?
"Claro, amor." puxei seu corpo e a beijei lentamente, do jeito que eu sabia que ela adorava. Dito e feito; não demorou mais do que dois segundos até senti-la derretida em meus braços. Ponto pra mim.
"A gente se vê no almoço, Ed. Eu te amo." Bella sibilou com um sorriso enorme no rosto assim que nos afastamos. Entrou no táxi não sem antes suspirar sonoramente e cambalear algumas vezes.
Fiquei parado na calçada do prédio por alguns minutos, ainda tentando entender a mudança de comportamento repentina de Bella. E tudo que conseguia pensar era em uma coisa: será que ela não era mesmo bipolar?
Mulheres, quem será que era capaz de entendê-las?
Definitivamente, eu não era.
[…]
Minha manhã passou como um jato e conforme a hora do almoço ia se aproximando mais eu rezava para o tempo parar. Podem me chamar de covarde ou que seja, mas eu não estava com paciência para aguentar as crises de humor de Bella.
Meu trabalho era uma merda, meus colegas de trabalho eram uns belos babacas e a grana no final do mês era ridícula. E tudo ficava pior porque estávamos à apenas uma semana do Natal, ou seja, eu era obrigado a passar horas seguidas dentro de um estúdio produzindo um bando de atores amadores vestidos de Papai Noel, renas, duendes, o diabo a quatro cantando músicas toscas para campanhas ainda mais toscas. Em resumo, eu odiavaa porra do meu emprego.
Por volta do meio dia recebi uma mensagem de Bella avisando que não poderia almoçar comigo, pois precisava resolver uns assuntos da campanha que estava trabalhando. Mandei uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas a carrasca gostosa sequer teve a decência de me responder de volta.
Sem companhia para o almoço, mas feliz por não ter que aturar os chiliques de uma mulher entupida de hormônios malucos, eu resolvi adiantar meu trabalho naquela droga de produtora e tentar sair um pouco mais cedo. Precisava comprar os presentes de Bella, Alice, Audrey e dos meus pais e enviá-los antes do dia 24. Se Bella sonhasse que eu ainda não havia comprado nenhum presente de Natal estaria em uma encrenca das grandes. Deus que me livre da fúria da baixinha insana.
E por falar em baixinha, no meio da tarde fui surpreendido por uma ligação de Alice. Aquela era realmente uma surpresa, pois minha irmã quase não me ligava, preferindo encher o saco de Bella várias vezes por dia. Só pra constar, eu não estou reclamando. Nem um pouco.
"Como anda meu irmão favorito de todos os irmãos do mundo?" ela saudou em uma voz melosa demais. Alice estava aprontando alguma.
"E aí, Alice?"
"Argh, Edward, que recepção mais broxante. Você não me vê há quase quatro meses. Seja um pouco mais caloroso ou ao menos finja que sente minha falta." Por que as mulheres gostavam tanto de um drama? Mais um dos grandes mistérios femininos.
"Como está a minha mais querida e doce irmã?" fiz questão de usar meu tom mais irônico, aquele que fazia Bella soltar fogo pelas ventas.
"Pff, você é um babaca, sabia? Mas enfim, eu não liguei pra discutir. Tenho uma novidade para te contar."
"Deixa eu adivinhar, Jasper finalmente percebeu que casar com você é uma verdadeira chave de cadeia e resolveu saltar fora, foi isso, né?" gargalhei alto quando a ouvi gritar um "filho da puta" furioso do outro lado da linha.
"Eu não sei porque ainda perco meu tempo ligando pra você, sabia?"
"Não enrola, Alice."
"Ew, eu havia esquecido o quanto você é um saco." não consegui deixar de rir diante desse comentário. Eu não sabia que estava com tanta saudade daquela miniatura irritante. "Então, como eu estava dizendo, tenho uma novidade pra você e pra Bella. Jazz e eu marcamos a data do casamento. A cerimônia será no começo de março naquela igrejinha em que fomos batizados."
"Isso é ótimo, Ali. Parabéns a você e ao Jazz."
"Obrigada maninho, mesmo você sendo um completo idiota fiz questão de que fosse o primeiro a saber. Oh Deus, eu estou tão feliz. Você não faz ideia do quanto eu estou maluca com os preparativos do casamento."
"Acho que faço uma ideia." eu comentei e foi a vez dela gargalhar ruidosamente.
"Ok, preciso desligar porque ainda não liguei para sua querida mulher e se ela descobrir que eu contei a você antes de contar a ela as coisas não ficarão muito legais para mim, então é isso. A gente se fala depois. Ah, eu quase estava esquecendo. Não esqueça do meu presente de Natal! Quero qualquer coisa que comece com 'Cha' e termine com 'nel'." Alice encerrou a ligação antes mesmo que eu pensasse em murmurar algo.
