Classificação: Maiores de 17 anos
Autora: Lore Volturi
Gênero: Romance/Drama
Aviso: Sexo/Lemons
Capítulo 12
Kristen POV
Na contagem de pesadelos: 223°
Meu aniversário de dezesseis anos
Olhei a merda meu novo porsche, vermelho cereja.
Minha mãe não conseguia tirar os olhos de mim, achando que aquilo iria lhe render o prêmio de mãe do ano.
-Você gostou do seu presente querida?
-Amei! – Menti com o maior sorriso falso.
Na mesma noite eu bebi o uísque mais caro dela e bati o carro em uma árvore.
Livraria Stoke Newington, 19 de novembro de 2009 – 16h30min
O movimento estava indo bem na livraria esses dias, eu me mantinha ocupada ao máximo. Decidi que era melhor do que ficar pensando em um inglês que estava em um prédio a dois passos dali ou na mãe dele que já estava passando bem e fora do hospital.
Queria pensar em coisas como leite quente, travesseiro e uma cama macia. Como eu sentia sono, como eu estava evitando dormir para não encontrar aquelas imagens. Desde que soube da morte da Nikki fico esperando pelo pior.
Quantas vezes eu disquei o número do Jack e desliguei. Não era boa idéia, e se Ele tivesse apagado o Jackson também? O que eu poderia fazer? Odiava me sentir assim, odiava ver o que Londres tinha feito comigo. Eu tinha me deixado amolecer, tinha esquecido como era ter estabilidade, como era ter uma irmã, como é ter alguém que se preocupa com você.
A Ashley era família.
E também tinha o Rob. Por mais que eu não quisesse, ele era presença constante nos meus pensamentos.
Idiota Kristen!
Deus, o que eu deveria fazer? Eu não devia ter me aproximado tanto.
Mas ele tinha aquele jeito de menino, aquela honestidade rara, aqueles olhos...
Aqueles olhos!
Eu não ia suportar um olhar julgador, que ele iria me lançar se soubesse onde estive, as coisas que fiz, a aberração que sou.
Por isso agora me mantinha distante e ele também, como se finalmente tivesse caído em si, o Rob não me ligava e nem mandava mais mensagens.
Às vezes pegava café na cafeteria do lado, mas sempre com pressa e nunca olhava nessa direção. Não vou dizer que gostava, machucava sim. Do mesmo jeito que machucou quando ele praticamente me expulsou da cama dele naquele dia.
Todos os dias eu tentava me convencer de que era o certo a se fazer, pra mim e pra ele.
Dá pra notar o progresso? Eu estava fazendo uma coisa certa, devia ser influência da Ashley.
Todos aqui eram tão diferentes de tudo que eu estava acostumada e era bom, e apesar de alguns baixos, eu estava... quase feliz.
Olhei o tempo frio lá fora, o céu claro na tarde, sem sol e ameaçava começar a nevar aquele final de semana. Neve!
Eu não sabia o que era neve há tanto tempo.
Olhei a Ashley com um grupo de crianças na sessão infantil. Era engraçado, um dos garotinhos estava com a boca suja de giz de cera.
-Não querido, você não pode colocar isso na boca.
Ashley era uma santa, fazendo um extra para aquela diretora do colégio que explorava ela.
Arrumei mais alguns livros na prateleira, eram aqueles de auto-ajuda. Os piores. Não estava prestando atenção na porta da loja, apenas ouvi o sino tocar anunciando que alguém tinha entrado.
-Boa tarde, eu procuro por uma senhorita chamada Kristen.
Reconheceria aquela voz em qualquer lugar, apesar de só ter escutado poucas vezes.
Não tinha certeza se eu queria virar para encarar aquele rosto. Ashley resolveu tomar a frente em alguma coisa pela primeira vez na vida. E foi justo agora.
-Elizabeth, Oi... Ela está aqui. – Ash, veio segurando um garotinho no colo com a boca toda suja de giz. -Onde é o banheiro Kristen?
-Ali no final à direita. – Apontei o caminho pra ela.
A mulher que eu temia andou em passos elegantes até mim, vestindo um casaco que provavelmente custava quatro vezes mais que o meu salário.
-A senhora não deveria está descansando?
