28 fevereiro 2013

INCRÍVEL ENTREVISTA ONDE ROBERT FALA SOBRE O FILME COSMÓPOLIS!

Robert Pattinson responde com muita seriedade e convicção todas as perguntas e não poupa elogios para o seu diretor David Cronenberg.

Esta entrevista foi traduzida do espanhol para o inglês e posteriormente para o português., portanto algumas informações podem ter se perdido.



Você estava familiarizado com o romance de Don DeLillo?
Não. Nunca li nenhum de seus outros romances. Primeiro eu li o roteiro que David Cronenberg me enviou e depois o romance. Um é incrivelmente fiel ao outro de uma forma que parecia ser impossível do romance ser adaptado. Mas mesmo antes de ler o livro, o que mais me impressionou foi a tensão contida e o ritmo rápido do roteiro.

O que mais chamou a sua atenção sobre o filme?
Cronenberg, obviamente. Eu já atuei em outros filmes e nenhum deles chegou ao nível do que eu esperava que fosse trabalhar com ele. Ele não decepcionou … Eu sabia que seria muito criativo e que seria uma experiência autêntica. E também fui muito atraído pela fala do roteiro, semelhante a um longo poema. E um poema misterioso também. Normalmente, quando você lê um roteiro, você sabe muito rapidamente do que se trata, onde é que vai dar, como é que vai acabar, mesmo se não houver reviravoltas inesperadas ou sofisticadas, ou mudanças no enredo. Mas desta vez foi completamente diferente, quanto mais eu lia, menos eu conseguia imaginar onde ele estava indo e eu queria fazer parte dele ainda mais. Ele não pode ser inserido em qualquer gênero de filme, ele se destaca por si próprio.

Quando você leu o roteiro pela primeira vez, você se viu fazendo o papel? Você conseguiu imaginar como você ficaria visualmente?
Nem um pouco. A primeira vez que falei com o David foi exatamente o que eu disse a ele, que eu não podia visualizá-lo e ele disse que pensou que era bom que eu não pudesse. E esta é a questão, não pensar muito e não criar expectativa, houve uma evolução progressiva, natural, começando com o texto e em seguida, indo para as muitas opções visuais para dar forma ao filme. É uma evolução da vida. Mesmo durante a primeira semana de filmagens, nós nos perguntávamos como o filme pareceria depois de acabado. Era fascinante, eu senti tipo: o filme se fez sozinho.

Agora que ele está pronto, partindo do roteiro, o quanto o filme está diferente ou deixou de realizar o que foi escrito?
É difícil dizer, porque o filme atua em diferentes níveis. Eu o vi duas vezes, a primeira vez eu fiquei impressionado com o lado da farsa, que eu sei que estaria lá enquanto houvesse as filmagens, mas foi inesperadamente aparente. Na segunda vez, a seriedade daquilo que predominava, estava em risco. Nas duas vezes, houve um público, mas suas reações variaram, do riso para o lado escuro e tenso que tem Cosmópolis. Apesar de sua complexidade, ele me surpreendeu pela maneira com que alcançou uma vasta gama de emoções. 

Em sua opinião quem é Eric Packer? Como você o descreveria?
Para mim, Eric é alguém que sente que pertence a uma realidade diferente, ele nasceu em outro planeta e tenta descobrir em qual realidade ele deveria estar vivendo. Na verdade, ele não entende o mundo do jeito que é. No entanto, ele entende o mundo o suficiente para se enriquecer no mesmo. É lógico que de uma forma mais abstrata. Apostando, negociando, especulando, todas aquelas atividades desconexas que ele tem feito muito bem, não como um genuíno especialista ou uma mente superior, mas graças a uma espécie de instinto, algo mais misterioso, com a ajuda de algoritmos não muito diferente de fórmulas mágicas. Você pode ver no filme, assim como no livro, que o enfoque nos dados financeiros tende a protegê-lo no futuro, tanto que ele não sabe como viver no presente. Provavelmente, ele entende que o mundo real funcione de uma maneira, mas de maneiras peculiares e desconhecidas.

Você falou sobre isso com David Cronenberg?
Sim, um pouco, mas ele gostava que eu procurasse algo inexplicável. Ele gostava especialmente, quando eu agia tipo, eu não tinha ideia do que eu estava fazendo e quando eu senti que eu estava fazendo coisas numa sequência de causa e efeito ou tentando explicar o comportamento de Eric, ele podia cortar a tomada. Foi uma maneira estranha de dirigir, totalmente baseado em sentimentos mais do que ideias.

Como você se preparou para o papel?
David não gosta de ensaios. Nós não falamos muito sobre o filme antes de começar as filmagens. Eu só conheci os outros atores no set, durante a produção. Eu os encontrei quando eles aparecem, literalmente, na limusine de Eric. E foi muito bom. Desde o início das filmagens eu vivia dentro do carro no filme, eu estava sempre ali, era a minha casa, e eu recebia os outros atores em meu espaço, sentado naquela espécie de cadeira de capitão, com eles a me visitar. Eu me acostumei com esse ambiente que me fez sentir particularmente confortável. Basicamente, todos tiveram que se adaptar com o que era meu mundo.

Teve alguma coisa a ver com sua aparência ou suas roupas? (sobre Eric Packer)
Sim, mas a coisa é que eu tinha que ter um olhar neutro, nós tentamos evitar as qualidades mais óbvias e estereotipadas de empresários ricos ou homens de negócios. A discussão no início foi apenas sobre optar por usar óculos de sol e eu olhei para os menos reveladores, os que não diziam nada sobre o personagem.