Como Jasper conseguia conviver com um furacão em tamanho reduzido como minha irmã? É, eu não realmente não queria saber.
[…]
Já passava das 6 da tarde quando eu finalmente consegui encontrar uma brecha na agência e fugir do trabalho. Meu dia havia sido insuportável e tudo que eu mais queria era um banho e uma caixa de cervejas. Assim que coloquei os pés fora do prédio em que trabalhava recebi uma mensagem no celular. Era de Bella.
"Comprei tarte de fraises³ e noisette4 pra acompanhar. Precisamos comemorar, tenho uma surpresa pra você. Vem pra casa agora. Beijo, Bee."
Mulheres são mesmo malucas. Hoje cedo Bella estava a ponto de arrancar meus olhos e servi-los no café da manhã e agora estava só doçura comigo. Ela havia até comprado minha torta favorita e estava em casa me esperando com uma surpresa. O que foi que eu perdi nessa história toda?
Segui rumo ao nosso apartamento, mas antes fiz questão de passar em um supermercado para comprar duas caixas da minha cerveja preferida. Se algo desse errado naquela noite eu ainda poderia salvá-la com uma boa bebedeira que me colocaria inconsciente até o dia seguinte.
A noite estava bem fria e assim que cruzei a porta da sala notei a mudança agradável de temperatura. Quente e aconchegante; era sempre bom estar em casa.
"Bee, estou em casa." gritei enquanto arrumava as caixas de cerveja dentro da geladeira.
"Estou no quarto, Ed!" ela gritou animada. Espera, deixa só eu ver se entendi uma coisa.
Bella animada + surpresa + nosso quarto = sexo a noite inteira. Deus finalmente havia ouvido as minhas preces.
Saí correndo da cozinha e entrei no quarto meio sem fôlego – por causa da corrida e do tesão que já crescia dentro de mim. Tudo que eu mais queria era uma transa espetacular para compensar a merda que havia sido aquele dia.
Minha empolgação era tanta que eu demorei quase meio minuto para perceber que a surpresa de Bella não tinha nada a ver com sexo. Mas que porraera aquela que ela tinha nas mãos?
O corpo sinuoso estava deitado no meio da cama e as pernas grossas agitavam-se no ar seguidas vezes. Nas mãos miúdas havia uma espécie de travesseiro roxo e eu instintivamente me aproximei para saber um pouco mais. Um espirro espetou meu nariz e eu obtive minha resposta: Bella haviapirado de vez.
"Hey Ed, olha só o que comprei como nosso presente de Natal antecipado." ela puxou a bola peluda pra longe do travesseiro e a apontou na minha direção. "Diga oi ao papai, Polainas."
Eu ouvi direito o que ela disse? Desde quando eu era pai de um gato com nome esquisito?
"Passei em frente a um pet shop e lembrei daquela nossa conversa sobre bichinhos de estimação. Aí quando vi essa coisinha linda não consegui resistir. Ele não é fofo, Ed?" seu sorriso estava tão aberto e feliz que eu quase caí na tentação de sorrir de volta. Mas antes de conseguir soltei mais uma série de espirros que pareciam não ter fim.
"Você deve ter ficado resfriado. É melhor tirar essa roupa e tomar um banho quente." Bella levantou da cama e deixou o filhote felpudo em cima do travesseiro; olhou-me de forma preocupada e depositou a mão macia sobre minha testa. Bloqueei minha respiração ao sentir alguns pêlos quase invisíveis roçando a ponta do meu nariz.
"Ainda não está com febre, mas por via das dúvidas vou pegar alguns comprimidos."
"Não estou gripado, Bella. Sou alérgico a gatos."
"Desde quando?" ela me encarou de forma incrédula e meio desafiadora. Pro inferno a maldita TPM, eu não ia concordar em manter a porcaria de um gato dentro do apartamento.
"Sempre fui alérgico e você já devia saber disso. Agora é melhor devolver esse gato a loja antes que eu morra de tanto espirrar." As mãos dela pousaram rapidamente em cada lado da cintura fina e eu sabia que aquilo era um mau sinal. Discussão em cinco, quatro, três...
"E por que eu faria isso? Não foi você mesmo quem estava pensando em ter um animal de estimação? Bom, aqui está ele."
"Eu estava falando em um cachorro ou qualquer animal que não solte pêlos a cada segundo. Porra Bella, tira essa droga de cima da minha cama." Eu não conseguia controlar os espirros e já estava ficando puto com aquilo. Bella me fitou com uma expressão contorcida em aborrecimento e logo em seguida eu percebi um brilho estranho brotando de seus olhos. Ah porra, choro não! Que merda!
"Bee-"
"Meu pai falou exatamente isso quando levei para casa um gatinho ferido que encontrei na rua." Sua voz estava visivelmente triste e eu senti vontade de me socar por ter agido como um tremendo babaca infantil. Bella era meio traumatizada com algumas situações da sua infância e eu havia acabado de piorar as coisas. Se ela queria tanto ficar com o gato, por que eu não tinha aceitado logo de cara?
