04 julho 2011

TENIR MA MAIN - CAPÍTULO 11

E aí pervinhas, como passaram o fim de semana? Curiosas para saberem o que nossa FIC nos reserva hoje? Será que Kristen perdoará Robert? Então, sem mais delongas...Ótima leitura!
Classificação: Maiores de 17 anos
Autora: Lore Volturi
Gênero: Romance/Drama 
Aviso: Sexo/Lemons 
Capítulo 11 
Kristen POV


Na contagem de pesadelo: 212°
Era o pior lugar do mundo.
Era caro e exclusivo.
Era nojento.
Corpos nus dançavam e se esfregavam uns nos outros. Senti um enjôo e muito tonta.
Mas eu não tinha bebido nada naquela noite, eu tinha apenas dezesseis anos, era noite de escola e eu não deveria estar aqui.
-Não me sinto bem!
Consegui falar.
A sombra atrás de mim apenas me passou um copo no que pelo pouco que eu olhei pareceu água.
Eu não tinha motivos pra desconfiar.
-Beba e você vai se sentir melhor.
E então eu apaguei.
Famácia na Denmark Street, 11 de novembro de 2009 – 15h40min
Os pesadelos tinham voltado, agora pareciam mais vivos do que nunca. Será que eu ia ter que conviver com essas lembranças pra sempre? Será possível que eu não ia ter paz nunca? Desde aquela briga estúpida com o Rob, eu vinha tendo o mau humor horrível. A Ashley nem piscava fora de hora. Eu não queria ser assim, mas não conseguia evitar.
Não queria voltar a recorrer aos comprimidos, eu não tomava nada desde a época em que eu fiquei no Texas com a minha avó. Ela tinha me obrigado a ir à terapia e grupo de apoio, era quase tudo perfeito. Respirei fundo quando me lembrei de Baytown, Texas. Não gostava de pensar em nada que tinha lá, do último lugar que eu chamei de casa, do sol forte todos os dias, do cheiro da casa da minha avó, não. Eu não gostava de pensar no asilo horrível que ela podia está agora.
Eu não via outra saída, eu estava quase desesperada por um pouco de paz. Uma noite de sono tranqüila, uma saída fácil daquele caos que a minha mente tinha se tornado. Eu queria uma droga, do tipo que derruba cavalo.
Já tinha tomado Somalium, Tensil, Tranxilene, Urbanil, Valium, Lioran, Dalmadorm, Dormonid, Noctal, Rohypnol, Sonotrat e outros que eu não lembro mais o nome. Uns deixavam de fazer efeito, outros não eram fortes o bastante. Eu precisava de algo como ‘Neozine’ que era um dos mais fortes que tinha. Mas só era indicado para pessoas com distúrbios psiquiátricos.
Pelo menos eu tinha conseguido uma receita falsificada pra Lexotan. Pedi pra sair cedo do trabalho e vir à farmácia, acho que o meu chefe estava começando a ficar com pena de mim ou algo assim.
Eu evitava olhar para o prédio onde o Rob trabalhava, eu sentia ódio de mim. O pior é que ele ainda mandava mensagens todos os dias, eu não respondia. Acho que agora quem tinha ficado louco era ele, achando que eu ia responder qualquer uma daquelas mensagens idiotas, na última vez que ele tentou aparecer na livraria eu peguei o livro e joguei na cabeça dele.
Aposto que ele tá com um galo na testa até agora. Por que ele insistia? Depois de gritar comigo daquele jeito. E agora, mandava mensagem de texto, mensagem de voz e até cartão de desculpa. Só podia estar tentando me ganhar pelo cansaço.
Afinal ele estava certo, eu era mesmo louca, um caso perdido, eu estava na fila da farmácia comprando droga, que foi diagnosticada sem mesmo ser checada se eu tenho problema de sono mesmo.
A fila era grande, eu estava com pressa, mas tinha que demonstrar paciência. Desviei meus pensamentos para coisas melhores do que o gordo na minha frente que tinha uma receita para laxante. Quando eu saísse daqui, e fosse para casa eu teria uma noite de sono tranqüila.
