Capítulo 11
Eu ouvi a gritaria do corredor.
Meu coração se apertou para depois disparar no peito enquanto eu prosseguia pelo caminho até o quarto.
Eu reconhecia aquelas vozes. Eu tinha previsto que algo assim estava prestes a acontecer. Que a tensão que vinha se formando uma hora explodiria. Eu não conseguia distinguir o que eles falavam. Ou melhor gritavam, até chegar a porta da suíte e então parei.
-Você me usou para chegar nela o tempo inteiro!
-Pense o que quiser você é louca!
Eu entrei e olhei para Nikki e Rob se encarando como dois cães de briga.
-O que está acontecendo aqui, estão malucos? Da pra ouvir a gritaria do corredor!
Rob soltou uma imprecação e passou a mão pelos cabelos, nervoso. Nikki respirou fundo e forçou um sorriso.
-Estávamos apenas tendo uma conversinha!
-Conversinha? Vocês estavam gritando!
Rob voltou-se para Nikki.
-Vai embora daqui. Suma da minha frente porque se continuar aqui eu nem respondo por mim!
-Rob! – eu exclamei meio chocada. Ele era um cara calmo e nunca tinha visto ele tão nervoso.
-Eu vou sim – Nikki respondeu – já percebi que estou sobrando. Aliás, vou embora de Vancouver amanhã, não tenho mais nada pra fazer aqui!
-Demorou pra você se mandar mesmo.
-Hei, parem com isto! – tentei intervir.
-Não, Kris. Deixa ele. Agora ele me trata assim. Porque já conseguiu o que queria! Pois saiba que também não faço a menor questão de manter qualquer contato com você! Graças a Deus estou indo embora deste lugar. O melhor pra mim mesmo é ficar longe de você!
Nikki virou-se para mim e estendeu a mão.
-Kris, vamos embora.
Eu a encarei e por um instante eu não soube o que fazer. Mas a dúvida durou apenas alguns segundos.
-Não.
Nikki pareceu não acreditar na minha recusa por um momento.
-Vai ficar?
Eu sacudi a cabeça afirmativamente.
-Certo. Fique! Estrague a sua vida! E depois não diga que não avisei. Ah, e o Michael vai adorar saber o que você anda fazendo por aqui…
-Nikki! – exclamei chocada.
-Não. Não vou correr e contar pra ele. Por que eu tenho pena! Acho que você mesma devia tomar vergonha na cara e contar! Antes que isto passe dos limites e chegue à mídia.
E com estas palavras ela saiu da suíte batendo a porta atrás de si. Um silêncio tenso se abateu sobre nós com sua saída tempestuosa. Rob pegou uma cerveja no bar e se sentou, tomando-a no gargalo. Eu me aproximei e sentei ao seu lado.
-Devia ter ido. – falou tenso.
-Eu não quero ir. – sussurrei.
Rob não falou nada. Eu me sentia andando numa corda bamba, como sempre me sentia quando estava com ele. Era assustador. Sem pensar muito, eu me levantei para sair dali, mas ele segurou minha mão. Eu o fitei.
-Fica.
…
Eu acordei suando e levou uns segundos para perceber que estava tendo outro sonho.
Ou melhor: outra lembrança. Porque eu tinha certeza que aquilo era uma lembrança. E agora Nikki já não era apenas um nome e sim um rosto.
Eu olhei para o lado automaticamente procurando Rob. Mas a cama estava vazia. Olhei em volta, o quarto estava na penumbra e já tinha anoitecido. Eu me levantei e então percebi a porta de uma sacada aberta. Caminhei até lá e Rob estava sentado numa espreguiçadeira e fumava um cigarro.
-Você trapaceou. – Falei.
Ele se virou e sorriu culpado e deu de ombros.
-Velhos hábitos.
Eu me aproximei e sentei ao seu lado.
-Como foi que eu consegui parar?
-Você é teimosa.
Eu me lembrei do meu sonho de repente.
-Eu me lembrei de mais uma coisa.
Ele me fitou com os olhos brilhando de uma maneira perigosa que me deixou arrepiada.