"Fique com a merda do quarto, Edward. Eu e a droga aqui vamos dormir na sala." ela puxou o travesseiro de cima da cama, quase fazendo o gato cair de cara no chão, e saiu do cômodo pisando furiosamente.
Eu era um estúpido e totalmente maluco por aquela mulher e não ia suportar ficar muito tempo brigado com ela. Se tivesse que aceitar o diabo em forma de pêlo para ficar bem com ela, então eu faria.
Segui até a sala para encontrá-la chorando no sofá com o pequeno felino nos braços. Seu olhar direcionado a mim foi aborrecido e magoado.
"Me desculpe."
"Não vou devolver o Polainas, Edward." ela engoliu um soluço e apertou o animal um pouco mais contra peito. Bella estava agindo exatamente como uma menina acuada e eu respirei fundo, tentando ao máximo não deixar minha paciência ir embora.
Minha mãe sempre me dizia que amar muitas vezes era sinônimo de ceder e eu quase todas as vezes achei isso um grande papo de mulherzinha. E no final das contas, Esme estava com toda a razão.
"Você pode ficar com o gato, Bee. Se você quer tanto isso."
"J-jura?" os cílios úmidos bateram uns contras os outros e um beicinho infantil marcou os lábios cheios.
"Uhum." balancei a cabeça efusivamente, de um jeito muito mais exagerado do que deveria. Bella não notou esse detalhe; ela estava ocupada demais desabando em um choro sem controle, que diga-se de passagem me pegou totalmente desprevenido. O que eu fiz de errado agora, meu Deus?
"Ah Ed, v-você é tão... é tão fofo." Eis uma nota destinada às mulheres: nunca, em hipótese alguma, chame um homem de fofo. É simplesmente a coisa mais broxante do mundo.
"E eu amo tanto você." ela atirou-se em meus braços e quase esmagou Polainas – isso lá era nome de gato – contra meu peito. Pelo andar da carruagem daqui a um tempo eu estaria pronto para participar de um concurso de apinéia; prender a respiração para evitar alguns espirros seria minha mais nova tarefa permanente.
"Obrigada por isso, Ed. Eu te amo. Muito. Muito. Muito." ganhei um festival de beijos que foram distribuídos em cada um dos quatro cantos do meu rosto. A bolinha peluda ainda estava apertada entre mim e Bella.
A vontade de espirrar era grande, mas o que começou com selinhos gentis se transformou em beijos de língua afoitos e quentes. Empurrei Bella contra o sofá e rapidamente joguei o gato em cima da almofada. Eu estava com pressa, não ia conseguir esperar até chegarmos ao quarto.
As pernas macias dobram-se em torno da minha cintura e eu suspirei de alívio ao sentir o calor úmido do meio das coxas. Aquilo sim era o tipo de surpresa que eu gostava.
Um gemido cortou o ar e eu sorri contra os lábios de Bella, minhas mãos dentro da calcinha de algodão. Uma sinfonia de sons estranhos me tiraram do transe e eu separei minha boca da dela, extremamente confuso. Que diabos era aquilo afinal?
"Oh meu Deus, Edward. Polainas quase nos viu transando!" Bella me empurrou e eu caí no sofá desorientado. Eu ouvi o que pensei ter ouvido ela dizer?
"Vou levá-lo pro quarto. Não quero que meu gatinho cresça traumatizado por ter visto os pais fazendo sexo como dois animais selvagens." Eu só podia estar mesmo sonhando. Seria engraçado, se não fosse tão assustador.
"Sua torta está na geladeira junto com o café. Volto já já para conversamos sobre a aceitação do meu projeto! Oh Ed, eu tenho tanta coisa para te contar." Bella saltitou para longe da sala com o pequeno diabo em figura de gato e seguiu em direção ao quarto. Fiquei sentado no sofá como o grande babaca que era.
Eu não merecia passar por tudo isso. Realmente não merecia.
Maldita TPM, maldita Bella atiçadora de homens com tesão contido. E maldito gato empata-foda.
[…]
¹Mercado de Pulgas ou em francês Marché Aux Puces é uma espécie de feira ao ar livre que vende de tudo um pouco. É o local favorito dos franceses nos finais de semana, espaço que eles procuram para fazer um lanche ou para fazer compras. Seletos objetos de decoração, itens de antiguidade raros e com qualidade de museus são algumas das opções que se encontra nesse famoso mercado de Paris.
² http : / pt. wikipedia . org /wiki/Linus_van_Pelt
³ Torta de morango em francês.
4 Café Noisette : café expresso com um leve toque de leite quente que faz com que fique bege, da cor da noz.
Continua...

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