13 setembro 2011

LUCKY BELLA - CAPÍTULO 2

Adoroooooooo reconciliações! Masss o que será que podemos esperar desse casal? Só love? Ótima leitura!

Autora: Cella
Classificação: Maiores de 18 anos 
Categoria: Saga Crepúsculo
Personagens: Bella Swan, Edward Cullen, Ement Cullen, Rosalie....
Gêneros: Romance
Avisos: Sexo



Capítulo 2 – Tu es ma came*
*Você é meu vício - trecho da música homônima da cantora Carla Bruni.
BPOV

Sabe quando a vida está perfeita e não há nada no mundo capaz de estragar sua felicidade? Pois bem, era exatamente daquele jeito que eu estava me sentindo. Tinha um trabalho que eu amava e me dedicava seriamente e estava cada vez mais encantada por Paris, com seus cafés espalhados pelas esquinas, sempre de braços abertos para receber aqueles que fugiam do frio intenso do inverno rigoroso. Mas eu sabia que a publicidade e o charme secular parisiense não eram as principais motivações daquela alegria que parecia querer explodir meu corpo a qualquer momento; o responsável por aquele sorriso babaca que parecia grudado nos meus lábios tinha nome e sobrenome: Edward Cullen.
Era meio difícil acreditar na sucessão de mudanças que ocorreram na minha vida desde o momento em que meus olhos cruzaram com os de Edward, naquela noite de outono que agora mais parecia um terrível pesadelo do qual eu tinha uma vaga lembrança. De mulher à beira de um colapso nervoso atolada na mais tenebrosa fossa que se tem notícia, eu me transformei – literalmente em um piscar de olhos – em uma criatura boba, idiota e completamente apaixonada pelo homem que, com um simples suspirar, me fazia tremer mais que gelatina. Bastou uma pequena terminação nervosa entrar em contato com o toque morno e firme de Edward para acabar com a tristeza sem fim que açoitava meu corpo desde o instante que colocara os pés em Paris.
Tudo que havia vivido em quase dois meses naquela cidade totalmente estranha aos meus olhos perdeu o sentido no segundo em que os lábios quentes buscaram os meus em um beijo familiar demais. Ainda havia a mesma sede incontrolável na boca que investia contra a minha, provocante e sensual; ainda havia pressa nas mãos que contornavam minha cintura e me puxavam para junto do peito musculoso de perfume irresistível. Ainda havia desejo flamejando com intensidade nos olhos verde esmeralda, agora acompanhados por um brilho diferente, algo que eu reconheci quase imediatamente e que foi capaz de render meus pulmões e me deixar sem ar por longos segundos. Havia amor trasbordando das pupilas dilatadas pela escuridão noturna e eu sabia que a partir daquele momento nada mais importava, não havia dor, mágoa ou ressentimento que fossem capazes de acalmar a onda de felicidade que dominava meu corpo inteiro.
Um suspiro satisfeito escapou da garganta e novamente eu senti a boca se retorcer naquele típico sorriso abobalhado de pessoas felizes. É, eu era uma pessoa feliz; mesmo tendo passado dois meses desde que Edward voltara à minha vida a aura leve de contentamento ainda permanecia ao meu redor e eu sabia que não iria sumir tão cedo. Nossa vida caminhava na mais perfeita ordem e aquilo era bom demais para que qualquer um pensasse em um dia deixar que acabasse.
Edward e eu havíamos estabelecido uma espécie de rotina, não aquela enfadonha e desgastante, mas o tipo que deixava nossas vidas como um casal muito mais confortável, para ambos os lados. No começo tinha sido difícil encontrar soluções para os pequenos atritos que surgiam ao longo do dia, já que nenhum dos dois sabia como lidar com situações típicas de um relacionamento conjugal. Apesar de sermos amigos há mais de vinte anos e termos intimidade mais do que suficiente era extremamente complicado suportar a convivência do dia a dia. Tínhamos manias, hábitos próprios, ritmos de vida distintos e aprender a aceitar essas diferenças era uma tarefa longa e nada fácil.
Edward vivia reclamando da minha mania excessiva de limpeza, que fora adquirida após anos de convívio com Alice, e de como eu o obrigava a manter uma dieta balanceada, outro hábito adquirido pela convivência, mas dessa vez com Rosalie. Eu sabia que às vezes pegava pesado com ele, mas de alguma forma agir do jeito que minhas amigas normalmente agiam era uma forma de tê-las mais próximas a mim. E ele sabia exatamente o que eu sentia, pois parecia ter adotado a mesma forma de matar as saudades dos amigos que estavam do outro lado do Atlântico. Ele agia como uma máquina de comer porcaria, principalmente quando resolvia se enfurnar no sofá da sala para assistir aquela droga de NBA. Era tão Emmett! De vez em quando me pegava observando-o, até a forma como ele xingava os jogadores, usando o que havia de mais baixo e impróprio na lista de palavrões.
Mas não era só essa aparente falta de educação e bons modos de Edward que fazia lembrar meus amigos de Nova York. Ele sabia muito bem agir como Jasper, o homem mais vil, esperto, safado e de olhos-de-cachorro-carente-e-perdido-no-meio-de-uma-tempestade que já conhecera! E isso sempre acontecia quando eu negava algo do qual ele fazia muita questão; geralmente a porção Jazz que havia em Edward emergia quando eu dizia não à palavra sorvete sempre que ela vinha à tona em nossas inúmeras conversas.