Respirei fundo, com uma sensação de quase alívio, que eu não deveria sentir. Eu ia estar me sentindo assim, eu estava estragando tudo que eu tinha construído. Tinha ficado só com os cigarros de maconha, mas que não me dava a anestesia que eu queria.
Entre pensamentos de culpa e falta de paciência, deixei meus olhos passearem pelas prateleiras da farmácia, do caixa até a porta e foi quando eu notei uma senhora loira muito bonita, ela usava um casaco de aparência fina e cara, devia estar entre os seus cinqüenta e poucos anos entrar pela porta, ela estava muito pálida e parecia não se agüentar em pé.
Ninguém mais tinha reparado a senhora, todos olhavam pra fila frustrados com a demora do farmacêutico, todos olhando pro próprio umbigo como eu estava antes, agora eu observava aquela mulher se apoiando na porta de vidro. Não tive certeza, ela parecia com dificuldade para respirar ou algo assim.
-Acho que ela vai desmaiar. – falei baixinho pra mim mesma. Ninguém do meu lado da fila ouviu o que eu falei ou parou para olhar aquela estranha passando mal.
Observei à senhora tentar puxar ar mais uma vez e então como se as minhas palavras tivessem sido uma praga silenciosa, ela desmaiou.
Eu não pensei, por impulso sai da fila e corri pra onde ela estava ao mesmo tempo peguei o celular e liguei para ambulância.
Sentei no chão ao lado dela, segurando a mão e tentando reanimá-la de qualquer jeito, sem sucesso.
Ela abriu os olhos, por pouco tempo. Eu pude ver algo familiar neles, ela só teve tempo de apertar a minha mão e falar alguma coisa que eu não entendi direito.
-Tudo bem, uma ambulância já está a caminho.
Eu entrei em pânico quando ela apagou de vez. E todos vieram ficar ao redor pra ver o que estava acontecendo.
-Dêem espaço pra ela respirar.
Um farmacêutico ficou do lado dela, afastando todo mundo. Mas eu olhei pro peito dela e não tinha sinal de respiração.
Apertei a mão da senhora com força e me peguei pedindo pela vida de alguém que eu nem ao menos conhecia.
X
A ambulância não demorou a chegar, eu não tive coragem de deixá-la. Olhei em volta no hospital, se eu ao menos eu conseguisse achar a sala onde eles colocavam as drogas, esse susto não teria sido tão ruim afinal. Fiquei sentada na cadeira esperando de braços cruzados o médico que estava terminando de examiná-la.
Será que ela não tinha ninguém? Será que eles ligaram pra alguém da família? Na hora não me lembrei de ver se ela tinha identidade ou algo assim. Olhei em volta, no outro banco do lado direito da onde eu estava sentada, tinha um homem e uma garotinha.
Parecia que ele tinha contado alguma coisa e a garotinha estava começando a chorar, ele a abraçou com tanta ternura e falou algo como “Vai ficar tudo bem, querida”. O pai da garotinha então começou a chorar. Eu devia, mas não conseguia desviar o olhar algo naquela cena me fez sentir raiva, eu podia sentir que as lágrimas iam chegar a qualquer momento.
Para ser sincera, eu não acho que ele devia abraçá-la, por que em alguns casos, não fica tudo bem. Em alguns casos ninguém vai te cobrir de noite e te beijar na testa antes de dormi. Em alguns casos, os danos são tão profundos que você sabe que nunca vai ser ‘consertada’. Senti meu rosto esquentar, uma dor no meu peito crescer.
Afinal o que eu estava fazendo ali? Aquela senhora não era nada pra mim, não era minha família. Eu não tinha uma desde que o meu pai se foi.
Me levantei num impulso e sem olhar, acabei esbarrando em um médico que ia passando.
Não parei pra olhar o seu rosto, apenas pedi desculpas. Eu queria sair dali.
-Sinto muito.
-Kristen? O que você está fazendo aqui?
Como eu podia ter esquecido isso? Esse era o hospital em que o Tom trabalhava. Ele tinha o rosto cansado, umas olheiras muito visíveis. E não parecia muito saudável pra um médico.
-Tom! Oi, tinha esquecido que você trabalhava nesse hospital.
-É, eu to fechando o meu plantão. Estou aqui a quase quarenta e oito horas. –Ele esfregou um dos olhos. – Mas o que te traz aqui? Aconteceu alguma coisa com a Ashley? Ela está bem?
