O menino perdido
Existe algo mais para Robert Pattinson do que os genes estrelares e uma boa linha de pensamentos? Pode apostar que sim, diz Hermione Eyre.
Quando eu cheguei aos estúdios da Fox em Los Angeles, o sol do meio da manhã já estava brilhando loucamente. “Vá direto até você chegar no donut”, diz um segurança, apontando para uma escultura de 3 metros em homenagem a Homer Simpson. “E depois continue andando, depois do mural de Star Wars, até você chegar a uma fileira de pingüins. Em frente aos pingüins, há uma cobertura esculpida no formato de um violino. Você deve encontrar o Sr. Pattinson lá”. Este é o mundo louco, faz-de-conta que Robert Pattinson agora habita. Ele está fazendo dublagem de voz de última hora, mesmo sendo domingo e o estúdio estando deserto, porque ele atualmente é o britânico mais bem pago (ano passado o Sunday Times Rich List colocou que o ator de 24 anos vale £ 13 milhões) e seu trabalho nunca acaba. Ele é um bom garoto da frondosa Barnes, oeste de Londres, que se tornou um ídolo adolescente internacional depois de sua performance na popular saga Twilight de vampiro (que agora é uma tetralogia). Ele é o Keanu Reeves da geração do Facebook; Leonardo DiCaprio da idade do twitter. Ele barbeia suas costeletas ou tem uma cerveja e milhares de fãs comentam sobre isso. Ele até mesmo adquiriu um apelido um pouco humilhante: RPattz. Mas enquanto seu personagem Edward Cullen é condenado a permanecer com 17 anos para sempre, Pattinson está crescendo e seguindo em frente.
Sem mais franquias de sucesso: ele está prestes a filmar Cosmópolis de Don DeLillo, dirigido por David Cronenberg (“O livro soa como um poema incrivelmente longo”, diz Pattinson entusiasmado. “O filme vai ser totalmente e completamente louco”). Ele também assumiu o papel de protagonista em dois filmes este ano, primeiro contracenando com Reese Witherspoon no circo épico Água para Elefantes, depois com Uma Thurman na adaptação de Guy de Maupassant, Bel Ami. Mulheres mais velhas, como ele me disse, não são novidade para ele. “Toda garota que saí na minha adolescência era mais velha que eu. Minha primeira namorada tinha 26 anos e eu tinha 17. Mulheres que são mais velhas sempre pareciam mais emocionantes”. Por que elas sabiam mais? “Eu acho que sim. Eu costumava pensar que eu era meio que um valentão quando era mais novo. Eu gostava que isso incomodava as pessoas o quão mais novo eu era. Eu gostava de entrar em uma sala com uma mulher e as pessoas olhando para nós e pensando: eles não parecem ser um casal”.
Se essas mulheres são bem vestidas, eu posso entender o porquê os observadores podem fazer esse julgamento. Hoje, Pattinson está usando óculos vintage, moletom preto, camisa preta, jeans preto e barba por fazer, ar de amarrotado de um homem que acabou de acordar para descobrir que seu carro já está esperando por ele do lado de fora há um tempo. Isso acontece muito com ele, eu acho. Ele coloca seu cigarro, laptop e chaves na mesa e suspira de sua própria preguiça. “Meu emprego ideal seria um dia por semana. Quando eu comecei a atuar, eu conseguia um trabalho por ano que durava três meses, e então eu não faria nada pelo resto do tempo, mas eu teria dinheiro o suficiente para sobreviver. Eu lia jornais todos os dias, assistia um monte de DVDs… Era ótimo”. Ele dá um sorriso largo, pálpebras pesadas, suave e ligeiramente felino; como James Dean, sem o auto-ódio.
Ele agora tem 24 anos, mas talvez ironicamente, devido a juventude eterna de seu alter-ego vampírico, ele parece mais jovem. Seu rosto se ilumina quando ele vê que seu lanche favorito foi entregue no estúdio: kebab de frango. “Eu tenho gosto simples”. Ele é um garoto doce, pateta, rápido para rir e sorrir, apesar de ele não parecer particularmente feliz. Mas ele é, ele diz, mais contente do que ele costumava ser. Ele costumava compor musica para relaxar (suas composições apareceram na trilha sonora de Twilight), mas ele não sentiu mais necessidade de fazer isso há um tempo. “Eu tenho que estar incrivelmente deprimido para escrever músicas e eu não estou. O que me faz querer escrever músicas é quando eu acordo chorando. Eu não fazia idéia do porque eu estava chorando, mas isso fazia eu me sentir triste por mim mesmo…”. E então ele começa a rir.
Mas a pressão do sucesso global e repentino não pode ser ignorada. O enxame que o segue o restringe a suas escolhas de várias maneiras. “Eu adoraria fazer uma peça de teatro em Londres”, ele diz. “Mas eu teria medo disso se tornar num show do N’Sync. Ou as pessoas iriam esperando que fosse algo como Twilight. Pela quantidade de peças que já fiz, eu que normalmente você sente o estimulo da audiência, que vieram querendo que o show seja um sucesso. Mas quando eu vou a premieres, parece mais como se a multidão estivesse puxando, realmente querendo algo de você. Eu sempre me sinto completamente drenado depois. Seria muito estranho e exaustivo ter esse tipo de experiência todas as noites no palco”.