Foi assim da última vez em que ele sugeriu que usássemos o maldito sorvete como brinquedinho sexual. Era uma noite fria – pra não dizer congelante – de sexta-feira e eu chegara completamente exausta do trabalho, ansiosa por um bom banho quente e uma cama confortável em que pudesse capotar no sono e acordar apenas no dia seguinte. Assim que saí do chuveiro e rumei para sala, me sentindo mais leve e relaxada do que nunca, encontrei Edward instalado no sofá brincando com o controle remoto, mudando de canal claramente sem vontade alguma de ver TV.
"Hey Bee, quais os planos pra noite?" o ouvi perguntar assim que eu pulei ao seu lado. Edward sorriu quando me esfreguei em seu corpo como um gato manhoso, tentando ao máximo roubar o calor que exalava dele.
"Nada em especial, na verdade queria muito sair pra beber com você, sabe. Eu acho que já estou sentindo falta do modo de vida americano. Estava mesmo pensando em caçar algum bar que ofereça uma bebida decente que não seja esse maldito vinho francês, mas pelo visto a tempestade vai durar a noite inteira." estiquei o pescoço e desviei os olhos para a janela, suspirando ao ver os flocos de neve salpicando através da noite escura.
"E então o que vamos fazer? Morrer de tédio nesse frio de rachar?" ele questionou enquanto eu apertava meu corpo ainda mais contra o dele, bastante consciente da baixa temperatura que fazia do lado de fora. Senti o estalar dos seus lábios no alto da minha cabeça e soltei uma risada fraca, sabendo que se fosse pra morrer de tédio daquele jeito eu morreria de bom grado.
"Estava pensando em um programa de casalzinho, tipo filme e pipoca, o que acha?" ergui o rosto para encará-lo a tempo de ver a careta engraçada que ele fizera ao me ouvir falar. "Eu sei que é chato e tudo mais, mas estou disposta a negociar. Você escolhe o filme e eu faço a pipoca, que tal?"
"Hum...não vejo vantagem alguma nessa negociação." Edward sibilou em um tom cheio de malícia. Suspirei e me afastei para fitá-lo mais diretamente. Ele me encarava daquele jeito safado disfarçado por um olhar doce, tipicamente Jasper.
"Ah é? Então você sugere o quê?" resmunguei e voltei a enfiar o rosto no peito quente que parecia tentador demais para que eu pensasse em resistir. Aproveitei a deixa e descansei os lábios no pescoço cheiroso, roçando a ponta do nariz contra sua jugular. Deus, como ele cheirava bem!
"Eu posso sugerir? Bom, podemos fazer esse tal programa de casal, posso até mesmo deixar você escolher o filme..."
"Uhum, uhum... e qual o preço que eu pago em troca de tanta boa vontade?" levei uma mordida na ponta da orelha e quando praguejei Edward soltou uma risada e beijou onde havia beliscado minha pele com os dentes, o que me fez pender a cabeça para o lado e oferecer meu pescoço a seus lábios. Isso provocou mais uma onda de risos, dessa vez meus e dele.
"Passei no supermercado hoje e comprei aquele sorvete de creme que você adora." revirei os olhos de forma teatral ao ouvi-lo dizer aquilo.
"Que você adora, não é mesmo? Eu sabia que havia segundas intenções por trás de tanta gentileza." ele desceu as mãos até minha cintura e tratou de apertar com força, me obrigando a colar as costas em seu tórax. Senti o ar faltar aos meus pulmões quando ele afastou meus cabelos e me beijou de leve a nuca.
"Segundas intenções? O que há de mal em tomar um pouco de sorvete como sobremesa?" perguntinha capciosa era aquela. Ainda mais feita naquele tom de voz, grave e extremamente sexy, que se tornava mais irresistível quando sussurrado contra minha pele.
"Sorvete de creme como sobremesa em pleno inverno? Você só pode tá brincando comigo." tentei soar entediada, mas consegui apenas soltar um exalar afetado. Tudo porque Edward estava roçando a boca tenra contra o início da minha coluna, provocando arrepios no corpo inteiro.
"Não, não é apenas sorvete de creme."
"Ué, mas foi você quem acabou de dizer isso e -" meu comentário era totalmente ingênuo e apenas após dois segundos eu entendi o que ele realmente estava querendo dizer. Maldito sedutor!
"Sei o que eu acabei de dizer, mas esqueci de um detalhe muito importante nisso tudo. Eu quero você com sorvete de creme como sobremesa." como eu poderia dizer alguma coisa depois daquela direta que ele acabara de me dar?
"Edward..." pensei em fingir que não havia captado o que ele quis dizer com aquilo, mas não dava pra fingir não entender o óbvio! Além do mais àquela altura eu já sentia os primeiros sinais de que meu corpo logo pegaria fogo e que um pouco de sorvete de creme seria uma ótima solução para refrescar o calor de 5°.
"Acho que vou pular a parte da pipoca e do filme e partir pra sobremesa." comentou ao mesmo tempo em que me obrigava a escorregar pelo sofá para me posicionar sob ele, sem chance alguma de escapar.
Mas pra falar a verdade, quem disse que eu queria escapar?