Ele gostava mesmo dela, pareceu genuinamente preocupado quando perguntou.
-Não, não a Ashley está bem. Ela está em casa.
Ele suspirou como se um peso de dez quilos tivesse saído de cima dele. Continuei.
-Eu ajudei uma senhora que estava passando mal na rua, ela não tinha ninguém. O médico ficou de examina – lá e eu estou esperando notícias.
-Qual o nome dela? Você sabe?
Ele olhou a prancheta que tinha o nome de várias pessoas. 
-Não, não sei o nome dela. Aconteceu rápido demais, não tinha como...
-Tudo bem, vem comigo.
Ele me levou pelo corredor, eu o acompanhei observando algumas salas e olhando algumas camas pra ver se eu conseguia encontrar aquele rosto. Quando o Tom parou pra falar com uma enfermeira, para perguntar alguma coisa, não dei atenção. Olhei um pouco mais e finalmente achei. Me aproximei da janela de vidro onde eu vi a Senhora dormindo e com uma máscara de oxigênio.
-Tom, Tom... – Chamei tentando não chamar muita atenção. – É ela.
Ele se aproximou e olhou pela janela.
-Oh Merda, não acredito.
-O que foi? O que é?
Aquilo não era o que você espera ouvir do seu médico. Tom parecia assustado quando entrou no quarto como um rompante e examinava a ficha dela. Entrei no quarto em seguida sem muito jeito.
-Você não vai acreditar nisso.
Ele falou comigo ainda olhando pra ficha.
-Essa é a Tia Liz, ou melhor, Elizabeth.
Olhei pro Tom, sem entender. Aquilo devia fazer sentido pra mim?
-Ela é mãe do Rob.
-Você está brincando comigo?
-Não, por incrível que pareça, não eu não estou.
Eu não sabia o que falar, olhei para o rosto da Elizabeth na cama. Ela não estava tão pálida como antes, mas ainda parecia um pouco mal.
-Eu vou procurar o médico encarregado dela e já volto.
Sentei no banco perto da parede ainda sem acreditar.
Elizabeth Pattinson
Quais as chances?
Sorri comigo mesma, pensando em como aquela ilha era pequena. Olhei os traços do rosto da mãe do Rob, eles não eram muito parecidos. Talvez os olhos, sim definitivamente os olhos passavam aquela confiança. Ela se mexeu na cama, eu me levantei rápido e fiquei do seu lado. Ela tentou tirar a máscara de oxigênio.
-Hey, acho que você não devia fazer isso.
-Você... foi... chamou...
Ela tentou falar com dificuldade.
-Sim, eu liguei para ambulância.
Ela sorriu ,aquele sorriso do Rob.
-Obrigada.  
Uma enfermeira entrou pra checar o soro dela.
-Se você não é família, desculpe não pode ficar aqui.  
-Desculpa, eu já estou saindo.
Me virei pra Elizabeth mais uma vez, antes de sair.
-Eu passo amanhã, pra saber como a senhora está, Ok?!
Ela fez um sinal de positivo, mexendo um pouco a cabeça e voltou a descansar. Saí do quarto e disquei pro Rob. Pra sorte dele, ele não atendeu. Deixei uma mensagem de voz pra ele.
“Escuta aqui seu advogadozinho de merda, sua mãe está no hospital. Não sei onde você está, mas é bom arrastar essa sua bunda magrela até aqui. Ela está no hospital em que o Tom trabalha.”
Acabei nem indo pra casa, o Tom apareceu e pediu pra eu preencher a ficha da Elizabeth, já que ele tinha que  sair.
Olhei a ficha, aquele era o tipo de coisa que só o filho dela poderia responder. Aposto que o Tom tinha feito de propósito. Eu teria que esperar pelo Rob e só de pensar nisso, meu coração idiota começou a bater mais forte.
X
Na contagem de ex namoradas: Andrea 5°
Na biblioteca do colégio, estudando na véspera da prova.
Ela me passou um pedaço de papel.
“Acabou!”
Depois disso eu quase reprovei em biologia.
