Capítulo 19
Julho de 2014
Eu devia estar louca quando permiti aquela situação absurda. A tensão na sala enquanto fazíamos a primeira leitura do roteiro era quase palpável.
Rob e Michael numa mesma sala não iria dar certo, quanto mais no mesmo filme. Nem a presença dos outros atores ajudavam.
E tudo era minha culpa. Quando terminou, eu respirei aliviada, quando Rob se afastou sem falar nada, mas pelo menos sem matar o Michael.
-Kris, posso falar com você? – Michael se aproximou no corredor.
-Oi.
-O que está rolando aqui? Nem fazia idéia que seu marido ainda estava no filme.
-Ex-marido… ou quase. Nós estamos… nos separando.
-Eu sinto muito Kris.
-Eu também.
-Se você quiser conversar sobre isto…
Não, eu não queria. Ou queria?
Michael fora meu amigo um dia. Talvez eu devesse mesmo conversar com ele.
Eu não ouvi a porta abrir, apenas levantei o olhar e lá estava ele, entrando com Agnes adormecida no colo. Primeiro ele olhou pra mim. E depois seu olhar recaiu em Michael, sentado em outro sofá. E seu rosto fechou.
-Rob – eu me levantei me perguntando por que diabos eu sentia aquele rubor de culpa no meu rosto.
Não estava fazendo nada demais. Mas claro que pra Rob, depois de tudo que eu dissera, a presença de Michael ali significava outra coisa.
-Eu vou colocá-la no quarto…
Ele passou por nós pisando duro e eu encarei Michael.
-Acho melhor eu ir embora… acho que ele não gostou muito de me ver aqui.
-Não precisa…
-Eu não quero confusão pra você.
-Tudo bem. Nos vemos amanhã.
Eu não tinha contado pra ele as coisas que tinha dito pra Rob sobre nós. Era melhor nem envolvê-lo naquela história.
Eu recolhi os copos que estava bebendo com Michael e levei pra cozinha, os lavando.
Precisava me manter ocupada pra esquecer que Rob estava ali. Provavelmente ele iria embora sem nem falar comigo. O que era ótimo. Com certeza me pouparia de mais uma briga ridícula.
Mas eu estava errada. Ouvi seus passos atrás de mim, mas não me virei.
-Só vim dizer que amanhã à noite eu pegarei a Agnes para sairmos.
-Não.
-O que?
Eu suspirei, ensaboando o mesmo copo pela enésima vez.
-Ela vai dormir na casa de uma amiga. Quero que ela tenha uma vida normal, como qualquer criança.
-Pra você ficar sozinha com seu namoradinho de adolescência?
Eu estava calma. Juro que estava calma até aquele momento. Mas foi demais pra mim.
-Não estou ouvindo esta idiotice! – eu me virei irada.
-Porque, não é verdade? Não aproveitou que ela não estava aqui hoje pra trazê-lo? Pena que eu estraguei o plano de vocês…
-Você não sabe o que está dizendo!
-Você leva ele pra nossa cama, Kristen?
-Cala a boca! – gritei – É melhor você parar agora com isto! Eu não sou obrigada a ficar ouvindo este monte de…
-E eu não sou obrigado a agüentar calado você trazer ele pra dentro da nossa casa!
-Não devo satisfação a você! Não é meu dono, não é nada meu!
-Não?
E ele me puxou pelos cabelos, esmagando a boca na minha. O copo caiu e se espatifou no chão entre nós e eu bati meus punhos fechados em seu peito, molhando sua camisa, mas ele não me soltou.
Apenas seu braço livre me prensou ainda mais contra ele e contra a pia atrás de mim.
A língua invadindo minha boca. Era um beijo punitivo, agressivo. Mas não importava.
Era um beijo de Rob.
E ainda tinha o melhor gosto do mundo. Eu gemi sentindo minha raiva se transformar em desejo. E meus punhos se abriram para grudarem em sua camisa.
E nada mais importou quando suas mãos urgentes começaram a tirar minhas roupas e eu fiz a mesma coisa com as dele. Nem sei como chegamos ao quarto.
Apenas senti os lençóis frios contra minhas costas e seu bem vindo peso sobre mim. A boca devorando a minha em beijos molhados, as mãos acariciando meu corpo, queimando minha pele, excitando a nós dois.
E eu só pensava em como sentira falta dele estar exatamente assim, dentro de mim. Movendo-se rápido e urgente e me arrastando com ele pra um clímax tão intenso quanto efêmero. Depois veio o vazio. E o pior de tudo eu nem estava arrependida.
Havia uma parte de mim que queria que ele me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem. Eu queria dizer tantas coisas, tantas. Mas o abismo entre nós era imenso e inevitável. Algumas atitudes eram impossíveis de voltar atrás.
Eu fiquei com uma vontade imensa de chorar, quando ele se afastou de mim.
E agora o que? Íamos continuar a briga? Falar de Michael?
Eu nem sei se conseguiria mentir ainda. Eu só queria achar uma saída para aquela confusão. Era pra tudo ficar melhor que eu tomara aquela decisão não era? Então porque tudo parecia pior agora?