"É melhor mesmo, antes que eu me arrependa." resmunguei fingindo um tédio que não sentia e recebi como punição uma mordida no queixo, que logo se transformou em um beijo longo e molhado em meu rosto. Oh Deus, como gostava de provocar!
"Acredite em mim, minha linda Bee, tudo que você não vai pensar é em se arrepender." ele sibilou com os lábios nos meus, encerrando de vez a conversa.
Mesmo com o frio intenso e de congelar a alma eu me rendi a Edward e a enfadonha tarefa de suportar um pote inteiro de sorvete durante aquela noite. Era assim que encerrávamos quase todos os dias, trabalhando duro na arte de provocar um ao outro até que ambos chegassem ao limite e caíssem exaustos no sono que durava até o dia seguinte. E quando o dia raiava as provocações estavam de volta, cumprindo um ciclo que eu desejava que nunca tivesse um ponto final.
[…]
Comecei a mudar de ideia sobre o hábito que envolvia noites congelantes e sorvete quando o mês de dezembro chegou trazendo uma onda de tempestades de neve bastante intensas. Era bem difícil conviver com as baixas temperaturas que castigavam Paris e toda Europa, então por causa disso eu passei a rejeitar veementemente a brincadeirinha sexual de Edward, que – ao contrário do que eu imaginava – acatou minha decisão sem grandes esforços.
O motivo da desistência fácil era simples: com a aproximação das festas de fim de ano, o trabalho demandava muito mais empenho e nós acabamos focando todas as atenções para o lado profissional. Edward havia conseguido emprego em uma agência de publicidade de médio porte e passava quase o dia inteiro enfurnado no escritório atolado em trabalho até o último fio de cabelo. Algo semelhante acontecia comigo, já que a produção das peças natalinas me ocupavam por quase vinte e quatro horas, não era nada fácil passar um dia inteiro envolvida com números e possíveis orçamentos viáveis para cada campanha. Muitas vezes me perguntava quais foram as razões que me levaram a escolher o setor de Mídia como especialização. Deveria ter escolhido RTVC¹, tal qual Edward, era um ramo muito mais interessante.
Com essa nova rotina – ou melhor, com a falta dela – Edward e eu fomos obrigados a deixar de lado nossa bolha particular, recheada de noites de sexo abrasador, e voltar ao mundo real que exigia muito mais responsabilidade e rigor. Os impactos desse novo modo de vida que passamos a adotar nos atingiram de forma implacável: quase não tínhamos tempo livre, mal nos víamos durante a semana – sempre atrapalhados pelas agendas que teimavam em não conciliar, concentrados demais para dar importância a qualquer coisa que fugisse dos assuntos relacionados ao trabalho.
E quando tínhamos algum momento livre, preciosas horas de almoço, gastávamos em conversas que rondavam sobre problemas corriqueiros e acabavam caindo em temas profissionais. Era comum passarmos duas, três horas discutindo sobre publicidade sem nem ao menos notar o quanto estávamos nos tornando enfadonhos.
O primeiro a perceber a chatice em que estávamos estagnados fora Edward em mais um dia de almoço regado de assuntos de trabalho.
"... é sério, Ed, eu juro que não consigo entender onde estava com a cabeça quando pensei em ser Mídia. É totalmente estressante, enlouquecedor e -"
"Para, Bella." ele segurou minhas mãos sobre a mesa e me fitou com olhos atormentados. Abri e fechei a boca sem emitir qualquer tipo de som, assustada com sua reação inesperada. "Nosso horário de almoço dura mais ou menos duas horas, não é isso? Você já parou pra pensar por quanto tempo ficamos sem mencionar a palavra 'trabalho' durante essas horas? O que está acontecendo conosco? Desde quando nos tornamos workaholicsconvictos?"
O discurso cheio de questionamentos me atingiu de surpresa e só eu então tomei conhecimento da dimensão da catástrofe que estávamos vivendo. Se continuássemos naquele passo, não demoraria muito tempo para que nosso relacionamento começasse a ruir.
"Meu Deus, você tem toda razão, estamos obcecados por trabalho! Como eu não percebi isso antes? Céus, acho que não lembro a última vez que tivemos um dia de folga, já que mesmo quando temos um tempo livre acabamos gastando-o com assuntos profissionais. Uau, não lembro de ser responsável e certinha desse jeito desde os tempos da faculdade."
"Você? Certinha na época da faculdade?" a pergunta descrente me fez encará-lo com indignação.
"Ei rapazinho, preste muita atenção no que você vai dizer sobre os nossos tempos de faculdade, ou já esqueceu que era eu que sempre trabalhava duro nos projetos que fazíamos juntos?"
"Claro, claro, trabalhava tão duro que sempre fazia alguma coisa errada e era eu o babaca que tinha que correr atrás do prejuízo pra nos salvar, caso contrário teríamos reprovado metade das disciplinas do curso!"
"Como você é ingrato! Eu passava noites inteiras acordada com a cara enfiada nos livros enquanto você gastava seu tempo traçando alguma vagabunda que encontrava nas festas da fraternidade!"
"Ah, então quer dizer que eu sou o vilão no fim das contas? Como se você fosse um anjo de ar virginal que foi passada pra trás pelo amigo aproveitador. Pelo amor de Deus, Bee, quantas vezes eu precisei correr atrás de você e te levar de volta pro teu apartamento pra curar teus porres? Se não fosse eu, você passaria a noite largada no jardim do campus coberta de vômito dos pés a cabeça!"