Robert POV
Court of Justice of London, 11 de novembro de 2009 – 17h01min
Olhei para o prédio na minha frente e não sabia o que sentir. Tristeza? Raiva? Pena de mim mesmo por ser esse advogado incompetente? O Artie estava do meu lado, limpando os óculos.
-Sinto muito Artie.
-Não esquenta Robert, pelo menos vou ganhar 5% dos lucros.
Ele não conseguia enxergar que aquilo era um roubo, daqueles idiotas? Ele tinha direito a pelo menos quarenta por cento. O taxi preto dele chegou, antes de entrar ele se virou pra mim.
-Você vai ficar bem Robert?
-Eu é que devia te perguntar isso, garoto.
Ele sorriu e ajeitou os óculos.
-Yeah, eu vou ficar bem. Vou para a Austrália com os meus pais, Londres não é pra mim. – Ele não parecia triste por que tínhamos perdido o caso. – E você?
-Eu acho que vou ficar bem.
Ele entrou no táxi e eu fechei a porta. Ele era um garoto inteligente, o Artie, e aqueles idiotas de terno caro não foram justos com ele. A primeira pergunta tinha sido sobre o episódio da maconha. Acho que me iludi achando que íamos ter alguma chance.
Caminhei sem pressa até o meu carro, deixei que a chuva me encharcasse e não me dei o trabalho de abrir o guarda chuva. Joguei a pasta e o casaco de chuva no banco direito do carro, antes de ligar o carro, liguei o celular.
Duas mensagens do Tom e uma mensagem de voz da Kristen, a minha rápida felicidade logo se desfez quando ouvi o recado.
“ Escuta aqui seu advogadozinho de merda, sua mãe ta no hospital. Não sei onde você está, mas é bom arrastar essa sua bunda magrela até aqui. Ela está no hospital em que o Tom trabalha.”
Larguei o celular de qualquer para o lado e arranquei para o hospital. Mil perguntas vinham a minha cabeça. O que a Kristen estava fazendo com a minha mãe? Por que elas estavam no hospital?
O que estava acontecendo?
Dirigi que nem um louco e não sei como não levei uma multa. Levei mais ou menos meia hora do tribunal até o hospital, na merda do estacionamento eu fiquei mais dez minutos pra achar uma vaga que ainda ficava longe da entrada do hospital.
Corri o mais rápido que eu pude, encharcando a entrada do hospital. Eu tinha idéia de onde era o andar que o Tom costumava ficar e não parei pra falar com a recepcionista. Ninguém me ia fazer parar agora, subi as escadas pedindo desculpa por molhar as pessoas.
Já estava quase sem fôlego quando olhei uma garota de cabelo avermelhado, camisa branca e calça jeans. A minha aparência não devia ser uma das melhores, pois a Kristen me olhou com expressão de quem tinha levado um susto. Ela se levantou quando eu corri até onde ela estava.
-Onde ela está?
-Primeiro quarto daqui a direita, não me deixaram ficar lá.
-Você sabe como ela está? O que aconteceu? Onde está o Tom?
-Você pode, por favor, ficar calmo. Ela está bem, não é grave, ela está dormindo.
Respirei fundo, agora eu estava começando a ficar com frio, mas não tinha tempo pra ligar pra isso. Ela me puxou pra sentar na cadeira do lado dela.
-Eu encontrei a sua mãe na frente da farmácia, acho que ela estava tentando comprar algum remédio para gripe e ela começou a sentir falta de ar, chamei a ambulância e estou aqui desde então.
-Como...Você e minha mãe?
-Não, eu não sabia que ela era sua mãe. Foi por acaso.
Assimilei aquilo aos poucos.
-Qual o estado dela? Ela vai ficar bem?
-O Tom disse que ela vai ficar bem, ela não devia ter saído de casa nesse tempo. – Ela apontou pra minha camisa molhada. - Ela podia pegar uma pneumonia ou algo pior, mas o Tom disse que agora ela já sendo tratada e vai ficar bem.
Eu não sabia o que falar, parecia que coisa demais tinha acontecido e tudo que eu ouvia não parecia fazer sentido.
-Eu quero vê-la.
Kristen me levou até o quarto, sentei ao lado da cama da minha mãe. Como ela podia ter me dado esse susto? Passei a mão no cabelo molhado.