-Oh querida não se preocupe, estou com o motorista do William, estava tão perto daqui que resolvi dar uma passadinha.
William era o Billy, Tio/Chefe do Rob. Ele tinha mencionado várias vezes, como antes de ser chefe do Rob, eles eram muito próximos. O Billy era irmão do pai do Rob e parecia que não tinha superado muito bem a perda do irmão, virando um carrasco e vivendo para o trabalho. Imaginei como ele tinha tirado um tempo no meio da tarde para falar com a Liz. Ela devia ter um poder de persuasão e tanto.
-A senhora não precisava...
-Oh, minha querida! Sem senhora, por favor... Me chame de Liz! E eu tinha que deixar isso.
Ela me passou dois convites.
-O que é isso?
-São convites para a nossa reunião de família anual, ai tem toda a programação do final de semana. Não se esqueça de levar um vestido bem bonito para o jantar no domingo, nós costumávamos dá um jantar ao ar livre, mas ao que parece vai nevar esse fim de semana, então vamos fazer na casa do lago.
O que diabos essa mulher estava falando?
-A senh... Desculpa! Liz, mas esse convite é para família. Eu não posso ir.
-Kristen, minha querida. Eu faço questão! Vão amigos da família também, o Thomas vai sempre com o Rob. Quem sabe esse ano eles não fiquem entediados já que duas americanas adoráveis vão se juntar a nós.
Eu não sabia o que falar, o que eu deveria dizer? Fiquei olhando de boca aberta pra ela.
-Ótimo! O Thomas disse para eu repousar e cá estou, então vou indo. Vejo vocês duas amanhã.
E assim ela foi embora.
-Amanhã? Do que ela tava falando?
Ashley tinha voltado do banheiro com o garotinho, de rosto limpo.
-Aparentemente, nós vamos para Barnsley, passar o fim de semana.
Entreguei os convites para a Ashley e voltei a arrumar os livros.
X
Ashley ficou comigo até eu fechar a loja. Ela parecia animada com a idéia de irmos para Barnsley.
-Nós temos que comprar vestidos.
Os olhos dela ainda estavam enormes, olhando e a essa altura decorando toda programação do fim de semana.
-Oh Deus, você quer voltar com o Tom. Não é?
-Hãm? O quê? Eu não disse isso, só que nós voltamos a conversar e...
-Ok Ash!Eu já sei aonde isso vai dar.
Ela deu um sorriso.
Fechei todas as portas e nós fomos andando até o metrô.
-Mas e você? Não vai voltar a falar com o Rob?
-Não o perdoei Ash, além do mais... Eu não sei se é certo fazer isso.
-Kristen, você nunca pensa nessas coisas. – Ela ficou na minha frente. – Lembra quando nós tínhamos nove ou dez anos, não lembro exatamente e a sua mãe disse pra não se aproximar daquele balanço na árvore, por que podia quebrar a qualquer momento?
-Lembro, mas o que isso tem haver?
-O que você fez?
-Eu continuei insistindo, depois de duas semanas arrebentou e eu quebrei o pulso. Eu não entendo aonde você quer chegar Ash.
-O meu ponto é que você faz o que tem que fazer, o que tem vontade de fazer sempre foi assim.
-Mas o que eu fiz, foi errado. Eu quebrei o pulso.
-Só que você está esquecendo um detalhe, se você não tivesse quebrado o pulso, o Freddie não teria assinado seu gesso e você não teria ganhado o seu primeiro beijo. Vê? Tudo acontece por um motivo.
Eu fiquei chocada, olhando para a cara otimista da Ashley.
Fiquei o resto do caminho pensando nisso, eu tinha que admitir meus sentimentos pelo Rob eram mais fortes do que eu imaginava. Eu o queria proteger de mim, deitada na cama foi que eu percebi a saudade que sentia da voz dele ou só de ouvir a respiração dele do outro lado.
Ele era tão inconsciente de quão especial era.
E me via como essa garota incrível que tinha salvado a mãe dele.
Se ao menos eu tivesse alguma garantia de que os demônios que eu guardava não fossem assustar o primeiro cara que eu gosto de verdade.
Se eu não guardasse a imagem do rosto dele, com expressão de decepção, na minha cabeça, junto com as palavras ‘louca e instável’.
Me senti pequena.