"Você falando desse jeito faz parecer que eu não passava de uma bêbada que só servia pra encher o saco do amigo fiel e benevolente." ele riu do meu tom irônico e eu fechei ainda mais a cara em uma careta ameaçadora.
"Não estou falando mentira alguma e você sabe disso! Ou já esqueceu dos seus showzinhos todo sábado a noite naquele bar próximo ao nosso prédio? Você era a atração da noite, Bee. Não tinha um cara que não soubesse quem era a morena que dançava em cima das mesas quando tomava umas. Juro que cheguei a pensar que eles iam fundar um fã clube só pra te adorar, você fazia a alegria da galera, sabia?"
"Cala a boca, idiota!" tentei dar um tapa na mão quente que ainda estava sobre a minha, mas ele foi mais rápido e apertou meus dedos de forma gentil, me encarando com um sorriso jocoso, o que me fez bufar e revirar os olhos com impaciência. "Por que você resolveu relembrar essas coisas? Céus, naquela época eu era uma completa imbecil!"
"Todos éramos, esse mérito não é só seu. Acho que eu sou muito mais, porque além de tudo ainda era cego. Sério, eu juro que não consigo entender como não conseguia te ver da mesma forma que todos os homens daquela universidade, como demorei tanto tempo pra enxergar a mulher linda que estava o tempo inteiro ali, bem ao meu lado."
Sorri ao enfim perceber que pela primeira vez após dias estávamos tendo uma conversa que passava longe do assunto trabalho, conversa essa que começava a me deixar com uma sensação de imenso prazer. Baixei os olhos e fitei o par de mãos grandes que nos últimos tempos tinha a incrível capacidade de – com um toque mínimo – incendiar meu corpo inteiro em milésimos de segundos. Soltei um suspiro prolongado e ao voltar a encarar o dono do toque mágico encontrei o verde esmeralda brilhando com intensidade e devotando uma atenção que imediatamente me deixou sem ar.
Droga, ele tinha mesmo que me olhar daquele jeito? Vivia me perguntando até quando meu coração suportaria antes de ter um ataque cardíaco fulminante gerado pelo poder hipnótico dos olhos de Edward.
"Hum... s-sabe, sabe o que eu acho, Ed?" abanei a cabeça de um lado para o outro na tentativa de enviar um pouco de oxigênio para o cérebro afetado ao extremo. "Acho que as coisas tinham mesmo que acontecer desse jeito. Eu realmente não sei o que aconteceria caso algo tivesse sido diferente nas nossas vidas, porque eu acredito que não dava pra ser de outro jeito. Desde sempre eu considero você uma das pessoas mais importantes da minha vida, alguém que eu sempre quis e quero ter comigo pelo resto dos meus dias. Não consigo imaginar um outro caminho que me levasse pra uma direção contrária a sua. O que aconteceu entre nós a partir daquele fim de semana em Miami foi apenas mais uma etapa que deveríamos cumprir, porque-"
"Porque de um jeito ou de outro você é o meu karma e eu vou ter mesmo que te suportar até ficar velha e rabugenta." ele completou com bom humor e eu rolei os olhos mais uma vez, mas não consegui manter a máscara de aborrecimento, que ruiu quando Edward abriu um sorriso que poderia muito bem rasgar a boca bem desenhada.
Nos encaramos por minutos silenciosos e então sorrimos naquele tipo de cumplicidade que só o tempo e os anos de histórias que trazíamos nas costas seriam capazes de decifrar.
"Você demorou pra enxergar a nova realidade do nosso relacionamento, mas o importante é que conseguiu entender e aceitá-la." retomei algum tempo depois, enquanto o observava pagar a conta do nosso almoço quase intocado.
"E como eu poderia não aceitá-la, Bee? Não consigo, juro que tentei – por ser um babaca, devo admitir – mas logo vi que seria muita burrice levar a minha vida sem ter você por perto. Eu não consigo viver sem você, simplesmente não dá. Você é um vício, sabia? Tomou minha vida de tal forma que me deixou sem saber o que fazer quando vi que não te teria mais perto de mim. Não tinha como seguir em frente sem te ter ao meu lado."
A voz era quase sussurrada, mas foi escutada até pela última célula do meu corpo; nossos olhares se perderam em uma interminável conversa que só era interrompida pelo martelar surdo do meu coração, que flutuava no mais puro êxtase.
"All the promises we make, from the cradle to the grave..."² a frase conhecida escapou dos meus lábios – quando já estávamos do lado de fora do café abarrotado – e só tomei consciência de que tinha sibilado algo quando ouvi Edward responder, cantarolando a música marcante.
"When all I want is you..." ele sorriu e beijou o alto da minha cabeça, antes de envolver minha cintura com a perícia que só pertencia aquelas mãos firmes. Suspirei e o imitei, rindo comigo mesma ao constatar que meus braços quase se perdiam nos contornos – muito bem escondidos pelas várias camadas de roupa – do corpo dele.
Seguímos pelas ruas frias de Paris em um silêncio agradável, deixando que nossos corpos tão próximos falassem por si naquela ausência de som calorosa.
From the cradle to the grave… all I want is you. - a canção conhecida ecoava na mente repetidas vezes e sustentava o sorriso bobo que ultimamente me acompanhava onde quer que eu fosse.