O quanto foi diferente filmar as cenas em ordem do jeito que elas estão no roteiro?
É muito importante que o filme tenha um resultado evolutivo. No início, ninguém sabia realmente o que iria fazer sentido, bem, talvez David soubesse, mas ele não compartilhou isso. Para a equipe técnica, é o resultado evolutivo, de forma que o personagem revele lentamente mais sobre si mesmo e é onde se constrói a identidade do filme. Ele também permite que o personagem se torne claro, enquanto sua vida está desmoronando. Uma das peculiaridades deste papel é que você começa a conhecer os diferentes atores um por um.

Como você se sentiu?
Quando aceitei o papel, havia apenas outro ator que era Paul Giamatti e que é um gênio. Depois foi mágico e ao mesmo tempo um pouco aterrorizante, por ver Juliette Binoche, Samantha Morton, Mathieu Amalric … aparecendo. Cada um deles trouxe um sentido diferente. Não foi fácil para eles também, ainda mais quando David espera que os atores transformem sua atuação, se libertem de seus hábitos. Foi um desafio para eles, em tão pouco tempo. No meu caso, eu já estava mais acostumado a este mundo, com o ritmo, mas todos os outros tiveram de começar a usar imediatamente. Na realidade, alguns pensaram coisas muito criativas quando estávamos filmando. Principalmente Juliette Binoche, que veio com uma série de ações incríveis de atuação. 

Quer dizer que houve muitos estilos de atuação, especificamente, devido às diferentes nacionalidades envolvidas, ou que todos se adaptaram ao modelo de Cronenberg?
Ah não! Houve sensibilidades diferentes e eu acho que David estava ansioso por causa disso. Paradoxalmente, esta diversidade é enfatizada por todos os personagens serem americanos, com exceção de Matthieu Amalric. A diversidade é congruente com Nova York, onde todo mundo parece vir de um lugar diferente e onde a língua materna de muitas pessoas não é o Inglês. Claro, o filme não está à procura de realismo, incluindo as cenas em Nova York que nunca dão uma localização precisa. Mas ter atores com diferentes origens representa a cidade de Nova York, mesmo em como isso contribui para a esquisitice e os devaneios do filme.

No seu caso, você teve alguma referência em mente, talvez outros atores que inspiraram você para o papel?
Não, na verdade, eu queria me desvincular de qualquer referência. Principalmente, eu não queria que o público lembrasse de outros filmes com Wall Street, banqueiros, pessoas ricas, etc . Foi mais de encontrar um estado de espírito próprio, em vez de cometer as atitudes e os vícios da atuação de costume.

Quando vocês estavam trabalhando juntos, você se lembra de uma exigência da parte de David, em particular, de você se concentrar em certos detalhes?
Ele insistia em dizer que os diálogos seriam exatamente como no roteiro, palavra por palavra. Ele não toleraria quaisquer variações. O roteiro depende em grande parte do ritmo e tivemos acesso em termos de dicção. Ele tinha certeza disso, e teve poucas tomadas, o que foi assustador. No primeiro dia de Paul Giamatti no set, Paul lançou seu monólogo todo, de uma só vez, certamente a fala mais longa de todo o filme e David fez apenas uma tomada. Isso foi feito e fomos para o próximo. A interpretação de Paul e a agilidade de David e a maneira com que ele tinha tanta certeza de que seria uma boa tomada, isso me envolveu.

Você gosta de trabalhar desta forma, declamando diálogos de uma maneira detalhada de se escrever?
Era algo de que eu não estava acostumado e que foi justamente o que me motivou ainda mais para estar no filme. Eu nunca tinha sido escalado desta forma anteriormente, geralmente os roteiros não são seguidos rigorosamente, eles são um fundamento, uma base e se espera que os atores o façam. Nos meus outros filmes, os diálogos foram muito flexíveis. Desta vez, era como atuar em uma peça: quando você faz Shakespeare, você não pode mudar as falas. Aliás, de um modo geral, a limusine é como um palco. Evidentemente. E nesse estágio, é possível filmar uma cena depois da outra, o que significa que você tem que estar pronto para agir em todas elas. Desde que comecei como ator no teatro ha muito tempo atrás, foi a primeira vez que gastei muito tempo aprendendo as palavras. Ele criou uma tensão, seria melhor se você estivesse atento … mas também me obrigou a viver uma vida solitária enquanto filmava, eu tinha que saber o papel, me lembrar de dezenas de cenas e ficar concentrado. Mas, na realidade, foi uma sensação muito agradável. É melhor do que em muitos jogos, onde as coisas estão fragmentadas.

Qual foi a coisa mais difícil para você no filme?
Era perturbador interpretar um personagem que não tinha uma evolução óbvia ou um caminho previsível. Na realidade, ele faz isso, ele ainda é uma evolução muito louca; não é a maneira que estamos acostumados a ver as mudança nos personagens. Mas David controlou esta dimensão completamente. Eu nunca trabalhei com um diretor com tanto controle de seu filme, que é totalmente responsável por todo e qualquer aspecto dele, sabe exatamente o que quer em cada etapa. No início eu achei estressante, mas aos poucos eu me senti mais relaxado e confiante.

Post: Mel

Nenhum comentário:

Postar um comentário