Não estava acostumada a lidar com essas dúvidas.
De certa forma, proteger alguém.
Adormeci por quinze minutos e os pesadelos me invadiram de novo.
Como era rotina agora no meio da madrugada eu arrastei meu lençol e travesseiro para a cama da Ashley. E ela estava lá, nem abria o olho, só dava espaço pra eu me deitar.
Depois disso eu conseguia quatro horas de sono tranquilo.
X
Quando acordei não olhei a hora devia ser cedo ainda, procurei pela casa e não tinha sinal de Ashley pela casa. Fui tomar meu café da manhã, no mínimo ela tinha caído em si e desistiu da viajem.
Peguei meu cereal e sentei na frente da TV.
Pulei todos os canais de filmes românticos, tão idiotas, parei no canal de desenho animado e esperei que fizesse o milagre de mudar meu mau humor matinal.
Depois de duas tigelas cheias de cereal de chocolate, a Ashley entrou feito um furacão pela porta, com dois cabides, no que pareciam dois vestidos, dentro de um saco plástico preto.
-Você não tá arrumada?
-Pra quê? O que é isso?
-Nós vamos sair daqui à uma hora, anda... arrume as suas coisas. Já liguei para o seu chefe e ele já deu a sexta feira de folga. Ah e comprei dois vestidos pra nós usamos no tal jantar. Meu presente pra você, espero que goste.
Antes que eu pegasse para ver:
-Não, você vai ver lá.
-Ashley, desculpa...mas você não tem um bom senso para moda.
Ela fez uma careta.
-Bem, dessa vez você vai ter que confiar em mim.
Não fiz quase nada, ela arrumou nossas coisas por nós duas. Tomei um banho, coloquei uma camiseta de banda, jeans, umas botas pretas, um suéter, cachecol, uma boina e mais um casaco. Quando se trata de frio na Inglaterra, nunca é brincadeira.
Ashley comprou duas passagens de trem, que segundo ela era mais divertido e rápido pra chegarmos a Barnsley. Foi incrível, realmente ver as paisagens mudando e era tão rápido, apesar das paradas.
Nós ficamos jogando baralho no caminho, a Ashley fazia tudo pra eu não ficar com cara de entediada ou com sono.
Quando nós paramos na penúltima parada, eu comecei a me sentir estranha. A ficha começava a cair, a família toda do Rob ia estar lá. Eu não sabia o que esperar, o que eu estava fazendo?
-Ashley, nós temos que voltar!
-O quê? Não, Barnsley é a próxima parada. Nós já chegamos aqui.
Ela apontou a placa que dizia que estávamos a 24 milhas da cidade.
-Eu não quero ver ele, não quero ver o Rob.
Eu podia ouvir as palavras idiotas e covardes saindo da minha boca.
-Por que não?
-Por que eu fico completamente confusa do lado dele, eu não sei... – Respirei fundo. O trem voltou a andar de novo, agora não tinha como descer. – Eu não sei se fico com raiva ou se abraço ele. Odeio isso.
Ashley muito calma, me segurou e falou.
-Vamos ficar só um dia, se você não se sentir confortável. Nós voltamos embora, certo?
Fiz que sim com a cabeça.
-Nós estamos indo pela Elizabeth, pense nisso.
Era uma bela mentira, nós não estávamos indo pela Liz. Estávamos indo pelos dois idiotas.
Quando finalmente o trem chegou a Barnsley, eu pude notar como era diferente de tudo. Tinha muito mato para todos os lados, não tinha prédio, nada, no máximo uma pousada de dois andares.
Nós só precisamos falar o nome Pattinson, que o taxista já sabia onde era. Ou era uma cidade muito pequena, o que não parecia ser ou...
Ou aquilo.
Não acreditei no que os meus olhos viram quando em menos de dez minutos chegamos em uma casa, ou melhor uma mansão que era duas vezes o tamanho de quarteirão.
-Mas que merd...
Não continuei a frase, pois fiquei chocada demais.
O taxi entrou na propriedade dos Pattinson, depois que nós informamos os nossos nomes e eu e a Ashley ficamos de boca aberta com o tamanho do lugar.
-Ok, eu não estava esperando por isso. – Ashley comentou finalmente.
-Ele nunca me falou nada sobre isso.