[…]
A onda de alegria que parecia impossível de ser diminuída começou a minguar naquela mesma tarde, assim que eu atravessei os corredores da agência e encontrei a única pessoa capaz de me irritar com um mínimo suspiro. Clarice me esperava na sala de produção com um olhar duro que a fazia ser temida por quase todos os setores daquela empresa. Assim que cruzei a porta pálida senti o azul acizentado fixo em minhas costas, cravejando-as com a irritação impiedosa da qual eu começara a me acostumar. Ignorei a loira baixinha por alguns segundos antes de enfim encará-la com atenção, deixando claro que eu não tinha medo dela.
"Algum problema, Clarice?" questionei com impaciência, enquanto remexia na pilha de documentos sobre a mesa de trabalho – um gesto que deixava claro o quanto eu queria me ver livre daquela comedora de croissant o mais rápido possível.
"Muitos, Isabella. Temos uma reunião em meia hora com a equipe de produção da peça da Calvin Klein e você nem sequer apresentou as pesquisas de mídia e os orçamentos, mas isso já era de se esperar, não é mesmo? Vocês americanos não são muito acostumados com a palavra pontualidade." a loira baixinha despejou as palavras como um foguete e eu inspirei seguidas vezes, lutando contra o impulso de voar no pescoço fino e estrangulá-la até deixá-la roxa e sem forças.
"Britânicos são pontuais, Clarice. E pelo que me consta nem eu nem você somos adoradores da Rainha, portanto não me venha com seus sermões." abri uma das gavetas sob a mesa e retirei uma pasta de couro, estendendo-a na direção na naja, que me lançou um olhar cheio de orgulho e desdém. "Aqui estão os orçamentos e as pesquisas, deseja mais alguma coisa?"
"Americanos vivem com os reis na barriga e ainda não conseguiram entender que para nós, esse rei que vive dentro de cada um de vocês não passa de uma bela escória. Sua insolência ainda vai chutar esse seu traseiro enorme e te mandar de volta para aquele antro do qual você nunca deveria ter saído." Clarice falava em um tom baixo, mas extremamente carregado por um ódio quase irracional, o que elevava seu sotaque irritante a níveis insuportáveis.
Os olhos muito claros estavam injetados de raiva e ela analisava cada pequena mudança na minha expressão. Senti as mãos travadas e o desejo forte de socar o rosto de porcelana que me fitava com ar de superioridade, mas consegui me conter. Respirei fundo mais uma vez e abri um sorriso carregado de falsa gentileza.
"Isso pode perfeitamente acontecer, mas de uma coisa poder ter certeza: não vai ser você que vai chutar o meu lindo traseiro pra fora daqui. Lembre-se de uma coisinha, você é apenas a assistente de Bernard e pelo que me consta é ele o meu chefe, é a ele que eu devo satisfações, não a sua simplesassessora. Agora faça o favor de cuidar do seu trabalho e deixe que do meu cuido eu. Você já puxou o saco do chefe hoje? Se não, que tal fazer isso agora? Assim você arruma algo pra fazer e para de encher a porra da minha paciência! Tenha uma boa tarde, Clarice."
Por um momento eu jurei que a erva venenosa avançaria sobre mim e nós rolaríamos pelo chão como duas selvagens, mas Clarice era prudente demais e nunca deixaria cair sua máscara de boa moça que sustentava com grande esforço. Sua última reação foi me lançar mais um de seus intermináveis olhares fuzilantes antes de marchar pra fora da sala.
A loira havia deixado bem claro sua antipatia logo em meu primeiro e único deslize como funcionária da empresa, um projeto desastroso que refletia o caos que estava instalado em minha vida na época. O episódio catastrófico foi rapidamente superado, quase totalmente esquecido não fosse pelas constantes lembranças em forma de comentários ferinos e brilhantemente sutis por parte davadia insolente.
O celular vibrando no bolso da calça pesada que eu vestia desviou momentaneamente minha atenção para longe dos pensamentos nada gentis que surgiam contra o demônio de cabelos platinados, envolvendo desde torturas medievais à métodos de envenenamento letais. Empurrei a franja longa demais para longe do rosto e soltei um suspiro de alívio ao ler no visor do aparelho o nome de quem estava me ligando àquela hora do dia.
"Como vai Coco Chanel, desde quando você se tornou tão ingrata a ponto de esquecer dos amigos?" a pessoa do outro lado da linha teve pressa em dizer, me fazendo gargalhar com vontade.
"Rose, OMG, que saudade!"
"Você com saudade? Pff, não deve sequer lembrar do meu rosto, o que eu não seria totalmente sua culpa, já que à essa altura da gravidez eu mais pareço uma melancia com pernas."
"Deus, quem é você e o que fez com a minha amiga mais legal? Não é possível que Alice tenha feito lavagem cerebral em você em apenas quatro meses!" a voz rouca borbulhou contra meu ouvido e eu esqueci completamente toda raiva e irritação que estava sentindo a segundos atrás. Como era bom ouvir um timbre conhecido e que eu amava tanto.
"Alice, humpf, nem me fale esse nome. Desde que você partiu, Alice não me dá um segundo de paz. Ela praticamente se mudou pra minha casa e passou a controlar minha vida com um rigor que faz Hitler parecer o Papai Noel. As coisas pioraram quando Jasper finalmente decidiu pedi-la em casamento, desde então minha vida se resume a visitas a lojas e ateliês da alta costura e quando tento escapar ela me arrasta de volta pra mais lojas, porque sempre falta alguma coisa para o enxoval, dela e do bebê. Nem Emmett consegue conter aquele meio metro de pólvora pura!"