Minha mãe era teimosa, sempre queria fazer tudo sozinha.
-Rob, eu acho que já vou indo. – Ela deixou uma folha de papel na mesa do lado. – Você precisa preencher isso... bem é isso.
Ela se apressou até a porta.
-Kristen, espera.
Andei até alcançar ela, que continuava andando.
-Espera.
Parei na frente dela, que me fez aquele bico de quando estava sem paciência.
-Eu tenho que te agradecer, por hoje...pelo que você fez pela minha mãe. Muito obriga...
Ela me interrompeu, a raiva que ela estava sentindo tinha voltado à tona.
-Não precisa me agradecer, eu a ajudei sem saber que ela era sua mãe. Como eu teria feito com qualquer outra pessoa.
-Claro, Ok. Mesmo assim Obrigado.
-De nada, agora me deixa passar. – Ela avançou um passo, mas eu me pus na frente dela de novo.
-Eu sinto muito pelo jeito que eu falei com você naquele, eu exagerei, eu não devia.
-Robert, eu não quero ouvir as suas desculpas. Eu já li todas  as duzentas mensagens que você me mandou. Eu não ligo, eu não sou mais seu problema. O seu problema agora é a sua mãe e o Artie, agora sai do meu caminho.
Continuei no caminho dela.
-O que tem de errado em você? Sai do meu caminho.
-Artie não é mais meu problema, eu vim direto do tribunal, nós perdemos.
Ela não tentou mais me empurrar, meus braços caíram. Ela não falou nada, apenas olhou pro chão.
-Eu sou um fracasso, Ok?! O primeiro caso que eu realmente ponho esforço, dedicação e horas de trabalho, e não faz a menor diferença. Pois eu falhei, como eu sempre falho em tudo. Como eu falhei com você e com a minha mãe. Eu não sou bom em nada e eu não te culpo por não querer olhar pra mim, ou não querer falar comigo. Você está certa e eu vou deixar você ir agora. Mas eu espero que você saiba que eu realmente sinto muito.
As palavras saíram da minha boca sem que eu controlasse. Meu queixo batia de frio.
Pelo canto do olho eu vi uma enfermeira me olhando como se eu fosse louco. A Kristen ficou parada como estava e não olhou pra mim. Voltei para o quarto e sentei do lado da minha mãe.
Eu tentei.
Uma enfermeira entrou no quarto e me deu um cobertor. Pelo menos agora eu não estava mais batendo o queixo.
-Vamos mãe, a senhora tem que ficar boa logo.
Olhei para o rosto tranqüilo da minha mãe dormindo. Eu só tinha ela.
Fiquei na dúvida se eu ligava ou não para a Vick. Como não era grave. Achei melhor não ligar, ela ia vir pra cá em pouco tempo para a reunião de família anual. Fazia uns dois anos que eu não ia para essas coisas. Minha mãe e a Vick adoravam, era sempre pura diversão para elas. Nunca pra mim.
Nos últimos anos ainda tinha ficado pior, não bastava ter que ver meu chefe/tio no trabalho, eu teria que encará-lo no feriado familiar? De jeito nenhum.
Por falar do meu chefe, imaginei se ele já sabia que eu tinha perdido o caso do Artie.
Eu estava muito ferrado.
Sentindo o peso da minha incompetência, adormeci na cadeira desconfortável.
X
Tive um sonho estranho em que todo mundo se afogava em algum dilúvio e eu não conseguia respirar. O Tom me acordou bem na hora em que um tubarão vinha tentar me pegar.
-Hey Cara, acorda!
Esfreguei meus olhos e olhei a hora, era quase duas horas da manhã.
-Como ela tá?
-Relaxa Rob, ela vai ficar bem. – Ele estava de roupa normal, sem jaleco. – Você devia ir pra casa, trocar de roupa eu fico com a Tia Liz. Não estou trabalhando hoje.
-Não, eu não vou sair do lado dela.
Estávamos falando baixo.  
-Vai sim, vai tomar um banho que você tá fedendo.
Antes que eu pudesse responder uma voz veio da porta, cheia de autoridade.
-Nisso eu tenho que concordar com o Tom.
Era ela.