Parecia longo o caminho da entrada até a casa, quando o táxi finalmente parou. Olhei para fora e a Elizabeth, nos esperava sorridente.
-Maravilha, vocês vieram minhas queridas.
Podia ver a Ashley ficando completamente vermelha, mas continuei sendo o mais natural possível. Todos que já estavam ali olharam para nós duas, as intrusas. A Liz, veio nos cumprimentar e nos apresentou a alguns amigos e outros parentes que estavam ali comentando sobre a economia do país.
-Sinto muito, pelo atraso Liz... Não pegamos o primeiro trem pra cá.
-Imagina, não tem problema algum.
Ouvimos algumas piadinhas, por sermos americanas era normal estarmos atrasadas. A Ashley deu uma risadinha baixa, mas eu não achei graça. Apenas acenei com a cabeça e tentei o meu melhor sorriso forçado, para não parecer mal educada.
De todos ali, só a Liz parecia feliz em nos ver.
Não consegui decorar o nome de ninguém, foi muito rápido e eram só dez pessoas. Sem sinal do Rob e do Tom.
-Sigam-me eu vou mostrar o quarto de vocês.
A mansão era sem igual por dentro, me sentia em um filme de época inglês. Tudo era tão clássico, fino e caro. Quadros de pintores que eu nem sonhava com o nome, vasos de porcelana chinesa, prataria de chá na sala impecável. Se a minha mãe entrasse num lugar desses, ia chorar de inveja.
O nosso quarto sim, eu e Ash íamos dividir um quarto, ficava no terceiro. Tinha duas camas enormes, uma do lado da outra, era um dos muitos quartos de hospedes. Acho que tinham uns trinta ou mais quartos. A casa parecia infinita.
-Nos armários tem toalhas e roupões, tem um banheiro no fim do corredor.
Ela suspirou cansada.
-Só vocês jovens ficam aqui no último andar, os meninos já devem estar chegando. Eles virão no carro do Thomas. Geralmente ficam no quarto do lado.
E com um sorrisinho cínico ela deixou o quarto.
Era só o que faltava, Elizabeth tentando me unirr ao filho dela.
Olhei pra Ashley e não pensamos duas vezes, caímos na cama.
-Vai ser um fim de semana, muito longo.
X
Robert POV
Na contagem de ex namoradas: Kate 18°
A encontrei na cama com outro.
Barnsley – UK, 20 de novembro de 2009 – 13h41min
Estava dirigindo para minha sentença de morte e o Tom fazia questão de chegar lá cedo.
-Nós já perdemos o brunch, eu tô com fome. Dá pra ir mais rápido?
-Brunch? O que é? Virou americano agora? Posso ir mais rápido se você quiser pegar uma multa por ultrapassar o limite de velocidade, tudo bem o carro é seu mesmo.
Estávamos quase entrando em Barnsley, faltava pouco agora. O Tom estava mais agitado do que criança quando come açúcar demais.
-A Ashley ao menos confirmou que ia? Ou você só tá nessa animação por nada?
-Eu acho que ela vai, não sei. Nós só conversamos duas vezes por telefone, mas pelo menos ela não parece chateada comigo, acho que ela deixou para trás o que aconteceu com a Mel. Não vai se repetir.
Continuei dirigindo, me concentrando na estrada. Não queria pensar que a Kristen poderia estar lá, diferente da Ashley, ela nunca iria me perdoar pela minha estupidez.
Não queria pensar nela conversando e sorrindo com a minha mãe.
Não naquele lugar, aquele pequeno inferninho cheio de roseiras e cadeiras de chá.
Eu odiava aqui, todos os meus primos e tios tinham aquele ar de superioridade. Eu nunca participava dos jogos, nunca fazia piadas sobre a economia do país, ou como o primeiro ministro era um completo idiota.
Eu não pertencia ali, eu não me encaixava a aquelas pessoas. Meu pai sempre dava um jeito de não me deixar de fora, no verão nós saímos pra pescar no lago quando eu era criança e era a única coisa boa dessas reuniões de família. Depois que ele morreu, essas coisas viraram um desastre.
Eu teria que ficar sob o mesmo teto que o meu chefe, durante todo o fim de semana.
-Isso vai ser terrível.
-Relaxa, é só passar longe do Billy.