"Onde ela está agora? Por favor, Rose, não me diga que você afogou Alice na pia da cozinha!" meu comentário a fez soltar uma risada muito alta que logo se transformou em uma gargalhada que parecia não ter fim.
"Se minha gravidez durasse mais quatro meses eu juro que faria exatamente isso, mas não se preocupe, Alice continua mais viva – e elétrica – do que nunca. Eu a obriguei a correr até a doceria pra comprar alguns donuts, assim poderia ter algum tempo pra te ligar. Esme comentou uns dias atrás o quanto Edward fica irritado com as ligações exageradas que Alice faz pra você todos os dias."
"No mínimo vinte ligações por dia, dá pra acreditar nisso? Às vezes sinto pena de Jazz, será que ninguém o alertou da cilada em que está prestes a se meter?"
"Pobre Jasper." Rose soltou um suspiro compadecido. "E o pior de tudo é que a partir do momento que aquele toquinho de gente olha com um pouco mais de atenção, você sabe que vai amá-la pra sempre, mesmo tendo plena consciência de que ela é o ser mais irritante da face da Terra."
"É, você tem toda razão. Alice é adoravelmente irritante." Rose concordou e eu desviei os olhos para o relógio no pulso, calculando o tempo que ainda me restava antes da reunião.
"Estou te atrapalhando?" ela perguntou como se estivesse bem ali à minha frente. "Claro que estou, não é mesmo, você está em pleno horário de expediente."
"Não se preocupe, Rose, tenho uma folguinha de dez minutos antes de ir para mais uma reunião longa e muito chata. Mas me diga, como você está?"
"Está com problemas no trabalho, Bells?" ela me ignorou quando tentei mudar de assunto e eu não pude deixar de sorrir com aquilo. Rosalie me conhecia como ninguém e em alguns momentos isso era assustador.
"Ando trabalhando como uma louca, Rose. Quase não tenho tempo de respirar, mal vejo Edward, que também anda ocupado demais com assuntos profissionais. Além disso, tenho que aturar um ser cem vezes mais irritante que Alice, que tem o prazer de pegar no meu pé o dia inteiro."
"Ora, Bella, pensei que fosse algo mais grave. Seus problemas são tão fáceis de serem solucionados." era agora que minha conselheira oficial – e responsável por quase todas as roubadas que já me meti na vida – entrava em cena. "Tire um dia de folga do trabalho, obrigue Edward a fazer o mesmo e passe o dia largada na cama, gastando as energias com umas boas sessões de sexo D."
"Sexo D? OMG, Rosalie, você me dá medo quando começa a citar esse alfabeto que só uma mente ultra pervertida poderia ser capaz de criar."
"Shh, Bella, deixa de falar besteira e presta atenção. Sexo D, querida, não é nada mais que uma transa devassa e delirante. É disso que você precisa. Uma boafoda que te faça ver estrelas em um piscar de olhos."
"Rose, você realmente me dá medo."
"Quanto a versão exagerada de Alice acho que você não deve se preocupar. Na verdade depois de experimentar algumas horas de sexo D, você não vai se preocupar com nada! Disso eu tenho certeza absoluta."
"Certo, Dra., será que agora podemos mudar de assunto? Você ainda não me disse como está? E a minha sobrinha, como anda se comportando aí dentro dessa barriga de balão?"
"Sua sobrinha, e afilhada, é um anjo, um verdadeiro poço de bondade, que não me dá trabalho algum. Acho que ela já percebeu o quanto eu sofro nas mãos da tia com overdose de adrenalina." Rose imediatamente alterou a voz, que se tornou mais doce, quase como se ela estivesse prestes a cantar uma canção de ninar. "Ando contando as horas pra poder ver o rostinho dela, tenho certeza de que será parecida com Emmett, sabe, com as covinhas e o olhar traquina. Ainda bem que o parto já está próximo, daqui a duas semanas."
"Isso é maravilhoso, Rose. Você sabe o quanto Edward e eu queríamos estar aí pra te apoiar nesse momento-" senti os olhos turvos pelas lágrimas e arranhei a garganta pra travar o choro que já começava a dar sinais de vida.
"Vou sentir falta de vocês." ela sibilou baixinho e isso foi o estopim para que o líquido salgado brotasse dos olhos sem controle. Rose fungou e nós rimos ao mesmo tempo, embargadas pela saudade forte que pulsava contra o peito.
"Argh, eu preciso desligar. Você precisa trabalhar e eu tenho que pensar em mais formas de tentar manter Alice longe de mim por mais algumas horas."
"Que tal dardos tranquilizantes? Parecem ser bem eficientes." ela abafou uma risada diante do meu comentário e eu mandei pra longe as lágrimas que ainda insistiam em cair.
"Eu te amo, sabia disso?"
"Sempre soube, eu te amo também. Você e essa criaturinha que está prestes a chegar."
"A gente se fala, Bells. Ah, não esquece de falar para o Edward sobre o sexo D, acredite em mim, é milagroso!" Rose encerrou a ligação e eu fiquei um bom tempo sentindo a saudade apertar o peito a ponto de sufocar, provocando a louca sensação de riso e choro que parecia não ter fim.