-Me desculpe – ele quebrou o silêncio.
Eu mordi os lábios, talvez houvesse alguma… chance de conversa civilizada?
Mas suas palavras depois desfizeram minhas expectativas.
-Isto não devia ter acontecido.
Eu fechei os punhos com força. Ele estava arrependido e eu queria bater nele por isto.
Mas em vez disto, eu puxei um lençol sobre mim.
-Acho melhor ir embora. Não quero que a Agnes te veja aqui e fique confusa – falei friamente.
-Você tem razão. – respondeu se levantando e vestindo as roupas.
E sem olhar pra mim, ele se foi. E só então eu me permiti chorar.
No dia seguinte, nós começamos a gravar. Eu tratei Rob como qualquer outro ator e graças a Deus Michael só começaria a gravar na semana seguinte.
Estava tudo indo bem afinal e eu me senti aliviada por conseguir ser profissional.
Mesmo as cenas da noite anterior teimando em voltar toda hora a minha mente.
Mas no fim do dia, eu me perguntei se continuaria sendo assim, quando ouvi passos atrás de mim no estacionamento.
-Hei Kristen!
Ah Deus.
Eu me virei encarando Rob.
-Será que podemos conversar?
-Se é sobre a Agnes, ela ainda vai pra casa da amiga dela.
-Eu sei, eu só queria… – Ele passou a mão pelo cabelos – pedir desculpas… pelas coisas que eu disse ontem… sobre você e o Michael.
Eu mordi os lábios. Isto era inesperado.
-Eu disse coisas… horríveis e você tem razão. Não sou seu dono.
-Rob, eu.. – Deus, o que eu podia dizer? – tudo bem. Isto não tem mais importância.
-Eu não quero que nós… que fique este clima de briga… Não faria bem pra Agnes.
-Eu sei. Eu quero a mesma coisa.
Ele deu um pequeno sorriso. E pronto. Bastou pra eu sentir meu mundo girando do avesso.
-Tchau, Kris.
Ele se afastou e eu fiquei olhando. Porque meu coração batia ridiculamente daquele jeito? Eu tinha que manter a cabeça no lugar.
Agosto de 2014
-Por hoje é só.
Eu dispensei toda a equipe quando gravamos a última cena e olhei o relógio. Ainda precisava buscar Agnes na escola. E depois tinha algo muito importante pra fazer. Algo que não podia mais ser adiado.
-Kris?
Eu me virei para Rob, tentando não sorrir como uma fã idiota. Ou começar a ter pensamentos idiotas.
-O que foi?
-Você pode avisar pra Agnes que eu não poderei levá-la a escola amanhã?
Nós tínhamos acordado que Rob sempre a levaria e eu a buscaria e até agora estava dando certo.
-Porque não?
-Preciso viajar?
-Viajar pra onde?
-Cornualha.
-Oh!
Eu tentei não ficar chateada com aquilo. Nunca mais tínhamos ido pra lá. E saber que ele planejava ir sozinho me deixou triste. Eu sorri.
-Bem, aproveite seus dias de folga.
Nós ficaríamos alguns dias sem gravar e toda a equipe fora dispensada. Claro que ele devia ter planos. Planos que não mais me incluíam e isto doía. Ele passou a mão pelos cabelos.
-Quando eu voltar… Eu preciso conversar com coisa com você.
-Certo. Me liga.
Eu me afastei, antes que fizesse alguma bobagem. Eu acordei muito cedo naquela manhã. Peguei a caixa e fui para o banheiro. Há uma semana eu adiava aquilo, mas não dava mais. Enquanto esperava a maldita cor mudar, eu roia as unhas.
Ia ser negativo. Como em todas aquelas vezes que eu ansiara que fosse diferente.
Era apenas mais um teste. Mas meu coração falhou quando desta vez foi diferente.
Tinha dado positivo.
Tantas coisas me passou pela cabeça naquele momento. Tanta confusão de sentimento.
Eu estava grávida. Eu e Rob íamos ter outro bebê.
Rob. Eu precisava contar a ele. E então tudo poderia ser como antes, não poderia?
Eu senti um sopro de esperança. Tinha dado certo uma vez não tinha? Podia dar certo de novo. Talvez esta fosse a forma de consertar as coisas.
Sem pensar muito, eu fui para o quarto de Agnes e a peguei no colo. Ela resmungou um pouco, mas continuou dormindo. Eu a coloquei no carro e dirigi até a casa da mãe de Rob. Ela ficou muito surpresa ao me ver.
-Kristen, algum problema?
-Não, quer dizer, eu preciso fazer uma viagem e é urgente. Será que ela pode ficar aqui?
-Claro que sim.
Eu coloquei Agnes no sofá e ela acordou.
-Mamãe?
-Querida, eu tenho que fazer uma viagem, mas eu volto logo. Você vai ficar aqui com a vovó, ok?
-Eu quero ir também.
-Não, não pode. Mas eu voltarei logo. – eu beijei sua testa – Amo você.
Eu entrei no carro e dirigi até a Cornualha para encontrar Rob.
Continua... Tweet
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