-Eu queria que fosse assim tão fácil.
Troquei de direção com o Tom, não aguentava mais o ouvir reclamando. Em pouco tempo já estávamos lá, claro que nós evitamos aquela palhaçada toda de boas-vindas no jardim. Minhas tias, irmãs do meu pai, não tinham o que fazer e ficavam comentando cada detalhe de todos que chegavam.
Deixamos o carro do Tom na garagem e subimos logo para o quarto, todos já deviam estar à mesa. Então o caminho até o terceiro andar devia estar seguro. Sem muita paciência pra carregar a minha mala e a merda do terno que já devia estar todo amarrotado, nós chegamos à porta do quarto para notar que uma coisa estava diferente.
Ouvimos o som de mola do colchão, alguém estava no quarto do lado. O que era estranho já que somente eu e Tom costumávamos ficar nesse andar.
Todos eram velhos demais para subir as escadas.
Tinham só esses dois quartos aqui em cima, deviam ser algumas crianças que não tinham o que fazer. Fui até a porta do quarto da onde vinha o barulho e abri preparado pra expulsar os fedelhos.
-Para fora....
Mas quando escancarei a porta não foram crianças que eu vi e sim duas garotas que estavam pulando no colchão e me olharam assustadas.
Não eram quaisquer garotas, eram Ashley e Kristen
Pulei a parte do meu cérebro que queria “O que elas estavam fazendo?”. Para a parte que eu pedi desculpas e me retirei. Antes que eu entrasse no quarto, a Kristen abriu a porta num rompante.
-A porta não tranca então na próxima vez bate antes de entrar.
-Desculpe, eu não sabia que eram vocês. Pensei que fossem crianças...
-Me poupe Rob, eu não quero saber das suas desculpas. Está avisado.
E assim ela bateu a porta.
Tom olhou pra mim se segurando pra não explodir em risada.
-Cara, você não dá uma dentro.
-Cala boca Tom!
X
A tarde daquela sexta feira foi longa, eu não ousava olhar na direção da Kristen. Tinha impressão que ela podia me matar só com a força do pensamento se chegasse muito perto dela. Boa parte da minha família já estava aqui, incluindo o meu chefe, que aqui era o Tio Billy.
Ele trouxe o assistente puxa saco do escritório, que sempre levava o copo de whisky pra ele de meia em meia hora e ria das piadas sem graça. Na mesma mesa dele estavam minhas tias Jennifer e Claire, Ashley e Kristen. Elas davam risadas junto com todos da mesa, pareciam estar se dando bem com todos ali, minhas tias, irmãs de minha mãe, eram as mais legais, o problema era que elas adoravam o Tio Billy que era um poço de arrogância e por algum motivo era sensação aqui.
Era ridículo como ele conseguia ser duas pessoas completamente diferentes, aqui ele sorria e brincava, enquanto no trabalho xingava e explorava.
Tom estava sendo paparicado pela minha mãe e minhas tias por parte de pai. Falando das maravilhas de ser médico, mal pago, mas que salva vidas todos os dias. Um verdadeiro herói.
Olhei em volta aquela sala cheia de gente que era a minha família, mas eu não sentia um pingo de felicidade. Olhei para minha mesa vazia, ninguém queria sentar com o perdedor, oh déjà vu.
Era assim todo ano.
-Deus, o que eu estou fazendo aqui? – Falei baixinho para mim mesmo.
Como eu não tinha paz, claro que alguém me escutou.
-Você veio para matar saudade da sua irmã favorita.
Fui pego de surpresa pela Vick, abracei minha irmã que eu não via há três anos.
-Oh Meu Deus, você está tão homem. Quase não o reconheço Rob.
-Uma hora eu ia ter que crescer, certo?
-Não pra mim, vai sempre ser o meu irmãozinho.
Ela me soltou observando meu rosto e depois bagunçou meu cabelo, a Vick era realmente um dos motivos pelos quais eu tinha vindo, ela já tinha me ligado falando que queria muito que eu fosse pra apresentar o namorado dela. Somente eu não conhecia o cara.
-Então, me conte tudo! Como você está? Como vai a vida em Paris?
-Ah Robert, você devia se mudar para Paris. É a melhor cidade no planeta, tão romântica e linda, as pessoas são meio difíceis no começo, mas quando se faz amizade... nossa é demais.