[…]
As horas seguintes foram frenéticas, mergulhadas nos diversos problemas gerados durante o processo de criação de uma campanha publicitária. Estava me sentindo exausta e precisava forçar o cérebro a prestar atenção em cada palavra dita naquela reunião – muito estafante para os meus nervos estressados. Quando Bernard anunciou o fim da conversa – e consequentemente o encarramento do expediente – eu fui obrigada conter o impulso de gritar em alívio. Não via a hora de chegar em casa e correr para os braços de Edward.
Já estava escapando da sala de reuniões quando ouvi a voz de sotaque acentuado chamar minha atenção.
"Belle, será que podemos conversar por alguns minutos?" imediatamente os olhos ferinos de Clarice focaram em mim e eu fechei os olhos para não revirá-los de tédio.
"Claro, Bernard, há algo errado? Por acaso minha parte no trabalho não te agradou?" comecei a ficar agitada diante da possibilidade de ter falhado em algum ponto, apesar de ter certeza de que tinha feito tudo exatamente como o esperado.
"De maneira alguma, o que quero tratar com você é justamente o contrário. Estava dizendo a Clarice ainda pouco que realmente achei magnifique suas intervenções durante a reunião e tenho certeza de que você seria perfeita para coordenar a próxima campanha da Calvin Klein." o comentário do meu chefe me pegou totalmente desprevenida e eu acabei engasgando com a água que estava bebericando. Bernard soltou uma pequena risada ao perceber minha evidente surpresa com o que ele acabara de falar.
"E-está falando sério? E-eu não posso acreditar, quer dizer, a campanha já tem um diretor, além disso, eu sou apenas a mídia dessa agência, tem certeza de que me quer como coordenadora de uma peça tão importante como essa para a Publicis?"
Os olhos azul-piscina me encararam com um leve brilho e os cantos enrugaram para acompanhar o sorriso tranquilo que despontava nos lábios de Bernard. Com pouco mais de quarenta anos meu chefe poderia ser descrito como o típico francês, charmoso e encantador por natureza. Era comum ouvir suspiros femininos a cada vez que ele cruzava os corredores da agência.
"Certeza absoluta, Belle. Clarice tem razão em dizer que você é revolucionária e cheia de ideias inovadoras e esse é o momento certo para colocá-las em prática. Tenho certeza de que você é a pessoa certa para encabeçar a criação de uma peça que precisa ser grandiosa e ousada. Não consigo ver outra pessoa além de vocêà frente dessa campanha."
Sentia o peito arfando e tinha absoluta consciência do sorriso enorme que rasgava meu rosto de ponta a ponta. Fiquei um bom tempo congelada feito um ser inanimado, encarando o rosto de Bernard que me fitava com atenção, provavelmente intrigado pela minha falta de comunicação verbal.
"E então?" ele tossiu tentando chamar minha atenção.
"O q-quê?" a confusão mental não passou despercebida por meu chefe e ele abriu um amplo sorriso, certamente achando muito engraçado o meu comportamento muito idiota.
"O que me diz da proposta, Belle? Aceita coordenar a campanha?" Bernard me encarou com atenção, subitamente muito ansioso pela minha resposta.
O que eu poderia dizer a não ser um sonoro sim? Meu Deus, aquela era a oportunidade da minha vida, o momento pelo qual eu batalhava desde o momento que pusera os pés em solo francês. Minha carreira estaria dividida em antes e depois daquele trabalho, e eu sabia que teria que dar meu sangue para fabricar a melhor peça publicitária da história da empresa.
"Claro que eu aceito, Bernard. Será uma honra fazer parte de um projeto tão importante, não só para mim, mas para o grupo inteiro." sorri largamente e aceitei o aperto de mão que ele me oferecia, selando assim o acordo que tínhamos acabado de estabelecer. "Não tenho palavras para agradecer, obrigada por confiar um trabalho tão importante como esse em minhas mãos, eu vou fazer de tudo para que a campanha seja a melhor de todos os tempos." não consegui esconder o tom efusivo que jorrava entre cada palavra pronunciada.
"Très, très bon, eu sabia que você aceitaria. Clarice ficará a sua inteira disposição e a ajudará no que for preciso. Vai gostar de tê-la na equipe, Belle,tenho certeza de que vocês formarão um grande time e farão um trabalho maravilhoso."
Em um segundo meu sangue parecia ter sido drenado do corpo para logo em seguida emergir com força total e se concentrar em grandes quantidades em meu rosto. Meus olhos dispararam para a figura parada à minha frente a poucos metros de distância e por uma breve fração de segundos nós trocamos olhares ferinos e raivosos. Clarice meneou a cabeça lentamente e eu apenas a encarei, certa de que aquele tinha sido o prelúdio para mais um round daquela luta imperceptível para a maioria. Se ela queria guerra, era guerra que nós teríamos. E eu não estava nem um pouco disposta aperder.
[…]
Voltei pra casa oscilando entre uma alegria extrema por ter conseguido a chance profissional da minha vida e a vontade cada vez mais forte de estourar os miolos da bruxa loira - meu mais novo inferno pessoal. Clarice havia lançado sua jogada de mestre e agora dedicaria todo tempo paraatazanar minha vida até que eu pegasse o primeiro avião de volta à Nova York. Mas agir desse jeito estava fora dos meus planos e eu agora seria capaz de tudo em nome daquela campanha, apenas para ter o prazer de esfregar meu sucesso bem no meio da fuça da loira azeda.