Ele adotou Bear, um pitbull mestiço alemão, de um abrigo para cães em Louisiana: um corredor da morte canino. “Bear estava a dois dias da eutanásia. Nós pensamos que ele estava traumatizado pela experiência de quase-morte”. Quem é “nós”? Essa foi uma missão de resgate sozinho, ou Pattinson estava acompanhado por uma certa co-star? Ele tem sido vinculado com Kristen Stewart, mas adotar um cachorro juntos certamente quer dizer que eles estão ficando sérios. “Bem…”, ele parece aturdido. Você vai ser um pai solteiro para Bear? “Hum, sim, eu acho que sim”. Os rumores sobre seu casamento iminente não são verdade, então? “Não, eles não são. Me disseram que eu ia casar em algum lugar chamado ‘Napa Valley’. Soava bem legal. Talvez eu vá me case lá”.
A ambigüidade que cerca o status do relacionamento de KStew e RPattz (Eles estão? Não estão? Nós nos importamos? A única coisa que é certa é que nenhum deles vão dizer algo) convenientemente gera uma grande quantidade de publicidade para seus filmes de vampiros. Eu lhe digo que a coisa toda é uma fabricação do estúdio. “Não”, ele diz, gentilmente mas com firmeza. “Ah não. Eu adoraria se eles tentassem. Se o estúdio tentasse se envolver na minha vida pessoal, eu poderia começar a mexer com eles em troca… Não. Não há nada nefasto acontecendo, eu apenas não gosto das pessoas tirando minha foto. Não é legal quando sua vida se torna notícia pra alguém. Mesmo quando você está se divertindo e alguém tira uma foto e diz ‘Olhe para eles se divertindo!’. Eu me sinto tipo, ‘não é você se divertindo’”. Então ele não está trabalhando em uma cuidadosa estratégia de publicidade? “As pessoas acham que nós temos gente organizando tudo, que é tudo um truque publicitário. Não é. Não há uma companhia mágica – você só pertence a si mesmo. Você tem que descobrir isso”.
Apesar de algumas experiências ‘loucas’ de Hollywood – como Will Smith indo até ele na noite do Oscar, pouco antes dele apresentar um prêmio, aconselhando-o, “Não tente ser engraçado. Nem mesmo pense nisso. Apenas fique calmo” – Pattinson diz que ele nem mesmo se diverte muito com sua fama. Ele tem aprendido sobre o que jovens de Hollywood podem conseguir? Por que ele não vai pra todo canto e se diverte? “Simplesmente não é possível se safar dessas coisas com câmeras de celulares por aí. Eu não posso fazer isso. Se eu tiver quatro cervejas, eu fico destruído no dia seguinte. Eu apenas não entendo como essas estrelas costumavam cair na farra o tempo todo”. Ele faz uma pausa. “Drogas. Deve ser”.
Ele envia todos os scripts para seus pais lerem (“Eles sempre têm bons conselhos para dar porque eles pensam diferente da indústria. Meu pai compara cada script com Jaws e Superman…”) e ele ainda sente falta de seu animal de estimação da infância, um terrier West Highland chamada Patty Pattinson – “e seu nome do meio era Pat”.
Não vai acontecer nada para limitar seu apelo a sua legião de fãs, mas ele é quase ridiculamente coração mole. Ele foi atraído para o filme Água para Elefantes, ele diz, por causa de sua co-star cinza e enrugada, uma elefanta chamada Tai. “Eu a vi recentemente e ela se lembrou de mim; pelo menos eu acho que ela se lembrou. Ela estava usando um novo chapéu e eu disse ‘Belo chapéu, Tai’, e ela levou sua tromba até a cabeça. Ela é incrível”. Quando perguntado sobre qual sua maior extravagância que seu salário nada insignificante lhe trouxe, ele diz, “Isso soa ridículo mas meu cachorro estava doente com uma doença de filhotes chamada parvo e foi um alívio poder ir ao veterinário e dizer, ‘eu quero o melhor, imediatamente’”.
Água para Elefantes se passa durante a última Depressão Americana, e a performance de Pattinson é impressionantemente controlada, com uma compreensão sutil da época. “Eu vi os filmes de Gary Cooper, vi sua postura e sua tranqüilidade. Técnicas de câmera não eram o que são hoje, e você tinha que ficar realmente imóvel. Atuar tinha mais a ver com sua voz. Além disso, meu personagem é um veterinário, então há uma tranquilidade nele, como há com qualquer um que é bom com os animais”. Ele e Reese Witherspoon têm um romance nas telas; por seus padrões, a década de diferença entre eles não é nada. “Ela não é muito mais velha que eu”, ele diz galantemente. Água para Elefantes provavelmente não é seu desempenho inovador – e nem foi Little Ashes, no qual ele interpretou o Salvador Dali com um grande topete, mas pouco a pouco, Pattinson está saindo da caixa denominada ‘apenas um rosto bonito’. Por enquanto, parece inevitável que ele vá permanecer nos tablóides. “Revistas de fofoca fazem mais dinheiro do que a maioria dos filmes”, ele diz lamentavelmente, até que eu o trago de volta. Não os seus filmes (A Saga Twilight já arrecadou £ 1.12 bilhões no mundo inteiro – o filme Breaking Dawn Parte 1, estreia em 12 de novembro). “É, tudo bem”, ele ri.
Mesmo assim, há algo quase perdido sobre Robert Pattinson. “Eu nunca consigo o que eu quero”, ele suspira em um ponto. Seu cachorrinho está doente, ele não tem uma casa e, lendo nas entrelinhas, sua vida amorosa está distintamente cinza. O clima pesaroso é o que o faz tão desejável – e tão romântico. Graças a Deus esse ídolo multimilionário não está satisfeito consigo mesmo como ele deveria estar: ele seria insuportável. Sendo assim, ele ainda é um intruso, suave e dócil e modesto, ainda esperando sair de sua concha.
Os melhores álbuns de Robert…
1. Moondance, Van Morrison
2. Night Train, Oscar Peterson
3. Abbey Road, The Beatles
Fonte: Foforks
Postado por: Mimi
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