-E o tal namorado? Que finalmente vamos conhecer.
-Oh irmãozinho, ele tem sido tão bom comigo. Desde... Bem você sabe, aquele incidente, nós ficamos mais próximos. Amanhã completamos um ano juntos.
Ela estava se referindo ao aborto espontâneo que ela sofreu há alguns meses atrás. Eu pensava que ia encontrar minha irmã triste e abatida, mas não. A felicidade estava estampada no sorriso que ia de orelha até orelha.
-Fico feliz por você Vick, você merece.
-Mas e você? Como está? E o trabalho? Você quase não atende meus telefonemas! Ainda está namorando aquela garota francesa? Conte-me tudo.
-Não, aquela eu terminei há séculos atrás. Não deu certo! Eu vivo basicamente para o trabalho, sabe como o Tio Billy é.
-Se sei, lembro que quase quis dá um tiro na minha cabeça depois de trabalhar pra ele naquele verão. Não sei como você aguenta Rob!
-O dinheiro é bom, fazer o quê.
Nós sorrimos, ela olhou em volta do salão.
-E quem é aquela dali? Ela é nova aqui. E por que ela não tira os olhos daqui?
Olhei na direção da mesa da Kristen, ela estava mesmo olhando para nós dois só que logo voltou atenção pra conversa na mesa dela.
-E agora você está ficando vermelho.
Vick começou a rir alto.
-Pode parar Victória. Ela ajudou a nossa mãe quando passou mal naquele dia, eu te contei pelo telefone.
-Ah, foi ela? Nossa ela é bonita, não tem muito peito pra uma americana.
-Oh Deus! Nem todas as americanas são silicone e botox.
-Então você a ama.
-Hãm? Do que você ta falando? Da onde tirou isso.
-Mamãe me contou, pelo jeito que vocês reagem um ao outro . E agora que eu estou vendo, é verdade.
-Não sei que remédio Dona Elizabeth anda tomado, mas ela deve estar tendo alucinações.
Ficamos lá mais um tempo, conversando e contando coisas sobre nossas vidas. Vick não tinha planos de voltar a morar em Londres e parecia satisfeita com a vida em Paris. Depois disso o Tom se juntou a nós e começaram as piadas que eles faziam para me torturar.
-Vick, você prometeu que ia se casar comigo. Eu sou um doutor já, o que esse seu namorado faz da vida?
-Ele é modelo da Calvin Klein.
A cara do Tom foi impagável, eu e Vick rimos da cara dele. O charme que o Tom tentava jogar pra cima da minha irmã era sempre um tiro pela culatra.
-Garçom, mais uísque aqui. - O Tom levantou o copo. – Toma mais um desses e daqui a pouco eu também viro modelo da Calvin Klein.
Entre piadinhas e risadas nós terminamos à tarde. Vick me apresentou o tal Alexander, que parecia ser mesmo gente boa.
Depois que o namorado de Vick se sentou conosco, Kristen não olhou mais para nossa mesa,. Mas eu continuava a espia-láde hora em hora, pelo canto do olho.
X
Depois da tarde, quando Kristen saiu da mesa dela, não a vi mais.
Aquela primeira noite todos foram dormir cedo, uns estavam cansados da viagem até aqui outros já estavam velhos mesmo e dormiam cedo. Eu escapei pela parte de trás da casa e fui até o lago que ficava a uma boa caminhada dali. Os empregados geralmente deixavam o caminho com as luzes desligadas, mas devido à quantidade de gente na casa hoje podia ver a trilha de luzes que dava até a ponte.
Uma fina camada de neve já cobria o chão.
Caminhei sem prestar muita atenção, eu conhecia o lugar como a minha mão. Não tinha o que me preocupar.
O que eu não estava contando era encontrar companhia naquela hora da noite.
Só me dei conta mesmo quando ela falou caso contrário não teria notado.
-Quem te disse que eu estava aqui?
Até então eu estava de cabeça baixa, quando levantei os olhos e dei de cara com a Kristen sentada no balanço, fumando um cigarro, cheia de casacos e luva.
-Eu não sabia que você estava aqui, achei que todos estavam dormindo.