-Não. Não foi este tipo de lembrança. – Falei meio sem fôlego.
Ele ficou sério.
-O que foi então? – indagou preocupado.
-Estávamos em um hotel e você discutia… com a Nikki.
-Sobre o que discutíamos?
Eu dei de ombros.
-Não ouvi muita coisa, mas vocês estavam muito bravos um com o outro e você pediu que ela sumisse da sua frente. Ela queria que eu fosse com ela, mas eu fiquei. Quando foi isto?
-Em Vancouver. Quando gravávamos New Moon.
-Porque estavam brigando?
-Você não sabe?
-Não… é como… algo sem começo e sem fim. Não faz muito sentido.
-Vocês eram muito amigas. E quando começamos a sair, ela foi contra.
-Por que eu tinha um namorado?
-Também.
-Por que mais ela seria contra? A Nikki disse algo sobre você a estar usando para chegar até mim. O que ela quis dizer?
-Ela também era minha amiga. Mas se alguém usava alguém ali, era a Nikki.
-Você não gosta dela. – Era uma afirmação, não uma pergunta.
Eu não fazia muita ideia do que tinha acontecido antes daquela briga. Ou de como tínhamos ficado depois, mas era nítida a animosidade de Rob em relação a ela.
-Isto não importa mais. – Rob respondeu, apagando o cigarro e então meu olhar seguiu sua mão e eu vi o celular em cima da mesa.
Estaria falando com alguém, antes de eu acordar? Ou estava esperando alguém ligar?
Ele se levantou.
-Vamos comer alguma coisa. Melhorou da dor de cabeça?
Eu o segui para fora do quarto.
-Melhorei sim.
Nós descemos e eu o ajudei a preparar alguma coisa pra comer. Quando terminamos, eu o fitei.
-Como terminou aquela noite? – perguntei de repente.
-Até onde você lembra?
-Você estava bravo, depois que ela foi embora e você disse que era melhor eu ter ido também. E eu fiquei mal e realmente me levantei pra sair, mas você pediu pra eu ficar. E aí acordei.
-Você ficou por um tempo, mas foi embora depois.
-Porque eu não passei a noite com você?
-Por que ainda não passávamos a noite juntos.
Eu arregalei os olhos.
-A gente ainda não tinha…
-Não.
-Oh… eu achei que…
-Você ainda tinha assuntos não resolvidos.
-Michael.
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente, brincando com o copo. Eu mordi os lábios.
-E quando foi que…
-Quando você finalmente mudou de ideia.
-Quanto a ficar com você e não com ele?
Ele não precisou responder. De repente uma enxurrada de lembranças inundaram minha mente, como uma avalanche. Eu fechei os olhos, as imagens dançando sem controle…
Estava de novo num quarto bem parecido com aquele da outra lembrança. Mas não era o mesmo. Era outro. O dia estava nublado e eu olhava a rua lá embaixo. Alguns poucos fãs. Com máquinas fotográficas. Alguém se aproximou por trás de mim e eu fiquei tensa me virando.
-A gente podia dar uma volta? – pedi a Michael.
Ele apenas assentiu. Será que ele já sabia o que ia dizer? Talvez já soubesse, já esperasse. Acho que ele tinha mais ideia do que eu do que estava acontecendo. Por que eu não sabia direito. Eu apenas seguia a força compulsória que me arrastava pra outro lado. Um lado totalmente contrário dele.
E neste momento, enquanto nós caminhávamos pelas ruas de Vancouver, suas mãos segurando as minhas e eu tentava achar coragem para dizer o que deveria ser dito, eu me lembrei de outras palavras.
Na verdade de um ultimato. Rob me encarava muito sério na garagem subterrânea do hotel, enquanto se preparava para partir.
-Não precisa ir. – Eu falei meio desesperada.
-Não vou ficar aqui enquanto você entretém seu namorado.
O que eu podia dizer quanto aquilo? Ele tinha razão. Eu já passara tempo de mais em cima do muro.
-Eu vou… – respirei fundo – terminar tudo.