O sorriso tímido surgiu no rosto lindo e cansado da mulher que sempre fazia o meu coração pular para fora do peito. Ela tinha quatro Starbucks e uma mochila nas costas.
-Eu não conseguia dormi, então trouxe uma roupa pra você e café quente.
Atrás dela surgiu uma Ashley tímida, também com cara de sono e a chave do carro na mão. Não olhei pro Tom, mas imaginei que ele estivesse com a mesma expressão de surpresa que eu estava.
-Obrigado.
Eu não sabia mais o que falar. Ela se virou para o Tom.
-Tom, você podia levar ele para algum banheiro. Aqui estão as roupas dele, tem toalha também.
Eu não queria interromper, mas fiquei curioso.
-Como...Como você entrou no meu apartamento?
-Por favor, Rob, chave reserva embaixo do tapete da porta? É meio previsível. Então vai logo, eu fico aqui com a sua mãe.
Eu fiz o que ela tinha mandado, ainda fiz sorrindo.
Era um bom começo, ela se importava.
X
Uma hora depois, de um bom banho, roupas limpas e comida no estômago, eu voltei pro quarto. Para encontrar minha mãe acordada e rindo junto com a Kristen, Ashley e o Tom. Não foi só um alívio ver  finalmente a Dona Liz acordada, mas também rindo e com aparência saudável.
-Ai está o meu filho!
Na hora que eu entrei, todos olharam pra mim.
-A senhora dá uma festa e não me convida?
Kristen era a que estava mais distante,  sentada  perto da parede, mas ainda sim parecia estar se divertindo, com o que eu tenho quase certeza era uma história cômica da minha infância. Me sentei na cadeira ao lado da cama dela.
-Estava conversando com essas moças tão adoráveis e o meu filho de coração.
Ela sorriu para o Tom.
-Pode falar que eu sou praticamente o seu filho favorito.
A piadinha do Tom foi seguida de risada das meninas.
-Enfim, estão todos convidados para Barnsley no próximo fim de semana.
-Oh oh.... Pode ir com calma, Ok Dona Elizabeth?! A senhora não acha que esse ano devia ficar em casa e esquecer essa reunião de família? Afinal a senhora me deu bom susto ontem.
Foi então que o doutor Tom resolveu se manifestar.
-Está tudo bem Rob, vai ser bom pra ela ir para o campo. Um pouco de ar puro! Não foi nada grave. E agora como médico, eu tenho que dizer, a senhora só está aqui por puro descuido. O que aconteceu foi combinação de falta de vitaminas, estress, má alimentação e isso juntando com a gripe mal tratada resultou  nisso.
Olhei com expressão de censura para a minha mãe, que estava sem jeito.
-Aquela enfermeira fajuta está demitida e de agora em diante a senhora me liga até se sentir dor de cabeça.
-Não seja super protetor meu filho, já me sinto ótima e como o Thomas já disse, eu vou me recuperar em pouco tempo.
- Tia Liz é uma rocha, só mais um dia e já vai poder ir pra casa.
Deixamos o quarto para ela descansar. Foi quando o clima ficou estranho, a Ashley não encarava o Tom e eu não conseguia tirar os olhos da Kristen.
-Então, nós já vamos indo! Sua mãe já está bem.
-Obrigado... Hm, por tudo!
 -Isso não significa que eu te perdoei.
-Ok!
Ela se virou de costas e foi embora, a Ashley ainda ficou parada sem reação.
-Melhoras para sua mãe Rob.
-Obrigada Ash.
Ashley deu um olhar tímido para o Tom e ele quase urinou na calça. Então as duas foram embora.
Eu deveria insistir, meu coração estúpido batia sem parar olhando ela desaparecer no fim do corredor, praticamente gritava pra fazer alguma coisa.
Mas eu estava cansado, na verdade exausto. Eu ia correr e ir de encontro com uma parede, por que ela se fecharia naquela zona de proteção que eu nunca conseguia penetrar.
No final do dia, sempre soube que ela é demais pra mim. Eu era um nada, ela não era tudo...ela era muito mais.
Sempre foi.
E como nos clichês de filmes americanos o nerdzinho, nunca fica com a rainha do baile.
Acertos = 0 |Fracassos = 25 | Sorte = 0 |Amor = nunca foi calculado. 
Continua....

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