Para minha grande frustração, encontrei o apartamento vazio totalmente inundado pelas cores fracas do poente, que lutava com bravura para sobreviver em meio ao amontoado de nuvens cinzentas que dominavam o céu inteiro. Decidi deixar todos os problemas do lado de fora e focar minha atenção no banho quente que eu tanto desejava.
Abandonei o casaco pesado e a bolsa no chão da sala e segui em direção ao quarto, me livrando também dos saltos e das meias. Rumei para o banheiro e larguei a calça de tecido grosso, o suéter e a lingerie de algodão que ainda me cobriam.
A água morna batendo contra os músculos tensos do meu corpo provocaram uma massagem deliciosa e eu gemi de prazer ao sentir a tensão do dia cheio desanuviando aos poucos, até sumir quase totalmente.
"Por um momento pensei que você tivesse começado a festa sem mim. E eu jurava que teria um trabalho árduo pra te seduzir, mas vejo que me enganei totalmente. Vai ser muito mais fácil do que eu imaginei." o timbre rouco tomou conta do banheiro imerso em vapor e eu saltei pra fora do box para envolver o dono da voz excitante em um abraço esmagador.
"Eu consegui, Ed, consegui a melhor oportunidade de trabalho da minha vida inteira. Eu vou... eu vou..." as palavras se perderam dentro da mente quando senti a palma da mão grande escorregar até a curva do meu bumbum e apertá-lo de leve.
"Você vai?" Edward encorajou de forma tranquila sem deixar de apalpar meus quadris.
"Oh merda!" resmunguei antes de literalmente atacá-lo com um beijo faminto e desesperado. Logo em seguida, senti minhas costas se chocarem contra o azulejo da parede e as pernas serem içadas por mãos rápidas, posicionando-as estrategicamente sobre o quadril forte. Como raciocinar com clareza com uma língua devastando cada canto da minha boca?
"E-eu... oh Deus, eu... c-consegui... a conta de uma campanha... uma c-campanha da Calvin... Céus, Edward... Clavin Klein." a frase demorou uma eternidade para ser pronunciada por um único motivo: a boca sedenta distribuindo mordidas e sugadas nos meus seios, uma tortura lenta e deliciosa.
"Isso é maravilhoso, Bee, mais um motivo pra comemorarmos em grande estilo." ele subiu os lábios pelo meu pescoço, deixando um rastro de lambidas que fizeram minha pele borbulhar de calor. Gritei de surpresa quando senti o corpo novamente ser erguido, dessa vez pra fora do banheiro. Travei as pernas na altura das coxas musculosas e deixei que ele me levasse em direção ao quarto.
O caminho até a king size macia foi feito em tempo recorde, pontilhado por beijos longos que deixavam meu corpo tal qual uma grande massa demarshmallows. Edward se livrou com impaciência das roupas encharcadas e se posicionou sobre mim, me provocando com os lábios, mãos, dentes, língua... Oh Deus, com a língua,principalmente com a língua!
Já o sentia pronto para invadir meu corpo e levar pra longe qualquer pensamento que ainda restava na mente; o suor que arranhava nossas peles se perdeu em meio as gotas de água que ainda brilhavam sobre as epidermes bastante sensibilizadas.
Fechei os olhos e suspirei em antecipação ao momento que aguardava com ansiedade. Mas o toque estridente do telefone quebrou a aura puramente sexual e afastou de vez o instante mais esperado por mim e por Edward. Ele ainda tentou ignorar o barulho irritante, mas foi impossível continuar.
"Atende logo essa droga de telefone, Edward, antes que eu entre em colapso." havia um bolo enorme travando o ar em minha garganta e eu ergui o corpo sobre os cotovelos em busca de um pouco de oxigênio respirável.
Ele praguejou seguidas vezes antes de amassar o telefone entre os dedos e atender a ligação. A careta aborrecida desapareceu quase imediatamente do seu rosto, cedendo lugar a uma expressão preocupada. Pulei da cama em um único movimento e o encarei, confusa e apreensiva.
"O que foi? O-o que aconteceu?"
"Era Alice no telefone, Rosalie-"
Meu corpo voltou a receber uma forte descarga de tensão e eu passei a massacrar o chão com passos agitados e nervosos.
"O que houve com Rosalie, Edward? Me diz de uma vez por todas o que aconteceu!"
"Rosalie sofreu um acidente, caiu da escada da casa dela e teve que ser internada às pressas. O bebê sofreu o impacto do tombo e os médicos decidiram fazer um parto de emergência, caso contrário a criança pode correr sérios riscos de morte."
Um zunido alto envolveu meus ouvidos e eu deixei que as pernas desabassem meu peso sobre o colchão macio; o fluxo de atividade cerebral era frenético, mas tudo em que eu conseguia concentrar a mente era em uma única frase, que passou a ser repetida como um mantra:
Não pode ser, não pode ser...
[…]
¹RTVC – sigla para Rádio, TV e Cinema. Cuida da produção da peça publicitária para as mídias audiovisuais. Produção, edição e gravação são suas principais responsabilidades.
² Trechos da música "All I want is you" do U2.
Continua...

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