-Então quando você fizer isto me avisa.
E ele se afastou, entrando no carro que o levaria até o aeroporto. Eu o vi partir sentindo como se uma parte de mim também estivesse indo.
E agora, enquanto outro cara segurava minha mão, eu só pensava que não era com ele que eu queria estar. Meu coração estava em Los Angeles. Eu abri a boca para dizer e então um flash bateu. Eu me virei e lá estavam eles. Os abutres. Eu até podia ver a manchete na segunda-feira. Pois que fossem para o inferno. Eles mereciam uma última encenação minha.
E eu pulei nas costas do Michael, rindo. Ele não entendeu bem o que eu estava fazendo, mas me seguiu. Depois que eles ficaram satisfeitos e se afastaram. Eu parei e nos sentamos num banco vazio.
-O que foi aquilo Kris?
Eu dei de ombros.
-Apenas dando um pouco do que eles querem.
Ele me encarou por um momento.
-Você está diferente.
Eu mordi os lábios.
-Michael, eu tenho uma coisa pra dizer…
E eu disse.
Eu caminhei pelo corredor do hotel e abri a porta com o cartão dele. Não era meu quarto. Era o quarto de Rob.
Eu entrei e esperei. Era domingo à noite e estava frio. Como sempre, eu tinha esquecido a blusa. Funcei no meio da bagunça dele e achei uma blusa de frio e a coloquei.
Ainda tinha o cheiro dele nela e eu sorri, me enroscando no sofá. E esperei. Ele chegou horas depois, o semblante cansado de quem tinha ficado 7 horas num vôo desde LA. Eu me levantei ao vê-lo e ele me encarou surpreso.
-Kris?
-O Michael foi embora. Eu terminei com ele. Pra sempre. – Falei atropelando as palavras como sempre fazia quando ficava nervosa.
Por um momento, ele não falou nada. Ficou ali me encarando e o som das batidas do meu coração era os únicos sons que eu ouvia. E então ele sorriu. E eu sorri de volta.
Com poucos passos, ele estava na minha frente, os dedos no meu rosto a boca sobre a minha no melhor beijo que já tinha me dado.
Não havia mais nada entre nós. Nada que nos detesse. Eu tinha finalmente decidido.
A gente ria e se beijava, enquanto nossas mãos retiravam as roupas no caminho e ele me deitou no sofá, nus, nossas peles se tocando e se arrepiando.
Por um momento não fizemos nada. Apenas nos olhamos e eu levantei a mão e toquei seus cabelos eternamente bagunçados.
-Eu amo você. – Eu me sentia ridiculamente com vontade de chorar.
Porque eu estivera a um passo de perder aquilo que eu mais queria sem nem me dar conta.
Ele sorriu. Não precisava dizer o mesmo. Por que ele já tinha dito há muito tempo. Eu senti meu coração disparando e um desejo quente percorrer meu sangue.
A mão dele deslizou por toda a lateral do meu corpo, arrepiando até minha alma e eu quis mais do que tudo que ele estivesse dentro de mim e eu afastei meus joelhos num convite mudo, sentindo meu corpo derretendo de uma excitação pulsante.
E ele me beijou de novo e não parou… Eu abri os olhos e o fitei, voltando a realidade.
Deus, Deus, Deus.
Eu estava me lembrando da primeira vez que ele transou comigo. E sabia que eu lembraria tudo daquela noite. Estava ali, dentro da minha mente. Mas de repente eu não queria me lembrar.
-O que foi? – Rob indagou ao meu lado.
Eu me virei o fitando. Devia estar vermelha e a respiração era difícil na minha garganta.
-Eu me lembrei… daquela noite, em Vancouver. Quando você voltou de Los Angeles.
Os olhos dele se iluminaram de entendimento. Sim, ele também se lembrava.
-Lembrou de tudo?
-Está aqui dentro, mas eu não quero lembrar agora – eu respirei fundo e me levantei – eu quero que você me mostre. Quero que faça amor comigo, como da primeira vez.
E eu estendi a mão pra ele.
Continua…
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