-Hm
Ela voltou a se balançar e nós ficamos em silêncio. Estava muito frio, a borda do lago já estava começando a congelar. Estava tão bonito e eu não podia deixar de notar que aquela cena já tinha acontecido antes. Eu sabia que a mesma coisa estava passando na cabeça dela, mas não queria ser aquele que iria quebrar o silêncio.
-Você andou de lá de cima até aqui, pra ficar em pé ai?
-Não tô com sono.
-Se quiser sentar eu não vou te morder.
Me sentei ao lado dela no balanço, ela deu uma última tragada no cigarro.
-Então... Qual é a de você e lagos?
Ela tentou, mas não escondeu o sorriso.
-Eu deveria perguntar o mesmo a você.
-Pelo menos dessa vez não é um crime. – Ela sorriu e eu continuei. – Eu costumava pescar aqui com meu pai, quando era pequeno. Era a única parte que eu gostava dessas reuniões, foi aqui que ele me ensinou a nadar também, eu tinha sete anos.
-Sua mãe me mostrou uma foto dele, ele era bonito. – Ela abaixou um pouco a voz e pegou mais um cigarro. – Do que ele morreu?
Apontei para o cigarro e o isqueiro na mão dela.
-Câncer.
-Oh!
Ela desistiu de acender e guardou os dois. Meu pai sempre foi fã de charutos cubanos, o cheiro me lembrava ele até hoje.
-Sinto muito.
Depois ficamos em silêncio.
Aqui era tão diferente da cidade, o som do vento nas árvores era quase música. Esse lugar era carregado de lembranças, tudo aqui lembrava o meu pai.
Nosso silêncio não era incômodo, apesar das torturas que eu estava fazendo comigo naquele dia, isso aqui ainda era bom.
-Você tem uma boa família.
Eu tive que rir, sem humor.
-Todos eles me odeiam, sempre me criticaram a vida toda. Eu nunca fui bom o bastante.
-Pelo menos eles se importam.
Ela respondeu áspera.
-Eles têm um jeito estranho de mostrar isso.
Foi a primeira vez que eu encarei os olhos verdes, desde o dia no meu apartamento. Ela respirava fundo e eu podia ver seu hálito saindo no frio assim como o meu.
-Você deve ser a pessoa mais ingrata, estúpida e ridícula que eu conheço Robert.
Desviei o olhar, acho que merecia esse comentário. Ela continuou.
-O que é uma pena, por que você tinha potencial para ser extraordinário, se quisesse.
Eu não a sentia ali comigo, era como se estivesse só eu e a neve.
Fiquei ali em silencio mais uma vez, sem pronunciar em voz alta, tudo que eu sentia e o quanto me achava o pior dos seres humanos. Ela estava mais distante do que nunca.
Em uma tentativa inútil de conseguir alguma reação, eu perguntei.
-Algum dia você vai conseguir me perdoar?
Ela deu um sorriso triste, esquentou as mãos por causa do frio mesmo com a luva ainda estava muito frio lá fora.
-É difícil, sabe?! Quando você é ciente de todos os seus defeitos, você sabe o que é errado e faz assim mesmo.
Ela se levantou e olhou nos meus olhos e eu senti meu coração parar.
-Machuca, quando alguém que você admira, joga na sua cara que o que você odeia em você mesmo. Você é ingênuo demais pra entender o que me trouxe aqui, você nunca viveu fora dessa bolha de proteção. Você não tem que enfrentar demônios todas as noites antes de dormir. Não escolhi ser assim Rob, eu simplesmente sou. Eu tenho que ser. Já foderam demais com minha vida. Não posso voltar atrás.
Senti a água escorrer pelo meu rosto.
-Você quer saber mais uma coisa sobre mim Rob? Ver você chorar e se sentir culpado, nesse momento... Uma parte de mim está feliz. Por que eu sei que você se sente um lixo, como eu me senti quando você me expulsou da sua cama, da sua casa. Dói, não é?
Um sorriso que eu nunca tinha visto surgiu no rosto da Kristen. Ela se afastou dois passos de mim, e de costas falou.
-Então, é isso. Estamos quites. Boa noite.
Fiquei ali, imóvel, olhando o estrago que eu tinha feito caminhar em passos lentos até a casa.
Não fiquei na merda, eu era a merda.
Continua...
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